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História Fora de ritmo - Mensagens


Escrita por: nunytales

Capítulo 4 - Mensagens


Talvez ele acreditasse que em um futuro não muito distante, Jimin iria vencer o embaraçamento e iria mandar milhões de mensagens de uma só vez, como ele fazia quando Yoongi menos esperava.

Era uma expectativa que morria a cada dia que passava sem que uma só mensagem aparecesse em seu celular. O “pelo quê?” estava esquecido na conversa deles, da mesma forma como Yoongi se sentia esquecido pelo mais novo.

Outra semana se passou até que Yoongi decidisse fazer algo, dirigindo até o clube em que jimin trabalhava.

Não sabia ainda o que estava fazendo, mas precisava vê-lo de novo.

Era aquilo o que estava fazendo, indo ver Jimin, disse a si mesmo. Talvez assim pudesse entender o que raios fora aquela merda toda, talvez pôr um fim em tudo de uma vez, de um jeito ou de outro. Só não queria continuar preocupado com o mais novo, sem saber se ele estava indo bem. O rapaz o ajudara, afinal de contas, mostrara-se preocupado com o produtor também, fizera Yoongi se sentir feliz ao compartilhar a realização de um projeto, comemorando com os amigos dele, que acabaram se tornando seus também, mesmo que ele não tivesse tentado entrar em contato com nenhum deles depois daquele jantar.

A decoração do clube havia mudado um pouco, mas em geral continuava a mesma coisa, luzes e estofados, nada que fosse realmente surpreendente, nada que ele não esperasse.

Yoongi se perguntou se deveria procurar o bar, talvez tentar descobrir algo através de Seokjin, e decidiu que não faria mal cumprimentá-lo, afinal o barman também havia sido amigável com ele no outro dia. Talvez se sentisse mais confortável vendo um rosto conhecido e um sorriso gentil – não tinha certeza de que receberia algo do gênero de Jimin.

As pessoas já se posicionavam para assistir às apresentações da noite, ele notou enquanto andava calmamente na direção do bar. Todos pareciam tão animados que Yoongi começava a se sentir desconfortável ali, mal-humorado, porém seu corpo não parecia disposto a deixar o local tão cedo – e ele continuava andando na direção do bar apesar do que sentia no momento.

"Bom vê-lo de novo", Seokjin o cumprimentou quando o viu se sentar nos bancos próximo ao balcão. "Como tem estado? Faz algum tempo que não ouço nada sobre você", ele comentou, e Yoongi se perguntou se aquilo se devia ao fato de que ele não estava indo ou se Jimin deixara de falar sobre ele completamente. Sentiu vontade de rir.

“As coisas estavam um pouco corridas esses dias”, foi tudo o que ofereceu como explicação.

“Entendo”, o outro respondeu e nem por um segundo seu sorriso gentil falhou, como se não estivesse surpreso com o que havia ouvido e, mais que isso, não julgasse Yoongi pela resposta imprecisa, que escondia bem mais que as simples palavras significavam. O produtor não sabia o que pensar. “Quer beber alguma coisa?”

“Estou dirigindo hoje”, avisou.

“Uma água então?”

“Claro”, Yoongi aceitou a oferta com o espírito mais leve, andando até o caixa que ficava ao lado do balcão para pagar pela bebida.

“Suponho que veio ver Jimin…”, Seokjin foi direto ao ponto quando o viu se sentar novamente. Por mais que não soasse como uma, Yoongi entendeu aquilo como uma pergunta, a qual ele não respondeu, tampouco negou. “Vocês dois brigaram?”

“Não que eu saiba”, respondeu sem encarar o outro, como se dirigisse a resposta ao copo de água à sua frente, sem conseguir evitar que sua voz transparecesse um pouco de amargura. Preferia poder dizer que havia discutido com Jimin, percebeu. Preferia que o rapaz tivesse dito que nunca mais queria vê-lo ou que ele havia sido apenas um bode expiatório, útil apenas para que ele pudesse fugir dos próprios problemas e que eles nunca mais deveriam entrar em contato de novo. Era melhor que o silêncio e a incerteza.

“Jimin esteve meio para baixo”, Yoongi sorriu ao ouvi-lo, sem saber como responder à afirmação. Duvidava de que fosse por algo relacionado a ele – afinal, se ele estivesse tão ruim assim sem falar com ele, teria entrado em contato mais cedo. Teria respondido à sua maldita mensagem, para começo de conversa. “Eu sei que não tenho o direito de me meter, então não vou insistir no assunto, mas considere o que eu disse...”, falou com um tom falsamente alegre, que obrigou Yoongi a levantar o olhar do seu copo de água.

Ele continuava sorrindo.

Talvez o fato de o produtor estar pateticamente sentado de frente para si era motivo bom o suficiente para fazer o outro achar a vida engraçada. Pelo menos Yoongi não estava bebendo para afogar qualquer mágoa existente.

Não demorou muito para que a luz diminuísse e uma música remixada começasse a tocar, com um grupo de strippers entrando no palco. Pelo que Yoongi pôde ver, Jimin não estava entre eles, motivo por que logo seu interesse desapareceu. Quando voltou a olhar para frente, Seokjin estava conversando com outro funcionário do local, certamente recebendo ordens de uma rodada de bebidas para as pessoas sentadas ao pé do palco.

Suspirou, curvando os ombros.

Quando Jimin entrou no palco, naquele dia vestido como policial, Yoongi o analisou o melhor que pôde. Ele não parecia particularmente afetado. O sorriso de sempre estava lá, as expressões que normalmente ele fazia quando estava no palco estavam lá, e Yoongi se perguntou quem era o mentiroso ali.

Pelo que pôde ver de Seokjin, no entanto, ele sabia que não deveria ser do seu feitio sair mentindo por aí. Era mais fácil acreditar na existência de uma segunda personalidade, Jay, exatamente como Jimin havia lhe confessado dias antes.

Ainda assim, era possível perceber o quanto ele era bom no que fazia, combinando a quantidade certa de provocação e boa vontade para tirar as próprias roupas. Jay, como sempre, era generoso em seus movimentos, o corpo inteiro mexendo como uma obra de arte em exposição. Era hipnotizante e fez Yoongi esquecer por alguns minutos que eles não estavam em bons termos.

Quando a apresentação acabou, a luz se apagando para que outro stripper entrasse, Yoongi perdeu todo o interesse pelo que acontecia no palco, esperando que o outro aparecesse ali por perto mais uma vez, talvez pudesse olhá-lo nos olhos, mesmo sem chegar perto, e tentar encontrar as respostas de que precisava em uma troca de olhares, ainda que breve.

Então Yoongi observou as pessoas ao seu redor, de costas para o balcão, viradas na direção do palco. Sua água há muito havia acabado, seu corpo procurando por algo que fazer enquanto seus pensamentos ocupavam-se com uma única pessoa. Procurava pelo mais novo na multidão e às vezes ele até pensava ter visto Jimin em sua visão periférica ou quando passava o olhar rápido demais, apenas para perceber que era outra pessoa.

Por esse motivo, quando o rapaz finalmente parou a alguns passos de si, Yoongi teve dificuldades em acreditar que estava de frente para o verdadeiro, e não para uma cópia criada por seu cérebro ansioso.

O detalhe mais importante na ocasião havia sido a expressão no rosto do mais novo – só assim Yoongi pôde saber que ele era real, pois nunca iria imaginar que Jimin, ao reencontrá-lo, independentemente do que tivesse acontecido entre os dois, encará-lo-ia como se sentisse dor. Talvez porque ele realmente estivesse esperando encontra-lo furioso, embora não conseguisse cogitar por que motivo enfrentaria tal emoção.

Yoongi viu o outro abrir a boca e fechar e deixou que o canto de sua boca se curvasse em uma tentativa de sorriso – “Parece que você está vendo fantasma, garoto... Um fantasma de alguém que você perdeu”, ele diria, para tentar descontrair, agarrar-se a algo para evitar que sua boca proferisse as questões erradas. Não era o momento para cobranças, era o momento de fazê-lo se sentir…

Mas como ele queria que Jimin se sentisse?

Ou ele deveria perguntar o que havia para ser sentido?

Antes que eles pudessem trocar cumprimentos, no entanto, um homem parou ao lado do mais novo, interrompendo o estranho momento. Algumas palavras foram trocadas pelos dois, o homem apontou para um dos lados, para o qual Jimin olhou antes de assentir e se virar para ir até o local indicado.

Foi apenas por um breve momento, mas Jimin ainda olhou uma última vez para Yoongi com pedidos de desculpas escritos por todo seu rosto, antes de vestir uma máscara que impedia o mais velho de saber o que ele estava pensando, desaparecendo em meio às pessoas.

Ainda assim, o mais velho tentou acompanhá-lo com o olhar, sendo recompensado com o vislumbre da figura que desaparecia por trás de um par de cortinas do lado oposto. Franzindo o cenho e inclinando o corpo para o lado, ele observou o lugar o melhor que podia, tentando entender o que havia ali. Não parecia ser o caminho para os bastidores.

Então Yoongi entendeu que a profissão de Jimin envolvia muito mais que dançar em cima de um palco para deleite de todos.

Jimin- Não, Jay...

Jay iria fazer uma apresentação particular.

 

 

 

Era bastante informação para Yoongi registrar naquele momento, e ele ficou feliz por Seokjin estar ocupado o suficiente para não notar que ele estava presto em seus pensamentos, dizendo a si mesmo que não era da sua conta.

Não era da sua conta, não influenciava em nada sua vida. Não era como se Jimin e ele fossem algo mais que amigos. Amigos que mal se conheciam, mesmo que trocassem mensagens com alguma regularidade... Antes. Era natural que o mais novo não tivesse mencionado nada – Yoongi bem sabia o quanto as pessoas podiam ser difíceis, preconceituosas sem motivo algum.

Ele estava apenas... Surpreso. Ele sabia das brincadeiras que eram feitas com os presentes em despedidas de solteiro - inclusive ele mesmo fora levado ao palco na noite da despedida de solteiro da amiga de sua irmã, tentaram fazer com que ele fosse o feliz ganhador de uma dança sensual com um dos strippers que performavam no local, sob o olhar de todos, ouvindo as risadas. Na ocasião, Yoongi conseguira fugir, apesar das tentativas de arrastá-lo pelo braço, todas frustradas.

Sabia que brincadeiras eram feitas ali, mas não imaginava que havia muito mais por trás do que aquele lugar representava.

“Você deve ser o novo namorado de Jimin”, alguém disse, sentando-se ao seu lado, interrompendo afinal sua linha de pensamento.

Yoongi virou-se para encarar o recém-chegado, vendo um rapaz que ele não conhecia – nunca havia visto na vida. Ele se lembraria de ter encontrado alguém que parecesse um ídolo com estilo saído da década de 1980, com a jaqueta de couro, os cabelos espetados, os piercings na orelha. E ainda havia o olhar... Algo sobre ele dizia ao produtor que o rapaz sentado ao seu lado não era confiável.

“E você é…?”, questionou, embora tivesse uma ideia sobre quem deveria ser aquele rapaz.

“Ex,”, ele disse apenas, virando-se para chamar o barman – Seokjin não estava em lugar algum que Yoongi pudesse ver, tendo sido substituído por um rapaz que não era um completo estranho, não depois de algum tempo.

Então aquele era a pessoa por quem Jimin fora apaixonado uma vez, pensou. Era um rapaz alto. Forte também. Bonito.

Yoongi estava começando a sentir a cabeça doer.

“O que você quer?”, perguntou sem esconder a hostilidade em seu tom de voz, vendo o barman se afastar depois de recebido o pedido.

“Woah, só conversar. Relaxa aí, amigo”, o rapaz riu, levantando as mãos como para mostrar que não estava portando nenhum objeto perigoso, que Yoongi não precisava agir como se pudesse atacá-lo a qualquer segundo.

“Não sou seu amigo”, resmungou e, apesar da música, ele sabia que seria ouvido muito bem.

“Tudo bem, então… anh, como ele está?”, o outro questionou casualmente depois de hesitar por alguns segundos, e Yoongi estreitou os olhos enquanto observava o perfil dele. Não era uma indagação que ele queria ouvir vindo de alguém com quem Jimin tivera um relacionamento o qual acabara da forma como parecia ter acabado.

“Ótimo”, Respondeu. “Muito bem, na verdade”.

“Eu acredito em você...”, ele soltou uma risada amarga, olhando para o chão – ou para as mãos que repousavam sobre suas pernas. “Acho que você fez com que ele se esquecesse de mim bem rápido. Eu estava aqui do lado, mas a única pessoa para quem ele tinha olhos era você”.

“Acho que Jimin não tem que se preocupar mais com o passado, não é mesmo?”, comentou sem evitar que um sorriso satisfeito surgisse em seus lábios em decorrência do comentário do outro.

“A gente costumava se preocupar só com o futuro”, ele riu. Não dava sinais de ter sido afetado pelo comentário de Yoongi, e isso não era um bom sinal. “Como você consegue?”, ele se virou no banco, ficando de frente para o produtor enquanto apoiava o braço sobre o balcão.

“O quê?”

“Saber que ele está lá dentro dançando pra outra pessoa”, fez um sinal com a cabeça indicando a direção na qual Jimin seguira minutos antes. Então ele também havia visto e também sabia sobre o que o mais novo fazia.

“Eu prefiro não pensar sobre isso”, respondeu com sinceridade, como se fosse realmente o namorado de Jimin, mas a verdade era que ele não sabia como era possível. Falar sobre o assunto novamente o fazia sentir vontade de andar até lá e arrancar Jimin dali de dentro.

“Qual é?!”, questionou sem acreditar na resposta oferecida e riu de novo. Pelo que Yoongi sabia, ele podia estar apenas tentando espalhar a semente da desconfiança e dos ciúmes, então se preparou para lidar com a situação o melhor que podia. “Você sabe do que ele é capaz de fazer com o corpo que tem, não é possível que você consiga simplesmente esquecer que aquilo tudo não é só seu, que você tem que dividir com pessoas que podem ter ele rebolando em troca de dinheiro”.

“É o trabalho dele”, respondeu, adotando a defensiva. A escolha de palavras dele, no entanto, conseguiu passar pela barreira de tranquilidade do produtor, que sentia o sangue começar a ferver enquanto olhava para a cara do outro.

“E por que não outro trabalho? Por que brincar com o que os outros sentem por ele?”

“O que você está tentando fazer?”

“Então é por isso que ele está com você?”, ignorou o questionamento de Yoongi. “Porque você é trouxa a ponto de não se importar com o que ele faz ou deixa de fazer?”

“Acho que eu entendi por que ele não está mais com você”, o rapaz à sua frente não era o único que podia ignorar perguntas ali. “Por que não desaparece de uma vez e me deixa em paz?”

“Mas acho que as coisas não estão bem entre vocês, Jimin parecia estar chateado”, ele comentou e se levantou. Era óbvio o que ele estava tentando fazer. Era óbvio o que ele estava fazendo, e Yoongi sabia que não era nem um pouco difícil se deixar levar.

“O que você acha que vai ganhar com isso?”, riu, notando que em algum momento durante a conversa suas mãos se fecharam em punhos, as unhas começavam a machucar sua palma com a força ali aplicada. Não lhe custaria nada levantar e dar uma destinação justa para aquela raiva que sentia, mas ele também sabia que detestaria chamar a atenção justamente ali, justamente com aquela pessoa.

“Não sei, mas tenho a impressão de que vou descobrir em breve”, o outro rebateu, afastando-se e deixando Yoongi livre para pensar em tudo o que havia acontecido naquela noite – para lidar com aas sementes que haviam sido plantadas por aquela conversa indesejada.

 

 

 

Yoongi não queria ir embora, sabendo que o ex de Jimin estava em algum lugar, pronto para ser visto, reconhecido. Pronto para causar problemas. Mas pouco depois da conversa que tiveram, ele viu o rapaz deixando o estabelecimento. Sozinho.

Ponderou ficar e esperar ter uma oportunidade de falar com Jimin, mas, a julgar pelo olhar assustado de antes, pela mensagem não respondida e pelas condições de que só naquele momento tivera conhecimento, ele duvidava de que o mais novo iria querer conversar com ele.

Ao pensar naquele lugar como o trabalho de Jimin, Yoongi olhou ao redor, de repente se sentindo incomodado.

Ele parecia tão jovem e tão inocente. Se Yoongi o tivesse encontrado na rua a primeira vez, esbarrado com ele em um café ou mesmo na rua, nunca iria imaginar. Mas ele não era inferior às outras pessoas, trabalho não definia o valor de alguém, mesmo que a sociedade parecesse pensar que sim.

Apesar dessas conclusões, Yoongi achava que ele merecia algo diferente, algo que não envolvesse ser exposto como um objeto daquela forma – ser usado como um. O corpo de Jimin era bem mais que músculos arduamente esculpidos em uma academia depois de horas de suor e de dor. Era o invólucro de uma alma e de uma personalidade calorosa e brilhante. Ele era só um garoto e mal parecia gostar de verdade do que fazia, que inferno.

As pessoas ali sequer conseguiam ver aquelas pequenas coisas sobre Jimin, coisas que ele pôde absorver nos poucos encontros entre eles, nas palavras trocadas entre uma pausa e outra entre seus afazeres.

Mas Yoongi tivera sorte, tinha que admitir. Tivera a chance de se aproximar dele, de saber o que havia por trás dos movimentos provocativos, do sorriso sedutor e dos olhares turvos. Antes disso, ele era apenas mais um na multidão de admiradores que não sabia de nada e estava ali apenas por um prazer hedonista – fugaz e ilusório.

Lembrou as conversas com Jimin que envolviam aquele assunto. Da primeira vez ele pareceu defensivo sobre sua ocupação, e Yoongi duvidava de que fosse apenas por conta do relacionamento que acabara. Da segunda vez, ele parecia triste, certamente pensando sobre coisas que gostaria de ter e que não poderia, não enquanto tivesse um trabalho que ainda era cercado de tabus e de juízos preconcebidos de valor por pessoas que achavam que conheciam a realidade, que eram donas da verdade, e que olhavam alguém como se este fosse inferior apenas por não ter nascido em um berço de ouro. Alguém que não encontrou na vida as portas certas abertas, que lhe oferecessem uma oportunidade de seguir outra carreira.

Mesmo as pessoas que escolheram viver daquela forma, elas não perdiam o valor por terem decidido se dedicar a algo diferente do considerado “respeitável”, um conceito que não fazia sentido na cabeça de Yoongi, não quando ele podia ver pessoas “respeitáveis” com os olhos brilhando ante a possibilidade de ver corpos suados cobertos cada vez com menos roupa até não sobrar nada, dispostos a gastar tudo o que tinham muitas vezes em nome daquele prazer.

De repente ele sentia vontade de quebrar aquele lugar, pô-lo abaixo. Um incêndio parecia perfeito.

Ou talvez ele pudesse apenas arrastar Jimin consigo, alimentá-lo e colocá-lo para dormir.

"Ah, droga. Eu... Não sei o que mais tô pensando", Yoongi murmurou para si mesmo enquanto passava a mão sobre o rosto, como se tentasse afastar os pensamentos tal qual se tenta espantar o sono.

Era hora de voltar para casa.

Encontrou Seokjin na saída, embora tenha tentado, em vão, sair sem ser percebido.

"Já está indo?", ele questionou polidamente, dando a sua pergunta uma entonação que fazia seu interlocutor achar que era apenas por educação que ele se dirigia daquela forma.

"Sim, eu... tenho algo em que trabalhar", ofereceu como desculpa, recebendo um sorriso compreensivo do outro.

"Quer que diga algo a Jimin?"

"Não, não precisa, obrigado", agradeceu e se afastou, acenando brevemente antes de apressar o passo. Não esperou para saber que tipo de sorriso era aquele no rosto de Seokjin ou para pensar em todas as implicações das circunstâncias. Tudo o que ele precisava era do conforto de casa e da tranquilidade que somente uma noite de sono poderia lhe proporcionar.

 

 

 

Quando acordou, Yoongi foi pego de surpresa pelas notificações de onze mensagens não lidas em seu celular. Para completar, todas elas eram de Jimin.

O produtor fingiu não ver sua mão tremendo enquanto desbloqueava a tela do aparelho; fingiu não notar como seu coração estava batendo descompassado em seu peito, enquanto sua mente tentava, em vão, imaginar o que todas aquelas mensagens significavam.

Ao abrir a conversa, no entanto, encontrou uma sequência de palavras e caracteres que não faziam muito sentido.

 

Por qiw vôcw veoo hpjw?

Wu penswi que vic^r nã ia querwr mais mw ver

deopus d quw acontwceu

maa vic^w estava aquu

e wu nãp pudw fazwr nzdz

por quw voc^w faz issp cmugp?

hyng?

vc wstá brsvp?

wstá srrependido tr mw ajydsdo?

 

E então duas mensagens enviadas muito tempo depois de todas as outras, sem erro algum:

 

eu sinto muito

 

eu sinto sua falta

 

Ainda deitado em sua cama uma vez que não havia necessidade de sair naquele domingo, Yoongi demorou muito tempo até conseguir decifrar cada uma das mensagens enviadas enquanto tentava adivinhar também o que fizera aquele gelo de tanto tempo ser quebrado em uma noite, sem qualquer cerimônia, sem perguntar se ele estava bem.

Provavelmente o garoto havia bebido depois que ele foi embora e acabara mandando tudo aquilo, uma vez que não conseguia mais continuar preso ao que o fizera permanecer calado durante os dias em que não se falaram.

 

"Por que você veio hoje?

Eu pensei que você não ia querer mais me ver

depois do que aconteceu

mas você estava aqui

e eu não pude fazer nada

por que você faz isso comigo?

hyung?

você está bravo?

está arrependido de ter me ajudado?

 

eu sinto muito

 

eu sinto sua falta"

 

Yoongi leu cada frase escrita tentando copiar em pensamento a voz de Jimin – não era uma imitação muito boa, embora ele fosse capaz de reproduzir, em sua imaginação, cenas inteiras de conversações que eles tiveram no passado.

Por algum motivo, imaginara o garoto quase choramingando – talvez ele quisesse que Jimin estivesse triste por tê-lo deixado, mas havia algo de melancólico na ideia de que as últimas mensagens enviadas, pouco antes das quatro da madrugada, haviam sido enviadas muito tempo depois que todas as outras, que eram como tiros de metralhadora em sua caixa de mensagens. Não poderia ser apenas ilusão da sua cabeça.

Havia também o olhar da noite anterior, quando Jimin ficara cara a cara com Yoongi, como se ele tivesse sido pego fazendo algo errado do qual se envergonhasse.

Não conseguiu evitar o pensamento de que aquele não era o Jimin que ele conhecera, embora reconhecesse que as pessoas eram capazes de mudar em um curto espaço de tempo se fossem expostas às condições necessárias para que tal mudança acontecesse.

Apertando no campo de edição texto, Yoongi digitou algumas mensagens para o mais novo, sabendo que iria esquecer se não o fizesse naquele momento. Além disso, o que seria melhor que deixar seu cérebro, ainda confuso e letárgico pelo sono, falar por ele?

 

Ei, idiota

Você estava bêbado, não é?

Tome bastante água hoje e um remédio - Seokjin garantiu que havia alguns da última vez

Espero que vocês não tenham acabado com tudo.

 

Enviar.

 

Yoongi encarou a mensagem, sabendo que havia feito o que deveria. Mas não lhe restava dúvidas de que as mensagens de Jimin tinham um significado que ele não queria ignorar.

Uma parte de si tinha consciência de que o estado de embriaguez não era exatamente o ideal para ser levado a sério. Alguns diziam “a bebida entra, a verdade sai”, mas... Havia muitas chances de ele estar interpretando o que o outro dissera da maneira errada.

Suspirou e passou a mão pelos cabelos.

 

Ei. Você devia parar de sentir muito se não vai falar comigo

Talvez você deva me mandar essas mensagens de novo quando não estiver bêbado

Então a gente pode conversar

 

Enviar.

 

 

Pensou em esperar por uma resposta exatamente na posição em que estava, como uma estátua, mas seu estômago reclamou de fome antes que as mensagens fossem lidas, motivo por que ele travou a tela, decidindo não pensar mais ou iria sofrer pela expectativa. A resposta que sequer poderia vir – se Jimin resolvesse continuar o tratamento de silêncio, Yoongi tinha certeza de que não veria outra mensagem dele até que, por um descuido, ele enviasse mensagens bêbadas novamente.

 

 

 

O hobby preferido de Yoongi era também seu trabalho. Ele tinha certeza de que não poderia ter feito escolha de carreira que melhor se adequasse à sua vida.

Claro. A escolha poderia ser uma faca de dois gumes, e Yoongi poderia perder um dos dois em um piscar – ou ainda os dois, se sua sorte o abandonasse de vez.

Ainda assim, ele conseguia rabiscar algumas coisas vez ou outra. Brincando com um dos softwares de produção de música, ele podia descobrir algo novo por engano, algo que ele pudesse utilizar em alguma produção no futuro. Yoongi também gostava de escutar músicas de outros produtores, muitos deles novos naquele ramo, tentando encontrar nos outros o sentimento que ele mesmo possuía quando resolvera que queria criar música.

Naquele dia, no entanto, sua mente parecia estar inteiramente focada em um de mensagens que, até o final da tarde, não dera sinal de ter sido visualizada.

Yoongi tentou assistir a um seriado, iniciando o episódio seguinte tão logo aquele ao qual ele estava finalizando acabava, deitado no sofá sem nunca encontrar uma posição que fosse confortável o suficiente.

"Vá se foder, Park Jimin", ele murmurou irritado enquanto se deitava no chão, olhando para o teto, o episódio pausado sem que ele tivesse prestado atenção em uma só palavra do que havia sido dita entre os personagens.

O som de notificação do seu celular, contudo, ressoou pelo apartamento, escolhendo aquele momento para afinal acabar com a espera, e, imediatamente, Yoongi se levantou para ver o que havia chegado para ele.

Sabia que não devia ter esperanças de que o outro respondesse, uma vez que ele já havia repetido aquele processo de pegar o celular às pressas e iluminar o visor somente para perceber que recebia notificação de absolutamente tudo – até de um aplicativo que ele havia esquecido que estava ali instalado – e se decepcionar porque nada daquilo era Park Idiota Jimin.

Mas aparentemente havia um limite para o quanto ele podia ser feito de trouxa pelo destino, e, no momento em que ele iluminou a tela do celular pelo que parecia ser a milésima vez naquele dia, o nome de Jimin surgiu na tela.

Yoongi sentiu vontade de gargalhar pela ironia de tudo, mas, se ele gargalhasse, iria perder tempo – que ele poderia estar utilizando para visualizar as mensagens que o outro finalmente lhe enviara.

 

Acho que a gente precisa mesmo conversar

Mas eu não estou me sentindo bem, hyung

Você pode vir aqui em casa?

 

"Esse moleque...", Yoongi o amaldiçoou baixinho. "Quem ele pensa que é? Hein?", perguntou para ninguém em especial – quem o visse pensaria que ele estava falando com o aparelho que tinha em mãos. "Ele acha mesmo que eu vou até lá somente pra ouvir o que ele tem a dizer?", resmungou e travou a tela do celular, sem digitar uma resposta.

Yoongi nem sabia por que estava tão irritado. Não era como se Jimin devesse dizer tudo o que queria pelo telefone e, se eles iam mesmo conversar sobre o que quer que tivesse acontecido, era melhor que eles estivessem de frente para o outro, ouvindo, encarando, não olhando para a tela estéril do celular, que não tinha emoções para expressar sem a ajuda dos emoticons.

"Merda!", praguejou antes de procurar a carteira e as chaves do carro.

 

 

 

Subiu as escadas de dois em dois degraus e andou pelo corredor como se precisasse apagar um incêndio antes que ele consumisse todo os pertences de alguém ou, pior, consumisse a vida de alguém.

Ele parou em frente à porta de Jimin ofegante, sentindo a garganta se fechando, sem que ele conseguisse engolir o pouco de saliva que havia em sua boca. Estava arrependido de ter saído de casa feito um furacão, mas não havia mais o que ele pudesse fazer, já que estava ali afinal.

Tocou à campainha e ouviu alguém do outro lado pedindo para que ele esperasse. Não parecia exatamente a voz de Jimin, mas não parecia a voz de Taehyung, pelo pouco que ele se lembrava. O apartamento era mesmo aquele, estariam eles recebendo a visita de outra pessoa?

A porta então se abriu, revelando a figura de Jimin, e, por um momento, Yoongi parou de respirar.

Ele parecia péssimo, com os cabelos bagunçados e os olhos inchados. Estava enrolado em um cobertor, como se tivesse passado o dia deitado e mal tivesse forças para permanecer de pé. A conclusão, óbvia, era de que havia sido uma ideia muito boa sair de casa, mesmo que ele estivesse se sentindo um idiota por tão prontamente ter desistido de sua irritação.

Ao vê-lo parado em sua porta, o mais novo ficou nitidamente surpreso, como se não esperasse encontrá-lo ali, e sua reação imediata foi fechar a porta na cara de Yoongi.

"Mas que porra-", Yoongi resmungou quando a porta se fechou com um barulho alto. O que aquele garoto estava pensando?! "Park Jimin! Ei! Abre essa porta, agora!", elevou a voz para garantir que ele o ouviria, não importava que ele estivesse em um dos quartos, e não foi preciso esforço para que sua voz saísse como se estivesse prestes a derrubar a maldita porta caso o outro não fizesse o que ele dissera.

Como resposta, foi possível ouvir um choramingo do outro lado e então a porta foi destravada novamente, mas bem devagar daquela vez, revelando um Jimin que ainda estava parecendo péssimo, mas que também parecia menor e mais frágil e que não encarou Yoongi.

Aquela reação talvez fosse pior que ter a porta fechada na sua cara.

(Não, as duas eram igualmente ruins, e Yoongi estava tendo um dia digno de ser trancado nos confis da sua memória).

"Hyung, o que-?", ele começou, mas foi incapaz de concluir sua pergunta ao ouvir a risada sarcástica do mais velho. Este, prevendo o que sairia dos lábios do mais novo, não hesitou em responder a pergunta não finalizada.

"Você me chamou aqui, tá lembrado?"

"Eu?", Jimin questionou e franziu o cenho, finalmente encarando o visitante.

"Não se faça de inocente, eu não fiquei doido ainda".

"Eu... não...", ele murmurou e engoliu em seco, fazendo uma careta de dor.

Independente de ser uma verdade ou uma mentira o que saia dos lábios do mais novo, Yoongi sabia que só havia um jeito de resolver aquela situação. Assim, ele pegou o celular, que carregava no bolso da calça, procurando no aplicativo a conversa entre os dois, garantindo que era mesmo a conversa com Park Jimin que ele estava visualizando antes de virar a tela na direção do outro, para que este pudesse ler o que havia escrito ali.

"Como você explica isso?".

Sem dizer nada, Jimin entrou pelo apartamento depois de olhar entre o celular e o mais velho, procurando o aparelho celular que estava jogado no chão da sala. Yoongi, que o seguiu sem querer esperar do lado de fora, viu o rapaz mexer no dispositivo, parando subitamente para ler algo.

"Eu vou matar o Taehyung!", ele exclamou baixinho e fechou os olhos.

Ótimo, Yoongi pensou. Tudo o que ele precisava era ser vítima de uma brincadeira de mal gosto do melhor amigo de Jimin.

Mas o mais novo logo suspirou, voltando a olhar para a tela do celular, passando o dedo como se estivesse olhando as mensagens anteriores – ou pelo menos Yoongi esperava que sim.

"Obrigado, hm...", Jimin murmurou, daquela vez se dirigindo a ele. "Por se preocupar. E desculpa", o tom de sua voz foi diminuindo a cada palavra proferida. Ele não o encarou, mas Yoongi tinha uma ideia de que expressão ele tinha no rosto.

"É só isso o que você tem pra me dizer?", suspirou, olhando fixamente para Jimin e acreditando que, se ele olhasse o suficiente, o outro cansaria de evitar seu olhar e o encararia de volta. "Depois de todo esse tempo, é só isso o que você tem pra me dizer? Nem pra explicar o que foi isso tudo?"

"Desculpa, hyung...”, ele repetiu, daquela vez com um fio de voz. Yoongi pensou que ele iria chorar.

"Olha, Jimin, eu não estou chateado com você. Eu só quero saber por que de repente você simplesmente deixou de falar comigo, não me respondeu, mas fica pedindo desculpas e diz que sente minha falta, mas não faz nada com relação a isso. E por favor não peça desculpas mais uma vez, eu já entendi que você sente muito", explicou com o tom de voz mais calmo e complacente que conseguira reproduzir naquela situação.

"Desculpa", Jimin disse, apesar do pedido do mais velho. Entretanto, Yoongi entendeu que aquele pedido de desculpas não era o mesmo que os anteriores, que havia algo de diferente naquela palavra que ele começava a odiar tanto.

"O que eu faço com você?! Porque eu pensei que pra você minha amizade valia muito mais que alguns favores", não era exatamente verdade, mas ele também percebeu que estava cansado. Ansioso. Ele só queria uma explicação, mesmo que soubesse que não ficaria satisfeito com qualquer explicação.

"Não é isso, hyung, eu não-!", ele falou de repente, apressado para desfazer qualquer mal entendido que houvesse na cabeça do produtor, virando-se para encarar o mais velho com olhos assustados. Talvez fosse uma pequena vitória, Yoongi pensou com alívio. Talvez nem tudo estivesse perdido ainda.

"Então fala comigo?", pediu – ou seria melhor dizer suplicou? Ele nem sabia por que estava agindo daquela forma e insistindo tanto quando ele deveria ter deixado o assunto morrer dias antes – antes que se tornasse uma confusão que ele não tinha mais energias para lidar com.

Yoongi sempre foi considerado como alguém que não se importava, alguém que não valia o esforço. Da mesma forma, Yoongi não costumava dar tanta importância a alguém que não estivesse disposto a conhecê-lo de verdade, a se esforçar para se manter por perto.

Mas a verdade era que Jimin não precisara se esforçar muito para ver nele mais que o produtor rabugento ou o espectador ávido.

O mais novo deixou seu corpo cair pesadamente sobre o sofá, apoiando a cabeça no encosto para as costas. Yoongi observou cada movimento do outro, esperando.

"Medo", Jimin confessou afinal, surpreendendo Yoongi.

Medo, ele dissera em alto e bom tom. Admitindo.

Yoongi nunca fora bom em admitir coisas nem para si mesmo, e a resposta honesta de Jimin indubitavelmente derrubou todas as suas muralhas, aquelas que ele insistia em manter de pé, sabendo que aquele garoto havia conseguido passar por elas, sem fazer muito esforço, apenas sendo ele mesmo.

 


Notas Finais


Muito que bem, quem é vivo sempre aparece, né?
Depois de ensaios que consumiram minha energia e minha disposição, depois de provas, depois de uma gripe tão forte que me deixou fraca e de cama por mais de uma semana, eu tô de volta, HA!
Pra compensar e pra deixar todo mundo feliz, euzinha inclusive, eu pensei em fazer uma atualização dupla. O problema: eu ainda tenho uma fic de amigo secreto pra escrever, porque o prazo está acabando, então eu resolvi publicar um capítulo hoje e outro amanhã, é isso.

Muito obrigada a você que chegou até aqui <3 (às outras pessoas só obrigada mesmo -q).
Beijos e até (muito) breve ~


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