História For the love of my family - Capítulo 42

Alice e Pietro entraram na casa dos Gusman, encontrando o silêncio. Rodaram pela casa toda, mas não o encontraram. Por fim, resolveram ir até os fundos da casa, como última tentativa. E lá estava Paulo, sentado com Kira em seu colo, quietinha, enquanto ele chorava.

“Papai?” Alice chamou baixinho, segurando a mão do irmão.

Paulo fungou, secou os olhos e se virou para os dois, forçando um sorriso. Kira os encarou brava, rosnando baixinho.

“Hey, sem rosnar para os seus irmãos.” Mandou o rapaz, sério.

“Desculpa, pai.” Pediu a garota, se aproximando do pai e se sentando ao lado dele.

“Eu já falei que não estou bravo por você ter escondido. Quer dizer, até estou, mas eu já esperava por isso.”

“Não por isso, pai... Quer dizer, por isso também. Mas por ter feito mau juízo de você, pai.” Alice segurou a mão dele, emocionada.

“Alice...”

“Não, me deixa falar. Sim, eu sempre soube que você teria ciúme se eu namorasse. Você é, afinal de contas, o cara mais ciumento do mundo, ganhando até do Pietro.” Ela apontou o irmão, que apenas deu de ombros. “Mas eu também deveria saber, sem sombra de dúvida, que você nunca faria algo para impedir minha felicidade, pelo menos não sem um bom motivo.”

“Muito pelo contrário, você faria tudo para que nós conseguíssemos ser felizes, como você sempre fez.” Pietro completou a irmã.

“Eu só quero que vocês sejam felizes, Alice... Mas eu tenho tanto medo. Quando eu vi você e o Jaime daquele jeito, mais do que com ciúmes, eu fiquei desesperado. Filha, e se você engravidar? E se acontecer a mesma coisa que aconteceu com o seu irmão?” Paulo disse com a voz engasgada, tentando não chorar.

“Pai, eu entendo, é só que... Eu amo o Jaime. Amo mesmo, de um jeito que eu achei que nunca iria amar ninguém! Do jeito que eu vejo que o Pietro ama a Ella, e que você ama a mamãe. E eu achei que eu nunca ia ter isso, sabe? Que eu não conseguiria amar ninguém assim, até que ele apareceu.” Alice ia chorando enquanto falava. “E por mais medo que eu tenha de dar merda, de tudo desandar, de acontecer comigo o que aconteceu com o Pietro, eu quero aproveitar o tempo que eu tenho com o Jaime. Eu não sei o que vai acontecer daqui para a frente, o que aconteceu com o futuro, qual vai ser o nosso destino, mas eu sei que meu tempo com ele vai se findar depressa. E eu quero poder ter vivido ele intensamente.”

“Eu não vou atrapalhar ou interferir, Alice, mas eu te faço um pedido: se cuidem, por favor. De todas as formas possíveis, do jeito que vocês conseguirem. Eu não vou aguentar mais aflição pelo futuro de vocês três.” Pediu Paulo, acariciando o rosto da filha.

“Eu prometo, pai.” A garota o abraçou com força, tremendo. “Mas eu quero saber se você está com raiva de mim.”

“Eu nunca vou ter raiva de vocês, Alice.” Prometeu o Guerra, puxando Pietro com o outro braço. “Mas não me peçam para me calar e ser omisso quando eu ver que algo está errado. Porque isso, garanto, eu nunca vou fazer.”

~*~

Quando os três regressaram à casa abandonada, todos os amigos já estavam lá. Ninguém comentou o sumiço deles, e Jaime nem tentou se aproximar. Todos estavam mais preocupados com a máquina do tempo.

“E então, vocês encontraram algo de errado?” Perguntou Davi, analisando a máquina, que parecia intacta.

“Nada, cara, nada mesmo.” Marcos bufou frustrado. “Eu e a Alice vimos e revimos os cálculos dezenas de vezes, e está tudo correto! E eu e o Jaime revisamos toda a montagem, as ligações... Nada errado, nada fora do esperado.”

“Então o que aconteceu?”

“Não tem como nós sabermos, Valéria. Para a nossa sorte, tivemos uma tempestade solar bem na hora, e isso explodiu a cidade inteira.” Alice parecia derrotada ao falar isso. “E, bom, tem a hipótese de que o nosso futuro deixou de existir.”

“E o que faremos agora?” Perguntou Adriano, preocupado.

“Vamos viver, cara. É só o que podemos fazer.” Pietro abraçou a namorada, beijando o topo da cabeça dela. “E esperar pelo que tiver que acontecer a seguir, né?”

“Nós vamos nos formar, vocês vão fazer vestibular, entrar na faculdade. O Pietro e a Ella vão se preparar para a chegada do Theo, e para o que quer que aconteça com isso.” Eric completou o amigo. “A partir de agora, nosso destino está nas mãos de Deus.”

“Espera, vocês falaram Theo?” Perguntou Maria Joaquina. “Então é um menino?”

“É sim, gente... Eu e o Pietro vamos ter um filho, o Theo.” Contou Ella, com um sorrisinho.

“Que notícia linda... E tão romântica.” Suspirou Laurinha, se apoiando em Adriano.

“Espero, de coração, que o Theo seja a única criança que esse grupo vai ter por enquanto.” Confessou Jorge, sério.

“O que me lembra.” Paulo se levantou do degrau em que estava sentado, caminhando até Jaime. O gorducho engoliu em seco, se preparando para o pior. “Espero que você cuide muito bem da minha filha, Palilo.”

“Eu amo a Alice, Paulo... Mais do que já amei qualquer coisa na vida. Eu nunca vou fazer nada para machucar ela, de forma alguma.” Prometeu o rapaz, encarando a namorada. “E eu vou tomar cuidado, se é o que te preocupa.”

“Espero mesmo, Jaime. E espero que vocês dois saibam o que estão fazendo.” Foi só o que ele disse, apertando a mão do amigo.

“Então você nos dá permissão para namorar?” O Guerra assentiu, ainda sério. “Valeu, cara.”

“Para, pera, pira, pura, PORRA! Como assim namorar? Gente, mais um OTP se realizou, é isso?” Gritou Valéria, histérica que só ela. “Davizinho, eu vou desmaiar.”

“Menos, Valéria, bem menos.” Mandou Alicia, revirando os olhos.

“Gente, tem uma coisa que estão me corroendo.” Avisou Koki, atraindo a atenção de todos. “Uma vez minha avó me disse que não existe maneira de duas almas habitarem um único corpo, assim como não existe um jeito de uma mesma alma habitar dois corpos. Considerando que não vá ter jeito, mesmo, de eles voltarem para o futuro, que o futuro deles não exista mais, e que eles não se desmaterializem do nada por isso... O que vai acontecer com cada um de vocês quando suas mães ficarem grávidas?”

“Você mesmo disse, Koki: uma mesma alma não pode habitar dois corpos ao mesmo tempo. Quando nós formos concebidos nesse tempo, nossa alma terá que ir para o novo corpo que irá fazer. E esse... Bom, acho que ele deixará de existir.” Profetizou Marcos, fazendo o silêncio cair no local.

~*~

No dia seguinte, Alicia chamou todos os viajantes e os respectivos pais para a sua casa. Era a primeira vez que a grande maioria entrava ali em dias, desde o acidente que havia tirado a vida dos pais da garota, e o clima no local era denso.

“Por que você nos chamou aqui, Ali?” Perguntou Mário, tentando disfarçar o incomodo que sentia.

“Bom, por dois motivos. Primeiro, Jorge e Marga.” Ela virou para o casal de amigos. “Eu e o Paulo estávamos conversando, e nós achamos que a Ella deveria vir morar aqui.”

“Oi?” Questionou a Garcia, demonstrando a surpresa de todos.

“É sério isso?” Pietro se manifestou.

“Sim. Como, pelos documentos falsos de vocês, a Ella já tem 18 anos, assim como você, não tem motivo para ela ficar mais colada na Margarida. E, nós dois concordamos nesse ponto, vocês dois precisam se preparar juntos para a chegada do Theo.” Explicou Paulo.

“Nesse ponto eu concordo.” Avisou Jorge.

“Além dos três quartos do fundo, nós temos o anexo da empregada lá nos fundos. Que, aliás, foi onde vocês fizeram o Theo, se não me engano.” Comentou Alicia, vendo o casal trocar um sorriso maroto. “É um quarto até que grande, dá para vocês dois ficarem com o Theo a princípio.”

“Não é uma má ideia.” Concordou Daniel.

“E qual era a outra coisa?” Perguntou Marcelina.

“Nós queremos que você e o Mário venham para cá com a Mili e o Marcos.” Disse Paulo, surpreendendo a irmã e o cunhado.

“Gente, de onde saiu tudo isso?” Perguntou Mili, curiosa.

“Essa casa está assombrada. Assombrada por lembranças, por mágoas, por saudade. Vocês disseram que eu e o Paulo morávamos em um apartamento, e depois compramos uma casa, nessa mesma rua. Bom, nós concordamos que é meio idiota fazer todo esse translado, tendo essa casa aqui, mas ela precisa ser limpa. E para isso, ela precisa ser preenchida por novas histórias, novas memórias.” Explicou Alicia, tentando disfarçar sua emoção. “Agora ela é minha, e eu posso fazer com ela o que eu bem entender. E é isso o que eu quero. Eu sei que é difícil para vocês dois ficarem no apartamento dos Guerra com eles dois, Marce, nós já passamos por isso também. Então, por enquanto, eu quero que essa seja a nossa casa, cheia de alegria e bagunça, como era na época em que os quatro ficavam aqui comigo.”

“E qual seria sua ideia, marrentinha?” Perguntou Mário, sorrindo.

“Eu e o Paulo voltamos a dividir o quarto que sempre foi meu, e você e a Marce ficam com o quarto que era de hóspedes. E o... O quarto que era dos meus pais, que é o maior, fica para a Alice, o Paulinho, a Mili e o Marcos. Nós vamos reformar a casa inteira e deixar ela com a nossa cara.” Explicou a Gusman.

“Com que dinheiro, sua louca?” Perguntou Margarida.

“Nós já vendemos quase tudo que está na casa agora.” Contou Paulo. “Foi o que fizemos nos últimos dias, com a ajuda do seu pai, Jorge. Colocamos quase todos os móveis no OLX e vendemos, vão começar a retirar nos próximos dias. Nós também vendemos os dois carros, que são muito grandes e de manutenção cara, e compramos um mais simples e econômico. Com tudo isso, conseguimos o dinheiro para reformar e mobiliar de novo a casa. E sim, nós vamos usar o OLX também para isso.”

“Vocês planejaram tudo muito bem, hein?” Se surpreendeu Alice.

“Eu precisava ocupar minha cabeça com alguma coisa.” Alicia deu de ombros. “Ah, Marce, seu irmão também vendeu as coisas dele, na casa dos seus pais. Quer dizer, uma parte. Algumas coisas nós vamos trazer para o quarto dos meninos.”

“Eu posso fazer isso também.” Concordou a baixinha. “E o Mário também.”

“Mas será que seus pais vão concordar?” Perguntou Daniel.

“Eles já concordaram, na verdade. Eu e o Paulo conversamos com eles no hospital, uns dias atrás. Eles acharam a ideia ótima, porque uma irmã da Lilian está vindo para São Paulo, ajudar a cuidar deles durante esse processo de recuperação. Eles iam mandar o Mário e o Marcos para a casa do Germano, para que ela usasse o quarto do Paulo, então essa ideia matou dois coelhos com uma cajadada só.”

“Bom, meus pais também falaram de eu e a Marga sairmos de casa.” Confessou Jorge. “Ele tem um apartamento pequeno, que era de aluguel, com dois quartos. Não ia caber cinco pessoas, por isso não chamamos o Pietro, apesar de pensarmos o mesmo que vocês. Mas acho que vamos acabar indo para lá com o Nicholas.”

“Então é isso? Vocês vão todos sair da casa dos pais de vocês?” Se espantou Eric.

“Você sabe que essa situação, que era temporária, estava difícil de levar, Eric.” Lembrou Daniel. “Nós saímos da casa dos seus avós por isso, principalmente.”

“E como a situação parece que se tornou efetiva, vai ficar cada vez mais difícil.” Concordou Marcos, suspirando.

“Nós precisamos cuidar de vocês, meninos... E para isso, vamos ter que mudar nossos planos.” Margarida acariciou a cabeça de Nicholas, que a encarava. “Assumir as responsabilidades desde já.”

“Acho que, na verdade, precisamos ir vivendo um dia de cada vez e vendo o que precisamos para ir lidando com tudo.” Avisou Alicia, se levantando. “Bom, vocês me ajudam?”

“No que, amiga?”

“A embrulhar as coisas. Sabe, o que foi vendido, as coisas dos meus pais. A começar a limpar a casa e escrever nossa nova história, nosso novo futuro.” Chamou a garota, os olhos brilhando entre lágrimas de saudade e de animação. “Vamos?”

Um a um, eles foram se levantando e seguindo com ela para cima, deixando para trás todas as certezas que tinham, prontos para embarcar em um futuro incerto, sem saber o que iria acontecer, como sempre deveria ter sido.