1. Spirit Fanfics >
  2. For the love of my family >
  3. Capítulo 48

História For the love of my family - Capítulo 48


Escrita por: Believe8

Capítulo 50 - Capítulo 48


Quando Alicia abriu os olhos, encontrou em teto branco. Levou alguns segundos para se dar conta do que mais estava acontecendo ao seu redor, e a primeira coisa que identificou foi o som ritmado de uma máquina.

“Alicia?” Ouviu a voz de Marcelina e se virou, encontrando a amiga deitada em uma cama ao lado. “Nós estamos no hospital?”

“Acho que sim, Marce... O que aconteceu?” Perguntou a morena, encarando o soro ligado em seu braço e o monitor cardíaco.

“Eu não sei, Ali, eu não lembro de quase nada.” A Guerra estava confusa. “Eu to com o corpo todo dolorido.”

“Eu também.... Você está cheia de machucados, Marce.”

“Você também.” As duas se encararam preocupadas, quando a porta se abriu, revelando Lilian Guerra.

“Ah, acordaram. Graças a Deus.” A mulher parecia aliviada.

“Mamãe? O que aconteceu?” Perguntou Marcelina, sentando na cama e gemendo. “Ai, minha cabeça.”

“Devagar, querida. Vocês bateram a cabeça com força, ela vai doer por alguns dias.” Lilian sentou ao seu lado, encarando a filha e Alicia. “Do que vocês lembram?”

“Nada, tia... Eu to bem confusa.” Garantiu a Gusman.

“A casa abandonada pegou fogo, meninas.” Disse a mulher, chocando as duas. “Vocês estavam lá na noite de Natal, e aconteceu um curto circuito com as luzes da árvore. Mesmo com as reformas, o sistema elétrico da casa ainda era um problema, e acabou acontecendo uma explosão. Vocês já estavam fora da casa na hora, mas voaram longe e bateram a cabeça.”

“Espera, como assim Natal?” Alicia sentou, ignorando a dor de cabeça. “Nós estamos em julho.”

“Não, Alicia, nós estamos em dezembro. Aqui, olha... Hoje é dia 27 de dezembro.” Lilian mostrou o celular para as duas. “Vocês estão apagadas há dois dias, direto.”

“É impossível ser dezembro, mãe... A última coisa que eu lembro é que nós estávamos reformando a casa, durante as férias!” Disse a baixinha histérica.

“Vocês não lembram de nada depois disso?” Perguntou Lilian, e as meninas não sabiam se ela estava feliz ou preocupada.

“Não, tia, nada.” Garantiu Alicia, séria. De repente, algo ocorreu para ela. “Cadê o resto do pessoal? Nossos amigos? O Paulo?”

“E o Mário?” Marcelina gelou ao pensar no irmão e no Ayala.

“Estão no quarto ao lado, meninas, se acalmem. Tivemos que dividir vocês em quartos e hospitais, vocês são muitos. Mas os namorados de vocês estão bem, fiquem tranquilas.” Disse a mulher com um sorriso bondoso.

“Nossos o quê?” Guincharam as duas de uma vez.

“Vocês realmente não se lembram de nada, não é?” A mulher acabou rindo.

“Claro, você já fez 17 anos, Ali! A promessa de vocês era para quando você fizesse 17.” Lembrou Marcelina, vendo a amiga corar.

“Na verdade, foi antes. No seu aniversário, já tinha algumas semanas que vocês estavam juntos.” Contou a sogra, sorrindo. “E você e o Mário se acertaram logo depois, filha.”

“Eu quero saber o que mais eu não lembro. E por que a gente não lembra das coisas.” Disse a baixinha, ansiosa.

“Vocês bateram a cabeça, querida... Agora que vocês acordaram, vão fazer exames mais profundos.” Lilian explicou sorrindo, mas logo isso sumiu. “Alicia, já que você não lembra, nós precisamos conversar sobre algo sério...”

“Ai, meu Deus. A Alicia tá grávida do Paulo.” Gritou Marcelina, assustando as duas.

“Tá louca, menina? Sou virgem ainda. Quer dizer, eu acho que sou...” Ela encarou a sogra, que deu um sorrisinho de lado. “Ai, caramba.”

“Eu vou ter que saber pela minha mãe que perdi a virgindade?” Marcelina encarou Lilian, que assentiu. “Ai que legal.”

“Eu não to grávida, né tia?” Alicia perguntou, tensa.

“Não, querida, fique tranquila.” A mais velha acabou rindo novamente. “Ainda tem alguns anos para isso.”

“Já tá cobrando netos, mãe?” Aporrinhou Marcelina.

“Se não é isso, o que você precisava falar de sério comigo?” Perguntou a Gusman, preocupada.

“Hã... Aconteceu uma tempestade solar, algumas semanas atrás. Foi algo bem sério, causou estragos na cidade toda, vários acidentes.” Ela começou, cautelosa. “E... Bom, eu e o Roberto estávamos no carro, com os seus pais, na hora da tempestade.”

“Meus pais? Mas meus pais estão viajando, só voltam ano que vem!”

“Eles resolveram voltar mais cedo, querida, e queriam te fazer uma surpresa. Como nós somos pais do seu namorado, pediram para nós os buscarmos no aeroporto. E quando estávamos chegando à sua casa, aconteceu a tempestade e o acidente.”

“Você tá com várias cicatrizes.” Notou Marcelina, preocupada.

“E está tudo bem com eles, tia? E com o tio Roberto?” Perguntou Alicia, temendo a resposta.

“O Roberto está se recuperando bem, querida, teve que passar por duas cirurgias tensas no cérebro, mas graças a Deus se recuperou totalmente. Mas... Os seus pais não resistiram ao acidente, meu bem.” Lilian foi sentar ao lado dela, segurando sua mão. “A batida foi do lado que eles estavam no carro, e eles não resistiram. Eu sinto muito, Alicia.”

“Eles... Eles...” Ela tentava falar, mas não conseguia. Por fim apenas abraçou a mais velha, começando a chorar em seus braços.

Marcelina levantou depressa da cama, indo até a da amiga e a abraçando também, com Lilian envolvendo as duas em silêncio.

~*~

Alguns quartos para o lado, Daniel havia acabado de despertar. Reconheceu depressa o hospital, e se aliviou ao encontrar a namorada na cama ao lado, ressonando tranquilamente.

“Hey, filhão.” Valentim se levantou da poltrona, indo até a cama dele. “Como está se sentindo?”

“Com dor e confuso. O que aconteceu?” Perguntou o Zapata, encarando a mão machucada.

“As luzes da árvore de Natal causaram um curto na casa abandonada, e depois de pegar fogo, o lugar explodiu. Vocês acabaram se machucando.” Explicou o mais velho, vendo o choque do filho. “Sinto muito, sei quando aquele lugar significava para vocês...”

“Pai, que dia é hoje?”

“27 de dezembro, Dan.”

“Não é possível...” Ele sussurrou, nervoso. “Pai, nós não estamos em julho?”

“Julho? O quê? Não, não... Você não se lembra de mais nada?”

“Eu não...” Ele passou a mão na cabeça, sentindo algo roçando em seu dedo. “O que é isso?”

“Sua aliança de noivado.” Valentim disse, enquanto o filho encarava o aro dourado. “Você pediu a Carmen em casamento há três meses.”

“Como assim eu pedi ela em casamento? Nós nem saímos do colégio.”

“Daniel, calma, respira.” O mais velho segurou o rapaz pelos ombros. “Você não fez isso sem pensar muito bem, filho, eu te garanto. Você está assustado, sem memória, confuso. Mas você sabia o que estava fazendo quando pediu ela em casamento.”

“Tá, ok... Pai, isso é ilógico.” O rapaz estava nervoso. “Tá totalmente fora dos nossos planos.”

“Eu sei, filho... Mas foi uma decisão sua, de vocês dois. Muita coisa mudou de julho para cá na vida de vocês, e a Carmen vai estar tão assustada quanto você na hora em que acordar. Então respira fundo e se acalma, para ajudar ela a se acalmar também.”

“Pai... Você sabe se a gente, hã, transou?” O Zapata perguntou, sem graça.

“Vocês estão morando no mesmo apartamento, filho, acho que é bem provável que sim.” Concordou Valentim, vendo-o assumir uma expressão ainda mais surpresa.

“Ela... Ela não está grávida, não é?”

“Não que eu, ou qualquer médico, saibamos. Por quê?”

“A palavra pai fica ressoando na minha cabeça, não sei o porquê.” Explicou o garoto, encarando a namorada.

“Bom, grávida ela não está, filho. Só sem memória, provavelmente. Vocês bateram a cabeça com força.” Suspirou o pai, bagunçando o cabelo dele. “Descansa, logo ela deve acordar. Em alguns dias, acredito, vocês sairão daqui. Por sorte a empresa está em férias coletiva, vocês não precisaram nem ser afastados.”

“Nós estamos trabalhando na empresa, com você?” Daniel ficou surpreso.

“Conversaremos melhor quando vocês estiverem bem, os dois. Fique calma, está bem?” Pediu o Zapata mais velho, sorrindo.

O mais jovem voltou a se recostar nos travesseiros, enquanto o pai deixava o quarto. Encarava o anel em seu dedo, pensativo. Retirou e o analisou minuciosamente, reconhecendo detalhes que ele realmente pretendia colocar no dia em que a pedisse em casamento.

Mas, definitivamente, não seria aos 17 para 18 anos.

“Dan?” Ouviu a voz da mulher sair baixinha e pulou da cama, cambaleando a princípio. “O que está acontecendo?”

“A casa abandonada pegou fogo e explodiu, nós nos machucamos... Batemos a cabeça na hora. Eu... Eu não lembro de nada dos últimos meses, desde julho. Agora é... Nós estamos no dia 27 de dezembro, a explosão foi no dia do Natal.” Ele tentava explicar da melhor forma, mas estava confuso demais ainda.

“Dezembro? Impossível, Dan, ainda é julho.” Os olhos escuros se encheram de lágrimas, assustados.

“Eu pensei a mesma coisa, meu amor... Mas é dezembro, meu pai me mostrou no celular. Ele disse que muita coisa aconteceu nesses últimos tempos, coisas que não lembramos. Vão nos examinar com calma, agora que estamos acordados, e ver o que aconteceu.” Ele foi explicando, acariciando o cabelo dela. “Hã, amor, tem mais uma coisa, e eu quero que você fique calma.”

“O que foi, Daniel?” Ela perguntou, nervosa.

Ele pegou as mãos dos dois, entrelaçando com carinho e virando para ela, fazendo os anéis dourados brilharem e os olhos dela se arregalarem.

“Nós estamos noivos, Carmen. E morando juntos, segundo meu pai.”

“Como é que é?” Ela guinchou, sentando. “Dan, isso é impossível! Nós... Nós mal terminamos o colégio.”

“Calma, minha linda... Segundo o meu pai, foi uma decisão muito bem pensada! Nós pensamos e conversamos bastante, antes de tomar essas decisões. Eu só queria lembrar o que, exatamente.” O Zapata segurava a mão dela, pensativo. “E... Bom, se nós estamos morando juntos...”

“Você acha que nós... Transamos?” Ela perguntou, corando.

“Desculpa falar disso, assim de cara, é só que... Eu fico ouvindo, sabe? Alguém me chamando de pai, dizendo papai. E me ocorreu, de repente, que você pudesse estar grávida, especialmente quando vi que estávamos noivos.” Explicou o rapaz, vendo-a arfar de desespero. “Mas meu pai disse que não! Algum dos médicos já teria dito.”

“Isso é loucura, Dan... Tudo isso é uma grande loucura.” Carmen negou com a cabeça, encarando o anel em seu dedo. “Mas... Eu gosto dessa loucura.”

“Como assim?”

“Eu te amo, Zapata. E, mesmo que seja loucura, eu to feliz de estar noiva de você.” Ela explicou com simplicidade, causando um sorriso nele.

“Eu também, Carmen... Te amo demais, minha linda.” Daniel se inclinou e lhe deu um beijo, os dois com pequenos sorrisos nos lábios.

~*~

Margarida estava sentada na cama de hospital, encarando o céu pela janela. Tentava absorver tudo o que sua mãe havia lhe dito nos últimos minutos, confusa.

A casa abandonada havia explodido na noite de Natal; era dezembro, e não férias de julho, como ela se lembrava; todos tinham se machucado e batido a cabeça durante a explosão; e principalmente, ela estava namorando com Jorge Cavalieri.

Não negaria que sempre tinha havido uma atração entre os dois, uma troca de olhares velada, sorrateira. Ele era bonito, charmoso, bem educado, apesar de grosseiro e mimado. E algo havia acontecido naquele meio tempo, aquele do qual ela não lembrava, e disparado o gatilho daquele desejo, que parecia ter virado amor.

Ouviu batidinhas na porta e se virou, tensa, pedindo que a pessoa entrasse. Sabia que deveria ser ele, mas não sabia o que esperar desse encontro. Ele podia ser grosso e estúpido com ela, chamá-la de caipira idiota; e ela não sabia ao certo o que sentia por ele, muito menos o que sentiria se tal coisa acontecesse.

Porém, toda a insegurança sumiu assim que ele cruzou a porta. Os olhos azuis cristalinos caíram diretamente nos esverdeados, e houve um momento de reconhecimento instantâneo. Os ombros dele relaxaram, sua expressão suavizou, e pôde ouvir o murmúrio de alivio que escapou de seus lábios assim que ela se levantou da cama.

Ela correu a distância até ele, que avançou alguns passos também, a pegando no ar assim que se encontraram. Por alguns minutos, apenas se abraçaram com força, curtindo a presença um do outro, até que Jorge quebrou o silêncio.

“Como você está?”

“Confusa. Minha cabeça dói, meu corpo dói, eu estou nervosa por não conseguir lembrar das coisas.” Ela disse de forma sincera, se afastando o suficiente para conseguir encará-lo. “E você?”

“A mesma coisa. Fico imaginando a força da pancada na nossa cabeça.” Ele disse, suspirando. “Eu... Você lembra de nós dois, juntos?”

“Não, eu não consegui acreditar na hora que minha mãe me contou. E então ela me mostrou nossas fotos, e eu... Aceitei?” Ele riu pelo nariz.

“Comigo foi a mesma coisa. E... Como você está se sentindo sobre isso?” Jorge perguntou, inseguro.

“Vem aqui.” Ela o puxou pela mão e sentou na cama, com ele ao seu lado. “Você consegue sentir?”

Ela puxou a mão dela até seu peito, do lado esquerdo. O coração da garota, que já batia depressa e descompassado, se tornou ainda mais intenso. A mão do rapaz estava trêmula, fria e relutante. Ele a afastou do peito de Margarida, corado, e pegou a dela, a levando até seu próprio peito.

Você sente?” Perguntou o loiro, os olhos cravados nos dela.

“Sinto...” Uma lágrima brotou no canto do olho da morena, e ele a secou com a mão livre. “O meu coração está batendo assim desde a hora que minha mãe falou sobre você... A cada vez que eu penso em você.”

“O mesmo para mim. Minha cabeça pode não se lembrar do que aconteceu, mas meu corpo te reconhece e sabe que você é... A pessoa que eu amo.” Os olhos dela se arregalaram ao ouvir isso. “Desculpa, acho que eu te assustei e...”

“Não, não assustou!” Ela segurou o rosto dele, sorrindo. “Eu só... Não esperava ouvir isso de você. Acho que eu ainda tenho a imagem do Jorge babaca, que definitivamente não foi o cara por quem eu me apaixonei nesses últimos meses.”

“Eu preciso fazer isso logo.” Jorge resmungou, puxando o rosto da Garcia em direção ao seu e selando seus lábios em um beijo cheio de ansiedade.

Sentiram cada pedacinho do corpo arrepiando e relaxando na mesma intensidade, reconhecendo o toque amado. E algo a mais despertou com isso.

Estavam os dois deitados em uma cama, a de Jorge. Chovia forte do lado de fora e eles estavam se beijando de forma intensa e repleta de paixão. A mão do Cavalieri escorregou pela perna dela, fazendo a garota se retesar.

“Desculpa, Marga.” Ele murmurou, se afastando depressa. Tentava controlar sua respiração, e seu corpo todo. Na certa ele precisaria tomar um banho bem gelado logo. “Eu... Foi sem querer.”

“Não, tá tudo bem.” Ela também estava arfante, sentindo o corpo em chamas. “É só... Eu não esperava por isso.”

“Eu sei, eu também não.” Mentiu. Ele tinha dezessete anos, pelo amor de Deus, é claro que pensava nisso.

E ela também, obviamente.

“Jorge, loirinho... Olha para mim, meu amor.” Ela sentou, passando a mão pelo braço dele. O rapaz se virou, encarando a namorada. “Você consegue sentir isso?”

Ela levou a mão dele até seu peito, no lado esquerdo. Ele pôde sentir o coração dela batendo de forma desesperada, da mesma forma que o seu. Jorge tirou a mão depressa, sabendo que não se controlaria em ficar com a mão sobre o seio dela. Pegou a mão da garota e levou ao seu próprio peito.

“Você sente?” Perguntou em um sussurro.

“Sinto, sinto sim, amor... Até em bagunça, nosso coração combina.” Eles riram baixinho. “Meu coração só fica assim quando está com você, quando eu penso em você.”

“O meu também...” Ele a encarou, sério.

“E quando eu sinto isso, eu sinto que eu estou pronta.”

“Marga...” Ele tentou falar, mas ela colocou o dedo em sua boca, negando com a cabeça.

“Não fala, Jorge, não pensa. Meu futuro é você, você sabe e eu também. Então, para que perder tempo?” Margarida disse com a voz trêmula. “Fica comigo, loirinho.”

“Para sempre, caipirinha.” Ele a puxou para um beijo, deitando seu corpo por cima do dela.

Os dois se afastaram depressa, arfando; não apenas porque precisavam respirar, mas pelo choque causado pela lembrança.

“Eu... Você...”

“Na minha cama, no meu quarto.” Jorge completou o pensamento dela, arfando. “Você pediu para eu sentir o seu coração.”

“E você me fez sentir o seu. E então, nós...” Ela corou ao perceber o que havia acontecido, assim como ele. “O que aconteceu nesses últimos meses, Jorge?”

“Não sei, Marga... Mas eu acho que a gente devia se beijar de novo.” Ele disse simplesmente, vendo-a franzir o cenho. “Quem sabe não revive mais memórias nossas?”

“Meu Deus, como você é idiota.” Margarida não conseguiu reprimir a gargalhada, se largando nos braços dele. O loiro apenas sorriu, a aninhando contra si e se sentindo em paz.

“Eu te amo, Margarida.” Ele disse com sinceridade, sentindo o coração se acalmar ao dizer isso.

“Eu também te amo, loirinho.” A garota o encarou, sentindo-se em paz. “Pelo menos, é o que o meu coração me diz.”

~*~

Mário e Paulo caminhavam pelo corredor do hospital, em um silêncio denso. O Guerra tinha o braço engessado, o que segundo seus pais era a maior das sequelas da explosão. Como se perder a memória fosse uma coisa boba, não?

“Você está bravo comigo, por estar namorando a sua irmã?” Perguntou o Ayala, tenso.

“Não sei. Pelo que nossos pais falaram, eu aceitei de boa. Eu queria mesmo era me lembrar.” Pararam em frente ao quarto em que as duas estavam. “Eu esperei tanto tempo para ficar com a Alicia, e não lembro de como isso aconteceu.”

“É, eu sei como é.” Mário suspirou, dividido entre o medo e a animação. “Eu quero ver ela.”

“Eu também... Só não sei o que esperar.” O Guerra encarou o amigo e agora cunhado, antes de bater na porta.

Entra.” Ouviu a voz da irmã e girou a maçaneta.

Assim como eles dois, elas agora usavam roupas normais, não mais a veste hospitalar. Os olhares dos dois casais se encontraram depressa, mesclando alívio e alegria em ver o outro, apesar de tudo.

Paulo se adiantou primeiro, já que Alicia estava do lado oposto do quarto. Marcelina pulou da cama e correu abraçar Mário, que a ergueu alguns centímetros do chão. Alicia apenas ficou de pé, deixando que Paulo quase a derrubasse quando seus corpos se chocaram em um abraço.

“O que aconteceu com o seu braço?” Ela perguntou, preocupada.

“Segundo meu pai, eu estava segurando você e a Marcelina na hora da explosão. Quando fomos arremessados longe, vocês caíram em cima de mim e quebraram meu braço.” Explicou o Guerra, encarando o gesso.

“Ai, eu sinto muito.”

“Eu não... Se quebrar um braço foi o preço para proteger vocês duas, eu quebro quantas vezes forem precisas.” Ele garantiu, colando sua testa com a dela. “Eu não acredito que esqueci do seu aniversário de dezessete anos.”

“Na verdade, segundo a sua mãe, nós não esperamos por ele. Começamos a namorar antes.” Ela disse baixinho, o indicador passeando pela nuca dele e lhe causando arrepios. “Eu estou triste por não lembrar disso, mas acho que perder a memória foi uma benção em alguns aspectos...”

“Eu sinto muito, minha linda... Os seus pais, eles... Eles eram boas pessoas, você sabe.” Ele secou uma lágrima solitária. “Nós estamos morando juntos, você sabia?”

“O quê? Não! Como assim?” Ela perguntou confusa.

“Nós quatro, na verdade.” Mário se intrometeu, vendo o olhar surpreso de Marcelina. “Nos mudamos depois do acidente... Como o Roberto e a Lilian precisavam do cuidado de uma enfermeira, e você estava sozinha, o Paulo e a Marce resolveram ir para a sua casa. E eu fui também.”

“E nossos pais deixaram?” Se espantou a baixinha.

“O papai disse que nós já iriamos no começo do ano, de todo o jeito, porque nossa faculdade é mais perto da casa da Alicia. E como os pais dela estavam sempre fora, nós iriamos ficar por lá, para ficar mais perto de ir estudar.” Explicou o Guerra, encarando a namorada. “Nós só nos adiantamos um pouco.”

“Gente, nada disso faz sentido.” Garantiu a caçula dos Guerra. “É como se fosse a vida de outras pessoas, pelo amor de Deus!”

“Eu concordo com a Marce. Digo, nada do que eles nos contam bate com o que nós vivíamos alguns meses atrás.” Suspirou Alicia, encarando Paulo. “Minha cabeça dói a cada vez que eu penso.”

“Olha, to surpreso que não tivemos hemorragia cerebral. Porque, pela força que eles dizem que batemos a cabeça, para todos perdermos a memória... Como ninguém rachou o crânio?” Questionou o Ayala, encarando os amigos.

“Não sei, cara... Mas nós vamos descobrir.” Prometeu Paulo, beijando a testa de Alicia e a abraçando com força, enquanto o amigo fazia o mesmo com sua irmã.

~*~

Demorou mais um dia até que todos se reencontrassem. Maria Joaquina, Cirilo, Valéria, Davi, Bibi, Koki, Adriano e Laura estavam em outro hospital, já que não havia nenhum que conseguisse internar o grupo todo.

O único que tinha algum ferimento além da cabeça, realmente, era Paulo. Os demais, apenas pequenos arranhões e escoriações, mas nada sério.

Assim que se encontraram, começaram os abraços e suspiros de alívio, mas todos velando o sentimento de inquietação e angústia.

“Ninguém se lembra de nada depois de julho?” Perguntou Valéria, inquieta.

“Só de acordar no hospital, amiga.” Garantiu Carmen. “E bom... Acordei noiva.”

“Eu acordei namorando sem nem lembrar de ter ficado com o dito. Você pelo menos já estava planejando uma vida com o Daniel, amiga.” Disse Margarida, enquanto Jorge ria sem humor.

“Gente, vocês não acham estranho que nossa memória só vá até o mesmo ponto?” Perguntou Adriano, pensativo. “Digo, quais as chances de isso acontecer? A pancada afetaria áreas diferentes do cérebro de cada um, pois teria acontecido de formas diferentes. A chance de que todos perdêssemos a memória é pequena; que percamos exatamente no mesmo ponto, é ainda menor!”

“Acho que todos já pensamos nisso, cara... Mas não tem explicação para o que aconteceu, acho.” Davi deu de ombros.

“Bom, a explicação mais lógica seria de que alguém apagou e alterou nossa memória até um ponto específico, para que não nos lembrássemos de nada a partir dali, e fez parecer que sofremos um acidente para encobrir isso.” O loiro gordinho disse com uma expressão séria, enquanto os amigos o observavam, sem reação.

Se seguiu um longo silêncio, antes que todos explodissem em risadas, até o próprio Adriano.

“Isso foi uma grande viagem, Adriano... Até para você.” Marcelina secou uma lágrima enquanto ainda gargalhava.

“É, Dri, você devia diminuir os livros de ficção.” Concordou Laura, vendo o rapaz dar de ombros.

“Vocês me conhecem, sou cheio das teorias da conspiração.” Ele acabou rindo. “O Jaime que geralmente me acompanha nelas.”

“Falando no gordinho, ele não veio com vocês?” Perguntou Daniel, dando pela falta do amigo.

“Não, achamos que ele estava aqui, com vocês. Meu pai disse que estava metade em cada hospital.” Explicou Maria Joaquina, franzindo o cenho.

“Será que ele ainda está internado?” Perguntou Paulo, preocupado.

“Não sei, vamos perguntar para os nossos pais.” Mário saiu puxando Marcelina, seguidos pelos amigos.

Seus pais estavam na recepção, conversando em voz baixa e com uma expressão séria. O grupo se aproximou, curioso.

“Papai?” Majo chamou Miguel, e todos os encararam. “Queríamos saber em que quarto o Jaime está.”

“O Jaime?” Perguntou o médico, tenso.

“É. Como ele não foi encontrar conosco, presumimos que ele ainda esteja acamado.” Explicou Cirilo, encarando o sogro e os demais adultos, que trocavam um olhar sério. “O que foi?”

“Meninos, vamos conversar.” Pediu Germano, indicando as cadeiras.

“Nem vem falar com esse tom de voz.” Mandou Mário, sério.

“O que aconteceu com o Jaime?” Perguntou Carmen, tensa.

“Quando o fogo começou, vocês estavam dormindo.” Roberto começou a explicar, encarando os jovens. “O Jaime era o único acordado. Ele quem chamou vocês, salvou vocês todos. Vocês todos começaram a sair da casa, mas o Jaime resolveu voltar e desligar a eletricidade, para o incêndio não se propagar mais. Quando ele voltou, aconteceu a explosão.”

“Vocês querem dizer que...” Jorge não conseguiu completar o que diria, porque as lágrimas embaçaram sua visão e sua garganta fechou. Margarida caiu no choro ao seu lado, se escondendo nos braços do loiro.

“Eu sinto muito, meninos. Não teve o que pudéssemos fazer, nenhum de nós ou os bombeiros.” Disse Valentim, derrotado. “Quando nós chegamos, os bombeiros já estavam tirando o corpo dele de dentro da casa.”

“E como vocês sabem o que aconteceu?” Perguntou Valéria, vendo os mais velhos travarem.

“Hã, o Daniel estava consciente depois da explosão. Vocês todos desmaiaram, mas ele acordou quando o resgate chegou. Ele contou o que havia acontecido.” Explicou Frederico, depressa.

“Eu não consigo acreditar.” Carmen estava encolhida contra o namorado. “O Jaime...”

“Foi um herói, querida. Ele salvou a vida de vocês todos, os alertando do incêndio. Do contrário, vocês poderiam perceber o que estava acontecendo quando fosse tarde demais.” Clara encarou todos com um sorriso bondoso.

“O enterro?”

“Não houve, filho. A Eloisa e o Rafael preferiram cremar o corpo, que já estava carbonizado. Eles foram passar uns tempos na casa de uns parentes no interior, e levaram as cinzas. Vão dar um fim apropriado para elas por lá.” Explicou José, acariciando a cabeça de Cirilo.

Ninguém tinha mais o que dizer depois daquilo. Os casais se abraçaram em silêncio, chorando a perda de um grande e amado amigo. Seus pais os observavam de coração partido, até que perceberam a presença de alguém.

“Paulo? Marcelina? Que surpresa vê-los aqui.” Um homem se aproximou, sorrindo. “Vocês não foram à consulta ontem, fiquei preocupado.”

“Hã, desculpa, mas quem é você?” Perguntou o Guerra, confuso.

“Sou eu, doutor Angelo.” Ele disse, esperando alguma reação. “O neurologista de vocês?”

“Neurologista?” Marcelina se assustou, encarando os pais. Os dois trocaram um olhar desesperado, intervindo na conversa depressa.

“É, meninos, neurologista. O Angelo foi quem tratou a avó de vocês quando ela adoeceu, lembra?” Lilian mentiu depressa, vendo os filhos negarem com a cabeça.

“Acontece que descobrimos que o problema que ela teve é hereditário, e o doutor Angelo está começando uma pesquisa sobre ele.” Completou Roberto, ignorando a expressão perdida do médico.

“Ai, puta que pariu. Além de perder a memória, eu to morrendo?” Gritou Paulo, assustado.

“Não, filho, claro que não. Nós todos fizemos o exame, e descobrimos que vocês têm o gene da doença. Agora, estamos fazendo o possível para descobrir uma cura, antes que ela apareça.” Explicou Lilian, tentando soar tranquilizadora. “Vocês estão bem, meus amores, fiquem tranquilos.”

“To começando a achar que amnesia é uma benção. Só queria que ela nos fizesse esquecer mais coisas, para não sentir dor.” Suspirou Alicia, encarando o namorado e se levantando. “Eu vou para o quarto.”

“Vou com você.” O Guerra levantou, a abraçando. “Alguém mais?”

Todos se levantaram, murmurando despedidas para os pais e indo para o quarto de hospital que Alicia e Marcelina dividiam. Assim que eles sumiram, os adultos caíram sentados, exaustos.

“Alguém pode me explicar o que aconteceu aqui?” O doutor Angelo pediu, confuso. “Como eles não me conheceram?”

“Senta, doutor, a história é longa...” Pediu Inês, indicando uma poltrona.

~*~

Assim que a máquina foi ligada, sentiram alívio. Mas então, perceberam que algo não ia bem.

“Está cheirando queimado.” Avisou José, tenso.

“A máquina está pegando fogo.” Gritou Miguel, vendo uma chama se levantar da parede.

“Precisamos tirar eles de lá de dentro.” Se desesperou Lilian.

“Não, precisamos sair daqui e tirar as crianças daqui. Ou então, não vai ter futuro para ser mudado.” Rafael avisou, constatando que não conseguiam observar nada dentro da máquina. “Roberto, eu levo o Paulo, pega a Marcelina.”

Foi questão de poucos minutos para pegarem os filhos e correrem para fora. Assim que chegaram à rua, a casa explodiu em chamas, os fazendo voar longe.

“Merda, acho que quebrei o braço do garoto.” Resmungou o Palilo, observando o braço torto de Paulo.

“Não temos tempo.” Avisou Lilian, trêmula, segurando a máquina que Mário havia lhe entregue. “Aqui, está programada já... Eles não vão lembrar de nada depois de julho.”

“E o que nós faremos?” Perguntou Inês.

“Vamos apagar a memória deles e correr nos esconder. Depois que os bombeiros chegarem, nós voltamos como se não soubéssemos de nada.” Avisou Alberto, sério.

“E o que eles vão achar lá dentro?” Rosana perguntou para o marido.

“O que nós quisermos.” Roberto pegou o aparelho das mãos da esposa. “Depois de apagar a memória das crianças, começaremos a alterar a de quem mais precisar. E rezemos a Deus para que dê certo.”

~*~

“Então eles não lembram de nada? Não sabem de mais nada?” Perguntou Angelo, chocado.

“Nada, nada, nada...” A mãe de Margarida suspirou.

“E vocês?”

“Ficamos com o fardo da verdade, doutor. Precisamos saber dela, para impedir que eles saibam.” Explicou Alberto. “Você não poderia saber, mas precisa, para poder chegar à cura da doença do Paulo e da Marcelina.”

“A amnesia é realmente uma benção, como diria a Alicia.” Suspirou Inês, esfregando as mãos.

“E quanto ao garoto? O Jaime?”

“O corpo dele foi realmente encontrado nos destroços da casa. Nós não sabemos o que aconteceu. Para todos os efeitos, ele realmente morreu.” Valentim se emocionou ao dizer isso, lembrando da dor dos amigos ao verem o corpo carbonizado do filho.

“E eles nunca vão saber de nada?” Angelo tornou a confirmar, chocado. “Nem sobre os filhos?”

“Não, não vão... Eles só vão saber que o Pietro, a Alice, a Mili, o Eric, a Ella, o Paulinho, o Marcos e o Nic existem quando eles forem concebidos e nascerem. Até lá... A vida segue do mesmo jeito que sempre foi. Ou o mais próximo disso que conseguirmos chegar!” Decretou Roberto.


Notas Finais


EITA CARAI, O QUE ACONTECEU AQUI? Gente, a fic terá mais dois capítulos (até o 50) e depois o epílogo. Eu to tensa e ansiosa, e chorosa! Já aviso que o próximo será o maior da fic toda, vocês vão entender o porquê! E AÍ? O QUE ACHARAM DESSE? O QUE SERÁ QUE VAI ROLAR? O QUE ACONTECEU COM O JAIME?
Já aviso que só posto o próximo com 35 comentários, e bem bonitos (sem serem repetidos da mesma pessoa, porque sim!)
Beeeeeeeeeeeeijos ;*


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...