História Fools - Faísca

3:45 da madrugada e eu ainda não dormi nada, o motivo? Primeiro dia de aula. Eu sei que parece bobo, mas é que hoje será o dia da minha volta à vida social. Quando meus pais morreram há três meses, a única coisa que eu queria saber era ouvir música e jogar no computador. Eu faltei um mês inteiro na escola, perdi o baile de fim de ano e todas as provas finais, não reprovei ou fiquei de recuperação porque eu tenho o “privilegio” da perda e o diretor nunca reprovaria uma aluna que acabou de perder os pais. Depois de um tempo rolando na cama olho para o relógio e decido levantar pois faltava 15 minutos para 06:00 horas. Tomo banho, escovo os dentes e vou vestir minha roupa, pego a primeira coisa que vejo: uma calça legging preta, um moletom vermelho e um all-star branco fico na dúvida se prendo o cabelo e acabo decido deixar solto, o rosto sem maquiagem porque não gosto de usar. Desço para tomar o café e minha irmã está preparando alguma coisa, assim que ela me vê dá um enorme sorriso e diz:

– Bom dia meu amor! Senta aí estou fazendo panquecas para você.

– Bom dia, ué desde quando você sabe ligar o fogão? – Pergunto em um tom de brincadeira.

– Hahah engraçadinha, para sua informação eu sou ótima na cozinha. – Diz ela me mostrando a língua.

Eu rio e mostro a língua também.

– Mas... me diz uma coisa... tem certeza que cê quer ir para a aula hoje? Sabe que não precisa, eu conversei com o diretor e

– Pode parar Halsey, eu já disse, eu dou conta. Não posso me isolar para sempre, estou bem eu juro.

Eu tento confortá-la, mas eu estava mentindo, eu não estou bem, nem um pouco mesmo. Mas depois de ver minha irmã chorando desesperada e contando ao namorado dela que estava com medo do estado, eu decidi que já era hora de levantar. Percebi também que ela precisa de mim, mas não fala porque quer manter a aparência de durona por mim. Ela estava até cozinhando por mim (ela nunca foi boa na cozinha e uma vez ela quase botou fogo na casa) embora a panqueca esteja horrível, ela estava cuidando de mim.

– Ok então, mas se precisar eu to aqui pra você viu? Sempre.

Eu sorrio e digo que também estou aqui para ela.

– Ah, esqueci de falar que não precisa me levar hoje, eu combinei de ir de skate com o Tyler.

– Tá bom, come logo se não você vai se atrasar.

Eu olho para aquela coisa dura e queimada no meu prato e seguro o riso, quando ela vai ao banheiro eu jogo fora. Levanto e vou pegar meu skate e quando vou saindo ela me puxa para um abraço apertado e me dá um beijo demorado na testa.

– Te amo de montão. – Ela diz.

– Te amo de montão. – Eu repito.

Ela me solta e quando eu saio Tyler já está me esperando na porta.

– Minha nossa dona Alice, que saudade. – Ele diz com um sorriso no rosto.

Meus amigos foram bem compreensíveis comigo, a gente trocava mensagens às vezes mas eu não queria vê-los, não queria ver ninguém. Ty é meu melhor amigo, eu o conheci quando ele tinha 5 anos e eu 4, eu era nova na vizinhança e o irmão dele era apaixonado pela minha irmã, eles iam bastante na minha casa. Um dia nossos irmãos nos esqueceram no parque de diversões e foi um dia ótimo, fomos a todos os brinquedos que podíamos, não nos separamos desde então.

– Eu estava morrendo de saudades de você. – Digo e corro para um abraço com ele.

Nos soltamos e começamos a andar.

– Então... você tá me

– Nem termina Ty, please não quero falar disso, não por enquanto.

– Tudo bem, quando quiser.

– Como foi o baile? – Pergunto.

– Uma droga. Música ruim, nada de salgados e nada de você.

– Ah para, deve ter sido legal pra caralho.

– Não foi, Lau, Ash e eu não ficamos muito tempo lá, decidimos ir à alguma lanchonete que tinha salgados e ficamos conversando um pouco, só.

 – Nossa, ainda bem que eu voltei pra salvar vocês, livrar todos do tédio e dar o prazer da minha companhia.

– Sim, você mesma, heroína dos adolescentes no tédio.

Nós rimos e paramos de conversar para poder ir mais rápido. Chegando na escola eu vejo Lauren e Ashley minhas melhores amigas.

– AH MEU DEUS! ALICEEEE QUE SAUDADE. – Grita Ashley.

– Oi minha lerdinha escandalosa. – Eu digo a abraçando forte.

– Que bom que veio – Diz Lauren me abraçando e beijando minha bochecha.

Ficamos conversando por alguns minutos antes da aula começar. Quando eu entrei na sala as pessoas pararam o que estavam fazendo para ficar me olhando cochichando com os amigos, foi bem constrangedor, alguns até me perguntaram como eu estava e eu apenas dizia para todos “estou bem, obrigada”.

Mais tarde na cantina...

Fomos ao refeitório pegamos nosso almoço e nos sentamos. Estava indo tudo bem até a LindsayVagaba (ela tem esse apelido desde a oitava série e não lembro mais quem colocou) chegar, somos inimigas desde a sexta série e nunca entendi o motivo até porque éramos bem próximas na quinta série.

Quando eu estava indo colocar minha bandeja na bancada LindsayVagaba esbarra em mim de propósito.

– Cuidado garota! Tá cega?

– Foi você que esbarrou em mim Lindsay.

– Ah, agora a culpa é minha se você não olha por onde anda? Eu devia ir na diretoria, você me machucou.

– Pode parar Lindsay, não foi nada demais e foi você que esbarrou na Alice, para de showzinho. – Ashley me defende.

– Quer saber, tem razão, o diretor Wells não iria punir a pobrezinha que acabou de perder os pais mesmo então...

– Peraí, como é que é? – Eu pergunto.

– Você é a coitadinha da escola agora, mas olhando pra você, eu tenho outros motivos pra sentir pena rs. – Ela debocha.

Nesse momento eu não penso duas vezes e pego o primeiro copo de suco que vejo e jogo na Lindsay.

– AHHHH GAROTA VOCÊ NÃO FEZ ISSO!!!!!! – Ela grita.

E então ela pega um pedaço de bolo e arremessa na minha direção, mas eu me abaixo e ela acerta em outra pessoa, iniciando assim, uma guerra de comida. No meio da confusão toda um menino cai em cima de mim e quando eu o olho nos olhos sinto uma sensação estranha e muito boa e eu sinto até faíscas saindo do meu corpo (bem esquisito eu sei) como se já o conhecesse há muito tempo, mas eu nunca o tinha visto na escola, fazendo com que tudo e todos parassem ao meu redor.

– Sai de cima de mim garoto! – Eu falo um pouco arrogante.

– Desculpa err... eu escorreguei, você tá bem?

Antes que eu respondesse, Lindsay joga uma torta na minha cara e começamos a brigar rolando no chão. Meus amigos e o garoto que não conheço nos separam e o diretor chega.

– Mas o que é que está acontecendo aqui? Duas moças aos tapas? Que bagunça é essa?

Ele nos leva para a diretoria (o garoto que eu não conheço também vai).

– Então, quem vai explicar o que aconteceu? – Ele pergunta.

– Sabe o que é diretor Wells, a Alice esbarrou em mim sem querer, perdeu a cabeça e começou a me atacar, mas tudo bem eu perdoo ela e

– O QUE? Você esbarrou em mim e foi de propósito sua patricinha ridícula.

O garoto que não conheço ri eu olho para ele e sinto novamente a sensação estranha e boa.

– Alice! – O diretor me repreende. – Não quero saber quem começou, vocês vão ficar de detenção. Assunto encerrado.

– Espera, até eu? – O garoto pergunta.

– Sim, até você senhor... hum... qual seu nome mesmo?

– Eu me chamo

– Não, tá errado, ele não fez nada! – Eu interrompo e defendo o garoto que não conheço.

– Tudo bem, você pode ir garoto, vejo vocês duas na detenção.

– Isso não é justo ARRRGH! – Lindsay reclama e sai batendo o pé.

Saímos de lá e fui falar com meus amigos.

– Que chato Alice, tudo culpa da LindsayVagaba. – Lauren reclama.

– É mais eu que comecei a guerra de comida.

– Por provocação dela. – Acrescenta Tyler.

– É tudo muito chato e tals, mas o que eu quero saber mesmo é do gatinho que caiu em cima de você, quem é? – Pergunta Ashley.

– Eu não sei, nunca vi ele aqui na escola.

– É porque ele é novato, chegou de Londres semana passada. ­– Disse Lauren.

– Não acredito que você pegou ele. Omg Lau rapidinha. – Brincou Ashley.

– Claro que não sua doida, esqueceu que eu sou sapatão? A Camilla me contou, ele foi uma vez na padaria do pai dela e ela conversou com ele.

– Ih falando nele...

O garoto que não conheço vem até mim e meus amigos saem para nos deixar a sós.

– Oi, eu só queria agradecer por ter me defendido pro diretor.

– Não precisa me agradecer, só falei a verdade.

– Obrigado por falar a verdade então.

Nós rimos e ficamos uns segundos nos olhando, e aquela sensação volta.

– Engraçado, eu tenho a sensação que já nos conhecemos. – Ele fala.

– Sensação engraçada, eu sei. Eu tenho que ir, não quero pegar detenção por atraso.

– Claro, uma experiência com a detenção já é suficiente.

– É, então, tchau... ham... não sei seu nome.

­– Daniel.