História For the love of my family - Capítulo 45

O silêncio imperou absoluto nos minutos seguintes. Olhos corriam de um lado para o outro, arregalados, surpresos. Paulo, Alicia, Daniel, Margarida, Jorge, Mário e Marcelina tinham os olhos cravados em suas versões futuras, ali, em carne e osso, na frente deles.

“Eu devo ter bebido demais.” Disse Cirilo, por fim.

“Acho que nem chapado de maconha seria possível ver isso.” Garantiu Carmen, se encolhendo contra o namorado.

Os viajantes estavam em um estado de torpor desconhecido, mergulhados entre o espanto, o alívio, o choque e a alegria. Paulinho corria os olhos de um lado para o outro, confuso de ver suas versões de seus pais.

Por fim, deu de ombros e saiu correndo, se arremessando sobre o Paulo e a Alicia do futuro.

“Mamãe, papai, mais velhos.” Ele disse contente, ignorando as lágrimas deles.

“É, meu amor, nós somos mais velhos.” Concordou a mãe, enchendo o topo da cabeça dele de beijos, Paulo envolvendo os dois.

Foi o gatilho que faltava ser disparado. Pietro e Alice saíram correndo sem prévio aviso, se jogando nos pais e no irmão, que cambalearam. Mili e Marcos puxaram Eric por metade do caminho, até que o soltaram e se jogaram em Mário e Marcelina, quase ao mesmo tempo em que Ella e Nicholas alcançavam Jorge e Margarida.

“Puta que pariu...” Suspirou Frederico Carrilho, chocado.

Lágrimas rolavam soltas, emocionadas, felizes. Alicia alternava a atenção entre os três filhos, conferindo e reconferindo se eles estavam bem.

“Eu nem acredito, meu Deus.” Ela disse com a voz trêmula, segurando o rosto de Pietro. “Tantos anos depois...”

“Para nós foram meses, mãe, mas eu garanto que o sentimento foi de anos.” Disse o rapaz, com a voz embargada. “Eu senti muito a sua falta.”

“Eu também, meu amor, você nem imagina o quanto.” Ela o abraçou com força, e ele encarou o pai, que estava abraçado com Alice e Paulinho.

“Pietro...” Ele tentou falar, a voz rouca e fraca.

“Eu sei, pai... A Alice já me contou tudo.” Garantiu o rapaz. “Eu sei porque você fez tudo o que fez.”

“E... Você me perdoa?”

“Não tem o que perdoar, pai.” Ele caminhou até o homem, o abraçando do lado oposto de Alice, deixando Paulinho entre os dois. “Eu te amo.”

“Eu também te amo, filho... Amo vocês três.” Ele beijou a testa do garoto. “E cumpri minha promessa, Alice... Eu te disse que eu não iria embora antes de estar com vocês três de novo.”

“Não fala disso agora, pai, por favor. Deixa eu curtir a alegria de estar de novo com vocês quatro.” Pediu a Guerra, fungando.

Paulo apenas assentiu, apertando mais os três contra si. Encarou Alicia, que sorriu e caminhou, os abraçando também, os cinco sorrindo uns para os outros.

Um pouco para o lado, Mili estava agarrada com Mário, quase sumindo no abraço do pai.

“Mili, eu também to com saudade do papai.” Marcos revirou os olhos, abraçado com a mãe, que ria.

“Fica quieto, faz mais tempo que eu não vejo ele.” A garota mandou a língua para o irmão, e os pais riram mais.

“Já vão começar a brigar? Jura? É só eu e sua mãe estarmos perto que vocês brigam?” Mário arqueou a sobrancelha, vendo a filha dar de ombros. “Vamos, amendoim, deixa eu abraçar o seu irmão.”

“Adoro quando você me chama assim.” Ela riu, se afastando e dando espaço para Marcos. Encarou Marcelina, que sorria para ela. “Mãe...”

“Vem aqui.” A baixinha a puxou para seus braços, as duas se abraçando com força. “Você está tão linda, minha princesa.”

“Eu te amo, mãe... Obrigada por tudo.” Ela disse baixinho, sentindo as lágrimas da mais velha umedecerem seu cabelo.

Marcelina se afastou um pouco, colando sua testa com a da filha, as duas sorrindo um para a outra entre as lágrimas.

“E eu amo vocês duas. Ou melhor, vocês três.” Avisou Mário, indo com o filho até elas e as abraçando. “Família MM’s.”

“Santa criatividade.” Resmungaram os dois irmãos, fazendo os pais rirem.

Enquanto isso, Jorge e Margarida ainda não tinham conseguido dizer uma palavra, assim como os filhos. Nicholas apenas curtia a companhia dos pais e da irmã, enquanto eles choravam sem brecha.

“Mamãe?” O garotinho chamou por fim, fazendo com que a família o encarasse.

“Fala, meu anjo.”

“Agora que a Ella vai voltar para o futuro, nós vamos ter que voltar a morar com o Celso?” Ele perguntou, temeroso.

“Não, filho, vocês nunca mais vão ter que morar com aquele monstro.” Prometeu Jorge, bagunçando de leve os cabelos do garoto.

“Ele nunca mais vai machucar vocês, Nic. Agora nós vamos ficar juntos, como uma família.” Ella abraçou a mãe com mais força. A mais velha não disse nada, apenas sentiu as lágrimas vindo com mais intensidade e retribuiu o carinho da filha.

“Do jeito que a gente faz aqui no passado? Que a gente mora com o papai e a mamãe?” Era mais um daqueles momentos em que ele agia como uma criancinha pequena, apesar da idade.

“É, Nic, assim mesmo. Só nós quatro.” Jorge envolveu os três com força, sendo retribuído.

Ali perto, Daniel encarava Eric, sem coragem de tocá-lo.

“Eu to sentindo você, pai...” O rapaz disse por fim.

“É que... Eu to com tanta vergonha do que eu fiz, Eric.” O Zapata deu um passo hesitante. “Eu errei, e perdi sua mãe. E para tentar reparar esse erro, fiz a maior burrada do mundo e quase perdi o que eu tenho de mais importante... Você!”

“Você errou sim, pai, errou muito. Várias vezes, na verdade. Mas reconheceu e aprendeu com isso.” Eric disse, emocionado. “E eu sei que você está com vergonha, mas eu dependo de você para poder te abraçar, porque eu não te enxergo. E tudo o que eu quero, agora, é poder te abraçar.”

“Ah, filho, você não imagina o quanto eu quero isso também.” Daniel venceu a curta distância, abraçando o garoto com força. “Eu te amo tanto, Eric.”

“Eu também te amo, pai... Eu senti sua falta.”

“Não mais do que eu senti a sua, garanto. Sem você, eu não tenho nada, campeão... Você é o que me faz sair da cama todos os dias, nos últimos cinco anos.”

“Cinco anos?” Guinchou o rapaz, surpreso.

“Muita coisa mais aconteceu, filho...” Suspirou Daniel, ainda o segurando junto de si.

No outro extremo do pátio, o silêncio continuava. Todos encaravam os quatro casais que estavam mais à frente, vendo o choque deles por verem seus eus-futuros ali... Uma coisa é saber que vai envelhecer, outra é ver com os próprios olhos.

“Eu juro que tava me segurando, mas não vai dar... MEU FORNINHO CAIU! DESPENCOU! FOI PARA A MERDA E NÃO VAI VOLTAR TÃO CEDO.” Gritou Valéria, atraindo a atenção de todos. “Não basta os shipps ficarem juntos, terem filhos, eles têm que vir e acabar a gente com esse reencontro destruidor.”

“Valéria, contenha-se, pelo amor de Deus.” Sua mãe a repreendeu, séria.

“Eu tinha esquecido como ela era escandalosa nessa idade.” Suspirou Mário do futuro.

“O quê? Minha eu do futuro não é escandalosa? Cadê ela, quero falar algumas coisinhas.” Resmungou a Ferreira.

“Valéria, dá para você calar a boca por um minuto, por favor.” Gritou o Paulo jovem, nervoso. Ele encarou seu futuro, que sustentou seu olhar. “Eu achei que nós não podíamos ver nossos futuros.”

“Para não mudar seu caminho. Mas considerando que as crianças estão aqui faz tempo, isso não importa mais.” O Guerra do futuro disse, apoiado nos filhos. “Eu preciso sentar.”

“Vem.” Pietro e Alice foram o apoiando até uma cadeira, enquanto Alicia vinha atrás com Paulinho. “Você está bem?”

“Vocês sabem, viajar no tempo te cansa um pouco. Quando se está à beira da morte, mais ainda.” Ele brincou e a família riu sem humor.

“Como vocês voltaram? O que aconteceu? Nós achamos que o futuro não existia mais.” Disse Mili, de uma vez. “Aquele dia em que a máquina foi ligada e...”

“Ella, por que sua barriga está se mexendo?” Perguntou o Jorge do futuro, interrompendo o interrogatório. A jovem Cavalieri gelou, encarando o namorado.

“Ella, filha, sua barriga está... Grande?” Margarida se chocou, afastando a filha e a analisando, enquanto o marido espumava.

  “Ella Garcia Cavalieri, como assim você está grávida?” Jorge gritou, desesperado. “Eu nem sabia que você tinha um namorado!”

“E eu não tinha; pelo menos, não oficialmente. A gente começou a namorar para valer aqui no passado.” Ela disse em voz baixa, fazendo os mais velhos gelarem.

Paulo e Alicia encararam o primogênito, que estava cabisbaixo.

“Pietro Gusman Guerra...”

“Mãe, pai... Vocês vão ser avós.” Ele de um sorriso amarelo.

“É o quê?” Berraram Jorge e Paulo ao mesmo tempo.

“A Alice está namorando o Jaime Palilo!” Ele gritou, jogando o rojão para a irmã, que o fuzilou.

“Como é que é?” Guinchou Daniel, encarando o amigo no passado. “Aquele Jaime?”

“Caralho, Pietro, não fode.” Rebateu a Guerra, sendo encarada de forma descrente pelos pais.

“Ele é 25 anos mais velho do que você, Alice!” Gritou sua mãe.

“Aqui nesse tempo, ele ainda é mais novo.” Ela tentou se defender.

“Alicia, eu não morri até agora, mas acho que vou embarcar depressa.” Gemeu Paulo, pálido. “Meu filho de dezessete anos engravida a namorada no passado e minha filha começa a namorar meu colega de escola, vinte e cinco anos mais velho do que ela.”

“Milena e Marcos, pelo amor de Deus, vocês aprontaram alguma?” Perguntou Mário, encarando os filhos.

“Eu só construí uma máquina do tempo.” Prometeu o garoto.

“Eu to namorando o Eric. Mas não estou grávida.” Revelou a menina.

“Você está namorando?” Guinchou Mário.

“Ah, finalmente. Desde que nós estávamos grávidas que vocês dois ficavam de graça. Finalmente meu genrinho é meu genrinho.” Comemorou Marcelina, enquanto Daniel abraçava o filho, sorrindo.

“Marcelina, você quer me matar?” Gritou Mário, nervoso.

“Você vai morrer? Minha filha tá grávida, cacete!” Jorge gritou, desesperado.

“Sabe do que vocês precisam?” Perguntou Alice.

“O quê?” Foi um grito quase coletivo.

“Vodca.” Ela rebateu, encarando as pessoas do presente. “Pai... Acho que meu outro pai precisa de um pouco da bebida que você trouxe!”