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História Fools - For you


Escrita por: edreaper

Capítulo 6 - For you


Fanfic / Fanfiction Fools - For you

Não era difícil ver a equipe da STRIKE voltar de suas missões com apreensões, então, não foi um alarde quando chegaram com três hóspedes. Porém, daquela vez, não se tratava de prisioneiros. Como dois deles ainda estavam inconscientes, seguiram direto até a área médica com a escolta do esquadrão.

Barney não foi capaz de soltar a mão da amiga ou sair do seu lado em momento algum. Já a tinha deixado sozinha por tempo demais, mas a mão de um dos enfermeiros erguida em sua direção indicava que era a linha final de seu acesso.

— Eu fico com ela — Taylor ofereceu ao olhar para o loiro, que respirou profundamente. Ela se aproximou, tocando o ombro dele, e apertou em conforto, observando seu rosto. — Você confia em mim, não é? — sussurrou, atraindo seus olhos. Ele assentiu. — Eu não vou sair do lado dela — prometeu.

— Obrigado — o Barton sussurrou, olhando nos olhos azuis dela por alguns instantes, mas logo se inclinou sobre a amiga e deu um beijo demorado em sua testa, aproximando-se de seu ouvido. — Nos vemos daqui a pouco — prometeu.

O tenente retomou sua postura, deixando que um longo suspiro escapasse de seus lábios, e recuou um passo enquanto os agentes médicos se afastavam com a amiga. Ele passou as duas mãos pelo rosto, esfregando-o, e as subiu para os cabelos, puxando os fios para tentar se conter, mas olhou ao redor, se aproximando de uma das cadeiras da sala de espera. E foi ali que permaneceu por pouco mais de duas horas.

Toda vez que as portas se abriam, ele erguia seu olhar, mas quando realmente deveria ter olhado, continuou encarando o chão. Sentiu um toque em seu ombro e os encolheu, apertando firmemente as duas mãos.

— Ela está bem — Taylor disse ao se abaixar de frente para ele, apoiando as mãos em seus joelhos. — Está sedada por causa dos exames, mas deve acordar em breve... Você pode vê-la — avisou, segurando as mãos do loiro, e se levantou, puxando-o consigo.

— Obrigado. — Sua voz saiu num tom quase inaudível, então, ele a abraçou firmemente, respirando fundo, e apertou os olhos fechados, sentindo como se um enorme peso tivesse deixado seus ombros.

A Hunter deu um beijo em seu rosto, o acolhendo um pouco mais em seu abraço, e só o soltou quando ele se sentiu pronto para se afastar. Ela fez sinal para que o namorado seguisse pelo corredor, pegando os equipamentos dele na cadeira ao lado, e seguiu na direção oposta, sabia que era algo que ele precisava fazer sozinho, mas parou quando ouviu seu nome.

— Pode pedir para alguém chamar a Candy? — ele pediu, vendo-a assentir, e sorriu fraco em agradecimento, respirando fundo antes de seguir pelo corredor cinzento até avistar sua melhor amiga pelas portas de vidro.

Barney respirou fundo, passando uma mão pelos cabelos, e olhou ao redor antes de abrir a porta, logo a fechando atrás de si. Permaneceu de longe por alguns instantes, como se algo o impedisse de se aproximar. As palavras de Pepper ecoaram por sua mente, o modo como ela o culpou pelo que aconteceu. O modo como ela o olhou na última vez que se encontraram – o memorial.

Por que não cuidou dela, Charles?”.

Ele gostaria de ter cuidado. Deveria.

O peso em seus ombros havia diminuído, mas o aperto em seu peito apenas aumentava. Era quase como se ela sentisse sua angústia, pois, assim que ele respirou fundo, conseguiu ouvir seus batimentos acelerarem por alguns instantes, fazendo com que o homem apressasse seus passos para chegar perto da amiga.

— Eu estou aqui, Sammy — garantiu num sussurro, puxando a cadeira para sentar ao lado dela, e segurou uma das mãos firmemente entre as suas, depositando um beijo demorado em seus dedos. Encostou sua testa na pele dela, fechando os olhos, e respirou fundo ao sentir as lágrimas. — Eu estou aqui.

 

 

Ilha de Manhattan – Nova York, NY.

9 horas e 27 minutos, A.M.

Por mais que fosse seu dia de folga, Candice não conseguia ter uma rotina que não começasse logo cedo. Não chegava a ver o sol nascer, mas também não desperdiçava o dia. Pegou seu livro e seu chá, fazendo um breve cafuné em seu gato, Elrond, no topo do arranhador, mas logo ouviu seu miado a seguindo.

Se sentou no sofá, de frente para as enormes vidraças da janela, e tomou um gole do líquido quente antes de deixá-lo ao lado de sua poltrona, abrindo espaço para o gato subir em seu colo enquanto buscava a página onde havia parado. Mas não se passaram nem dez minutos quando o celular começou a tocar.

A mulher olhou na direção da cozinha, onde o aparelho carregava em algum lugar da ilha, mas voltou seu olhar para o livro, afagando os pelos do gato.

— Eles podem esperar — resmungou.

Para o seu alívio – e de sua concentração –, o celular logo se calou, porém, uma nova chamada ecoou quando alcançou o meio da página. Soltando todos os xingamentos que conhecia, ou o que achava que eram xingamentos, ela se levantou, deixando o livro e carregando o felino consigo.

— Você sabe o que significa ter um dia de folga, Claire? — resmungou ao atender a chamada da agente.

Desculpe — a mais nova pediu, soltando um longo suspiro, que fez com que a Stark se sentisse culpada pelo modo como havia falado. — Me pediram pra te ligar, estão precisando de você no Centro Médico — avisou.

— Disseram sobre o que era? — questionou um tanto confusa, deixando o gato sobre a bancada, e olhou para o relógio, suspirando ao ouvir sua negação. — Está bem, eu chego em alguns minutos, obrigada — agradeceu antes de desligar.

— Eu pensei que era o seu dia de folga. — O resmungo sonolento de Morgan quase a assustou.

Ela olhou sobre o ombro e viu o jovem de cabelos bagunçados parado de pé na passagem entre a cozinha e o corredor para os quadros. Sorriu de lado e se aproximou, apoiando a mão em seu ombro antes de beijar seu rosto.

— Surgiu alguma emergência na base, precisam de mim. — Mordeu o lábio. — Eu tento voltar antes do almoço, você vai ficar bem?

— Vou. — Assentiu, olhando para o chão ao seu lado, e sorriu fraco ao ver a Samoieda. — Vou mandar uma mensagem pro Barney, perguntar se ele já chegou. — Ergueu o olhar para a irmã, segurando seus braços, e beijou sua testa antes de lhe dar espaço, seguindo até a geladeira.

Desde que se separaram, Pepper se mudou para Malibu para ficar mais perto da fábrica principal, enquanto Tony passava a maioria de seus dias na Torre dos Vingadores. Morgan amava seus pais, mas, durante o ano letivo, acabava dividindo sua atenção entre a irmã e o pai, deixando para visitar a mãe durante as férias.

Não que fizesse alguma diferença, já que ela estava sempre afundada em trabalho. E o pai estava sempre afundado na oficina. O sumiço de Samantha destruíra o casamento, mas os dois haviam destruído a família – e nenhum deles admitiria aquilo.

Deixou os ombros caírem, dando uma última olhada nele, e seguiu até o quarto para se trocar. Candice sabia que não era o mesmo e que não tinham as mesmas coisas em comum, mas tentava estar sempre disponível para o caçula. Como ela estaria. Os pais tomaram as próprias decisões, eles só tinham sido apanhados no meio.

Pegando o celular, enviou uma mensagem rápida, batucando os dedos na parte de trás, mas suspirou quando a notificação de entrega não chegou. Jogou o aparelho sobre a cama e foi até o armário.

 

Quando estacionou seu carro na vaga de sempre, Candice suspirou ao notar o carro do amigo no mesmo lugar de quando ela foi para casa no dia anterior. Então, talvez não respondesse a mensagem de seu irmão.

Pegou o casaco no banco do carona e o vestiu assim que saiu do carro, apressando um pouco os passos em direção ao prédio da enfermaria. Ela não era médica nem nada, então, para chamá-la, sabia que não devia ser coisa boa.

Assim que alcançou a recepção, viu Taylor se levantar da cadeira e se aproximar. Candice estreitou um pouco os olhos quando ela apenas fez sinal para que a seguisse, sem nem ao menos cumprimentá-la.

"Droga", pensou, sentindo seu coração acelerar. "O Barney também não".

Fechou os punhos, quase correndo para alcançá-la, e deixou um longo suspiro de alívio escapar pelos lábios quando reconheceu o amigo sentado ao lado da cama em um dos quartos, mas seu coração acelerou ao ver os cabelos castanhos jogados pelo travesseiro.

Candice recuou um passo, perdendo o equilíbrio, mas Taylor foi rápida o bastante para apoiá-la no próprio corpo. Candy olhou para a mulher ao seu lado, seus olhos silenciosamente perguntando se não era um sonho.

— É ela, nós confirmamos — a Hunter respondeu num tom calmo, apertando a mão da Stark, e esboçou um pequeno sorriso.

A mais velha sentiu a garganta fechar, o ar mal passava. Devolveu o aperto em sua mão, levando a outra aos lábios, e tentou recuperar o controle sobre as pernas, avançando lentamente em direção ao quarto.

Barney olhou para a porta, sentindo seu peito aliviado por sua chegada, então, Candice pôde notar seus olhos vermelhos. Se aproximou dele, parando ao seu lado, e apertou o ombro do ex-namorado antes que ele se levantasse para abraçá-la.

Ele murmurava pedidos de desculpas, deixando toda sua culpa sair entre as lágrimas, mas ela apenas o apertou firmemente, não demorando a interrompê-lo.

— Nunca foi culpa sua, Barn — garantiu, o apertando em seus braços, e deu um beijo demorado em seu rosto antes de segurá-lo entre as mãos. Os dois respiraram profundamente para controlar as lágrimas, ela esboçando um pequeno sorriso. — O que importa é que ela voltou para nós.

Ele fechou os olhos, assentindo lentamente, e recebeu outro abraço apertado. Ao soltá-lo, Candice se voltou para a irmã, passando uma mão por seus cabelos, e observou sua pele pálida. Inclinou em sua direção e deu um beijo demorado em sua testa, respirando profundamente quando uma de suas lembranças favoritas lhe veio à mente.

 

 

Os irmãos estavam sentados sob a árvore do jardim da mansão. Samantha e Morgan, com seus 10 e 2 anos, brincavam com alguns brinquedos do menino, que ria da maioria das palhaçadas da irmã.

A mais velha se aproximou com dois copos de suco, entregando um à menina, e se abaixou para dar o líquido ao caçula. Em seguida, os deixou voltar a brincar e sentou na divisão da raiz logo atrás do bebê.

Se acomodou e pegou o livro da pequena bolsa que carregava ao torso. Começou a ler, mas não demorou até que a irmã visse o que fazia.

Samantha juntou os brinquedos, deixando um deles com o mais novo, para que não chorasse, e pôs o restante de lado, aproximando-se de Candice, fazendo sinal para que Morgan fosse até ela, o sentando no próprio colo.

Candy sorriu. Sabia o que aquilo significava. Voltou à primeira página, pigarreando levemente, e se acomodou.

Numa toca no chão vivia um hobbitela começou sua leitura. Não uma toca nojenta, suja, úmida, cheias de pontas de minhocas e um cheiro de limo...continuou, fazendo caras e bocas ao olhar para o caçula, sorrindo por seu riso. Nem tampouco uma toca seca, vazia, arenosa, sem nenhum lugar onde se sentar ou onde comer: era a toca de um hobbit, e isso significa...deixou o restante no ar e olhou para Sam.

Conforto! ela completou, balançando levemente o irmão no colo, e o apertou em seus braços, rindo junto aos dois.

Passaram algum tempo sob aquela árvore naquele dia. Candice leu boa parte do livro, mesmo que Morgan não entendesse uma palavra. Ela fez a mesma coisa para Samantha quando aprendeu a ler.

Já havia contado aquela história tantas vezes, que estava quase aprendendo a contar sem o livro.

De repente, Candice sentiu que os irmãos estavam quietos demais, então, fez uma breve pausa e os olhou. Sam tinha os olhos vidrados nela, mas o pequeno Howie dormia tranquilo em seus braços.

A mais velha sorriu com a cena, inclinando-se com cuidado na direção da irmã, e a viu fechar os olhos após dar um beijo em sua testa. Com cuidado, Samantha se aproximou, deitando a cabeça no ombro dela, e se acomodou enquanto a ouvia voltar à história. Morgan ainda teria muito tempo para ouvi-la.

 

 

Por volta do horário do almoço, a porta do apartamento de Candice abriu, mas Morgan suspirou ao ver que não era a irmã. Sorriu fraco para o homem e ergueu o punho fechado em cumprimento.

— Oi. — Steve sorriu e aceitou o gesto, em seguida, afagou entre as orelhas de Galadriel, deitada no sofá ao lado dele, e coçou o queixo do gato no arranhador, terminando seu trajeto até a mesa de jantar com as sacolas do almoço. — Candice te avisou?

— Que ela vai demorar? Sim. — Um longo suspiro escapou pelos lábios do caçula, que o acompanhou com o olhar. — Ela te colocou na missão "Vigiar o Caçula Problemático"?

— Você não é tão problemático assim — brincou, olhando-o sobre o ombro a tempo de ver sua careta.

— Devia ter me visto no colegial. — Howie riu fraco, mas se levantou do sofá para se sentar à mesa com o namorado da irmã.

Não era apenas o relacionamento dos pais que havia mudado no último ano. Algumas semanas após o memorial, Steve convidou a mulher para um café, que acabou gerando um segundo e, quando perceberam, Candice o estava apresentando ao irmão como seu namorado.

Os dois tinham suas diferenças, mas Morgan gostava de passar algum tempo com o Capitão, mesmo que fosse em silêncio ou assistindo alguma coisa. Talvez a tranquilidade dele acalmasse seu espírito inquieto.

Tirando Barney, ele era o único a saber, o que justificava o tanto de tempo que passavam juntos sem Candice.

— Eu posso levá-la para dar uma volta mais tarde — ofereceu e indicou Galadriel, a Samoieda, que ergueu a cabeça do sofá. Sabia que falavam dela.

— Eu não estou com muita energia, mas posso encontrar com vocês no parque depois — Howie concordou e pegou a embalagem que o outro lhe estendeu. — A Candy não deve voltar tão cedo mesmo, nem vai sentir nossa falta.

— Faremos isso, então. — Steve sorriu, começando sua refeição.

 

 

Quando os resultados finais dos exames de Samantha finalmente chegaram, o médico seguiu até o quarto da paciente, chamando a atenção da dupla ao lado da cama. Afastaram-se um pouco para conseguirem conversar melhor.

— Os exames estão bons — o doutor Hartley garantiu ao olhar para a irmã da paciente. — Ela sofreu algumas alterações genéticas, assim como os outros dois, mas parece bem fisicamente. — Ouviu o suspiro aliviado de Candice antes de voltar sua atenção ao Barton. — Eu fiz algumas pesquisas e o experimento que você descreveu parecia uma derivação de lobotomia.

— O quê? — A Stark voltou a atrair o olhar do médico, mas também de alguns agentes que passavam pelo lugar devido ao seu tom alto. — Que história é essa? — Olhou para Barney.

— Estavam dando choques nela — o loiro respondeu sem muitos detalhes, já que nem ele mesmo sabia. — Os técnicos estavam analisando as informações...

— Sim, foi por eles que consegui concluir a pesquisa, haviam fotos do laboratório no relatório do médico. — Um riso forçado escapou pelos lábios do mais velho, que balançou a cabeça. — Desculpe, é que é difícil acreditar que deram um diploma de medicina e doutorado em genética para aquele sociopata — resmungou num desabafo.

— Ele não vai machucar mais ninguém do inferno — Barney garantiu, cruzando e apertando os braços com força, parando seu olhar na amiga pela porta de vidro do quarto.

— Com base nessas informações, eu pedi um EEC... — Romain voltou a explicar, mas parou ao notar que apenas a mulher entendeu seu jargão. — Um mapeamento cerebral. A doutora Carson está analisando agora, mas só saberemos dos danos e da extensão quando ela acordar.

— Tenente Barton? — Ouviram alguém chamá-lo no corredor e o agente olhou para o dono da voz. Yanlin Chen, que estava com Pietro logo ao lado.

— Obrigado, Chen. — O Barton assentiu, se aproximando, e respirou fundo antes de estender uma das mãos ao mais novo. — Desculpe por aquilo mais cedo. — Foi sincero em seu pedido.

— Tudo bem — o Maximoff garantiu com seu sotaque carregado e sorriu de lado ao aceitar o gesto. — Eu também ficaria receoso se chegasse em um lugar estranho e um desconhecido soubesse o meu nome.

— E como você sabia que era eu?

— É uma longa história...

Barney apenas assentiu, teriam tempo para as explicações depois. Pôs uma mão no ombro do rapaz e voltou a se aproximar de Romain e Candice.

Antes que qualquer outra coisa fosse dita, os batimentos acelerados apitaram no monitor, fazendo com que o trio se apressasse quarto adentro. Pietro estava um pouco mais recuado, mas usou sua velocidade para parar entre eles e a amiga, erguendo as mãos.

— Não toquem nela — pediu e olhou para Sam sobre o ombro, mas suspirou antes de voltar sua atenção aos três. — Confiem em mim. — Ele se lembrava da última vez que ela acordara após um procedimento, e de quando foi pega de surpresa.

Os olhares do trio se dividiam entre ele e o monitor, mas Barney foi o primeiro a respirar fundo, decidindo acatar ao pedido do rapaz. Candice estranhou, mas os ombros caídos demonstraram sua desistência também.

Por mais que quisesse seguir o exemplo deles, Romain estava um pouco preocupado com o número alto de batimentos, então, deu a volta na cama para analisar os aparelhos, garantindo que não encostaria na moça.

Seus batimentos não foram os únicos sinais elevados. Os registros das ondas cerebrais mostraram picos de atividade sobrecarregados. De repente, uma respiração profunda ecoou pelo quarto e a mulher se sentou na cama, assustando os presentes.

— Sam — Pietro chamou seu nome num tom calmo, segurando seus ombros firmemente, e olhou nos olhos da amiga, se focando em uma lembrança para acalmá-la.

 

O que fazia antes de te trazerem pra cá?

A pergunta de Pietro saiu tão receosa quanto curiosa. Ele olhou pela pequena grade e observou a amiga, que encarava o teto de sua cela.

— Acredite ou não, mas eu estava caçando esses filhos da puta. — Um suspiro cansado e frustrado escapou pelos lábios dela. O jovem arregalou os olhos. É, ele não acreditava. — Eu trabalho... Ou trabalhava para uma organização de resposta tática a ameaças — contou antes de olhá-lo. — Estávamos atrás da Hidra, mas eu não sei o que houve. Minha missão deu errado e eu acabei aqui.

— Então, você era tipo uma super heroína?

— Não exatamente. — Soltou um riso baixo e finalmente o olhou. — Estou mais para a equipe de Missão Impossível. E o meu namorado era como o Ethan Hunt. — Sorriu fraco.

— Eu espero que nos encontrar não seja uma missão tão impossível assim para ele — brincou com suas referências para tentar animá-la.

— É, eu também espero...

 

— Pietro — seu nome saiu pelos lábios dela num tom aliviado. Samantha fechou os olhos, puxando o amigo para um forte abraço, e respirou profundamente, sentindo seu coração se acalmar aos poucos.

No entanto, ao se sentir observada, abriu os olhos novamente para analisar o ambiente, mas os arregalou ao ver a dupla parada atrás dele. Soltou seu amigo e recuou na cama, encolhendo as pernas para assumir uma postura defensiva.

Quando o homem de cabelos loiros deu um passo em sua direção, ela rolou para fora da cama, ficando do lado oposto ao grupo, e pegou o suporte do soro, usando para ameaçá-los enquanto tirava as agulhas de seu braço com a mão livre.

A mulher mordeu o lábio com força e pareceu analisar a situação. Talvez não conseguisse passar pelos três, mas nenhum deles bloqueava o caminho para a parte fixa da porta de correr de vidro. Arremessou o tripé na porta e lançou-se na mesma direção, atravessando o vidro quebrado, sentindo alguns cacos em seus pés enquanto corria pelo corredor.

Pietro fez menção de seguir os passos dela, mas Barney sabia que ela não ia parar se continuasse a se sentir ameaçada, então, segurou o braço do rapaz e puxou o rádio na cintura.

 

As pegadas de sangue marcavam o caminho da mulher, sujando o piso branco cintilante para fora do prédio. Ela tentava desviar das pessoas, mas acabava esbarrando em uma ou outra, principalmente naqueles que tentavam lhe parar. Um dos agentes se chocou contra a parede, resultando em uma rachadura no corredor e provavelmente uma dor infernal em suas costas.

A adrenalina não estava apenas acelerando seu coração, como também ofuscava seu raciocínio. A visão periférica estava um tanto turva, deixando que ela focasse somente no que estava à sua frente, então, não viu quando um caminhão surgiu na rua à frente do prédio e rolou no chão com o impacto.

Apoiou as mãos no chão e se preparou para levantar, mas notou o cerco de agentes armados ao seu redor. Ergueu seu corpo devagar, tentando não fazer movimentos bruscos, e pôde ouvir alguém se aproximar pelas costas. Quando tocou seu ombro, ela ergueu o cotovelo e o acertou no rosto do homem, fazendo-o recuar poucos passos com a mão no nariz.

Um outro avançou em sua direção, Samantha desviou das chapas de choque de sua pistola e deu um chute na mão dele, arremessando a arma para longe. Segurou seu pulso e girou o próprio corpo antes de lançar o agente pelas costas em direção ao chão, fazendo com que caísse de bruços.

Puxou a arma no coldre dele e apoiou o joelho em sua cabeça, deixando-o com o rosto no asfalto. Destravou a pistola ao apontar para sua cabeça e ergueu o olhar para o agente que gritava as ordens, segurando um dos pulsos do subordinado às costas.

Ouviu gritos ao longe e os passos apressados pararam assim que alcançaram a roda de agentes. O mesmo homem de cabelos loiros do quarto parou na mira deles e pareceu repreendê-los.

— Onde estão com a cabeça? — ele bradou, encarando os outros. — Ela é uma de nós!

Um calafrio percorreu a espinha da mulher. Apertou o pulso do agente submisso, ouvindo seu resmungo de dor, e aproximou a mira de sua cabeça ao notar que outra agente se aproximava, desarmada e com as mãos erguidas.

— Samantha, não é? — Tentou manter um tom calmo enquanto agachava à frente dela. — Não vamos te machucar. Eu prometo — garantiu e estendeu lentamente a mão em sua direção. — Mas preciso que me dê a arma.

Os olhos verdes passaram por toda a cena, desviando-os da estranha e analisando os agentes, mas parou no amigo de cabelos cacheados um pouco mais atrás da multidão que havia se formado. Sentiu seu estômago embrulhar, mas afrouxou o golpe quando o viu assentir, deixando que o agente respirasse livremente.

Ela entregou a arma à mulher e se levantou com as mãos erguidas, mas seus olhos voltaram ao loiro enquanto ele se aproximava, segurando gentilmente seus punhos para abaixá-los.

— Não precisa disso — ele garantiu.

Sam podia sentir que o estranho tentava se segurar, mas arregalou os olhos quando pareceu ceder aos instintos e a puxou para seus braços. O toque lhe parecia tão familiar, mas ela não conseguia se lembrar. No entanto, fechou os olhos ao sentir a mão dele afagar seus cabelos e seu corpo relaxou de forma instantânea.

— Você está em casa agora.

 

De volta à enfermaria, designaram a mulher a um novo quarto, já que a porta quebrada o deixaria inutilizável por algumas horas. Samantha tinha as mãos sobre o colo, mas sua atenção estava na mesma agente de minutos antes, que fazia o curativo em seus pés. Enquanto isso, conseguia sentir os olhares fixos através da janela de vidro.

— O que aconteceu? — perguntou num tom baixo, atraindo o olhar de sua cuidadora.

Taylor prendeu a atadura com um pedaço de esparadrapo e ajustou sua postura, ficando de frente para a outra. Uniu as mãos sobre o colo e a observou atentamente.

— Todos nos conhecemos — contou, podendo ver sua expressão confusa. — Aquela sem jaleco que não tira os olhos de você é a sua irmã, Candice. — Indicou a janela atrás de si com a cabeça. — O loiro tão preocupado do lado é o Barney, seu melhor amigo. Nós trabalhamos juntos aqui na base há alguns anos e o seu pai é famoso, então, todo mundo te conhece...

— Até aquele idiota que queria estourar a minha cabeça?

— Ele sabe quem você é, mas entrou depois que você sumiu. — Sorriu de lado.

Samantha se acomodou nos travesseiros, observando o homem do lado de fora do quarto por alguns instantes. Deixou os ombros caírem e um longo suspiro escapar pelos lábios, estalando os dedos.

— Acho que agora entendi porquê eles me olham como se eu fosse um fantasma.

— Pensávamos que tinha morrido — a Hunter admitiu. — Ele procurou o máximo que pôde, mas nada indicava o contrário. O Barney se culpa...

Sam respirou fundo, mas passou uma mão pelos cabelos e assentiu em agradecimento para ela quando viu a dupla de jaleco entrar, deixando os outros dois do lado de fora.

Enquanto o doutor Hartley fazia alguns exames físicos, sua colega se apresentou como a doutora Rosalind Carson, neurologista da SHIELD. Ela lhe fez algumas perguntas protocolares, mas constatou que, apesar da perda de memória, nenhum de seus exames indicava lesões graves. Estava otimista de que as lembranças voltariam em pouco tempo.

Quando os médicos deixaram o quarto, Candice entrou sozinha. Sam olhou pela janela para o corredor, mas não avistou o amigo. Usou o polegar para esfregar a palma da mão e sorriu fraco para a mais velha, vendo Taylor levantar da cama.

— Eu estarei por perto se precisarem de algo — avisou e apertou levemente o ombro da Stark mais velha no caminho para a porta.

Candy pôs uma mecha de cabelo atrás da orelha antes de indicar a cadeira ao lado da cama.

— Se importa?

— Não, tudo bem — Sam garantiu, acompanhando seus movimentos com o olhar. — Candice, não é? — A viu assentir. — Acho que essa não é a reunião que esperava.

— Certamente não é. — Soltou um riso forçado e uniu as mãos sobre as pernas cruzadas, batucando os polegares por ansiedade. — Pietro disse o que houve com vocês... — A caçula desviou o olhar. — Eu sinto muito.

— É, eu também.

Candice respirou profundamente. Sabia que deveria ser grata por terem encontrado sua irmã, devia estar aliviada, mas não conseguia se livrar da angústia decepcionante em seu peito. Tinha tanto a contar — coisas boas e ruins —, porém, sabia que nenhuma delas faria diferença para a estranha à sua frente.

De certa forma, não conseguia deixar de sentir que sua Sammy, a Samantha que realmente conhecia, tinha mesmo morrido com aquela explosão.

 

 

Quando anoiteceu, mesmo a contragosto, Candice voltou para seu apartamento sob o lembrete de Barney de que teria que trabalhar no dia seguinte de qualquer maneira, então, estaria perto da irmã. Mas ele nem precisou dizer mais nada. A Stark sabia que o homem não a deixaria sozinha.

Ele bateu ao vidro da porta e recebeu o olhar confuso de Samantha, que se sentou na cama para receber o visitante. Passou uma mão pelos cabelos e o viu erguer o saco de papel no caminho até ela, puxando a mesa retrátil para o lado da cama.

— Trouxe seu jantar. — Deu um pequeno sorriso para a morena. — Posso te fazer companhia?

— Claro. — Ela assentiu, puxando o saco sobre a mesa, e respirou profundamente ao sentir o aroma gorduroso do lanche que lhe aguardava.

— Imaginei que perder as memórias não mudaria seu gosto por comida — brincou, mas olhou sobre o ombro em direção à janela antes de sentar na cadeira próxima da cama. — Como estão? — Indicou os pés enfaixados dela.

Sam o olhou confusa enquanto levava uma batata frita à boca, seguindo sua indicação até as ataduras, mas pareceu entender quando voltou a olhá-lo. Apenas afastou a mesa retrátil e impulsionou seu corpo para descer os pés da cama.

Barney pegou o lanche dela e levou até a mesa à beira da janela externa do prédio. Já estava escuro do lado de fora, mas, ao longe, podiam ver as tímidas luzes da cidade em frente ao pôr do sol, assim como as luzes da base. Ao se virar para ela, notou que seus pés ainda não tinham tocado o chão.

Na hora, a adrenalina nem a deixava sentir os cortes, mas, quando tudo se acalmou, tinha receio de apenas pensar em andar. Apertou as bordas do colchão e encolheu os ombros, no entanto, ergueu o olhar para a mão estendida em sua direção. Aceitou o gesto e respirou fundo antes de se levantar, fechando os olhos com força ao sentir a ardência na sola dos pés.

— Posso te levar no colo se quiser.

Ela tentou segurar o riso, porém, o ar saiu abafado pelas narinas. Abriu os olhos na direção do homem e acabou acompanhando sua gargalhada alta.

A amiga podia até não se lembrar dele, mas o coração de Barney se confortava na ideia de que ela ainda estava lá. Adorando as mesmas porcarias de sempre e rindo de suas palhaçadas. Mesmo que as memórias não voltassem, ele ainda poderia reconquistá-la.

Sentaram-se à mesa e, enquanto Sam se ajeitava, o Barton preparou a mesa. Começaram a comer em silêncio. Ela observou a janela por alguns instantes até decidir voltar sua atenção ao homem. Ele parecia mais relaxado do que há algumas horas e já imaginava o motivo: ela não estava tentando matá-lo, nem se sentindo ameaçada naquele momento.

A Stark tomou um gole do refrigerante e se acomodou na cadeira, soltando um breve suspiro.

— Ela gosta de você — comentou de repente, atraindo os olhos do loiro para si. A expressão confusa estampava seu rosto. — A médica, Taylor. Vocês estão juntos?

— De onde tirou isso? — Um riso baixo lhe escapou pelos lábios, mas a morena podia ouvir o nervosismo em suas palavras.

— Ela tinha um tom diferente quando falava de você. — Deu de ombros e mordeu outro pedaço de seu cheeseburguer. — Como se ela fosse íntima o suficiente pra saber o que está na sua mente.

Barney limpou a boca com o guardanapo e recolheu as mãos para o próprio colo, abaixando seu olhar por alguns instantes. Sam estreitou os olhos por sua reação, mas logo os arregalou.

— Você também gosta dela! — acusou.

— E nós estamos juntos — confessou com um meio sorriso nervoso, suspirando ao olhar a amiga. — E ninguém sabe.

Samantha puxou o refrigerante para perto e tomou um gole antes de estalar a língua. Respirou profundamente, como se tentasse descobrir o que aquilo significava para ela, mas esboçou um pequeno sorriso e soltou uma piscadela para o homem sentado à sua frente.

— Não se preocupe, o segredo de vocês está seguro comigo.

 

just stay strong

'cause you know I'm here for you

KEEP HOLDING ON, avril lavigne


Notas Finais


O livro retratado na primeira memória é "O Hobbit", de J. R. R. Tolkien. O trecho destacado está disponível na amostra grátis na Amazon.


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