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História Fora de ritmo - Favores


Escrita por: nunytales

Notas do Autor


Yoongi em negação, eu não me lembrava o quanto era engraçado até que eu resolvi revisar essa fanfic -q

Capítulo 2 - Favores


 

Yoongi disse a si mesmo que ele não precisava ver Jay, ou Jimin, ou qualquer que fosse o nome daquele garoto de olhos pequenos, sorriso brilhante. Também não precisava ver sua performance lúbrica naquele clube noturno. Havia uma lista de motivos pelo qual ele não precisava de nada dessas coisas, um desses motivos sendo “eu não quero parecer um stalker” e o último sendo “por que ir quando eu posso ficar dormindo?”, o qual, aliás, era também o primeiro item da lista.

Estava cansado e nada melhor que deixar seu corpo relaxar em vez de gastar o pouco de energia que lhe restava em uma saída que não lhe traria benefícios.

Além disso, tinha que admitir que já vira o bastante para saber como tudo aconteceria: Jimin aparecia no palco vestindo alguma roupa que, ele sabia, iria arrancar suspiros da plateia, dançaria ao som de uma música qualquer remixada, faria todas as pessoas presentes se esquecerem do mundo e então as deixaria, suspiros apaixonados deixando lábios daqueles que mal podiam esperar pela próxima vez que o veriam, um vazio em seus peitos que somente a presença dele no palco novamente poderia solucionar.

Não que ele se sentisse daquela forma.

Era apenas para que ele tivesse mais alguns detalhes para o trabalho que estava fazendo com o grupo com o qual ele estava trabalhando, disse a si mesmo enquanto andava pelo local, o mais afastado do palco, na esperança de encontrar um lugar que pudesse observar sem ser notado – nem mesmo pelo barman, que àquela altura deveria conhecer seu rosto. Não precisava que ninguém notasse sua existência enquanto sua atenção era toda de Jimin.

No entanto, não assistiu à performance inteira, observando apenas os primeiros segundos, anotando mentalmente a forma como Jimin interagia com as pessoas com piscadelas e sorrisos, ao passo que confrontava a imagem que tinha diante de seus olhos com a imagem do rapaz que se sentara à sua frente dias antes, comendo e falando, um quê de inocência em suas feições. Ainda era como ter presenciado dois universos paralelos.

Achando já ter visto o suficiente, ele se afastou, andando na direção do bar, perto do qual ele se sentou. Pediu uma bebida ao barman, enquanto esperava por algo que ele não sabia ao certo. Ou talvez só estivesse esperando a coragem para ir para casa chegar. Não esperava encontrar Jimin de novo – ou que o outro o encontrasse. Mas não passou por sua cabeça sair dali e ir embora.

No palco, Jimin, ainda vestido a fantasia de Jay, continuava com seu show – ele deveria estar perto de terminar, no entanto, a julgar pela intensidade dos gritos vindos das suas costas, percebeu.

Virou-se a tempo de observar o final, um último passo executado de forma intensa finalizado com ele ao centro do palco, seu corpo exposto pelas luzes que se concentravam em um círculo ao seu redor. Seu peito desnudo descia e subia com força, o ar preenchendo seus pulmões com dificuldade após a apresentação. O que restava de suas roupas jaziam no chão aos seus pés, espalhadas. As pessoas aplaudiam entusiasmadas, e Yoongi não deixava de pensar que gostaria de poder evocar aquela reação das fãs do grupo, quando os garotos dessem tudo de si no palco, depois de todo o esforço, não apenas deles, mas também da equipe inteira. Era possível que conseguissem também alguns prêmios, os primeiros da carreira.

As luzes se apagaram, e uma voz na caixa de som anunciou que dentro de alguns segundos uma outra apresentação teria espaço. Talvez ele devesse ficar e ver, afinal poderia ser de alguma ajuda para sua inspiração, que trabalhava de formas incompreensíveis até para si mesmo, mas não adiantava mais negar a razão por que fora até ali, não com a súbita mudança de sua disposição, que, tão logo ouviu os primeiros acordes de uma música em um estilo diferente do utilizado normalmente por Jay, falhou ao deixar que os primeiros sinais de impaciência aflorassem. Estava bebendo o último gole de sua bebida, decidido a ir para casa, quando alguém ofegante parou ao seu lado, chamando alguém que atendia pelo nome “Jin”.

Yoongi conhecia aquela voz. Olhando por cima do ombro, tentando manter-se incógnito, pôde ver Jimin parado a pouco mais de um metro de distância, com os cabelos molhados de suor e parecendo meio inquieto, como se estivesse apressado ou com medo de ser visto ali.

“Jimin, eu não vou te dar nenhuma dose de nada. Nem mesmo água”, o barman disparou, antes mesmo que Jimin pudesse dizer qualquer coisa. Pareceu um pouco cruel que o garoto sequer fosse permitido ter água, mas algo o dizia que eles não estavam falando de água pura e simples, a entonação deixando entrever que havia algo mais.

“Mas Jin-hyung! Por favor, eu juro que não vai ter qualquer problema. E eu posso ajudar na hora de fechar”, ele parecia realmente desesperado, independente do que queria, e Yoongi se perguntou o quão importante seu pedido deveria ser. “Por favor?”, adicionou como se fosse sua última esperança.

Depois disso os dois ficaram calados. Yoongi não levantou o rosto, não interessado em ser reconhecido, mas imaginou que Jimin deveria estar usando sua melhor expressão de cachorrinho abandonado, e Jin deveria estar tentando não cair no truque.

“Certo, mas você lida com o chefe se ele pedir alguma explicação”, o outro concedeu, soando cansado, mas compreensivo. “Para todos os efeitos, eu não estava olhando quando você furtou uma das garrafas”, completou.

“Obrigado, hyung, eu realmente agradeço por isso”, seu agradecimento era sincero e tão exagerado quanto seu pedido, o que atiçou ainda mais a curiosidade de Yoongi.

“Noite cheia?”, Jin perguntou enquanto colocava o copo sobre o balcão com uma batida.

“É, um pouco. Alguns clientes hoje.”, ouviu comentar como se desse de ombros.

“Você tem ficado cada vez mais ocupado esses dias...”. Ao ouvir a afirmação de Jin, ocorreu a Yoongi que ele não deveria estar ouvindo a conversa entre os dois como ele estava fazendo naquele momento, porém não era como e ele fosse capaz de desabilitar temporariamente sua audição.

“Mas não é como se eu pudesse reclamar”, disse em um tom animado, provocando uma mudança significativa na atmosfera entre eles – que havia se tornado grave com a preocupação demonstrada por Jin e mesmo pela forma como Jimin se aproximara para pedir um pouco de bebida. Era impossível imaginar que algo estivesse errado, mas uma sensação estranha em seu peito não deixava que ele relaxasse.

“Ah, eu conheço você...”, o tom de Jimin era vagamente surpreso. Não parecia estar mais falando com Jin, e Yoongi simplesmente soube que era com ele que o outro estava falando. Tentou fingir que não havia ouvido, que sequer havia reconhecido Jimin ou sua voz, mas foi traído por seu corpo quando virou o rosto em um momento de fraqueza de sua vontade.

Jimin olhava diretamente para ele, mas, ao contrário do que Yoongi imaginara encontrar no rosto do mais novo ao reconhecê-lo, os lábios volumosos estavam curvados para cima, como se estivesse feliz em vê-lo ali. Verdadeiramente feliz e não apenas divertindo-se com a probabilidade de que o mais velho estivesse ali para vê-lo.

“Oi”, murmurou por fim, sem saber se ele seria capaz de ouvi-lo. Sua mão involuntariamente coçou sua nuca, e seus olhos, depois da rápida análise do semblante do outro, desviaram para a parede atrás do bar – sequer se voltando para Jin.

“Que bom que voltou!”, ele gritou animado. Utilizando-se de sua visão periférica, Yoongi viu Jin sorrir, balançar a cabeça e se virar para atender alguém que estava sentado do outro lado. “Eu pensei que não ia poder pagar o favor da outra noite, eu nem mesmo te dei meu número de telefone”, ele começou a falar rapidamente, antes que o outro tivesse a chance de dizer que ele não tinha ido ali para vê-lo ou para cobrá-lo.

Então ele se curvou sobre o balcão, pendurando-se ali, e conseguiu uma caneta, voltando a ficar de pé em seguida. Atraído pela sequência de atos, Yoongi observou-o buscar por um guardanapo, escrevendo algo apressadamente.

“Eu não tenho muito tempo, então não posso ficar aqui e conversar, mas...”, explicou e fez uma pausa, prendendo a língua entre os lábios enquanto terminava o que quer que estivesse rabiscando. “Aqui, meu telefone. Juro que atendo e vou correndo fazer o que você quiser”, ele estendeu o guardanapo, que o mais velho aceitou como se estivesse funcionando no piloto automático. Jimin franziu o cenho e acrescentou: “Bom, qualquer coisa que não seja ilegal. Eu sou muito jovem para apodrecer na cadeia”.

“Por que você acha que eu iria pedir algo ilegal?”

Como resposta, Park Jimin apenas sorriu, deu-lhe um tapinha no ombro e se afastou, certamente voltando para o trabalho.

 

 

 

Namjoon estava com cara de quem não dormia há dias, e o próprio Yoongi sabia que sua conclusão estava certa: o mais novo não deveria ter dormido mais que duas ou três horas por noite, no máximo – situação que deveria estar se arrastando por dias. Ele mesmo estava sem dormir o suficiente, preocupado e ansioso, tentando a todo custo simplesmente produzir.

Um dia, eles, assim como todos os outros que trabalhavam naquele ramo, iriam descobrir o verdadeiro limite de seus organismos, corpo e mente. Yoongi só esperava que esse dia não estivesse por perto, à espreita. Noites de sono tranquilo, noites inteiras, podiam esperar; comeback, não – pelo menos não iria esperar por eles; se não fossem bons o bastante, com certeza haveria outros produtores que não precisariam ser esperados, e logo estariam na frente de seus computadores, fazendo o trabalho que eles não foram capazes de concluir.

“Como suas músicas estão indo?”, Namjoon perguntou quando notou que ele havia chegado. Vestia as mesmas roupas do dia anterior, que estavam mais amassadas e com uma mancha marrom na frente pintando o azul claro. Yoongi não iria questionar, ele já conhecia a resposta – que consistia em: um cochilo no sofá do estúdio quando os olhos pesavam mais que o suportável, e seu café não fora vencido e ingerido sem resistir, provocando uma pequena reforma nas roupas do outro.

“Quase lá”, respondeu, sua voz falhando um pouco. Se ele devolvesse a pergunta, tinha certeza de que Namjoon daria uma resposta parecida, afinal, estavam no mesmo barco. Tentou sorrir, algo que pudesse passar a ideia compreensão, de que eles iriam conseguir daquela vez também, independente das dificuldades, mas ele não tinha certeza de que conseguira – como as pessoas conseguiam sorrir pela manhã, céus?

De toda forma, ele sentou à frente do computador e o ligou, pronto para continuar o trabalho a partir de onde havia parado na madrugada anterior antes de desistir de continuar quebrando a cabeça e ir para casa.

O problema com trabalhar com inspiração era que esta era uma moça temperamental que em determinados dias se recusava a sair da cama – tão preguiçosa para dar as caras que Yoongi se perguntava se ele realmente tinha alguma coisa funcionando no cérebro. Não que ele não a entendesse, porque a entendia melhor do que gostaria de admitir. A diferença era que ele, ao contrário, não podia mais faltar às aulas para permanecer dormindo depois de uma noite particularmente difícil de insônia. Aquela era a idade adulta, e ele tinha coisas de adulto para fazer.

Cada um provavelmente tinha a inspiração que merecia, ou a que mais combinava com a pessoa.

Olhou para o arquivo com a prévia da música em que estava trabalhando, abriu-o, respirando fundo. Colocou os fones de ouvido e fechou os olhos, tentando captar cada pequeno detalhe sobre o arranjo e a composição, pontos que talvez precisassem de ajuste. Ele nunca estaria satisfeito até ter passado e repassado a música milhares de vezes, a fim de ter certeza de que fizera tudo o que estava ao seu alcance. O único problema com seu perfeccionismo, era que o tempo estava correndo, ainda havia algumas músicas que ele precisava concluir, e permanecer preso em uma única composição não iria levá-lo a lugar algum.

No entanto, ele já havia feito tudo o que acreditava ser possível a fim de tirar algo de sua cabeça, mas o tempo estava correndo, e Yoongi não tinha ideia de como iria conseguir.

Estava feliz de que ainda tivesse algo que pudesse fazer, mesmo que sentisse como se suas tentativas a partir de determinado ponto de sua vida haviam sido em vão. Mas sua concentração tentou trai-lo no começo, como se estivesse no meio de um motim com sua inspiração.

O número de Jimin pesava em seu bolso.

Ele não pretendia ter sempre consigo o guardanapo usado para anotar a sequência numérica que dava acesso ao som da voz de Jimin, mas ele também não iria deixar em qualquer lugar, onde qualquer um pudesse ver.

Aquele era o terceiro dia em que o levava como um amuleto.

O número de Jimin pesava em seu bolso, e, em sua mente, as palavras flutuavam como fumaça, formando uma sequência que era boa demais para ser ignorada. Mesmo que ele não usasse em um futuro próximo, ele tinha certeza de que, mesmo depois de passados meses inteiros, anos talvez, ele poderia utilizá-las em uma canção em que elas se encaixassem perfeitamente.

Uma canção que em nada seria inspirada em Jimin.

"Você está ocupado?", Namjoon perguntou, arrancando-o de seus devaneios, a voz grave vencendo a barreira criada pelos fones de ouvido, que depois de algum tempo não reproduzia som algum – Yoongi precisava de um pouco de silêncio para anotar o que havia acabado de criar involuntariamente.

"É... quer dizer, não", atrapalhou-se, notando que havia escrito o que conseguira. Com a interrupção de Namjoon, não existia mais nada que ele pudesse fazer.

"Eu queria que você visse algo", explicou parecendo um tanto quanto retraído. Deveria ter percebido que interrompera seu fluxo de pensamentos em um momento de criação, mas não comentou sobre. Yoongi achava que era melhor deixar para lá, logo eles teriam esquecido o assunto.

"Claro", respondeu, tomando o cuidado de colocar em seu bolso o papel com os versos que escrevera – não queria que eles estivessem expostos, prontos para serem lidos por algum olhar curioso que poderia interpretá-los de forma errônea.

Yoongi e Namjoon trabalhavam juntos desde que Namjoon chegara ali – na época, Yoongi estava completando pouco mais de um ano na produtora. A amizade não surgiu espontaneamente, afinal, não era como se amizades fossem fáceis quando se tem um prazo para extrair o máximo de sua mente, o que na maioria dos casos exigia que eles se trancassem em sua imaginação.

No entanto, para sorte dos dois, eles ainda precisavam descansar e beber um pouco de água – ou café, o que era sempre muito bem-vindo. A amizade nasceu em uma dessas pausas.

Depois de quase uma hora tentando ajudar Namjoon, Yoongi voltou para a frente do computador, completamente esquecido das palavras que havia escrito anteriormente. Teria continuado daquela forma se a voz de Namjoon não tivesse chamado sua atenção para um pedaço de papel que tinha em mãos.

“Ei, isso é seu?”, ele perguntou, levantando o retângulo branco para que o outro pudesse analisar e dizer se lhe pertencia. Automaticamente o coração do mais velho deu um salto em seu peito e ele sentiu como se seu sangue tivesse sido congelado em suas veias, enquanto observava, paralisado, o outro se aproximar. Era como ser pego em flagrante, mas sem ter realmente cometido nenhum crime.

Quais eram as chances de Namjoon saber, só de olhar para uma sequência qualquer de palavras, o que se passava em sua mente? Yoongi era bom escrevendo letras melosas para grupos de ídolos adolescentes todos os dias – ou algo perto disso – ele poderia estar só tendo mais um de seus lapsos de músicas românticas, em vez dos raps com valor de crítica social que eram, na verdade, sua grande paixão.

Com um aceno afirmativo de cabeça, ele se levantou para pegar o papel de volta, mas Namjoon não o entregou imediatamente, observando seus garranchos com um sorriso nos lábios de quem sabia de coisas.

“Esses são realmente bons. Inspirado ultimamente?”, perguntou com um tom brincalhão, que fez o outro sentir vontade de se encolher. Mas ele nunca iria dar o braço a torcer assim.

“Um pouco”. Curvou os lábios para baixo e deu de ombros, tentando não dar muita importância ao caso.

“Isso é ótimo... Eu fico feliz”, comentou. “Se eu tivesse uma inspiração assim, eu não deixaria escapar e daria um jeito de estar sempre por perto, apesar de que-“, e ao dizer isso ele soltou uma risada curta, “inspiração é um conceito abstrato, não é?”

“Obrigado”, deixou que o agradecimento escapasse de seus lábios como sinceridade, e viu Namjoon esticar o braço em sua direção, devolvendo o que lhe pertencia. Percebeu, então, o quão grato estava de verdade, não apenas pela devolução.

Olhou para as palavras mais uma vez e notou que, apesar de ter versos melhores guardados em cadernos que ele tinha em seu apartamento, Namjoon tinha razão. Não eram versos ruins e venderiam como água.

O número de Jimin pesava em seu bolso, e por um momento, por um breve momento, Yoongi perdeu todo seu bom senso.

 

 

A cafeteria onde ele havia pedido para Jimin encontrá-lo não ficava muito longe do lugar onde ele trabalhava. Não que ele tenha imposto o local. Na verdade, fora ideia do mais novo que se encontrassem justamente ali. Era uma cafeteria pequena, decorada em tons de bege e marrom, que remetiam à cor da bebida que serviam, e que não ficava muito longe de um dos centros universitários – o mais novo deveria estudar ali perto.

Jimin chegou com dez minutos de atraso. O mais velho o viu surgir apressado dentro do estabelecimento, enquanto permanecia sentado perto de uma das janelas, segurando o café com as duas mãos a fim de sentir o calor da bebida em seus dedos. Normalmente ele iria se estressar com atrasos, dizer para si mesmo que nunca mais iria fazer papel de trouxa de novo, mas ele mal viu o tempo passar.

Ele não estava nervoso – claro que não estava nervoso. Mas ele estava distraído com pensamentos que ele preferia não ter, como por exemplo: repetir a pergunta “o que diabos eu ‘tô fazendo aqui?” de novo e de novo, contudo sabendo ser tarde demais para ligar cancelando o encontro que ele mesmo havia marcado.

Então ele lembrou a voz de Jimin no telefone, sonolenta, como se ele tivesse acabado de acordar de um cochilo – o que era engraçado, considerando que o relógio não devia marcar mais que três horas da tarde.

"É bom ser importante, eu ainda não terminei de me recuperar das minhas provas", o mais novo falou tão logo atendeu o telefone. Ele talvez nem soubesse quem estava ligando, uma vez que Yoongi não dera seu número para ele, tampouco entrou em contato de alguma forma. Era uma saudação interessante para alguém que parecia sempre amigável demais, principalmente por ter parecido que ele estava choramingando para um estranho – ou talvez fosse só efeito do sono.

"Percebi," respondeu, tentando conter o sorriso de transparecer em seu tom de voz, mas falhando. "Min Yoongi falando e, anh, você me deve um favor ainda."

Houve um barulho estranho do outro lado da linha, como se ele estivesse amassando folhas de papeis sem querer. Yoongi esperava que ele não estivesse dormindo sobre os livros.

"Yoongi-hyung!", ele falou afinal, parecendo desperto de verdade, quase alegre por ter sido acordado por uma ligação de um número qualquer. "Você vai me pedir esse favor agora?"

"Sim, foi para isso que eu liguei. Queria saber se você tem algum tempo livre. De preferência que não vá atrapalhar, mas que seja logo."

"É, eu...". ouviu-o bocejar, mas depois ele ficou em silêncio. Perguntava-se se havia voltado a dormir. "Hoje? Eu tenho algum tempo livre, antes de ter que ir trabalhar."

"Ótimo. Algum lugar em que a gente possa conversar que seja perto?"

"Tem uma cafeteria..."

Para evitar atrasos, e não mais conseguindo permanecer no estúdio por muito tempo ouvindo Namjoon batendo na mesa ritmicamente atrás do tempo perfeito para uma de suas composições, ele se dirigiu ao local com calma, chegando um pouco antes do previsto - o que aumentou seu tempo de espera.

O cabelo do mais novo estava espetado em mais direções do que Yoongi achava possível. Os olhos assustados varreram o lugar a procura do produtor. Ele estava ofegante e certamente precisava de tempo para se recuperar, mas aquilo não impediu que ele sorrisse ao vê-lo sentado, ainda esperando apesar da demora.

"Desculpa o atraso, hyung", ele pediu, sentando-se na cadeira à frente do mais velho.

"Não faça disso um hábito", resmungou em resposta, sem querer admitir que não havia sido realmente um problema.

"Então quer dizer que nós vamos nos encontrar mais vezes?", perguntou animadamente, fazendo Yoongi se lembrar do cachorro que tivera quando criança, mas que sua mãe dera para sua prima mais nova, alegando que ele e a irmã não cuidavam bem dele – só uma desculpa para se livrar do animal.

"Você quer alguma coisa?", perguntou, desviando o assunto. Jimin se virou para olhar o menu enorme que ficava pendurado na parede atrás do caixa, sem dar qualquer sinal de ter se importado com a pergunta ignorada. Yoongi talvez tivesse vislumbrado um sorriso cujas causas eram suspeitas.

Iria deixar passar daquela vez.

"Chocolate quente é o meu preferido", ele anunciou, ainda meio virado de costas, e Yoongi se levantou para providenciar o pedido do rapaz, ignorando os protestos emitidos quando o mais novo, o qual o seguira até o balcão, percebeu o que ele estava prestes a fazer.

"Eu te chamei aqui de última hora, é o mínimo que posso fazer", respondeu sem encará-lo. Esperava que fosse o suficiente para que ele desistisse de tentar impedi-lo.

Seu comentário teve o efeito desejado afinal. Jimin permaneceu calado ao seu lado enquanto um dos baristas preparava o pedido. Mas, incomodado pelo súbito silêncio, Yoongi se virou para fitar o rapaz, pronto para questionar se o gato havia comido sua língua, e foi pego de surpresa ao notar que ele estava com o olhar fixo em sua direção.

"O que foi?"

"Nada", encolheu os ombros e desviou o olhar novamente para o menu, como se não tivesse escolhido ainda o que iria beber.

Não voltou a olhar para o mais velho nem mesmo quando agradeceu com um murmúrio baixo pelo chocolate quente. Yoongi ignorou aquele detalhe e andou de volta para a mesa de onde haviam saído, uma vez que não havia sido ocupada desde que eles se levantaram. O café não estava muito lotado àquela hora, o que era um ponto positivo na opinião do produtor.

"Então... O favor que eu tenho para pedir é... Eu tenho algumas perguntas para fazer sobre seu trabalho", anunciou meio sem jeito, vendo Jimin olhar para ele confuso. "Quer dizer, se você não se importar nem se incomodar em falar sobre."

"Não, eu não me importo, mas... Algum motivo especial?". O cenho dele estava franzido, mas ele não parecia realmente aborrecido, apenas cauteloso. Subitamente, ele parecia mais velho, profissional, quase como se fosse Jay novamente, e aquela constatação fez Yoongi questionar mais uma vez se era uma boa ideia.

"Nós estamos precisando criar algo com o mesmo, como eu posso dizer? Sentimento. Sentimento serve", ele disparou, tentando não soar muito estranho, mas com medo de revelar demais – um dos pontos de se criar um comeback é manter o suspense. "Estamos tentando criar o mesmo sentimento que o seu trabalho inspira, mas receio que eu esteja com problemas..."

"E conversar comigo sobre isso vai ajudar?"

"Na verdade, eu espero que sim", confessou.

"Só pra eu saber... O que você faz?"

Yoongi podia notar que Jimin estava um pouco inquieto, sua curiosidade aumentando à medida que a conversa progredia. Ele ponderou se era uma boa ideia dizer a verdade, mas sabia que seria melhor assim – não iria parecer que ele estava prestes a sequestrá-lo ou qualquer coisa do gênero.

"Eu produzo músicas."

"Oh. Certo". Jimin se ajeitou na cadeira, bebendo um pouco do chocolate quente, observando um ponto qualquer da mesa, como se estivesse guardando aquela informação em algum compartimento de seu cérebro. "O que você quer saber?"

Ao ouvir a pergunta, Yoongi prendeu a respiração, seus pensamentos começando a correr em uma velocidade maior do que ele mesmo conseguia acompanhar. Estivera tão preocupado com o encontro em si que não conseguira se focar muito no que deveria perguntar.

"O que você sente... Quando está no palco?", indagou por fim.

"No palco eu deixo de ser quem eu sou", ele admitiu, sério. E Yoongi admirou o sentimento que viu nos olhos dele, parecia ao mesmo tempo que ele era feito de orgulho e medo. Não sabia sobre o que poderia ser o medo, no entanto, e aquilo o fez querer saber mais. "Jay não é só um codinome, ele é real, sabe? E ele é confiante, porque ele sabe que as pessoas estão ali por ele e ele sabe que está no alto de um pedestal, mas ao mesmo tempo ele não é inteiramente feliz, porque ele sabe que não pode ser o que as pessoas esperam que ele seja – ele precisa que elas acreditem que sim. Ele também não tem o que queria mais que tudo, então... Anh, falando assim, isso parece um monte de besteira."

"Eu já vi letras e letras de música e posso garantir que isso é melhor que muitas delas", Yoongi murmurou para reconfortá-lo, mesmo achando que talvez não fosse muito delicado da sua parte falar sobre aquilo daquela forma.

Ele nunca foi muito delicado de toda forma.

"Se eu entendi bem, Jay não é só uma ilusão, mas ele também é uma ilusão."

"Algo assim, eu acho. Existe um certo charme no mistério que vai se revelando aos poucos e naquilo que não se pode ter. Acho que é isso o que faz tudo ser popular como é."

Fazia sentido. Yoongi sempre se pegava imaginando como seria viajar para um país tropical, mesmo sabendo que era algo que ele não iria fazer em um futuro próximo, e a ilusão o fazia ignorar problemas como o calor, os mosquitos, o excesso de umidade, nenhuma das quais ele era fã.

Mas algo no que Jimin dissera antes capturara a atenção de Yoongi e estava piscando em sua mente como um sinal de luz florescente.

"Então... O que Jay quer mais que tudo?", Yoongi perguntou e viu os olhos de Jimin se tornarem maiores por alguns segundos, como se ele não esperasse que o mais velho fizesse aquela pergunta. Seu olhar, no entanto, mudou de direção mais uma vez, focando-se sob a janela.

"Ser outra pessoa, talvez", ele respondeu depois de longos minutos.

"É desconfortável ser quem ele é?"

"Às vezes. Ele não pode se abrir para qualquer pessoa e precisa manter segredo boa parte do tempo, porque algumas pessoas, pessoas mais conservadoras, não entendem muito bem e isso pode gerar alguns problemas", suspirou, baixando o rosto, ainda sem voltar a encarar Yoongi.

"Foi isso o que aconteceu com seu relacionamento?", Yoongi não conseguiu que as palavras ficassem presas e se arrependeu instantaneamente ao se ouvir proferindo-as. "Você não precisa responder, eu estou ultrapassando alguns limites, esqueça que eu perguntei isso, eu sinto muito", adicionou apressadamente, com medo de que Jimin se fechasse e não quisesse mais falar sobre o que ele realmente queria saber.

"Não, está tudo bem... Foi isso o que aconteceu, sim", foi tudo o que ele disse, e Yoongi não insistiu no assunto.

Ele podia entender – ou pelo menos achava que si m. Deveria ser difícil manter um relacionamento com alguém que se expõe da forma como Jimin se expunha.

Yoongi tentou se colocar no lugar do ex – para fins puramente profissionais, pensou, ignorando o calor que se espalhou por seu peito e por seu rosto à ideia de ter um relacionamento com o rapaz à sua frente. A conclusão a que chegou é que não sabia como iria encarar a situação, já que ele quase invadira a casa dos tios na tentativa de conseguir seu cachorro de volta – não era muito bom em aceitar contrariedades aos seus interesses.

"E as coreografias que você dança?", desviou o tópico para algo mais neutro, e viu a fisionomia de Jimin mudar, tomada por uma emoção que ele só poderia descrever como excitação.

Aparentemente ele havia conseguido atingir um tópico do interesse do mais novo.

 

 

 

Yoongi terminou a composição que estava fazendo na mesma noite. Namjoon estava certo sobre buscar inspiração no lugar de onde ele havia tirado os versos que escrevera naquele papel mais cedo, mesmo que ele não fosse admitir se questionado sobre o assunto.

Jimin se tornou outra pessoa ao começar a falar das coreografias, de volta ao seu “eu” animado, amigável, juvenil. E Yoongi não se cansou de ouvi-lo falar, um assunto puxando outro em uma reação em cadeia que os fez permanecer na cafeteria até o anoitecer.

Era tarde quando ele finalmente se deixou respirar um pouco, esticando o corpo enquanto sentia seus músculos reclamando por estarem sendo forçados depois de horas na mesma posição. Um peso havia saído de seus ombros tão logo ele salvou o arquivo contendo as alterações que havia feito nas amostras de som desde que chegara em casa e o arquivo contendo sua nova letra. Precisava apenas fazer algumas cópias de segurança para garantir que seu trabalho não seria perdido – nunca esqueceria da vez em que trabalhara com Namjoon em um álbum em que o computador praticamente explodira, fazendo com que eles perdessem todo o trabalho feito até então.

Pegou o celular por hábito, sabendo que precisava checar suas notificações para o caso de ser preciso fazer algo urgente, qualquer coisa que Ikje, chefe da seção de produção, tenha pensando antes de adormecer – a mente de Ikje costumava ser uma caixinha de surpresas, não tendo hora certa para inventar algo, tampouco se preocupando com a possibilidade de a ideia não ser executada de plano, como, por exemplo, às três da madrugada de um feriado.

Dentre algumas notificações de redes sociais, as quais ele ignorou, havia algumas mensagens de Jimin.

 

espero que consiga terminar seu projeto!!

me avise quando conseguir

a gente devia sabia para comemorar

e eu posso te pagar umas bebidas

você me pagou café hoje

é justo, certo?

 

E antes que Yoongi pudesse pensar em algo para responder, outra mensagem surgiu no canto inferior da tela.

 

Boa noite, hyung!

 

Sentiu o estômago doer pela fome e grunhiu, vendo que era pouco mais de duas horas da manhã. Comeria alguma coisa e responderia, com certeza. Seria também uma oportunidade para pensar no que dizer – Jimin, apesar de possuir aquela mania que Yoongi condenava normalmente (mandar uma quantidade excessiva de mensagens quando tudo poderia ser dito em apenas uma só), merecia mais que uma de suas respostas curtas e frias, que tinha grandes chances de ter o efeito negativo potencializado pelo mau-humor causado pela fome.

No entanto, como era de se esperar pelas circunstâncias em que se encontrava, acabou por não responder, cansado demais e sonolento demais depois de comer uma porção de macarrão instantâneo que ele mesmo havia preparado.

Foi só dois dias depois, quando todas as músicas do álbum estavam prontas para serem gravadas com os rapazes do grupo, que Yoongi foi capaz de lembrar que, para alguém que mandava mais de dez mensagens de uma só vez, Jimin estava muito quieto.

Quando abriu a conversa, percebeu que não havia dado uma resposta decente e imediatamente fechou os olhos, condenando-se mentalmente pelo lapso.

 

Eu sinto muito não ter respondido, mas está tudo finalizado agora.

 

Ele digitou e apertou o botão de enviar.

Não estava satisfeito com aquela mensagem simples, talvez devesse oferecer algo por compensar sua falta de delicadeza?

 

O que você tem em mente quando diz 'comemorar'?

 

A mensagem não demorou muito para retornar, o que fez Yoongi se sentir aliviado. Talvez Jimin não estivesse chateado com sua falta de resposta, afinal.

 

Sair!

Quarta-feira é okay?

Tem um lugar que eu quero ir, mas meus amigos nunca querem

Eles se recusam a comer em um lugar que Seokjin criticou

Porque dizem que ele sabe o que é melhor

Mas eu realmente quero provar a comida de lá

Sempre parece tão deliciosa

E Seokjin-hyung é uma pessoa exigente

Se você conhecer Seojin, não diga que eu chamei ele de exigente

Por favooor

Na verdade você cnhece Seokjin-hyung

Ele é o bairsta

*barista

 

Yoongi sorriu ao ler as mensagens. Ele realmente mandava muitas em um curto espaço de tempo, não era surpresa que errasse na hora de digitar e precisasse corrigir – o que só aumentava a quantidade de mensagens em sua caixa de entrada.

Ele concordou com a proposta de Jimin, perguntando se tudo bem se ele fosse buscá-lo, ao que o mais novo respondeu que estaria em casa e que não haveria problema algum.

Quando Yoongi levantou os olhos do celular, Namjoon o encarava insistentemente com a boca entreaberta, o canudo de sua lata de refrigerante esquecido a centímetros de seus lábios.

"O que foi?", perguntou, franzindo o cenho, pouco preocupado se estaria soando rude. Ele estava com algo estranho na cara, por acaso? A cor do cabelo dele mudou de uma hora para outra e estava... verde?

"Não, nada", Namjoon respondeu, voltando a sorver a bebida, enquanto colocava a mão livre no bolso do casaco que usava, encolhendo os ombros. "Anh... Você está pronto para voltar ao trabalho agora?", seu tom de voz era calmo, controlado, como se ele estivesse lidando com uma fera na tentativa de salvar a própria pele – talvez Yoongi fosse um pouco assustador às vezes, mas também não era para tanto. "Só para saber", adicionou.

"Eu vou só terminar meu café", anunciou enquanto enfiava o celular no bolso da calça, ignorando o som que o aparelho emitiu para avisá-lo de que havia uma nova notificação.

 

 


Notas Finais


Resolvi deixar todas as coisas que eu tenho pra dizer nas notas finais, mas não sei muito o que dizer, então.... tentemos:

A boa notícia é que eu logo vou estar livre das minhas provas por uns dias, então vai ser bem mais fácil revisar essa fanfic, estou feliz ~~~

Espero que estejam se divertindo com essa fanfic! Ela foi escrita mais como um teste para ver como seria escrever YoonMin e como seria escrever um stripper!au, mas estou feliz que a escrevi e estou feliz com o resultado...

Ah! Mudei a capa, não só pelas regras do site (-q), mas também tem ~importância~ pra história. Enfim.

Eu acho que é isso ~

Muito obrigada por ler! ♡♡♡


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