Após passar o dia com o meu pai, passo numa cafeteria perto do meu prédio e compro um café. Era perto da hora do jantar, mas me sento um pouco lá mesmo assim, por alguns minutos. O tempo estava frio lá fora com a chegada do inverno, mas ali dentro estava agradável. Um casal tomava café juntos no meu campo visual e eu tentava fortemente ignorá-los, apesar do meu estado emocional em pedaços.
Então, meu celular vibra ao receber uma mensagem, vejo que era do Bambam no nosso grupo no Kakao.
"To de ressaca até agora" — leio.
"O Yugyeom tmb" — Mark envia.
"Eu disse pra vcs não encherem a cara de soju" — JB envia.
"O Youngjae ainda ta dormindo!" — Junior envia.
"Vcs são fracos pra bebida" — envio com emoji de risada.
"Noona!"
"Vc é DOPE!"
"E eu não to de ressaca, hyung" — Yugyeom envia.
"Minji superou todos!" — Bambam envia.
"Verdade" — JB envia.
"CRAZY DANCING QUEEN" — Yugyeom envia e eu rio.
"Obg, súditos" — envio rindo, fecho o aplicativo e guardo o celular no bolso para ir pra casa.
Saio da cafeteria e vou andando pela calçada, eram só três quarteirões até o meu apartamento. Quando faltava um quarteirão, meu celular toca e eu atendo.
— Alô? — Não reconheço o número.
— Ryu Minji?
— Sim.
— Seu pai, Ryu Jungahn acaba de ser internado em nosso hospital e deseja vê-la.
— O quê?! — Meu coração se aperta e sinto o chão perder sua consistência sob os meus pés, minha mente fica turva assim como meus sentidos, tudo em um só instante.
— Ryu Minji? Senhoria Ryu Minji? Alô, ainda está aí? — Ouço a voz daquela mulher vindo de longe.
— Sim... sim... me passa o endereço que eu estou indo agora!
Quando entro no quarto do hospital, após ter que esperar uma hora pelos procedimentos médicos. Paro na porta e o vejo deitado no leito, meu pai parecia ainda mais cansado do que jamais estivera. Seguro as lágrimas e vou andando até ele, puxo uma cadeira para perto da cabeceira da cama e me sento, colocando a bolsa no chão. Ele abre os olhos devagar e me vê ali, sorrio da melhor maneira possível pra ele e ele me retribui.
— Você já sabe, não é? — Ele pergunta e eu não pude evitar chorar.
As lágrimas vêm com tudo e eu o abraço com cuidado.
— Tudo bem, querida... — Ele me abraça e acaricia a minha cabeça. — Eu estou bem... não precisa se preocupar comigo.
— Mas... mas... você está morrendo — consigo dizer apesar dos soluços.
— Isso é um processo natural, minha filha — ele diz.
— Mas, você não está morrendo de velhice como deveria... está morrendo por causa de um maldito câncer! — Digo com raiva, mas acabo chorando mais. — Por que... por que o senhor não me contou antes?
— Eu não queria que isso te impedisse de sorrir... que se tornasse um motivo pra te entristecer — olho pra ele, tentando limpar as lágrimas que pareciam infinitas. — Pensei em te falar, mas te vi tão feliz com o seu novo emprego que não quis estragar isso... não quis roubar sua felicidade por causa de uma doença. Te causar uma dor mais cedo não iria mudar nada.
— Não... eu posso procurar ajuda com outros médicos — disse olhando para o nada. — Eu posso... eu posso até falar com médicos internacionais... em algum lugar deve ter a cura, alguém deve ter um tratamento pra isso!
— Minji...
— Nós vamos conseguir, appa... juntos, vamos conseguir!
— Minji...
— Deve haver uma cura em algum lugar, você vai ver... eu posso vender algumas coisas e eu tenho umas economias no banco, posso usar isso para as viagens... e...
— Minji, minha filha... — Ele segura o meu rosto, interrompendo meus pensamentos e o volta pra ele. — Eu já estou em um estado avançado... câncer no pâncreas ainda não tem cura.
— Mas, podemos conseguir um doador... não podemos desistir assim — digo chorando. — Você não pode desistir assim... e o seu otimismo? Onde ele está agora? Você precisa ser forte... precisa acreditar...
— Eu estou sendo, minha filha... eu tenho sido forte por você por todos esses anos — ele sorri pra mim tristemente. — E sou forte para aceitar que a minha hora chegou... a morte não é o fim e sim, um começo. Um começo para uma outra estrada... lembra que eu te disse isso quando a Jolie se foi?
— Ah, appa... eu não tenho mais 13 anos e não estou perdendo um cachorro...
— Eu sei — ele ri e seca as minhas lágrimas. — Mas, aquelas palavras servem pra esse momento também, porque eu sempre acreditei nelas... e você também deveria acreditar, pois essa é a maneira mais fácil de aceitar a perda. Promete que vai tentar acreditar nisso mais uma vez?
Olho para ele e seco o nariz em um lenço, engolindo o choro.
— Ok... eu... eu prometo — digo.
— Isso mesmo, minha filha — ele sorri mais uma vez. — Agora tente sorrir mais, ok? Não deixe que isso roube a sua felicidade... de onde eu estiver, eu quero te ver sempre sorrindo e de cabeça erguida.
Seguro firmemente as lágrimas e sorrio fracamente para ele. Era muito difícil ser forte quando a sua fortaleza estava se desmoronando no leito de um hospital, mas eu tinha que cumprir o último desejo dele, seguir seu último conselho... pois, era o que me restava fazer.
— Isso mesmo — ele diz sorrindo e apertando uma das minhas bochechas. Então, me abraça por um tempo. — Sua mãe sabe?
— Sim... liguei pra ela na sala de espera — digo. — Ela disse que pegaria o primeiro voo pra cá, mas vai levar mais de um dia pra chegar aqui.
— Tudo bem... espero estar por aqui para vê-la mais uma vez — ele diz calmamente. — Mas, se não estiver, se despeça dela por mim, ok?
— Não diga isso... você vai estar aqui ainda, porque eu acredito nisso.
— Tudo bem... se você acredita, eu acredito — ele ri mais uma vez e tosse um pouco. — Eu vou esperar aqui para me despedir dela, então.
No dia seguinte, liguei para o sr. Yang pela manhã para explicar a situação do meu pai e, como o esperado, ele compreendeu e me permitiu ficar com ele durante esses dias.
Enquanto ia ao meu apartamento para tomar um banho e pegar algumas coisas de que iria precisar para continuar como acompanhante do meu pai, recebo uma ligação. Pego o celular, sentada no banco do ônibus e me surpreendo ao ver quem era.
— Onde você está? — Jackson pergunta, sem rodeios.
— A caminho de casa...
— Ok, te espero em frente ao prédio.
— Hã? — Digo sem entender, e quando ia perguntar o que ele queria, percebo que ele já tinha desligado.
Guardo o celular e levanto para descer do ônibus, pois meu ponto estava chegando. Desço e assim que o ônibus passa, vejo Jackson de boné encostado no carro do outro lado da rua, nos fitamos de longe por um instante e eu atravesso quase correndo até ele. Não sei o que havia me dado, mas eu precisava muito de alguém naquele momento... eu precisava dele, mesmo que não admitisse.
O abraço apertado e ele me acolhe, sem perceber, lágrimas já estavam escorrendo pelo meu rosto.
— O meu appa... ele... ele...
— Eu sei... não precisa dizer nada — ele interrompe os meus soluços e afaga as minhas costas. — Eu estava com o senhor Yang quando você ligou... ele me contou tudo.
— Eu não sabia... não sabia até ontem... — Digo me afastando dele para olhar em seus olhos. — Até ontem de manhã ele estava bem... estava comigo... estava sorrindo. E agora... e agora...
— Shi... — Ele me abraça mais uma vez. — Tudo vai ficar bem, de alguma forma... vamos, eu te ajudo.
Ele beija a minha cabeça, pega minha bolsa com uma das mãos e coloca um braço em torno da minha cintura para me conduzir pra dentro.
Depois de um bom banho e de vestir uma roupa limpa, vou para a sala e vejo Jackson na sala com duas tigelas sobre a mesa de centro.
— O que é isso? — Pergunto ao me aproximar.
— Ramen... você não deve ter comido nada desde ontem — ele diz, colocando dois jeotgaraks ao lado de cada tigela. — Precisa comer direito.
— Não estou com fome...
Ele me olha surpreso e eu me sento no sofá.
— Você... me dizendo que não está com fome...? — Ele se aproxima e coloca a mão na minha testa pra saber se eu estava com febre. — Você está se sentindo doente?
— Não... — Afasto a mão dele de mim. — Só não tenho vontade de comer com tudo o que está acontecendo...
Ele me analisa um pouco.
— Ah, mas você vai comer sim — Me puxa para o lado dele de repente.
— Ei!
Segura uma tigela e os jeotgaraks, pega um pouco de ramen e os assopra.
— Abra a boca — me recuso, mas ele me encara com olhar duro. — Abra a boca ou vai ser pior...
Sinto um arrepio com a ameaça e abro a boca pra ele me dar o ramen.
— Muito bem... — Diz me vendo mastigar. — De novo...
— Mas, eu nem... — Mais uma porção de ramen é enfiada na minha boca e eu reviro os olhos.
— Nem adianta fazer essa cara... — Ele diz enquanto eu mastigo.
— Eu posso fazer is... — Mais ramen. Bato as mãos no sofá, irritada por ser pega de surpresa mais uma vez antes de completar uma bendita frase!
— Isso aí, boa menina — ele ri. — Mais uma...
— Uh-uh! — Cubro a boca antes que ele pudesse enfiar os jeotgaraks com ramen na minha goela abaixo.
— Minji-yah... não me impeça...
— Não, pare com isso! — Pego a tigela e os jeotgaraks das mãos dele, colocando-os dentro dela. — Eu faço isso sozinha... não sou nenhuma criança pra você ficar me dando comida na boca. Ainda sou uma noona, esqueceu?
— Por DOIS dias — ele mostra com os dedos na minha cara.
— Que seja! — Afasto os dedos dele com um tapa e coloco um pouco de ramen na boca. — Mesmo assim, sou uma noona... então, me respeite.
— Ok... Minji noona — ele ri e pega a sua tigela e os jeotgaraks e começa a comer.
Acabo sorrindo pra ele e como o resto do ramen rapidamente para voltar ao hospital.
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