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História Fools - So tender


Escrita por: edreaper

Capítulo 8 - So tender


Fanfic / Fanfiction Fools - So tender

Já faziam bons dez minutos que Clint estava completamente calado. Barney temia cada pensamento que passava por sua mente. Não sabia mais quantas vezes aguentaria contar aquela parte da história, mas sabia que ser transparente com o irmão era a única escolha possível depois de tudo.

No entanto, as frases “fizeram algo com ela” e “Sammy não se lembra de nós” o permitiram ver o coração do mais velho se quebrando ainda mais — como se aquilo fosse possível.

A cabeça de Clint estava tão turbulenta que podia parecer tudo, exceto silenciosa. Mesmo que seus lábios não se movessem, não parava de se perguntar o que mais poderia ter feito, o que havia acontecido ou porquê ele havia desistido tão fácil.

— Clint? — Ouviu o caçula chamar e ergueu o rosto em sua direção. — Ficar se culpando não vai ajudar...

— Não foi você quem desistiu de procurar. — Seu tom foi um resmungo baixo. Os ombros se encolheram e o arqueiro voltou a encarar as próprias mãos.

— Eu desisti sim — Barney lembrou, apoiando uma mão no ombro do mais velho e apertando em conforto. — Aquela busca cega estava me destruindo tanto quanto a você...

— Mas não era você quem queria pedi-la em casamento, Charles — rebateu com a voz um pouco elevada. Passou as mãos pelos cabelos e se levantou, caminhando pela sala, sem saber se era para amenizar a culpa ou a ansiedade.

"Na saúde e na doença", como ele poderia propor algo de tamanha importância, sendo que abriu mão dela ainda nos primeiros meses?

O caçula respirou profundamente e cruzou os braços. Manteve-se encostado à mesa, mas abaixou o olhar. Conseguia apenas imaginar o dilema que o irmão enfrentava, pois havia passado por algo semelhante durante o voo de volta para a base.

— A Carson está otimista que ela recupere as memórias — anunciou, tentando lhe dar algum conforto. — Eu te aviso se tivermos qualquer avanço.

Passou uma mão pelos cabelos e seguiu em direção à porta da sala de reuniões, mas olhou sobre o ombro e apertou a maçaneta. Deixou que um longo suspiro escapasse e fechou a porta atrás de si. O melhor que podia oferecer àquela altura era deixá-lo digerir as informações.

 

 

As mulheres estavam sentadas de frente uma para a outra há algum tempo. Candice quis aproveitar o almoço para tentar se reconectar com a irmã, talvez ajudá-la a lembrar de sua vida, mas as coisas não estavam saindo como esperava. Os dedos batiam de maneira leve, porém, ansiosa nos braços.

— Sabe que não precisa se cobrar tanto, não é? — A voz de Samantha a despertou de seus pensamentos. — A doutora Carson disse que é normal pelo que o Barney descreveu... — Deu de ombros.

— Eu sei, só não consigo aceitar que não tem nada que eu possa fazer. — Acomodou-se na cadeira e uniu as mãos sobre o colo, esfregando-as. — Sou uma cientista, sentar e esperar não é o que eu costumo fazer.

— Sentar e esperar resultados de exames e testes é exatamente o que costuma fazer — brincou com um sorriso travesso, notando a sobrancelha arqueada em sua direção. — Está mais inquieta do que eu, até parece que é você quem está sem memórias — provocou e tomou um gole do que ainda restava do refrigerante.

— Isso não é justo — resmungou, cruzando os braços, e quase encarou a outra, recebendo uma expressão confusa em resposta. — Você fala como ela, age como ela, mas não lembra que é ela.

— Se eu agisse como uma pessoa totalmente diferente, acha que doeria menos? — Sua voz saiu baixa, fazendo Candice morder o lábio.

Realmente agia como sua irmã, pois conseguia notar o incômodo em seu tom. A mais velha deixou os ombros caírem. Não queria ter feito a escolha errada de palavras.

— Eu não sei — confessou. — Provavelmente não, porque a sua personalidade é um sinal de que a Sam que conhecemos ainda está aí em algum lugar... — Deu de ombros, atraindo os olhos verdes da mais nova. — Se agisse como outra pessoa, talvez fosse um indício que não poderíamos tê-la de volta.

Sam suspirou, relaxando os ombros, e assentiu, mostrando que entendia seu ponto de vista. Algumas de suas ações com Barney haviam lhe passado a mesma ideia, mas ele não parecia tão frustrado quanto sua "irmã".

Mesmo recebendo algumas memórias, não conseguia recuperar as suas próprias ao ponto de criar conexões. Ou recriar.

Um novo suspiro escapou e, então, olhou ao redor. Pôs o copo de volta sobre a mesa e uniu as mãos sobre o colo, parecendo pensativa.

— O que quer fazer?

Candice arregalou um pouco os olhos, completamente confusa com a questão. Separou os lábios para tentar responder, mas não sabia o que deveria dizer.

— Taylor me mostrou o meu quarto no prédio da STRIKE — Samantha contou enquanto esfregava as mãos. — Tinha fotos. Você, nossos pais, Morgan... — Fez uma leve careta. — Howie?

— Isso. — Esboçou um pequeno sorriso, mas sentiu um frio tomar conta de seu estômago. — Eu não sei. Nosso pai pode entender a situação, mas ele é tão impaciente quanto eu. — Soltou um riso baixo, sendo acompanhada pela outra. — Só tenho medo que o Howie fique de coração partido e não entenda o porquê da irmã favorita não lembrar dele...

— "Irmã favorita"? — Uma nova careta assumiu o rosto da mais nova.

— É, vocês são muito mais próximos, mas a culpa é meio que minha — admitiu com um sorriso amarelo, passando a mão pelos cabelos para tirar alguns fios do rosto. — Eu passei anos fazendo faculdade no exterior, você estava bem mais perto de casa, mais acessível...

— Tenho certeza de que não foi de propósito.

— Não precisa se preocupar — Candice garantiu, soltando um longo suspiro. — De qualquer forma, eu acho que não conseguiria me conectar com ele do mesmo jeito. Você era muito mais impulsiva.

— "Era"? — Estranhou o verbo, mas pôde ver leve sorriso da outra. "Ok, não é porque eu morri, então", pensou.

— Você disse que foi ao quarto? — Umedeceu os lábios e a viu assentir. — Clint. Antes de vocês ficarem juntos, era como se você vivesse atrás de algo. Emoção, aventuras, todas essas coisas clichês que usamos para preencher um vazio... Na última vez em que você foi absolutamente imprudente, foi pra salvar a vida dele — contou.

Samantha não soube o motivo exato, mas um calafrio percorreu sua espinha com a informação. O coração acelerou ao se lembrar do homem que viu de longe há pouco menos de uma hora.

— Parece que eu já tinha encontrado toda a emoção que precisava, então.

— É, eu acho que sim — concordou com um sorriso, mas suspirou ao unir as mãos em cima da mesa, inclinando levemente o corpo na direção da irmã. — Você pode ficar no meu apartamento enquanto se decide — propôs.

— Eu não quero atrapalhar.

— Você é minha irmã. — Estendeu uma mão para ela, apertando firmemente quando a mais nova aceitou o gesto, e olhou em seus olhos. — Eu passei um ano sem notícias suas, não vai atrapalhar — garantiu. — Ficarei mais tranquila sabendo que está por perto.

Sam suspirou e relaxou os ombros, dando um sorriso sem graça em agradecimento, mas logo assentiu.

— Tudo bem, então.

 

 

Com o último exame para liberá-los oficialmente, Samantha e Pietro aguardavam na sala de reuniões do prédio principal sob a supervisão de Barney. Candice também quis acompanhar, já que havia terminado seus afazeres e poderia levar a irmã para casa.

Quando o médico responsável, Romain Hartley, entrou na sala, no entanto, não estava sozinho. A figura mais alta de sobretudo preto chamou a atenção de Sam, mas uma careta estampou seu rosto ao notar o tapa-olho que usava.

— Senhorita Stark, senhor Maximoff — cumprimentou-os, lhes estendendo a mão. — Eu sou Nick Fury, diretor da SHIELD. — Seu olhar demorou um pouco mais em sua agente, era uma situação estranha ter que se apresentar a ela de novo. — Gostaria que soubessem que estamos utilizando nossos melhores recursos para descobrir o que houve naquele lugar e fazer a justiça necessária...

— Poderiam procurar pela minha irmã? — Pietro pediu, atraindo a atenção do mais velho. — Ela também foi voluntária, mas a levaram para outro lugar... O nome dela é Wanda.

— Faremos o possível — garantiu e indicou o médico, lhe passando a palavra.

— Os exames de vocês voltaram bons, o laboratório está analisando as amostras de sangue para descobrir exatamente os compostos utilizados, mas não temos indícios de danos causados aos nervos ou tecidos — Romain anunciou, dividindo a atenção entre a dupla. — Pietro nos contou que possui metabolismo acelerado e que você possui a absorção de memórias, mas... — Ele pigarreou de leve, erguendo o tablet em suas mãos, e pressionou a tela algumas vezes, dando um passo ao lado para que pudessem ver a televisão logo atrás.

Um vídeo da câmera de segurança da ala hospitalar surgiu e, em poucos instantes, um vulto de cabelos castanhos deixou o quarto em questão. Mais alguns metros à frente, um homem entrou no caminho da mulher para tentar pará-la, mas acabou sendo arremessado contra a parede. Romain pausou o vídeo e parou sua atenção em Samantha.

— Eu acredito que a falta de memória não foi o único efeito da última sessão que fizeram em você — comentou. — Você teve algum episódio em que apresentou uma força além do normal?

— Nunca — Pietro respondeu por ela. — Mesmo quando a pegavam de surpresa.

— Então, acha que estavam fazendo um experimento diferente? — Candice perguntou, não escondendo seu alarde. O médico apenas assentiu.

— Tinha uma outra cobaia presa com a gente — Sam disse de repente com o olhar baixo, tentando se lembrar do nome.

— John Taylor. Sim, ele está sedado para exames, tentou atacar alguns enfermeiros quando acordou, estamos esperando que ele consiga voltar a si em algumas horas — o Hartley informou. — Os arquivos que encontramos sobre ele eram vagos, ainda estamos tentando descobrir o que houve...

— Gastrell disse que o transferiram. — Ergueu o olhar para Pietro, mas logo o direcionou ao médico. — Ele tinha episódios violentos e ninguém sabia o motivo... É como se perdesse completamente o controle.

— Continuarei com os exames, qualquer coisa que se lembrarem sobre ele pode ser útil, por favor, me avisem — pediu e assentiu antes de deixar a sala.

Sam o acompanhou com os olhos por alguns instantes, mas mordeu o lábio e encarou um ponto fixo na mesa antes de se sentir observada. Não era difícil saber que estava sob análise dos três, mas o olhar novo era um tanto "curioso".

Deixou um suspiro escapar pelos lábios e ergueu o rosto para o diretor. A expressão séria quase se misturava ao alívio. O estranho se aproximou, fazendo com que levantasse. Apoiou uma mão em seu ombro e lhe estendeu a outra.

— É bom tê-la de volta — anunciou. — Espero que se recupere logo.

— Obrigada, senhor. — Esboçou um pequeno sorriso e desviou a atenção para a irmã enquanto ele deixava o cômodo, no entanto, parou sua atenção no amigo.

— Candice disse que você vai ficar na casa dela — Barney comentou ao notar seu olhar. — Ele pode ficar comigo, eu tenho um quarto extra... — propôs, parando sua atenção no rapaz. — Até encontrarmos um lugar fixo pra você.

— Obrigado. — Pietro assentiu e lhe deu um sorriso sem graça.

Sam apoiou a mão no ombro do Maximoff e apertou levemente, mas sorriu em agradecimento ao outro. Ficaria um pouco mais tranquila sabendo que o amigo enfim teria uma cama decente para passar a noite.

 

 

Assim que Candice fechou a porta do apartamento, virou para a irmã, que observava o ambiente. Ela não parecia impressionada com o tamanho ou com a vista, na verdade, a primeira coisa que chamou sua atenção foi o miado do gato.

O bichano pulou de seu arranhador e encontrou a mulher no meio do caminho, esfregando-se nos tornozelos dela antes que se abaixasse.

— Oi, bonitão. — Sam sorriu e passou a mão por seus pelos longos, afagando levemente, quase como se os penteasse com os dedos. — Você deve ser Elrond, é um prazer conhecê-lo de novo. — Soltou uma piscadela quando ele olhou em sua direção, aproveitando para coçar seu queixo, como Candy disse que ele gostava.

— Já vi que o perdi — a mais velha brincou, deixando um longo suspiro escapar, mas logo riu. Apoiou a mão brevemente no ombro da irmã. — Vou preparar o quarto — avisou antes de se afastar.

No meio do caminho, sentiu o celular vibrar no bolso do casaco e o pegou, olhando de relance sobre o ombro, mas a irmã ainda parecia entretida com o gato. Continuou seu caminho e fechou a porta antes de atender.

— Oi, pai.

Oi, querida. — A voz de Tony do outro lado parecia cansada. Ela não podia culpá-lo. — Como foi o dia?

— Estranho — confessou, respirando profundamente. Seguiu até a cama e sentou-se à beira, apoiando a mão livre sobre o joelho. — Muita coisa acontecendo em pouco tempo...

Eu disse que teria menos trabalho se trabalhasse na empresa da família — ele brincou, conseguindo arrancar um riso baixo da filha.

— Nosso almoço amanhã ainda está de pé, não é?

Claro, uma ótima oportunidade para me contar no que o pirata te meteu dessa vez.

Seu tom quase pareceu animado. Candice sorriu, porém, o estômago embrulhado logo a fez mudar sua expressão.

— Se importa se eu levar alguém?

Finalmente superou o Barney? — brincou.

A confusão assumiu o rosto da cientista, mesmo que o pai não pudesse ver. Era difícil acreditar que o último namorado que apresentou à família tivesse sido o amigo. Aquilo já tinha anos. Pigarreou levemente e mordeu os lábios, tentando pensar em como sair daquela situação.

— É, mais ou menos isso...

Eu só espero que não seja um babaca — Tony provocou.

— Não será — garantiu, passando uma mão pelos cabelos. — Te encontro aí ao meio-dia.

Estarei esperando.

Candice pôde ouvir a voz do irmão caçula ao fundo, chamando pelo pai, então, despediram-se brevemente e ela mandou um beijo para Howie antes de desligar. Encarou a tela do celular por alguns instantes e o apertou na tentativa de se acalmar.

Fechou os olhos e respirou fundo enquanto contava até quinze — o dez nunca era o suficiente. Sentiu um leve calafrio, mas finalmente conseguiu levantar.

Desde a "morte" de Samantha e o divórcio, Tony estabeleceu o hábito de almoçar com a filha ao menos uma vez na semana, já que Morgan ainda morava com ele na maior parte dos dias.

Era um bom jeito de garantir que ele não perdesse a cabeça e Candy gostava daqueles momentos de pai e filha, onde o mundo não parecia pesar em cima dos dois.

Raramente iam a algum lugar público, então, seria mesmo uma boa oportunidade para contar que Sam estava viva. E deixá-lo ver com os próprios olhos. Só precisava contar à mais nova.

Pegou uma muda de suas roupas e um edredom extra, pondo sobre a cama do quarto de hóspedes antes de voltar à sala.

Samantha não estava mais abaixada perto do gato — provavelmente achou melhor deixá-lo comer em paz, então, foi até a estante, observando as fotografias que passavam pelo porta-retrato digital. Muitas eram delas.

— Essa foi no Halloween antes de você sumir — contou ao parar ao seu lado, unindo as mãos em frente ao corpo enquanto as da irmã faziam o mesmo às costas.

Na foto em questão, as duas tinham poses condizentes com suas personagens: Candice era a princesa Leia, então, segurava sua pistola cenográfica de costas para a irmã, que se vestia como a Chapeuzinho Vermelho e se escondia atrás dela. Uma das poucas vezes em que tiveram seus papéis trocados.

— Imagino que Howie tenha ficado chateado por não poder beber. — Acompanhou o riso da mais velha e a olhou, estalando os dedos.

— Ele tinha outra festa para ir, não deve ter se abalado tanto. — Deu de ombros. — Nosso pai ligou. — Notou a expressão dela mudar, possivelmente por ansiedade. — Nós vamos almoçar amanhã, pensei que poderia ser bom... Mas tudo bem se não quiser ir, se não estiver pronta ainda...

Sem perceber, Samantha mordeu o lábio, mas os olhos pararam no chão por alguns instantes. Pensou em tudo o que aconteceu, nas partes conhecidas da história. Ergueu seu olhar para as fotos de novo e encontrou uma da família, devia ser o aniversário de alguém. "Howie", o caçula logo lhe veio à mente.

— Não, tudo bem. — Suspirou. — Não posso fugir deles, vai ser melhor se souberem logo... Sem riscos desnecessários, não é? — Deu de ombros.

Candice concordou, mantendo seus olhos na mais nova, e suspirou, deixando que seus ombros relaxassem antes de se afastar para fazer o jantar.

 

 

15 de dezembro de 2016.

11 horas e 57 minutos, P.M.

Torre dos Vingadores, Ilha de Manhattan — NY.

Com tanto tempo livre, Tony tentou fazer algo além de armaduras, afinal, sua oficina já estava lotada. Algumas vezes, se arriscava na cozinha, mas ficou enjoado de deliveries na primeira semana, então, acabou transformando suas aventuras culinárias em um hábito.

E as quintas-feiras eram sua melhor chance de testar coisas novas devido ao almoço com Candice. Às vezes, Howard se juntava a eles, mas o caçula não parecia muito sociável naquele dia. De qualquer maneira, sempre lhe sobrava um prato no fim do dia.

Assim que tirou seu novo experimento do forno, o bilionário deixou sobre a bancada da ilha. Olhou em seu relógio e suspirou ansioso, ela já devia estar chegando. Esfregou as mãos, mas logo passou uma delas pelos cabelos, ajeitando a postura ao ouvir as portas do elevador se abrirem.

Seguiu para a sala, esperando receber a filha, mas seus pés congelaram instantaneamente. Os olhos arregalados foram uma reação inevitável, ainda mais se considerasse que talvez estivesse vendo fantasmas. Um forte calafrio tomou conta de seu peito conforme o ar parecia sumir de seus pulmões.

Merda”. O mesmo pensamento passou pela mente de pai e filha. Tony por estar sentindo o corpo sabotá-lo; Candice por saber exatamente o que estava acontecendo.

A mais velha apressou seus passos e ajoelhou de frente para o pai assim que o viu se abaixar. Uma mão o apoiou pelos ombros enquanto a outra passeava por seus cabelos, examinando o máximo que conseguia de seu rosto, mas a cabeça baixa dificultava a tarefa.

— Pai — o chamou num tom baixo, mas não teve resposta, ele apenas encostou a testa em seu ombro. — Respire fundo — pediu, envolvendo-o em seus braços para ajudá-lo a se acalmar.

Tony precisou de alguns minutos, tanto para normalizar sua respiração, quanto para que sua cabeça parasse de girar. Um longo suspiro escapou pelos lábios e, então, retomou a postura, encontrando os olhos castanhos da filha mais velha.

— Melhor?

Ele assentiu, segurando suas mãos firmemente, e respirou fundo. Sentiu-se observado e finalmente olhou na direção da mulher parada ainda próxima à entrada. Engoliu em seco, sentindo as palavras entaladas na garganta. Deu alguns passos em sua direção e levou a mão ao rosto dela, mas conseguiu notar algo diferente em seu olhar.

— É complicado de explicar... — Candice começou, mas recebeu o olhar confuso do mais velho antes de ser interrompida.

— Sou eu, mas fizeram experimentos e eu não me lembro de vocês — Samantha disparou, resultando na expressão assustada do pai e na careta da irmã.

— Acho que você resumiu bem.

— Como assim “fizeram experimentos”? — Tony questionou alarmado, examinando a mais nova de cima a baixo.

De fato, ela parecia mais magra do que quando sumiu, mas achou que era pelo cardápio reduzido. Tirando aquilo, ainda parecia sua filha — a que era tão cabeça dura quanto ele.

— Se você quiser a versão estendida, acho melhor sentarmos. — Sam suspirou, o vendo assentir antes de indicar o sofá.

Aos poucos, Samantha contou tudo o que conseguia lembrar dos experimentos — o que não era muito, mas o suficiente para entender o que aconteceu. Candice completava com uma informação ou outra que ouvira de Barney e Pietro, mas ainda havia lacunas para preencher. E aquela era a parte que mais incomodava.

— Me deram acesso a alguns arquivos, mas eu não sou especialista em evolução genética com auxílio de reagentes químicos, então...

— Talvez Bruce possa dar uma olhada — Tony sugeriu, mas não conseguia desviar a atenção da mais nova.

— Fury disse que o chamaria na base hoje — contou, passando a mão pelos cabelos antes de apoiar o queixo dela. — Talvez ele consiga nos dar alguma luz sobre tudo isso...

Sam tinha o olhar nas próprias mãos, seus polegares batucavam de forma inconsciente, o que era de se esperar, já que sua mente processava tudo de novo e de novo, como se procurasse por algo que não tinha visto.

Mas Candice percebeu que ela não era a única distraída.

— Pai?

— Se você absorve memórias, por que não absorve as nossas? — Tony perguntou de repente, atraindo o olhar de Samantha.

Ela mordeu o lábio, deixando os ombros caírem, e estalou os dedos, tentando se acomodar no sofá. Já tinha considerado aquela hipótese, mas dispensou tão rápido quanto aquilo lhe ocorreu.

— Não seria justo com vocês. — Respirou fundo. — E a doutora Carson disse que seria uma péssima ideia, de qualquer maneira. — Coçou a testa, mas logo voltou a atenção ao pai. — As minhas memórias ainda estão aqui em algum lugar, se eu absorver as de vocês, posso ficar sobrecarregada e perdê-las permanentemente...

— Não queremos isso — ele se apressou em dizer, soltando um suspiro ansioso ao finalmente começar a entender a gravidade de tudo aquilo. — Deve ter algum estudo que ajude a desbloquear as memórias, ou...

— Pai — Candice chamou sua atenção ao notar o desconforto da irmã. — Também podemos fazer as coisas no tempo dela, acho que já passou por procedimentos demais. — Suspirou, pondo uma mão sobre as dela e apertando em conforto.

— Desculpe — pediu, percebendo o que sua ideia implicaria. — Eu só...

— Gostaria que eu fosse ela de novo.

Ao mesmo tempo em que demonstrava seu incômodo, o sorriso fraco também estampava sua compreensão. Imaginava que era tão difícil para eles quanto para ela ter o rosto de alguém que conheciam tão bem, mas, ao mesmo tempo, não ser a mesma pessoa.

Eles não eram os únicos afetados, ela também se sentia vazia. Como se faltasse algo, algo que nem mesmo sabia o quê. Era pedir muito que lhe desse algum tempo para processar tudo?

— Eu — começou, mas mordeu o lábio, deixando um breve suspiro nervoso escapar antes de erguer o olhar para o homem. — Será que eu posso usar o banheiro?

— Claro, te mostro o caminho — Candice ofereceu, levantando junto a ela.

A dupla caminhou em direção às escadas e Samantha podia sentir que a irmã queria dizer algo, então, assim deu alcançaram o último degrau, segurou seu pulso, fazendo com que parasse de andar.

— Ele não falou aquilo por mal — esclareceu, deixando os ombros caírem, e observou os olhos verdes em sua direção, estava pronta para acrescentar algo, mas logo foi interrompida.

— Não me diga que é difícil para todo mundo, porque não foram vocês que passaram um ano querendo voltar pra casa e, quando finalmente conseguem, não se lembram de porra nenhuma — pediu num tom repreensivo e cansado, mas fechou os olhos e respirou profundamente ao notar que sua frase saíra mais ignorante do que planejava. — Desculpe, não era a minha intenção...

A mais velha suspirou, observando a mulher à sua frente, mas a puxou para seus braços e a apertou firmemente ao notar sua cabeça baixa, depositando um beijo demorado em seu rosto.

— Nós estamos felizes que esteja de volta — garantiu, alisando suas costas. — Estaremos com você, independente do que aconteça, está bem? — Lhe ofereceu um sorriso gentil ao senti-la assentir, mas as duas olharam para o fim do corredor ao ouvir uma porta se abrir.

O coração da mais nova pesou de uma maneira que ela não saberia explicar nem mesmo se tentasse. Deixou os ombros caírem, virando-se para o rapaz paralisado a alguns metros de distância, e abriu os braços pouco antes de poder vê-lo correr em sua direção.

O aperto forte já era conhecido, afinal, todos queriam garantir que não era apenas uma ilusão, mas o choro... Ele foi o primeiro.

Lembrando ou não, sendo egoísta ou não sobre seus pensamentos — e memórias —, as lágrimas de Morgan serviram para lembrá-la do porquê ela precisava lutar. Do porquê precisava lembrar de sua vida. Se lembrar não apenas dele, mas de todos que amava.

 

 

Try to remember when life was so tender,

That love was an ember about to billow

TRY TO REMEMBER, tom jones



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