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História For the love of my family - Capítulo 1


Escrita por: Believe8

Capítulo 2 - Capítulo 1


Aquele era um dia especial, com certeza. Naquele dia, há 17 anos, Alicia havia ganho seu maior presente, que eram Pietro e Alice. Ela só podia agradecer a sorte que havia tido com os dois, que só lhe davam orgulho. Alice era a primeira da turma, com notas ótimas e um comportamento impecável. Pietro era também um bom aluno, além de o melhor esportista da escola. Claro que a personalidade difícil era parte do pacote, tendo os pais que tinham, mas no quesito aprontar eles pareciam ter fugido à regra.

E tinha também o quanto eles a ajudavam com Paulinho! Agora com 12 anos, o menino havia evoluído muito. Conversava um pouco e interagia mais com as pessoas à sua volta. Ainda não gostava que o tocasse, principalmente sem prévio aviso, mas adorava quando era abraçado pela mãe e pelos irmãos. Como todo o autista, tinha alguns interesses obsessivos, que eram violão, piano e quebra-cabeças.

Quando o marido sumiu, ela se desesperou, achando que não daria conta. O caçula clamava por quase todo o seu tempo livre, e ela tinha medo de que os mais velhos se sentissem rejeitados, mesmo que na época já tivessem quase oito anos. Mas, pelo contrário, os dois começaram a se esforçar ao máximo para ajudá-la com Paulinho, e juntos, os quatro, conseguiram passar pela tempestade e voltar a ter uma vida feliz.

“Bom dia, tia.” Milena entrou pela porta dos fundos, sorrindo. Puxava Eric pela mão, o rapaz com o bastão preso na cintura.

“Chegaram cedo.” Ela sorriu, indo cumprimentar os dois. “Eric, querido, não quer ficar sem os óculos enquanto estamos só nós aqui? Sei que eles te incomodam.”

“Eu prefiro não, tia. Pelas reações que as pessoas têm normalmente, eu imagino que não é muito agradável a aparências dos meus olhos, prefiro não forçar vocês a isso.” Ele sorriu sem graça, apoiado na amiga.

“E o Foguete?”

“Está ali no quintal para não assustar o Paulinho.” Explicou Milena, se referindo ao cão-guia de Eric. “Como ele está hoje?”

“Tendo um bom dia. Estava tocando piano enquanto a Alice terminava de encher as bexigas, podem ir lá com eles.” A dona da casa avisou, voltando sua atenção aos petiscos que fazia.

Não muito depois que os dois entraram, Mário e Marcos apareceram na porta. O sobrinho já contava 13 anos e andava de skate muito bem, mesmo que eles implorassem para que não andasse dentro das casas.

O garoto cumprimentou Alicia e sumiu para a sala, enquanto Mário chegava bufando. Alicia riu, indo até ele e lhe dando um selinho.

“Qual é a do mau humor a essa hora do dia?”

“Eu não gosto da minha filha andando para cima e para baixo com um moleque. Mesmo que seja um moleque cego.” Resmungou o veterinário e ouviram uma risada baixa.

“Isso dá inferno, tio. Você acha que o Eric vai usar da condição dele para abusar da Mili? Relaxa, ele é bem bobinho nesse ponto.” Ella entrou e abraçou os dois, furtando um petisco que Alicia preparava.

“Oi para você também, dona Ella.” A mulher repreendeu, recebendo um sorriso angelical. “E seu pai e a Majo?”

“Não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe.” Declarou a jovem rebelde, rumando para a sala.

“Ela se veste igualzinho você quando tinha a idade deles.” Riu Mário, observando que a garota usava boné para trás, tênis, um shorts todo desfiado e uma camisetona.

“Mário, eu to preocupada.”

“Com o que, Ali?” Ele perguntou, vendo o semblante dela. “De contar para eles?”

“É.” Ela admitiu e Mário suspirou.

“Alicia, eles aceitaram numa boa quando a gente contou que estava namorando, e isso já tem dois anos. Eles estão acostumados já a sermos nós sete para tudo.”

“A Ella também gostava da Majo quando ela e o Jorge namoravam, mas mudou drasticamente de atitude quando eles resolveram se casar.” A mulher lembrou, séria. “E se eles não reagirem bem a ideia de nós dois nos casarmos?”

“Fica tranquila, linda, vai dar tudo certo.” Prometeu o homem, a abraçando e beijando sua testa.

“Eu ouvi eles dois conversando, Mário.” Ela confessou, cansada. “Eu coloquei o Paulinho para dormir e passei na frente do quarto da Lice, e ela e o Pietro estavam conversando. Você sabe que todo ano eles combinam o desejo da vela, não é? E nós nunca soubemos o que era, ou se era a mesma coisa.”

“E é?”

“Eles pedem, todos os anos, para o Paulo e a Marcelina voltarem para casa.” Ele sentiu os olhos encherem de água, e sabia que os dela estavam assim também. “Depois de quase dez anos, eles ainda esperam que os dois voltem para casa.”

E mesmo que não admitissem, eles dois também esperavam. A verdade é que existem duas formas de amor: uma é a paixão arrebatadora, aquela que existia entre eles e os dois irmãos desaparecidos, que é a que te faz sonhar com uma vida inteira junto.

A outra foi a que nasceu entre eles dois, baseada na convivência e no carinho, no apoio mútuo em meio ao turbilhão que a vida se transforma de repente. Se ajudaram e cuidaram um do outro e dos sobrinhos, sabendo que estavam unidos pela mesma dor.

Foram as crianças que perceberam que um novo sentimento começava a nascer entre os dois amigos de longa data e outrora cunhados, e os filhos armaram para que os pais ficassem juntos. Já tinha mais de dois anos que Mário e Alicia estavam namorando, após uma longa e interminável espera de que um dia seus grandes amores voltariam, nem que fosse para dar uma explicação.

Mas a esperança, ao contrário do que pensam, um dia morre, se estingue, se acaba. E quando isso acontece, é hora de seguir em frente. Eles concluíram que essa hora havia chegado, e que mereciam ser felizes um com o outro.

“Bom dia, casal.” Jorge entrou com Maria Joaquina e os dois se afastaram. “Tudo bem?”

“Nada demais, cara.” Mário o cumprimentou enquanto as mulheres se abraçavam.

“A Ella está aqui?” Perguntou o pai super protetor.

“Chegou tem uns dez minutos.” Avisou a dona da casa. “Majo, cadê os meninos?”

“Esse final de semana é deles ficarem com o Cirilo, e como agora ele está morando fora da cidade, eles não desperdiçam a chance de ver o pai.” Ela explicou com um sorriso amarelo. “Jorge, eu vou cumprimentar os aniversariantes, ok?”

“Vai lá, Majo.” Ele concordou, vendo-a se afastar. “E então, o que está acontecendo?”

“A Alicia está meio insegura de contar sobre o casamento para os meninos.”

“Sei como é, eu e a Majo passamos pela mesma coisa.” Relembrou o homem loiro, se apoiando no balcão da cozinha. “O Victor e o Murilo aceitaram bem, mas a Ella ainda bate o pé, mesmo depois de três anos.”

“Eu sei que o Pietro, a Alice, a Mili, o Marcos e o Paulinho se gostam muito, e gostam muito da gente, mas se eles ainda esperam pela volta dos pais...” Ela pensou alto, coçando os olhos. “E quanto ao pedido de divórcio, Jorge?”

“Já encaminhei para o juiz da vara da família e ele vai analisar o caso. Como tem quase dez anos que os dois sumiram sem dar notícias, não acho que vá ser difícil ele dar o divórcio, mesmo sem sabermos o paradeiro do Paulo e da Marcelina. O testemunho do Roberto e da Lilian também foi de grande ajuda.” Explicou o homem, entrando no modo advogado.

“Eu sinto muita pena, de verdade. Os dois tem sofrido tanto desde que o Paulo e a Marcelina foram embora, e ainda ter que passar por isso. Nenhum pai mereceria essa situação.”

“Falando em pai, eu vi que o Foguete está aí fora, então o Eric está aqui. O Daniel deu sinal de vida?” Perguntou Jorge, preocupado.

“Nada, cara.” Alicia encarou o rapaz na sala. Ele havia aceitado tirar os óculos, e era possível ver as cicatrizes ao redor de seus olhos, as únicas que não foram possíveis de suavizar. “O Eric já perdeu a mãe, não merecia perder o pai também.”

 

Como sempre, Daniel estava em sua oficina, mas naquele dia estava bastante animado. As paredes estavam preenchidas com cálculos e fórmulas, e algo parecido com uma cabine telefônica ocupava o centro do cômodo, repleta de fios e luzes brilhantes.

Ele havia acabado de fazer um teste com uma maçã, que desapareceu. Não sabia para onde ela tinha ido, mas se animava em pensar que ela tinha cumprido seu propósito.

“Transformadores, geradores, tudo ligado.” Ele conferiu novamente, não querendo que um pico de energia acabasse com seu plano novamente. “Agora tudo deve dar certo.”

Foi até a mesa repleta de embalagens vazias de comida e pegou o porta-retratos que ali repousava. Um bonito retrato dele, Carmen e Eric no aniversário de oito anos do garoto, os três sorrindo como se fossem os maiores sortudos do mundo.

“Vai dar tudo certo agora, meu anjo. Dessa vez eu acertei os cálculos, e nós vamos vencer as estatísticas. Nós três vamos ser felizes para sempre, pode acreditar em mim.” Ele prometeu, sorrindo para a imagem congelada.

Quando se preparava para ligar a máquina, observou seu reflexo. Estava sujo, barbudo, com o cabelo desalinhado e a roupa esgarçada. Não era assim que queria reencontrá-las depois de todos aqueles anos.

Resolveu ir para casa e tomar um banho, se arrumar adequadamente. Sabia que Eric estaria no aniversário dos gêmeos Guerra e seus pais não estavam em casa naquele final de semana. Ninguém iria perturbá-lo, e até um cochilo poderia tirar antes de seu momento de glória.

 

O churrasco terminou no final da tarde. Os amigos dos meninos foram embora depressa depois do “parabéns”, afinal ainda era domingo e teriam prova no outro dia.  Majo, Jorge e os avôs dos aniversariantes ajudavam a recolher o final da bagunça, enquanto os jovens se reuniam na sala.

Como havia sido um dia particularmente estressante para Paulinho, cercado de pessoas desconhecidas, ele estava no piano com Pietro e Alice, os dois irmãos mais velhos tocando com ele, atividade essa que sabiam que o acalmava muito.

“Está lindo, meu amor. Você está tocando muito bem.” Lilian se aproximou, elogiando o neto caçula. Ele deu um sorrisinho tímido, agarrando o braço da irmã.

“Obrigado.” Sussurrou, envergonhado.

“Ele está mais solto, não é?” Observou Roberto, conversando com Alicia e Mário em um canto.

“Ele tem progredido bastante na terapia.” Contou a mãe, orgulhosa.

“Semana passada nós fomos no shopping, e ele andou de mão dada comigo e cumprimentou a moça da pipoca.” Contou Mário, tão orgulhoso quanto. “Ele está bem melhor.”

“Eu fico feliz de ver que vocês dois conseguiram dar a volta por cima.” Garantiu o sogro de ambos, emocionado. “Quando o Paulo e a Marcelina foram embora, eu achei que era o fim de tudo.”

“Mas todo o fim é um recomeço, Roberto, basta saber por onde olhar.” Alicia sorriu para ele. “Aliás, precisamos falar com os meninos.”

“Boa sorte.” O mais velho sorriu compreensivo, enquanto eles caminhavam para a sala.

“Crianças, precisamos conversar.” Mário chamou, atraindo a atenção de todos. Os demais adultos se aproximaram, sabendo qual seria o assunto. Além dos filhos dele e Alicia, apenas Eric e Ella ainda estavam na casa.

“Algo errado, papai?” Perguntou Marcos, pausando o videogame.

“Eu e a Ali precisamos conversar com vocês sobre uma coisa séria.” Ele explicou, abraçando a cintura da namorada.

“Vocês não vão terminar, não é?” Perguntou Alice, em choque.

“Não, filha, não é nada disso.” Os jovens suspiraram aliviados. “Eu e o Mário vamos nos casar.”

“O quê?” Pietro e Mili levantaram gritando, exasperados. Paulinho se encolheu ao lado irmão, enquanto Alice tentava acalmá-lo.

“Você não pode fazer isso, mãe, você ainda é casada com o papai.” Lembrou a filha, séria.

“Nós entramos com um pedido de divórcio.” Explicou Mário.

“Mas para o divórcio sair, a mamãe precisa assinar. Você sabe onde ela está?” Perguntou Marcos, esperançoso.

“Eu entrei com um pedido diferente, meninos, já que o Paulo e a Marcelina sumiram e não deram mais notícias.” Explicou Jorge, sendo fuzilado pela filha.

“Claro, ajude a destruir a família deles também.” Ela destilou nervosa, e o pai suspirou.

“Você não pode fazer isso.” Pietro rosnou, nervoso. “Você não pode fazer isso com ele.”

“Pietro, eu sei que vocês ainda esperam que o seu pai vai voltar para casa, mas isso não vai acontecer.” Alicia sentiu os olhos se encherem de lágrimas e tentou se manter firme. “Seu pai foi embora, sua tia foi embora, e nós ficamos aqui. E nós estamos aprendendo a ser uma família de novo, eu, você, seus irmãos, seu tio e seus primos. Eu e o Mário nos amamos, e queremos ficar juntos. E vocês gostem ou não, isso vai acontecer.”

“A gente goste ou não?” O rapaz socou o piano com força, fazendo o irmão mais novo chorar. “E você acha que eu gosto de alguma coisa dessa situação toda, mãe? Sabe do que eu gostava? De ter o meu pai perto de mim e da Alice, de quando ele brincava com a gente, cuidava de nós dois. Mas vocês tinham que ter outro filho, não podiam se contentar só com a gente! E ele não aguentou essa situação estressante e sufocante, de ter que lidar com o Paulinho com um milhão de dedos. E ele foi embora, assim como qualquer um teria ido. E a tia Marcelina foi também, porque não aguentou que o nosso inferno se espalhou para eles. E você e o tio Mário não se amam, vocês só querem alguém para suprir a falta que eles dois fazem, porque vocês estão presos nessa porcaria, e querem prender a gente também. Eu mal posso esperar para fazer 18 anos e sumir dessa casa.”

E saiu tempestuosamente, socando a porta da sala às suas costas. Naquela altura Alicia, Alice e Paulinho choravam copiosamente, enquanto Ella consolava Milena. Marcos se encolhia no chão, com Eric segurando seu ombro em sinal de amizade.

“Pietro triste, Pietro triste.” Paulinho chorava com força, querendo ir atrás do irmão. Alicia correu até o filho caçula, que começou a se debater. “Larga, larga, larga.”

“Calma, filho, calma.” Ela pediu desesperada, nervosa demais para pensar com clareza no que fazer. “Alice, vai atrás do seu irmão.”

“Eu não quero falar com ele agora, mãe.”

“Eu vou.” Mário se ofereceu, mas Ella negou.

“Tio, com todo o respeito, acho que o Pietro não quer te ver nem pintado de ouro. Eu vou, e vou levar a Mili junto. Ela precisa espairecer um pouco.” Ela indicou a melhor amiga, que estava abraçada com ela. “Ceguinho, cola com a gente.”

Os três saíram, deixando a catástrofe para trás. Jorge e Majo se aproximaram dos amigos, que choravam em silêncio.

“O Pietro está de cabeça quente, não sabe o que diz.” Consolou a antiga patricinha, mas Alicia negou.

“Ele finalmente disse tudo o que estava entalado nele esses anos todos, Majo. Só que ele segurou por tanto tempo que a explosão foi grande demais.”

 

Na rua, Pietro andava deixando um rastro de fogo por onde passava, tão quente que estava sua cabeça. Não pensava realmente tudo aquilo, não totalmente. Não culpava o nascimento do irmão pela partida do pai, Paulo havia ido embora porque quis, e Marcelina também. Mas não conseguia evitar pensar que, caso Paulinho não tivesse nascido, sua vida teria continuado perfeita.

Gostava muito de Mário e torcia muito para que ele e Alicia fossem os mais felizes possíveis juntos! Mas a notícia o pegou de surpresa e não soube como reagir. Seu único pensamento era que, com a mãe se casando novamente, seria o mesmo que aceitasse que o pai não iria voltar, como ela mesma disse.

E isso ele nunca iria aceitar.

“E aí, Tony Ramos, mais calmo para conversarmos ou precisa de mais um pouco de espaço para seu drama?” Ouviu a voz irônica de Ella, se virando e encontrando ela, sua prima e Eric. “Foi uma dela saída, preciso admitir.”

“Cala a boca, garota.” Ele rosnou, irritado. Encarou Milena, estendendo o braço para ela. Não tardou para ela ir abraçá-lo com força, escondendo a cabeça em seu peito. “Desculpa por aquilo, Mili.”

“Você sabe que eu sinto o mesmo que você.” Ela disse baixinho, e ele concordou.

“Sabe qual o problema de vocês?” Observou Eric, sério. “Vocês estão direcionando mal toda essa raiva.”

“Do que você está falando, ceguinho?” Perguntou Ella, cética.

“Vocês têm descontado toda a raiva e frustração de vocês na tia Alicia, no tio Mário e no tio Jorge, mas a culpa de tudo isso não é deles. Foi o seu pai que quis ir embora, Paulo, e foi sua mãe que quis ir atrás dele, Mili. E Ella, sua mãe fez as escolhas dela. Ela quis ir trabalhar fora, ela escolheu se envolver com o fotógrafo e ter um filho. Sua mãe, Pietro, e os pais de vocês meninas, fizeram o melhor que eles podiam para cuidar de vocês apesar de tudo isso. Vocês não sabem como eu queria que o meu pai tivesse essa mesma mentalidade.” Ele despejou, algumas lágrimas escorrendo por baixo de seus óculos escuros.

Os três ouviram em silêncio, pensativos. Ao contrário de Ella, que despejava seus desprazeres aos quatro ventos, Pietro e Mili sempre seguraram muito suas frustrações para não magoar os pais, mesmo que frequentemente se irritassem com as atitudes deles.

Mas a verdade é que Eric estava certo. Alicia, Mário e Jorge ficaram e fizeram tudo o que estava ao seu alcance para suprir a falta dos esposos na vida das crianças.

“Acho que eu peguei um pouco pesado.” Reconheceu Pietro com um suspiro. “Vamos voltar? Preciso conversar com a minha mãe e o tio Mário.”

“Claro, até porque está escurecendo e...” Antes que Ella terminasse de falar, as luzes da rua piscaram. “Vocês viram isso?”

“As luzes das casas também estão piscando.” Observou Mili, séria.

“Eu estou ouvindo um zumbido alto, muito alto.” Eric parecia desconfortável. “É como o barulho de uma alta tensão.”

“Será que tem alguma coisa grave acontecendo?” Perguntou Pietro, preocupado. “Eric, você consegue levar a gente até o local?”

Como um cão guia, o rapaz cego foi indicando o caminho que deviam seguir, encontrando mais casas e postes piscando no caminho. Na certa era um pico de energia muito forte, mas precisavam ter certeza que não era algo mais grave.

“É ali.” Eric apontou sem ver e os amigos se surpreenderam.

“É a oficina do seu pai, cara.” Contou Ella, preocupada. “Será que aconteceu alguma coisa?”

“Você quer ir lá?” Milena perguntou para o amigo, que confirmou prontamente.

Foram se aproximando com cuidado, sem saber o que estaria acontecendo lá dentro. Eric batia sua bengala pelo chão, trêmulo. Pietro forçou a porta da casa abandonada, mas em sua afobação Daniel havia a deixado aberta.

“O que é isso?” Perguntou Milena, surpresa.

“Parece uma cabine telefônica antiga.” Comentou Pietro, enquanto Ella esquadrinhava a sala. “Nem sinal do seu pai, Eric.”

“Será que aconteceu alguma coisa com ele, cara? A vibração de energia dessa cabine está muito forte.” Observou o rapaz, temeroso.

“Eric, tem uma foto aqui. É do seu aniversário de oito anos.” Comentou Ella, segurando o porta-retratos. “É você e os seus pais atrás do bolo. Vocês estão sorrindo muito.”

“Eu sei qual foto é, ficava na sala. Era a favorita da minha mãe.” Ele sorriu saudoso, ficando emocionado. E então, sua expressão se transfigurou. “Eu sei o que é a cabine.”

“Como?”

“Meu pai sempre diz que ele vai concertar tudo, acertar o cálculo. O cálculo que ele diz é o plano que ele e minha mãe fizeram, pensando no futuro deles. Quando ela morreu no acidente, ele dizia que eles não podiam ter errado. O único jeito de ele concertar isso, seria voltar a impedir a variante que desconcertou toda a conta.”

“Do que merda você está falando?” Guinchou Pietro, confuso.

“Isso é uma máquina do tempo. Folcloricamente elas são ligadas às cabines telefônicas, por motivos diversos. Essa vibração no ar é a energia que ela deve estar puxando, por isso os picos ao redor do bairro. Meu pai quer viajar no tempo.” Explicou Eric, arfando.

“E isso é possível?” Perguntou Milena, nervosa.

“Se ele está fazendo, é porque ele acredita ser.” Comentou Ella, curiosa. “Vamos entrar na máquina?”

“Está maluca, garota?” Gritou Pietro.

“Vai dizer que você não está curioso? É só nós não apertarmos nada.” Ela deu de ombros, puxando os três amigos para a cabine, Eric ainda agarrado com a foto dos pais.

Por dentro, havia um painel cheio de botões que não parava de piscar. Um pequeno monitor girava números de forma aleatória. O calor no interior do lugar era muito para final de setembro, e o zumbido de energia podia ser ouvido por todos.

“Ok, já vimos, agora vamos sair daqui.” Pediu Milena, assustada. Se virou para a porta, tentando abri-la, mas não conseguiu. “Gente, a porta não está abrindo.”

“Cala a boca, Mili, para de brincadeira.” Rosnou Pietro, forçando a porta e falhando em abri-la. “O que você fez, Ella?”

“Eu não fiz nada.” Ela guinchou, assustada.

“Gente, a máquina está tremendo.” Avisou Eric, preocupado. “E o zumbido está mais forte.”

Nesse meio tempo, a porta da casa abandonada foi aberta. Há poucos minutos, Daniel havia pegado seu caminho de volta para a oficina e se assustou ao encontrar tudo piscando sem parar.

Cruzou com Alicia, Mário e Jorge por acaso, enquanto os três procuravam os filhos, preocupados que eles estivessem na rua durante o pico de força. Quando avisaram Daniel que os quatro jovens estavam na rua, ele gelou.

“Eu sei o que está acontecendo.” Ele gritou, correndo para a oficina com os amigos atrás. Assim que chegaram perto, conseguiram ouvir o zumbido forte. “Eric!”

Quando atravessaram a porta, a cabine estava revestida de uma luz forte. Alicia tentou correr até ela, mas os três rapazes a seguraram, preocupados. Podiam sentir o calor irradiando com força e sabiam que o que revestia a máquina era pura energia.

“Pietro!” A mãe gritou desesperada e o rapaz espalmou a mão no vidro, tão desesperado quanto.

“Desculpa, mãe, desculpa por tudo.” Ele gritou, sentindo o mundo começar a rodar aos poucos.

“Daniel, o que está acontecendo?” Gritou Mário, angustiado.

“Isso é uma máquina do tempo, Mário.” O homem gritou de volta, surpreendendo os amigos. “Ou pelo menos, é para isso que ela foi criada. Agora, se ela funciona...”

“E nossos filhos vão ser as cobaias?” Berrou Jorge, quase partindo para cima do outro.

“Eles não deveriam estar aqui, Jorge, eu iria testá-la.” Daniel rebateu, vendo que a cabine rodava cada vez mais forte. “Se protejam!”

Os três puxaram Alicia para atrás de uma mesa, se protegendo. No instante seguinte houve uma explosão forte e tudo ficou em silêncio. Se levantaram e encararam a máquina ali no meio, com os quatro jovens abraçados.

Pais e filhos suspiraram aliviados por um momento, até que a cabine começou a desmaterializar.

“Eric!”

“Milena!”

“Ella!”

“Pietro!”

“Socorro!” Foi o que os jovens gritaram, antes de sumir novamente de diante de seus pais.

De dentro da cabine, a visão que tinham era daquele mesmo cômodo, mas voltando em velocidade acelerada. Viram eles mesmo entrando na casa, viram Daniel ir construindo a máquina, viram o local abandonado.

“A máquina está se desfazendo.” Gritou Pietro, agarrando Ella e Milena com força. As duas abraçaram a cintura de Eric, que estava desesperado sem saber o que acontecia ao seu redor. “Se segurem.”

E então uma explosão. A máquina se desfez ao redor deles e os quatro caíram no chão. Ouviram gritos, mas logo Eric e as meninas estavam inconscientes.

Pietro tentou resistir, levantando a cabeça e olhando ao redor. A primeira coisa que focalizou foi um rosto, um rosto que conhecia muito bem, mas que não via a muito tempo.

“Pai?” Sussurrou alto, logo depois desmaiando.


Notas Finais


OLÁ GENTE BONITA, COMO É BOM VER VOCÊS TODOS POR AQUI! Sim, eles viajaram no tempo! Não sei quantos de vocês tinham entendido isso pela sinopse, deixei meio no ar HAHAHHAHA Ao longo da fic vai sendo explicado mais sobre a vida deles no futuro com flashbacks, mas a partir da agora a história se passa toda no passado. Confuso?
Bom, espero que estejam gostando e, respondendo a perguntas de quem são as pessoas na capa, são nossos 4 protagonistas. O que será que vem a seguir? hm*
Beijos e até logo ;*


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