História For You - Meeting Him

Annie Saint Clair Point Of View
Los Angeles, 1983

Já se passaram alguns dias desde que estou aqui, e digamos que aproveitei bastante para aprender a me portar como uma garota dos anos oitenta, coisa que foi mais fácil do que o esperado. Julie está sendo essencial para esse aprendizado, afinal, tudo que estou aprendendo é observando-a.  

Estou muito feliz por poder conhecer melhor essa parte da família na qual não tive contato. Essa viagem no tempo não serviu apenas para poder salvar meu ídolo, mas também para me proporcionar momentos e lembranças incríveis. A vontade que eu tenho de lhe contar que na verdade eu sou uma viajante do tempo e que nós somos primas é tentadora, porém se eu contasse, correria o risco dela não acreditar, achar que sou louca e de quebra me expulsar de sua casa. A última coisa que eu preciso agora é ser uma sem-teto e de perder a oportunidade de conhecer Michael Jackson.  

— Está preparada para conhecê-lo? — indagou Julie com brilho nos olhos. Eu assenti confirmando o óbvio. — Mesmo que eu já tenha o encontrado tantas vezes por conta do trabalho da mamãe, sempre que o vejo é como se fosse a primeira vez. 

Rosie, minha tia e mãe de Julie, é uma grande amiga de Michael e trabalha em sua assessoria. Quando descobri que o meu propósito era salvá-lo, a minha maior preocupação era como uma garota como eu iria conseguir chegar perto do homem mais famoso da atualidade. Seria impossível se não fosse por Rosie, e admito ter ficado um pouco indignada por só descobrir voltando no tempo, mas tirando esse fato, estou contente e muito agradecida por esse milagre inexplicável. Realmente, Deus não dá ponto sem nó.   
 

— Não consigo nem descrever o quão ansiosa estou. — a respondi com sinceridade. 

— Annie, você é muito bonita. — elogiou-me. — Imagine só se Michael quiser te namorar. — arregalei os olhos ao escutar Julie.  

— O quê? — indaguei incrédula. — Você tá assistindo muito filme. — retruquei brincalhona. — Julie deu de ombros rindo. Ela é doidinha, porém já a considero muito. 

— Amanhã temos que ficar deslumbrantes, por isso hoje vamos ao shopping. — intimou-me.  

Amanhã faz um ano do lançamento do álbum Thriller, e como foi um sucesso, sua equipe está organizando uma festa de comemoração para Michael, e é óbvio que o mesmo irá comparecer. É uma ótima oportunidade para colocar meu plano de me aproximar em ação. A primeira parte desse plano é bem simples, como ainda estamos em novembro de 1983, o acidente da Pepsi, que é só no ano que vem, ainda não aconteceu. Ao meu ver, é fácil fazer com que o equipamento pirotécnico não pegue fogo, o que é difícil é ter intimidade o suficiente com o Michael até lá para convencê-lo de mandar tirar o equipamento da gravação.  
 

— E então, vamos? — chamou Julie, me tirando de meus devaneios.  
 

— Vamos.  

A tarde foi bastante agradável. Fomos a várias lojas variadas e Julie comprou muita coisa tanto pra ela quanto pra mim. Os vestidos eram belíssimos, os acessórios graciosos e os sapatos também. Com certeza íamos deslumbrar. Admito ter ficado um pouco desconfortável com ela pagando tudo para mim, até mesmo o almoço, mas não há muito o que fazer pois me encontro sem renda alguma.  
 

— Sabe, assim que eu me lembrar de minha vida, pagarei por tudo. — menti sobre a parte de me lembrar, já que me lembro de tudo. Não sei como vou fazer para poder pagar, mas darei algum jeito.  

— Não se incomode com isso. Te considero parte da família, então não ligo de pagar nada para você, ok? — emocionei ao ouvir as palavras dela. De fato somos família, e mesmo ela não sabendo, me considerara mesmo assim. 

— Obrigada, de verdade. 

Fomos para casa após perceber que o dia estava se findando. Estávamos exaustas após bater tanta perna e não queríamos fazer nada mais do que deitar, assistir um filme e fofocar. Foi exatamente isso que fizemos até pegarmos no sono.  

O sol estava batendo forte o suficiente no meu rosto para me fazer acordar. Mesmo sonolenta, abri meus olhos e assim que tomei consciência total de mim, o meu coração errou a batida por um instante ao perceber que seria hoje o dia em que eu conheceria Michael. Nem nos meus melhores sonhos eu poderia ter tamanha sorte. 

— Bom dia! — ao me ouvir, Julie que ainda estava dormindo murmurou algo que não entendj. O relógio pregado na parede constava ser oito horas da manhã. Com certeza a ansiedade me fez despertar esse horário, pois não sou acostumada a acordar cedo sem usar despertador.  

Aproveitei que Julie não acordou e desci para preparar o café da manhã para nós e conversar com minha tia, mas acabei me deparando com a casa vazia e silenciosa. Provavelmente Rosie já saiu para organizar a comemoração para Michael.

O café da manhã é a refeição mais importante do dia, principalmente a cafeína que nos proporciona a energia que precisamos para o dia. Em alguns minutos já havia passado o café, e logo Julie desceu. 

— Bom dia flor do dia! — exclamou eufórica.

— Buenos Días.  
 

Tomamos nosso café da manhã conversando sobre tudo, das coisas mais importantes até as mais inúteis. Conversar com Julie era como conversar com Alexis. Sinto muita falta da minha melhor amiga de 2020, e também da minha família, mas sei que tenho um propósito aqui. 

Fizemos várias coisas ao decorrer do dia, como skincare, sobrancelha, unha, cabelo. Julie estava realmente empenhada em ficarmos perfeitas, não que ela precisasse se empenhar tanto assim, já que a morena é linda naturalmente. 

É muito difícil ter com o que se ocupar para passar o dia não tendo nenhum eletrônico, mas ao lado de minha prima o tempo voa. Como nós duas nos encontramos demasiadamente ansiosas, começamos a nos arrumar faltando algumas horas. 

Enquanto Julie entrava em um banheiro, eu entrava em outro para tomar o melhor banho de minha vida. Depois de alguns minutos, decidi não prolongar mais e saí do chuveiro enrolada na toalha. Foi quando ouvi o grito agudo de Julie a chamar-me e entrei no quarto imediatamente já avistando Julie jogando os vestidos que compramos na cama. 

— Nós vamos estourar a boca do balão, você não acha?! — senti vontade de rir com o palavreado dela, porém me segurei. Afinal, essas são as gírias desse ano e eu preciso acostumar. 

— Com certeza! — exclamei em concordância e me sentei na cama. 

— Se seque, pois eu que vou te arrumar para essa festa. — ordenou ela, fazendo-me rir de sua postura autoritária. Julie repreendeu-me com o olhar e então voltei ao banheiro para me secar. 

Depois de algumas horinhas, nós estávamos prontas para estourar a boca do balão, como a mesma diz. O vestido tinha caído perfeitamente em mim, eu estou tão linda que nem acredito que sou eu mesma. O vestido é prateado, e nos pés estou com uma sandália plataforma. Lógico que eu não poderia esquecer de citar os vários acessórios que ela colocou em mim. Eu realmente estou muito garota dos anos oitenta. 

Estávamos aguardando o táxi chegar para nos levar até o local onde seria a festa, coisa que não demorou muito. A cada minuto que passava, o meu estômago embrulhava, e meu corpo soava frio. Parecia que a Annie que estava prestes a ter o seu primeiro encontro havia voltado.

Em menos de trinta minutos havíamos chegado em frente a mansão em que seria a festa. Após Julie pagar o táxi entramos na grandiosa casa e fomos de encontro com sua mãe. 

O local estava muito bem decorado, com muita comida e músicas do Michael tocando. Estava cheio de pessoas ao meu ver, mas Rosie comentou que não havia chegado nem metade dos convidados, e muito menos Michael. Alguns minutos se passaram, e mais pessoas chegavam, mas nunca era ele.  

Julie não se encontrava mais ao meu lado, então rolei os olhos para procurá-la e a avistei colocando alguns aperitivos na boca. Ri mentalmente da cena, pois provavelmente achou que ninguém veria. Me juntei a ela indo provar aquele aperitivo, e devo admitir que isso é delicioso.

— Isso é muito bom! — exclamou de boca cheia. Concordei rindo. Ela estava com o semblante tranquilo e feliz, e não pude conter o meu sorriso ao perceber isso. Eu gostaria de ser mais como ela, pois eu me encontro uma pilha de nervos nesse exato momento. Esse lance todo do Michael até agora não ter chegado está me deixando nervosa. 

— Você acha que ele não virá? — perguntei tristonha. 

— Calma, amiga. — abraçou-me de lado. A vontade de chorar me consumia, porém eu não podia. — Ele virá, a festa é para ele, oras! 

Fiquei em seu abraço por mais alguns segundos, e logo em seguida a grandiosa porta se abre, revelando ninguém mais, ninguém menos do que ele, o rei do pop.