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História Foi assim que tudo começou - O garoto dos olhos verdes


Escrita por: BlackRose1403

Notas do Autor


Oiee amores,

Como vocês estão? Tudo firme e forte que nem gelatina?
Bora lá né, tia Black rose tarda mas não falha (cof cof cof). Ainda bem que o capítulo já tá pronto há um tempão senão... kkkkkk

Esse capítulo é focado no Finny, e eu espero que vocês gostem dele.

Boa leitura

Capítulo 2 - O garoto dos olhos verdes


Fanfic / Fanfiction Foi assim que tudo começou - O garoto dos olhos verdes

 

Era metade da manhã quando Sebastian surgiu na cozinha,  Bard tentava pela décima vez cortar os legumes sem destruí-los e pela décima vez estava sendo mal sucedido. O mordomo balançou negativamente a cabeça enquanto ia na direção do aprendiz de cozinheiro e retirava a faca da mão do homem.

_ Já falei que não é para fazer como se estivesse esquartejando uma pessoa.  São legumes, são frágeis,  se colocar tanta força vai acabar com a textura.

O cozinheiro o olhava atentamente mas o mordomo percebeu que ele não estava entendendo nada. Largou a faca sobre a tábua.

_ Deixa para lá.  Hoje eu faço o almoço e você observa. Terei que ser rápido então preste atenção.

Bard se afastou dando espaço para que o outro assumisse o comando do fogão.

Logo Sebastian cortou os legumes e a carne, preparou a massa e montou uma torta de carne e legumes que pôs no forno, tudo em pouquíssimo tempo. Virou-se para o loiro e falou, enxugando as mãos num pano de copa.

_ Preste atenção: marque quarenta e cinco minutos e depois retire a torta do forno. Nem um minuto à mais nem um a menos,  entendeu?

Desde que Bard foi para a mansão Phantomhive, há uma semana,  ele vinha tendo lições sobre culinária.  Sebastian era um bom professor mas não tinha muita paciência com os erros do outro: logo desistia e fazia ele mesmo as refeições.

A outra criada da casa, Mei-rin, havia vindo alguns dias antes de Bard e também estava tendo aulas para ser uma arrumadeira,  porém era tão ou mais atrapalhada que o loiro: não conseguia lavar a roupa, dobrar ou passar adequadamente e, depois de hoje de manhã quando ela tentou tirar os lençóis do varal mas se enrolou neles, caiu e saiu rolando pelo gramado, Sebastian desistiu de fazê-la cuidar da roupa da casa e a colocou para polir a prataria.

_ Pode contar comigo,  senhor Sebastian - respondeu Bard, todo animado por ter uma chance de mostrar ao mordomo que estava aprendendo tudo direitinho.

_Venha comigo,  quero falar com você e com a Mei-rin - ele se encaminhou para a copa onde estava a moça polindo um faqueiro de prata. Bard seguiu o mordomo.

_ Eu e o Jovem amo iremos hoje buscar mais um criado - anunciou olhando para os dois sentados à sua frente - Vocês não precisam fazer nada, exceto cuidar para não queimar a torta - olhou diretamente para Bard, que assentiu  - podem comê-la no almoço,  nós vamos demorar, então não nos esperem, descansem enquanto estamos fora.

_ Outro criado? Quem é,  senhor? - Mei-rin perguntou.

_ É um rapaz que vem do oeste da Inglaterra. Será o jardineiro da casa.

_ Outro homem? ??? - Mei-rin estava indignada - eu vou ser a única mulher aqui pelo jeito…

Sebastian ignorou por completo o comentário; saiu da cozinha com passos céleres. Os empregados ouviram a voz do senhor da casa chamando o mordomo, logo a porta da entrada abriu e se fechou mostrando que ambos haviam acabado de sair.

 

****

 

Quando voltaram já era final da tarde, Bard e Mei-rin estavam sentados no sofá;  não era adequado os criados ficarem assim,  mas como não havia mais ninguém em casa, eles se permitiram este pequeno delito.  Estavam com fome, pois é óbvio que a torta havia queimado e eles almoçaram biscoitos e um bolo. Agora conversavam sobre como o patrão deles era jovem e como aquela casa era meio estranha, Tanaka havia dito que a história do pequeno Phantomhive era marcada por uma grande tragédia e  algum dia ele iria contar, isso só serviu para aguçar a curiosidade de ambos. Na verdade,  Bard estava bem curioso sobre como a moça tinha sido contratada também.

"Será  que ela tem um passado tão conturbado quanto o meu?  Qual será o esqueleto no armário que ela esconde?" - pensava ele, porém, todas as vezes que ele tentou perguntar desde que começaram a conversar não resultaram em nada.

_Eu não quero falar sobre isso. Por favor, não insista - era sua resposta e ele não teve outra alternativa a não ser guardar sua curiosidade para si.

Assim que ouviram o tropel dos cavalos no pátio,  se levantaram rápido e foram lá fora receber o patrão e os outros.

O mordomo desceu primeiro e ajudou o conde a descer, segurando-o nos braços e depositando-o delicadamente no chão. Por último desceu um rapaz, um pouco mais alto que o conde, muito magro, vestindo uma camisola dessas de hospital que é aberta atrás,  um manto negro havia sido posto sobre os seus ombros, estava claro que era do Jovem amo pois era feito da mais fina lã e estava curto para ele. Aparentava estar quase saindo da adolescência, devia ter no máximo dezessete anos.

Bard ficou muito impressionado com sua magreza mal escondida pela camisola grande demais. O garoto puxou o capuz para trás expondo o rosto, os imensos olhos verde esmeralda se destacavam na pele pálida, tinham um quê de insanidade neles mas eram profundos e extremamente bonitos. Completavam o rosto delicado, nariz e boca pequenos mas bem desenhados . O cabelo do rapaz havia sido raspado junto ao crânio mas Bard percebeu que ele era loiro pela cor dourada das suas sobrancelhas naturalmente delineadas. No conjunto geral era um rapaz de aparência delicada e frágil, e totalmente fofo aos olhos de Bard que teve vontade de abraçá-lo.

Sebastian apoiava o recém chegado pelo ombro,  enquanto o conde os apresentava.

_ Este é o novo criado que Sebastian falou que viria. Seu nome é Finnian e ele esteve um tempo internado - no momento que ele falou isso, o rapaz se encolheu e meio que se escondeu atrás do Sebastian, mas o conde continuou - e vai demorar um tempo para se habituar a  conviver pessoas novamente,  sejam pacientes.

Sebastian o trouxe para frente.

_Vocês não vão cumprimentar o o novo integrante?

Mei-rin foi a primeira:

_ Bem-vindo Finnian-kun.

Ele piscou e movimentou a cabeça minimamente. Bard se adiantou, estendendo a mão para cumprimentá-lo:

_Bem-vindo. Você vai gostar muito daqui, é ótimo - o rapaz voltou a se encolher atrás do mordomo, assentindo com a cabeça sem, no entanto, apertar a mão estendida.

Depois de alguns segundos Bard recolheu a mão ignorada pelo outro.

_É o que eu disse: vai demorar um tempo para se habituar - desculpou-se o conde.

Todos entraram, Finnian foi levado diretamente para o quarto. Sebastian ficou um pouco irritado por ter que fazer o jantar mas estava já acostumado, então apenas suspirou e passou os dedos pelo cabelo.

Jantaram em silêncio na copa: Bard, Mei-rin e Tanaka. O conde jantou primeiro na sala de jantar e Sebastian não jantou.  Aliás o cozinheiro já havia percebido que,  embora o mordomo cozinhasse muito bem,  nunca era visto de alimentando. O novato jantou no quarto.

Logo depois foram todos dormir. No meio da noite Bard foi acordado pelo barulho de choro abafado, levantou-se e foi procurar a origem do ruído, quando se aproximou do quarto do recém-chegado percebeu ser dali que saía o som.

“É ele que está chorando. Será que está com dor? O que será que eu faço? Entro???” - ficou nesse dilema, uma mão já apoiada na maçaneta.

No último instante desistiu. O rapaz parecia ser muito retraído, não havia falado nem uma palavra nem havia apertado a mão de Bard quando ele o cumprimentou de modo que, recolheu a mão da maçaneta e voltou para o seu quarto com medo de incomodar o outro, afinal ninguém gosta de ser visto chorando.  Não conseguiu dormir mais naquela noite, já fazia vários dias que Bard não conseguia dormir direito, passava as noites em claro ou quando conseguia dormir era um sono muito leve, sem sonhos. Ele preferia assim, pois as poucas vezes que sonhou, eram pesadelos com Mark e isso o deixava muito mal.

No dia seguinte, tudo ocorreu como de costume, Bard e Mey-rin tiveram mais aulas com Sebastian e tentaram pôr em prática o que haviam aprendido, como de costume, não se saíram muito bem. Finnian ficou no quarto até um pouco mais tarde, depois saiu e ficou um tempo no jardim, ficou parado com o rosto virado para cima, tomando sol. Por fim, Sebastian surgiu e o chamou para almoçar, o que ele fez junto com os outros empregados. Na parte da tarde ele, junto com o mordomo, foram para o jardim e este começou a ensiná-lo o que fazer com as plantas, como podar, regar e adubar para que elas sempre estivessem bonitas.

Bard observava da porta da cozinha o futuro jardineiro acocorado no gramado olhando para as roseiras recém plantadas e ouvindo atentamente as explicações que o outro lhe dava. Parecia outra pessoa, até o olhar estava mais suave, ele parecia mais calmo. Não que ele fosse agitado, mas os olhos verdes dele mostravam tanta dor… . Bard sentiu o coração se apertar, queria proteger o garoto.

“Mas se ele estava mais calmo agora, isso é um bom sinal. Sinal que está se recuperando.” - pensou o loiro.

Porém, à noite, o choro voltou. Bard conseguia ouvir claramente, o choro e os gritos que vinham do quarto ao lado. Provavelmente ninguém mais conseguiria ouvir o barulho pois naquela ala só os dois dormiam. Mei-rin ficava na ala do outro lado e Tanaka, bem, Bard não sabia onde ficava o quarto do Tanaka. O quarto do Sebastian também ficava na ala dos empregados, mas mais próximo do quarto do Jovem amo.

Mais uma vez ele se levantou e pegou a lamparina. Não era possível… Os gritos estavam ficando cada vez mais fortes. Dessa vez Bard tomou coragem e bateu na porta, e como ninguém atendeu ele girou a maçaneta, para sua surpresa a porta não estava trancada.

Dentro do quarto escuro, o corpo magro do rapaz se debatia na cama, preso ao pesadelo que o fazia gritar e chorar. As mãos agarravam com força o lençol que começava a rasgar e o rosto estava distorcido no terror do pesadelo. Bard se aproximou da cama.

_Finnian - chamou.

_Finnian, acorde - chamou novamente, como não obteve sucesso, chacoalhou levemente o ombro de menor.

_Finnian - chamou um pouco mais alto, chacoalhando mais forte. O outro acordou assustado, dando um pulo na cama.

_Ahn?

Bard também se assustou e deu alguns passos para trás.

_Calma - ele espalmou as mãos para frente numa atitude defensiva - está tudo bem. Sou o Bard, se lembra de mim não é.

O rapaz com cara de assustado fez que sim com a cabeça.

_Você estava tendo um pesadelo? - “É lógico que estava, seu tonto!” - pensou.

Novamente o rapaz acenou afirmativamente.

_Bom… Agora está tudo bem, não é? - deu alguns passos em direção à porta - Acho que eu vou indo então…

Bard já estava na soleira da porta quando ouviu a voz de Finnian.

_Eu te acordei?

Era a primeira vez que  ele ouvia Finnian falar realmente. Era uma voz agradável.

_Não. Eu quase não durmo - falou olhando para trás.

O rapaz se sentou na cama e puxou os joelhos em direção ao peito, abraçando as pernas.

_Eu queria não dormir.

Havia uma angústia tão grande naquela voz… . Bard voltou para dentro do quarto.

_Não é bom ficar sem dormir. Você fica muito cansado no dia seguinte.

_Mas ter pesadelos também não ajuda nada.

O mais velho concordou com a cabeça.

_Você quer conversar? Ás vezes ajuda.

O menor abriu um sorrizinho. Bard então colocou a lamparina no criado-mudo e se sentou numa cadeira ao lado da cama.

_Sobre o que era o pesadelo? - arriscou.

Finnian fez uma careta e começou a contar. Os pesadelos eram quase sempre com o mesmo tema: a estadia dele naquele lugar. Onde era? Ele não sabia. Por quê e por quem foi levado? Também não. Ele só sabia que esteve lá por muito tempo. Bard ouvia tudo atentamente.

_O que era “lá”? Você não estava em um hospital?

_Não - respondeu balançando a cabeça.

_Era o quê então?

_Não sei. Era um prédio, parecia um hospital mas eles não curavam ninguém lá. A gente nunca via a luz do sol, acho que era subterrâneo.

_E tinha outras pessoas com você?

_Tinha. Eu acho. Eu raramente as via, aliás eu odiava ter que vê-las, nada de bom saía disso. Mas ouvia seus gritos.

_Gritos?

Finnian suspirou e abaixou a cabeça, Bard aguardou ele continuar.

_Eles nos torturavam. Faziam experiências com a gente. Injeções...choques… faziam a gente tomar uns comprimidos. Mexia com a nossa cabeça. A gente acabava fazendo o que não queria.

Lágrimas voltaram a escorrer pelo rosto do rapaz. Bard quis muito o abraçar, não abraçar com segundas intenções, ele não tinha esse sentimento pelo loiro; queria apenas abraçar como se abraça uma criança que precisa de colo, mas se conteve. Era horrível o que o outro acabara de contar. “Como podia haver isso? Ninguém sabia?” - pensou.

Acabou por dar alguns tapinhas nas costas do Finnian para acalmá-lo.

_O que obrigavam você a fazer?

O choro voltou com tudo, convulsionando os ombros.

_Eu não quero mais machucar ninguém. Eu não quero!

“Que idiota que eu sou!” - se xingou por fazê-lo chorar ainda mais.

_Calma, calma. Você não vai mais machucar ninguém.

Ele deu mais uns tapinhas no ombro do menor, que num arroubo se jogou para frente abraçando a cintura do outro e apoiando a cabeça no seu colo. Bard se assustou de início, mas logo se acalmou e pousou as mãos sobre a cabeça deitada no seu colo, acariciando o couro cabeludo raspado. Havia uma sequência de números tatuada na nuca. "Para aquelas pessoas, ele era apenas um número: o experimento de número tal."

_Eu tenho medo de machucar alguém…

“Como ele pode machucar alguém? É tão magrinho, não deve ter força para nada!” - pensou mas não disse nada.

_Você não vai machucar - repetiu.

Ficaram assim por um bom tempo, depois o rapaz pediu para que o outro se sentasse na cama e, quando Bard atendeu ao pedido, sentando na cama e apoiando as costas na parede, ele se deitou de lado ainda com a cabeça no colo do outro. Conversaram mais um pouco, Bard descobriu que o mais novo não se lembrava de quase nada da sua vida antes de ir para aquele lugar, apenas alguns fragmentos de lembranças.

Depois daquela noite eles se aproximaram bastante. Finnian começou a engordar, chegando ao peso normal para alguém da sua altura, o cabelo cresceu e agora era uma vasta cabeleira loira que sempre caía nos olhos enquanto ele trabalhava na terra. A tatuagem estava sempre coberta por um chapéu de palha que ele sempre levava pendurado nas costas.

O tempo passou, Bard e Finnian se tornaram bons amigos, ambos gostavam muito da companhia um do outro e sempre que tinham um tempo livre procuravam ficar juntos. Era comum eles ficarem conversando até tarde, quase sempre era o Bard que ficava no quarto do menor e conversavam sobre tudo: Bard contou um pouco da sua história omitindo, é claro,  todos os seus fracassos amorosos; Finnian, aos poucos, começava a lembrar de fragmentos do seu passado. Hoje ele havia lembrado de trechos da sua infância,  ele gostava da torta de maçã que uma mulher fazia (ele achava que era sua mãe mas não tinha certeza) e tinha um passarinho de estimação.

_ Isso é ótimo, Finny. Ela deve ser sua mãe sim - Bard estava sinceramente feliz pelo progresso do amigo.

O loirinho estava mais uma vez deitado com a cabeça no colo do maior.

_Finny??? - perguntou.

Bard ficou um pouco vermelho.

_ É um apelido. Finnian é um nome sério demais para você, não acha? - ele tocou delicadamente o indicador na ponta do nariz do outro que piscou surpreso.

_ Você não gostou?  Tudo bem,  eu não chamo mais.

O menor capturou a mão do outro que ainda estava perto do rosto.

_ Não.  Eu gosto. Pode me chamar assim. - ele entrelaçou os dedos de ambos.

"Será que ele sabe como essa cena é romântica?  Parecemos dois namorados, de mãos dadas e um deitado no colo do outro". Bard tratou de tirar esse pensamento da cabeça - ele não amava Finny, não podia nem queria amar, não desse jeito. Finny era jovem demais, havia sofrido muito e era totalmente inocente.

 

Flashback

 

"Eu simplesmente não posso fazer isso.  Ele merece ser feliz sem eu estragar tudo. Há pessoas que têm sorte no amor e azar no jogo, eu tenho azar nos dois. O amor não é para mim, todas as tentativas foram fracassadas e eu acabava machucado ou machucando alguém.

Quando eu tinha quinze anos,  beijei pela primeira vez.  Foi com uma moça que estudava comigo, foi bonitinho:  um beijo calmo e desajeitado.  E eu não senti absolutamente nada, comecei a evitá-la para não ter  que beijar novamente.  Ela acabou desistindo de mim com uma cara triste.

No ano seguinte eu estava quase repetindo por causa de uma matéria: literatura. O professor começou a me dar mais atenção durante as aulas, não achei estranho pois estava mal mesmo, nem quando ele pediu que eu ficasse depois do horário. Nas primeiras aulas extras, correu tudo bem, ele me explicava a matéria e às vezes me mandava fazer algumas atividades. Até que num dia, ele me mandou ler um texto em voz alta, o que eu fiz gaguejando: estava nervoso porque ele ficava me encarando. No meio do texto, o professor arrancou o livro da minha mão, fechando-o de modo brusco.

_Chega por hoje. Vamos tomar sorvete - falou me puxando pela mão.

Sorvete era coisa de rico, gente pobre como eu não tinha condições de ficar tomando sorvete, de modo que eu fiquei todo animado - não precisava estudar e ainda ia tomar sorvete! Ele me levou à uma sorveteria chique e comprou um de chocolate para mim, logo o garçom serviu uma taça com o doce, a cobertura e um canudinho de biscoito enterrado na massa. Meus olhos devem ter brilhado e não devo ter conseguido disfarçar minha expressão porque ele riu; sorri envergonhado e comecei a comer.

_Obrigado - agradeci empurrando a taça vazia para o centro da mesa. Estávamos sentados no fundo da sorveteria e não tinha ninguém próximos da gente. Pensando agora, é claro que ele havia feito tudo de caso pensado. Pois nesse instante ele aproximou a cadeira da minha.

_Me agradeça assim - ele se inclinou e me beijou, sua língua passeou pela minha boca enquanto me segurava pelos ombros.

_Adoro sorvete de chocolate! - disse com um sorriso malicioso no rosto, obviamente se referindo ao gosto da minha boca.

Fiquei muito envergonhado mas não pude negar que gostei. Meu coração pulava dentro do meu peito e eu me senti esquentar.

Continuamos nos encontrando, muito menos para estudar e muito mais para beijar, e quando ele quis avançar eu deixei. Estava completamente apaixonado e não pensei duas vezes antes de me entregar. Agora eu vejo que ele não foi cuidadoso, nem carinhoso, mas eu era inexperiente e achei que era assim mesmo.

Os meses passaram e eu achei que estava tudo bem, que éramos namorados. Naquele dia eu fui até a casa dele como de costume, ele abriu a porta e eu entrei, fiquei na ponta dos pés e o beijei de leve. Percebi que ele estava estranho.

_Precisamos conversar - anunciou.

Eu me sentei na cama e ele puxou uma cadeira e sentou à minha frente.

_O que foi? - meu coração estava apertado.

Ele respirou fundo e despejou tudo de um vez:

_Nós não podemos nos encontrar mais. Eu vou me casar semana que vem.

Eu parei de respirar. Como assim? Casar? Com quem?

_Casar? Com quem? - repeti meu pensamento em voz alta.

_Ora com a minha noiva. Depois de três anos de noivado o pai dela está me pressionando para casar.

O nó na minha garganta começou a se formar.

_E eu?

Ele apoiou as costas no encosto da cadeira e cruzou as pernas.

_Você o quê? Olha, eu gosto de você, a gente se divertiu mas não dá mais.  Vai ser bom para mim ter uma mulher.

_Ter uma mulher?? - eu só conseguia ficar repetindo feito um idiota, as lágrimas já começavam a correr pelo meu rosto.

_É - ele começou a ficar irritado - olha, eu sei que já estamos no século XIX,  mas você não achou que a gente ia ficar junto para sempre não é? PÁRA DE CHORAR.

Ele nunca havia gritado comigo, nunca. Comecei a soluçar.

_Como eu disse, foi só diversão. Eu já consegui o que queria de você. Vai embora.

Ele estava me expulsando!!! Eu lembro de ter me levantado da beirada da cama, mas não me lembro de tê-lo socado, mas eu o fiz. Num segundo ele estava no chão segurando a boca ensanguentada, cuspiu sangue e dois pedaços de dente no chão. Saí de lá correndo.

O restante do ano foi insuportável, mas eu não repeti, ele deve ter me dado nota de presente como prêmio de consolação.

Anos mais tarde, eu me envolvi com um colega de trabalho, ele era muito divertido e tinha comportamentos bem avançados para a época. Foi aí que eu experimentei ser o ativo e gostei. Ficamos algum tempo nessa relação e mais uma vez eu me apaixonei. Ele era bem despachado, falava tudo na cara e não ficava enrolando, de modo que, quando ele terminou comigo, foi direto ao assunto. Não fiquei tão mal como quando foi com o meu professor, eu não me senti usado e aquilo foi o mais perto que eu cheguei de um namoro. Mas doeu de todo modo, eu havia sido trocado - ele estava apaixonado por outro. É triste!

Decidi mudar de país, atravessei o oceano e me alistei no exército, foi quando eu conheci o Mark.

Ou seja, minha vida amorosa é um desastre e eu não ia envolver o Finny nisso de modo algum.

 

Finny ainda estava segurando a mão de Bard com os dedos entrelaçados, levou-os até a boca e pressionou os lábios nos dedos do outro, não chegava a ser um beijo mas Bard sentiu a maciez dos lábios com contato com a sua pele, enviando arrepios pelos braços. “Como estou sensível!” - pensou, puxou a mão, soltando-a. Finny não pareceu se importar, virou para o Bard, ainda no seu colo.

_Bard.

_Hum?

_Gosto de ficar com você. Me acalma.

“Uhhgg. Tá difícil me controlar”.

Finny abraçou a cintura de Bard, o rosto perigosamente próximo do membro do cozinheiro que fazia o possível para não ter uma ereção naquele momento. Finalmente o loirinho adormeceu e Bard se apressou em sair daquela situação. Estava com dor de cabeça pelo esforço em não ficar duro com o Finny deitado ali.

 

Passou uma semana e tudo estava sem alterações. Tudo exceto os olhares trocados entre os dois, mas Bard sempre desviava os olhos.

Um dia Finny estava ajoelhado num canteiro plantando tulipas quando Bard se aproximou, o menor não se importou - era comum eles irem ao encontro um do outro para conversar no seu tempo livre.

_Oi.

_Oi

Um pequeno embrulho foi depositado ao lado do jardineiro.

_O que é isso, Bard?

Finny pegou o embrulho.

_É um presente… pra você - Bard coçou a nuca, meio sem jeito.

_Um presente? - os olhos brilharam de alegria - vou lavar as mãos - disse começando a se levantar.

_Eu abro para você.

Bard se ajoelhou do seu lado e pegou o pequeno embrulho rasgando o papel, tirou de lá cinco presilhas vermelhas, as mostrou na palma da mão para o outro.

_Ah, são bonitas - abriu um enorme sorriso.

Bard adorava vê-lo sorrindo assim, ele não lembrava em quase nada aquele rapaz esquelético e arredio que chegou há quase quatro anos. Era alegre, jovial, animado.

_Deixa que eu coloco para você.

Passou os dedos pelo cabelo do jardineiro, separando a franja para o lado onde colocou três presilhas, as outras duas ele colocou do outro lado.

_Ficou bom?

_Ficou ótimo - respondeu.

Bard deslizou a mão pelo comprimento do cabelo do outro num carinho. A mão se demorou na curva da mandíbula, a ponta dos dedos tocavam levemente o lóbulo da orelha; ele não pôde deixar de perceber como a pele do outro era macia. Finny piscou, e Bard foi capturado por aqueles dois oceanos verdes, tão profundos.

Os rostos começaram a se aproximar instintivamente. Bard viu Finny inclinar  ligeiramente o rosto para o lado, entreabriu os lábios rosados e começou a fechar os olhos conforme a distância entre os dois diminuía.

Ambos já sentiam as respirações do outro. Finny já tinha os olhos fechados e segurava os braços de Bard que mantinha os olhos semi abertos, observando o rosto tentador do menor. Faltava muito pouco para que se unissem num beijo.

_Tenho que ir - sentenciou Bard, se afastando do rapaz rapidamente.

Se levantou e saiu correndo para dentro de casa, não sem antes ouvir o outro o chamando.

_Bard???
Correu para o quarto e fechou a porta.

“O que eu quase fiz???” - pensou, sentindo o coração disparado no peito.


Notas Finais


Yooo
o que acharam? Tá maomeno né?
Bem, os comentários serão respondidos mas gent, me perdoem a demora.

Beijos beijos


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