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História Fora de ritmo - Medo


Escrita por: nunytales

Notas do Autor


Esse capítulo contém menções a relacionamentos abusivos passados, o que pode ser um gatilho. Prossigam com cautela, okay? Enfim, obrigada e boa leitura <3

Capítulo 5 - Medo


 

"Medo de quê?", Yoongi se atreveu a perguntar. Não queria que Jimin deixasse de falar, mesmo que tivesse medo de descobrir a verdade ou de invadir uma privacidade que não seria compartilhada de bom grado.

"Eu... estava com vergonha do que eu fiz no outro dia”, o outro respondeu. “Fiquei com medo do que você estava pensando de mim, hyung, então eu só... achei que seria melhor apagar uma parte do passado da minha cabeça, mas foi besteira porque é impossível apagar tudo quando tudo o que você faz é lembrar..."

"Então você tentou me apagar da sua vida?", Yoongi perguntou, sem tentar esconder o tom ferido em sua voz. Não era como se Jimin estivesse obrigado a mantê-lo por perto, mas uma parte de si não gostava da ideia de ser deixado para trás depois que ele havia conseguido se aproximar e conhecer um pouco daquela pessoa.

"Achei que seria mais fácil", ele admitiu. A outra parte de Yoongi queria apenas se resignar e aceitar.

"Idiota! Por que eu ia pensar algo de você? Você estava bêbado, as pessoas não ficam exatamente racionais depois de beber um pouco de álcool...", viu-se elevando o tom de voz um pouco – Jimin até se encolheu como se estivesse com medo, mas, mesmo que o produtor soubesse que o outro estava doente, aquela parte de si que não queria ser deixada para trás precisava colocar aquele sentimento para fora.

"Mesmo assim..."

"Não beba mais, então", falou como quem não admite contestação. Suas mãos estavam na cintura e ele trocava o peso do corpo entre um pé e outro, sem saber o que fazer. "Eu pensei que eu tivesse feito algo errado, você é...", soltou sem pensar muito e então ele engoliu em seco. Jimin era importante para Yoongi, ele realmente era. Mas não conseguia dizer aquilo sem que seus sentimentos – todos eles – interferissem. Ia parecer tão óbvio o quanto ele se importava, o quanto ele sentia, e Yoongi era feito de medo, o qual, ao contrário de Jimin, ele não conseguia sequer começar a expressar.

Porque Jimin estava arrependido. A outra noite não havia significado nada – claro que não, ele estava bêbado, foi apenas um lapso, não havia espaço para tudo aquilo que ele sentia e que ficava cada vez mais forte.

"Você é meu amigo agora, não é?", esforçou-se em preencher o espaço vazio deixado pelas palavras que ele não pronunciara.

"Acho que sim, hyung", ele sorriu debilmente, soltando um suspiro cansado.

"Então está tudo bem. Você não precisa pedir desculpas, não precisa parar de falar comigo, eu não estou pensando nada", apressou-se em dizer, só para garantir que eles ficariam em bons termos depois do acontecido.

"Era pra ser uma brincadeira...", Jimin choramingou ainda, dando um último golpe no coração do mais velho.

"Eu já falei que você não precisa se preocupar, não foi?!", conseguiu dizer por fim, fingindo não sentir o que sentia – deveria ser fácil, Yoongi fingia sentir o que não sentia o tempo todo para compor, deveria ser fácil. Então por que era tão difícil deixar que seus olhos se fixassem na figura pequena e encolhida do mais novo sentado naquele sofá?

"Já, hyung!", Jimin respondeu e esboçou um sorriso, que resultara em um sorriso que se aproximava da sinceridade e da animação que o jovem sempre apresentava quando estavam juntos. Nos olhos ainda havia algo turvo, mas logo aquela nuvem pesada passaria, e ali também brilharia novamente a personalidade calorosa do mais novo.

"O que eu faço com você, hein?", perguntou mais para si.

"Você pode cuidar de mim, hyung, eu não estou me sentindo bem...”, arriscou, para incredulidade de Yoongi, que observou aturdido enquanto o outro ajeitava-se sobre o sofá, sentando sobre os pés com as pernas cruzadas, encolhendo-se embaixo do cobertor que carregava consigo – apenas seu rosto ficara visível.

"Por que você faz isso?!”, indagou, notando, então, que não haviam comentado nada sobre o estado do outro, faltando sentido para aquela pergunta. “Quanto você bebeu?",

"Não foi muito, mas acho que ‘tô ficando doente também...", ele murmurou com um suspiro e fechou os olhos, deixando o corpo cair para o lado de modo a se deitar no sofá. Yoongi imaginou que ele estava com sono e queria dormir, mas logo ele o encarou de novo, com um novo brilho neles.

"Você tem algo importante para fazer?"

"Não?", respondeu com um tom de pergunta, preocupado com o que viria a seguir.

"Assiste a um filme comigo, hyung! Taehyung me deixou sozinho dizendo que tinha que fazer um trabalho para a faculdade, aquele idiota. Eu vou matá-lo quando ele aparecer com aquela cara de bunda".

"Você pelo menos tá se cuidando? Quando foi a última vez em que bebeu água? Tem se alimentado direito? ", bombardeou de perguntas em vez de dar uma resposta direta, e se esforçou para engolir o sentimento de culpa por não ser um exemplo no que se refere à alimentação ou cuidados pessoais.

"Sim! Pouco antes de você chegar, e Seokjin-hyung passou aqui mais cedo, antes de ir para a casa do namorado e-" Ele parou de falar por um instante, seu rosto ficando melancólico de repente. "Eles não estão namorando ainda, mas não vai demorar muito, não mais. Não diga a Seokjin-hyung que eu disse alguma coisa, tá?", sorriu inocentemente.

"Você vive falando dele pelas costas, eu devia começar a cobrar para não contar todas essas coisas."

"Hyung!!", ele gritou, horrorizado, mas logo sua expressão mudou para uma careta de dor, o rosto dele ficou pálido em uma velocidade alarmante. O coração de Yoongi virou uma pedra e afundou em seu estômago – não que fosse anatomicamente possível, mas era assim que ele se sentia.

"Jimin?", chamou-o, andando até estar perto dele em um movimento instintivo. "Jimin, o que foi? O que você ‘tá sentindo?" Abaixou-se até estar com o rosto da altura do dele no sofá, deixando que sua mão pousasse sobre o rosto dele, o polegar acariciando a pele da bochecha enquanto esperava por respostas.

"Minha cabeça parece que vai explodir ou que meu crânio vai rachar, eu não sei, dói...", respondeu com a voz fraca, quase um miado de um filhote enfraquecido pela falta de alimentação – mas, no caso, o problema era outro.

"Você tem certeza de que não quer ir ao médico?", questionou com a voz no tom mais suave que conseguiu reproduzir, ignorando o suor frio que brotava em sua pele. Jimin respondeu com um acenar negativo de cabeça, mas sem se afastar do toque da mão do mais velho.

"Está tudo bem, eu só preciso de um remédio, eu acho..."

"Onde vocês guardam os remédios?". Deixou que sua mão afastasse os fios de cabelo da testa do outro – havia gotículas de suor sobre a pele, mas a temperatura corporal do mais novo parecia normal.

"Tô", Jimin respondeu, esticando um dos braços para conduzir a mão de Yoongi novamente para seu rosto. Mas a mão que tocava a do mais velho não a deixou, pressionando em um gesto que o produtor imaginou ser devido à necessidade de contato físico que somente aquelas circunstâncias poderiam fazê-lo buscar. "Hyung, você bem que podia me abraçar só um pouquinho...", ele sugeriu, para surpresa de Yoongi.

"Você é bem carente...", resmungou, mas não se moveu para abraça-lo.

"Aham", concordou, e Yoongi sorriu.

 

 

 

Depois que Yoongi conseguiu encontrar o remédio para dor em um dos armários do apartamento, eles acabaram assistindo a um filme de super-herói. Era algo de que Jimin gostava, Yoongi descobriu naquela noite.

A princípio, Jimin se ajeitou-se sobre o sofá, permitindo que Yoongi se sentasse do seu lado, mas perto da metade do filme o mais velho desistiu de vê-lo tão desconfortável e fez com que ele deitasse a cabeça sobre seu colo, aninhando-se ali como se fosse o melhor travesseiro que ele pudesse experimentar – o que era uma mentira, porque Yoongi não achava que tivesse algo a oferecer além de pele e osso.

Mas era uma sensação agradável, ter Jimin ali – perto, sob seus cuidados, descansando. Hesitante, ele esticou os dedos na direção dos fios escuros, já pouco se importando com o que estava acontecendo na tela da televisão. Seu coração começou a bater descompassado em seu peito sem qualquer motivo aparente, e Yoongi até pensou em retroceder. Contudo, seu corpo foi mais rápido que seus pensamentos e, porra, eles eram amigos. Eles eram amigos e podiam tocar um ao outro sem que fosse estranho.

Deixou que seus dedos brincassem com o cabelo do mais novo, que sequer pareceu notar o que estava acontecendo. Os olhos dele, ao contrário, o traíram, pesando e cedendo lentamente, um reflexo à carícia. Nenhum dos dois disse nada, como se as palavras fossem apenas estragar aquele momento que não precisava de maiores explicações, apenas de um suspiro de contentamento escapando de um par de lábios rosados e cheios, enquanto o outro par sorria, satisfeito.

Taehyung chegou quando a história estava chegando ao seu desfecho e, aparentemente aquilo foi uma boa coisa, mesmo que ele tenha feito bico e reclamado por Jimin tê-lo traído daquela forma. “Pensei que a gente fosse ver esse juntos, pensei que você me considerava como seu melhor amigo...”, ele falou dando um ar de teatralidade à sua reclamação.

"Mas você fala durante o filme inteiro", Jimin resmungou em resposta, ainda com a cabeça confortavelmente sobre o colo do mais velho, que havia parado tudo o que estava fazendo e encarava um ponto qualquer na parede oposta ao local onde Taehyung estava de pé, de braços cruzados, irritado.

Yoongi se sentiu envergonhado pela situação em que se encontravam. Era como se ele tivesse perdido toda a mobilidade de suas articulações e não soubesse mais como se mover, mas Taehyung não comentou uma só vez sobre o fato de que Jimin estava praticamente dormindo em suas pernas – não significava que ele não tinha notado, porque o produtor pôde sentir o olhar demorado e contemplativo do rapaz na direção do sofá, como se estivesse pensando sobre o assunto.

"Eu vou terminar de fazer meu trabalho no quarto, então. Não sou obrigado a encarar essa afronta", anunciou antes de sair da sala a passos pesados, como se ainda estivesse chateado com Jimin pelo filme, e nenhum dos dois comentou sobre aquela interferência do companheiro de apartamento do mais novo.

"Acho que está ficando tarde", Yoongi anunciou, recebendo um muxoxo do mais novo como resposta.

"Mas acho que eu não posso fazer você ficar aqui a noite toda, não é..." Ele disse, afinal, levantando a cabeça para que Yoongi pudesse sair dali.

"Se cuida”, o mais velho ofereceu, na falta de algo melhor para dizer. Jimin concordou com a cabeça depois de descansá-la no lugar antes ocupado pelo outro, e fechou os olhos, encolhido.

Não o acompanhou até a porta, mas Yoongi preferia daquela forma.

Quando chegou em casa e se jogou em seu próprio sofá, ele pegou o celular, vendo que havia recebido uma nova mensagem de Jimin.

 

Obrigado, hyung

 

Vai dormir, Yoongi respondeu, e se perguntou se iria conseguir fazer Jimin franzir o cenho quando a estivesse lendo.

Mas ele recebeu apenas um emoticon gargalhando. A reação fora melhor que a esperada, pensou.

 

 

 

O grupo com que Yoongi estava trabalhando antes finalmente lançou o álbum novo, bem como o vídeo com a música, e havia feito a primeira apresentação da temporada de promoção do trabalho.

O MV ficara realmente bem produzido, a equipe de vídeo merecia todos os créditos pelo trabalho executado. Mas a parte preferida de Yoongi sempre seria o orgulho que ele sentiria ao ver as recompensas do esforço que a equipe de produção musical havia realizado, as reações do público às letras das músicas e aos arranjos que eles tiveram que passar horas para conseguir encontrar, combinar de um jeito que fosse não apenas agradável aos ouvidos, mas também emocionante de alguma forma, forçando ao máximo suas fontes de inspiração.

"A gente devia sair de novo pra comemorar!!", Donghyun sugeriu. Eles estavam em um período mais calmo, embora já estivessem planejando o próximo comeback de um dos outros grupos da empresa.

"Por que não?", Ikje deu de ombros, e Yoongi sabia que seria apenas uma questão de tempo até que todos se voltassem para ele atrás de sua concordância.

"Yoongi-hyung?", Naamjoon o chamou, com um sorriso suspeito no rosto. "Não aceitaremos não como resposta".

"Que seja", resmungou, começando a sentir vontade de reclamar desses planos que nunca incluíam o que ele realmente queria: ficar em casa até que fosse estritamente necessário sair de novo, por exemplo.

Horas depois, quando ele estava sendo arrastado para o bar em que eles costumavam frequentar quando resolviam finalmente se deixar relaxar depois do trabalho, Yoongi ouviu o alerta de notificação de seu celular e puxou-o do bolso para ver ali mais uma mensagem de Jimin.

 

Hyung! Vi o álbum em que você tava trabalhando!

Hyung é bem famoso rsrsrsrsrsrs

 

Não é assim, idiota

O grupo é. Eu: não. Simples.

 

Mas se não fosse por você não haveria grupo

 

Yoongi tentou não se afetar por aquelas palavras. Ele não era o único a compor e produzir músicas naquele lugar. Antes que ele pudesse concluir seu processo de pensamento para então responder, no entanto, novas mensagens foram chegando.

 

Eu gostei, hyung. Ficou tão bonito!!!

As músicas são realmente ótimas

Obrigado

 

Jimin era ridículo.

 

Por que você está agradecendo?

 

A penúltima música do álbum é a mais bonita

E foi você que produziu essa

Talvez fosse o que eu precisava ouvir...

 

Yoongi leu a mensagem de novo e de novo, mordendo o lábio inferior.

Infelizmente, não podia responder, já que os outros estavam fazendo pedidos e, se ele não dissesse nada, acabaria sendo levado para um buraco sem fim. Ou pelo menos foi isso o que ele disse a si mesmo como desculpa. No fundo, ele sabia que não havia nada que pudesse dizer que soasse como a coisa certa a ser dita – porque Jimin deveria concluir sozinho que aquela era uma música extra, resultado da conversa que tiveram.

Falava sobre sorrisos brilhantes que se escondiam por trás de uma maquiagem pesada, aplicada para chamar a atenção à noite, sobre um palco iluminado para ressaltar os movimentos do dançarino habilidoso. Falava sobre o coração que nem mesmo aquele meio podia ferir.

Não demorou muito para que ele se viesse preso em conversas sobre ideias para o futuro – mais especificamente sobre os planos de Ikje, que ainda queria abrir a própria empresa de entretenimento em alguns anos. Todos os outros se prontificaram a trabalhar para ele, porque Ikje sabia como era a vida de produtor e certamente iria valorizá-los mais – não que estivessem realmente descontentes com o lugar em que trabalhavam, queriam apenas se aproveitar da situação, porque era assim a amizade deles.

Havia, no entanto, um sorriso fácil em seu rosto, que conseguia surgir sempre que a conversa pedia e ele se viu como parte integrante do grupo. De verdade, não como um estranho que eles de alguma forma conheciam.

Ele esqueceu que havia mensagens não respondidas de Jimin em seu celular, e foi apenas quando Hoseok precisou atender a uma ligação que ele se lembrou que ele até pensou sobre uma resposta que soava vaga na medida certa, mas nunca chegou a realmente enviá-la.

 

O que você tá fazendo?

 

Yoongi aproveitou a oportunidade para deixar o assunto sobre as músicas morrer de vez e optou por apenas responder à última mensagem, antes que os outros cortassem sua atenção novamente.

 

Comendo com uns colegas de trabalho

 

 

eu estou atrapalhando então

boa noite hyung

se divirta por mim ;)

 

Não atrapalha, Yoongi digitou, mas não chegou a apertar o botão para enviar, pois sabia que, mesmo que fosse verdade, ele não poderia dar atenção a ele, receber milhões de mensagens e responder com o que lhe viesse à cabeça.

Você não está trabalhando hoje?, ele enviou no lugar, de repente se dando conta de que era um dos dias em que o clube em que o mais novo trabalhava deveria estar mais cheio.

 

não

 

Ele respondeu simplesmente, preocupando Yoongi.

 

Algo errado?

 

não, eu só não estava me sentindo bem

mas estou melhor

taehyung até fez sopa pra mim rsrsrsr

 

Okay, se cuida então

 

obrigado, hyung

 

Aparentemente, obrigado era a palavra que Jimin mais mandava depois que eles conseguiram resolver o problema de falta de comunicação entre eles, porém era melhor que ler e ouvir pedidos de desculpas a todo momento.

Yoongi guardou o celular e voltou a prestar atenção no que os outros diziam. Ele ainda ria e participava, mas no fundo de sua mente a preocupação era uma sombra à espreita.

Quando voltou para casa, antes de se jogar sobre sua cama e apagar de uma vez, ele conseguiu digitar um “espero que acorde melhor” e enviar, dormindo depois de colocar o celular na mesa de cabeceira tão logo sua cabeça encostou no travesseiro.

 

 

 

Estou melhor

Bom dia, hyung!

 

 

 

Yoongi se acostumou a visitar o café preferido de Jimin, embora dificilmente encontrasse o rapaz por lá, nem mesmo acompanhado de Taehyung. Não mais, pelo menos.

Não que ele esperasse encontrá-lo, quando ele não sabia em que horários o outro costumava frequentar o local. Além disso, Yoongi sabia também que sua sorte não era das melhores.

O que ele não sabia, percebeu, era pequenos detalhes sobre Jimin que, para alguém desatento, não seriam tão dignos de nota. Que tipo de comida ele gostava, se mais apimentada ou não. Ele não sabia que sonhos ele tinha. Ele não sabia de que cor ele gostava. Talvez ele também estivesse interessado em saber como fora sua infância e como ele acabara como stripper. Saber como ele conheceu Taehyung, Jeongguk e Seokjin. Saber como ele conhecera o ex-namorado e como eles eram quando estavam juntos, mesmo que aquela informação em especial fosse lhe causar um sentimento estranho que ele já havia experimentado em outras noites.

Não que durante os dias que se passaram Yoongi e Jimin não se falassem, mas o mais novo tinha a incrível habilidade de falar sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo, isso quando não estavam falando sobre Yoongi.

Jimin tinha um jeito sútil de lhe perguntar coisas, questionamentos que o mais velho respondia sem pensar muito, já que pareciam perguntas inocentes. Além disso, não costumava falar muito de si mesmo, talvez por isso aceitasse qualquer resposta que o mais velho estivesse disposto a lhe dar, como sinal de resignação por saber que o fluxo de informações entre eles não era exatamente justo.

Mas ele nunca conseguira fazer muitas perguntas a Jimin, com medo de ultrapassar alguma barreira invisível, invadindo um espaço que jamais deveria ser perturbado com sua presença. Yoongi sabia que as pessoas tinham seus segredos, mas ele nunca conseguiu decidir realmente o que seriam os segredos do mais novo e o quão íntimo ele era para tentar descobri-los.

Yoongi não estava inteiramente no escuro, no entanto. Pelas conversas havia conseguido deduzir fatos irrelevantes, e o garoto mesmo informara sobre alguns mais triviais – como o gosto por chocolate quente, Yoongi pensou observando o menu da cafeteria.

Só não era suficiente.

"Qual o seu pedido?", a garçonete perguntou com um sorriso gentil que compelia Yoongi a ser gentil também.

O único problema era que não tinha muita certeza no momento. Ele queria dormir ainda naquela noite, então pedir o usual café não parecia uma boa opção, já que o tomava para permanecer acordado e com o cérebro pronto para montar um plano de dominação mundial, se necessário.

Optou pelo chocolate quente, na esperança de que não fosse doce demais.

(Felizmente não era).

A bebida era cremosa e macia em sua boca, doce, mas escondendo o amargo do chocolate que se prolongava mesmo depois que a bebida era engolida.

Dava para entender por que Jimin gostava.

Sem nenhum interesse em voltar para o apartamento vazio, ele permaneceu no café até perto da hora de fechar, quando uma chuva fraca começou a cair, intensificando-se com o passar dos minutos, enquanto Yoongi imaginava que acabaria se molhando até conseguir voltar para o carro, mas nada que fosse fazê-lo pegar um resfriado, esperava.

Do lado de fora, o mundo parecia vazio, como se a chuva tivesse espantado todas as pessoas para casa. No entanto havia alguém parado ali perto, encolhido dentro de um casaco de moletom que mal parecia ser suficiente para aplacar o frio que a pessoa estava sentindo. Yoongi deu à pobre alma sem sorte um olhar de simpatia pela situação, ele mesmo não vestindo muito para um dia frio, mas sua atenção ficou presa no corpo que tremia, porque certamente conhecia o rosto que tentava se esconder por baixo do capuz da vestimenta.

"Jimin!", ele o chamou, assustando o garoto, que tentou sorrir apesar do frio, embora em nada se parecesse com os sorrisos calorosos que Yoongi já vira naquele mesmo rosto.

"Hyung...", o mais velho o ouviu murmurar enquanto se aproximava, preocupado com o motivo da presença dele ali àquela hora sem que ele sequer tivesse entrado para pedir alguma coisa.

"O que você tá fazendo aqui?", questionou franzindo o cenho. Não queria soar rude, mas falhara em seu intento, vendo que o garoto estava com os lábios sem cor. Ele ainda se lembrava de como Jimin ficara ao adoecer, não estava interessado em ver a cena se repetir diante de seus olhos novamente.

O mais novo olhou para ele por alguns segundos, como se não soubesse a resposta para aquela pergunta. Yoongi arqueou uma sobrancelha inquisitivamente, pronto para repetir a pergunta, se Jimin não a tivesse entendido da primeira vez.

"Eu estou-", ele começou a se explicar. "Indo pra casa. De um amigo. É isso."

Um amigo.

Yoongi olhou para o céu, desviando o olhar do rosto de Jimin, tentando não pensar no quanto ele parecera assustado em vê-lo ali e, ao mesmo tempo, aliviado. Ele também tentou não pensar no quanto ele parecia pequeno, encolhido para se proteger da chuva e do frio, vestindo somente um moletom que não duraria seco por muito tempo se ele resolvesse se arriscar a andar na chuva.

O céu estava coberto de nuvens por todos os lados, e as gotas de água eram grossas e pesadas. A cada segundo que passava, parecia que a chuva ficava ainda mais forte e não havia volta, já que o café estava fechado.

“Parece que não vai parar de chover tão cedo”, Yoongi comentou. Ele queria ir embora para casa, ficar debaixo de suas cobertas e se proteger do frio ali. “Quer uma carona?”, ofereceu antes que Jimin pudesse responder a seu comentário sobre o clima.

“Sério?”

“Claro! Vem comigo...”. Yoongi respirou fundo e andou na direção da chuva, sem sequer conferir se estava seguindo ou não.

Mas Jimin estava, se a surpresa em seu tom de voz era indicativo de que uma carona era justamente o que ele precisava naquele momento, e Yoongi estava prestes a lhe dar uma, sem que ele tivesse sequer verbalizado algo sobre sua necessidade.

Yoongi alcançou o carro em passos rápidos, destravando as portas e deslizando para dentro na tentativa de evitar que mais água que o necessário acabasse dentro do automóvel. Ao bater a porta depois de estar dentro do veículo, a outra porta, do lado do passageiro, foi aberta e Jimin pulou para dentro tão rápido quanto Yoongi.

Por um instante, o mais velho o encarou enquanto ele tentava enxugar o rosto com uma das mãos, puxando o capuz do moletom para trás, bagunçando os cabelos para garantir que seus fios não estavam muito molhados.

O interior do veículo logo começou a ficar abafado demais, com duas pessoas dentro, portas e janelas fechadas, sem qualquer circulação de ar. Não era uma sensação ruim a princípio, com Jimin preocupado com coisas triviais enquanto Yoongi o encarava, esperando que ele tivesse terminado para perguntar em que direção seguir.

Quando Jimin percebeu que estava sendo observado ele parou, como uma estátua – os olhos se movendo, incertos sobre se deveriam encarar Yoongi de volta ou se deveria olhar para outro canto. Contudo, ele optou por Yoongi, e um sorriso surgiu nos lábios do mais velho.

Havia algo sobre vê-lo daquela forma, como o garoto que ele era, que causava uma sensação sobre sua pele a qual Yoongi não conseguia encontrar as palavras certas para descrever e, mesmo que ele conseguisse, a letra de uma música nunca iria conseguir transmitir a completude daquele sentimento.

“Hyung?”, o mais novo murmurou, apressado em sair daquela situação que se prolongava, o calor começando a ficar desconfortável para ambos.

Yoongi pigarreou, mas, mesmo assim, sua voz ainda saiu mais grave e rouca que o normal quando ele perguntou “Pra que lado você está indo?”

Jimin abriu a boca e olhou para o painel do carro. A chuva ainda caía forte lá fora, embaçando os vidros, e, por alguns segundos, o som da água batendo contra a lataria foi a única coisa que podia ser ouvida entre os dois.

“É, anh… Fica… Por ali”, Jimin apontou para a frente, mas inclinando a mão um pouco para a direita, relaxando visivelmente. Daquela forma ele parecia mais confiante, como se ele fosse Jay por um breve piscar de olhos, em seguida encolhendo o corpo no assento do carro para voltar a ser simplesmente Jimin.

“Certo”, Yoongi concedeu, embora em seu olhar ainda houvesse desconfiança, a qual se intensificou quando foi preciso que o mais velho esticasse o corpo para puxar o cinto de segurança, prendendo-o no lugar correto: sobre o peito do mais novo.

Durante todo o processo, era possível sentir o olhar surpreso de Jimin em seu rosto, mas Yoongi não ousou se virar para encará-lo. Ele se atreveu, sim, a tomar o tempo que considerou necessário para completar todo o processo, cada ato deliberadamente lento, até mesmo para permitir que o mais novo não se sentisse ameaçado por um ato repentino.

“O-obrigado”, Jimin murmurou quando Yoongi concluiu sua tarefa, ainda sem encará-lo.

Pela visão periférica, no entanto, era possível perceber como ele olhava para o lado de fora enquanto o mais velho dava a partida para seguir na direção indicada.

 

 

 

Yoongi dirigiu por algum tempo em silêncio, enquanto Jimin confortavelmente descansava no assento ao seu lado, indicando direções vez ou outra, que o mais velho não hesitava em seguir.

Contudo, havia algo de errado com o universo ou com ele, ao que parecia. Não importava o quanto tentasse, não conseguia afastar a sensação de que Jimin estava escondendo a verdade.

Talvez fosse cruel da sua parte, mas tinha uma ideia se formando em sua mente, mesmo que ele soubesse que era um grande tiro no escuro. Ele ainda não conhecia o mais novo o suficiente para ter uma noção das coisas que ele estava tentando esconder, mas tinha a impressão de que havia algo que não se encaixava naquela história.

Então para testar sua teoria, Yoongi fez uma curva para a direita em uma rua qualquer, sem receber qualquer reação de Jimin. Ao olhar para o lado, notou que o garoto parecia perdido em pensamentos, alheio ao fato de que eles não mais seguiam a última direção que fora indicada.

Não era necessário continuar testando, mas Yoongi se permitiu dirigir mais alguns minutos por aquela rua. A chuva começara a enfraquecer, mas nem mesmo por isso ele deixou de andar a uma velocidade reduzida, como se estivesse em um simples passeio.

Afinal, ele suspirou e estacionou o carro contra o meio-fio, conseguindo que a atenção de Jimin se voltasse para o que estava acontecendo ao seu redor.

“Mas o quê-?”, ele tentou questionar, entender, contudo Yoongi o interrompeu, chamando seu nome com um tom de voz grave.

“Onde você estava indo, de verdade?”, indagou, soando mais preocupado que chateado por ter sido enganado daquela forma.

O mais novo o encarou como um animal encurralado por um predados, mas um suspiro resignado escapou de seus lábios enquanto ele continuava em sua tentativa de se fundir com o estofado.

“Eu não sei”, admitiu.

“Como não sabe?”

“Eu estava pensando em ficar fora durante a noite, não queria encarar Taehyung hoje, nem lidar com a preocupação dele”.

Ao ouvi-lo, Yoongi franziu o cenho.

“Taehyung pode ser avoado às vezes… Não, quase sempre”, corrigiu; “mas ele ia sentir e perceber e eu… Eu…”, começou a gaguejar, sem saber o que dizer a seguir, talvez procurando pensar nas palavras que fariam as coisas parecerem menos ruins.

“Jimin, calma”, Instintivamente Yoongi estendeu o braço para tocar-lhe o braço, movendo para cima e para baixo para tentar acalmá-lo, mesmo que não fosse de seu feitio invadir espaços pessoais, não importava a situação. Graças a isso, ele sentiu quando os músculos do mais novo começaram a relaxar sobre seu toque e diminuiu a velocidade dos seus movimentos, até que se transformasse em uma carícia singela.

 “Acho que eu vou-”, sua voz foi desaparecendo enquanto ele segurava a trava da porta, pronto para fugir.

“Pra onde?”, Yoongi não esperou que ele continuasse, sem consegui acalmar o sentimento que começava a fazer seu corpo vibrar com algo parecido ao inconformismo, sua mão se fechando com força no braço alheio.

“O quê?”

“Pra onde você vai nessa chuva?! Andar até não ter nenhum centímetro de pele que esteja seco? Até adoecer de novo? Se você não quer ir pra casa, por mim tudo bem, mas eu não vou te deixar em qualquer lugar”, falou e soltou o braço do outro quando notou que ele não mais parecia prestes a fugir.

“Hyung…”

“Tudo bem, se… Você for pra minha casa?”, sugeriu, olhando para o local onde sua mão estivera no braço do outro até segundos antes. “Eu não me importo se você não quer falar sobre o que aconteceu, eu só… Você precisa de um lugar seco e confortável pra descansar, é isso”, admitiu, virando-se para olhar a rua ao redor. Um carro passou por eles, mas, além disso, não havia qualquer sinal de vida ali.

E Jimin ainda queria sair sozinho por aquelas ruas...

“Tá bem”, o mais novo respondeu e pigarreou, repetindo a resposta, para o caso de Yoongi não ter ouvido da primeira vez. “Tudo bem”.

Mas o produtor tinha ouvido, e certamente estava aliviado por saber que o garoto não iria dormir na rua – ou Deus sabe em que outro lugar ele iria parar.

 

 

 

O esclarecimento sobre o destino do mais novo não significou que eles de repente começaram a conversar como se nada tivesse acontecido. Jimin permaneceu calado no banco do passageiro, e Yoongi disse a si mesmo que tudo bem, que não precisava conversar normalmente, não iria ser diferente daquela vez.

Ainda assim, era alarmante o fato de que o mais novo não fazia nada além de olhar pela janela do carro – e depois para os próprios pés enquanto subiam no elevador do prédio de Yoongi até o andar onde o mais velho morava.

“Eu vou procurar umas roupas secas pra você trocar”, anunciou abrindo a porta do lugar e retirando os tênis na entrada, gesto que foi copiado pelo outro, que o seguia como se ligado no piloto automático.

Yoongi então desapareceu no quarto, mexendo rapidamente em suas roupas procurando algo que fosse confortável e quente, algo parecido com as roupas que Jimin estava usando - encontrá-las não foi realmente um problema; parar e ter certeza de que caberiam nele era uma dúvida que ele sempre teria.

Não que houvesse uma diferença de altura, mas de compleição física, a qual Yoongi sempre invejaria, ocupado demais para malhar e preguiçoso demais quando o tempo surgia.

Ao voltar para a sala, percebeu que Jimin estava parado exatamente onde o havia deixado, mas ele já não parecia mais tão apático. Quando notou que Yoongi estava voltando, ele olhou para seu anfitrião sorrindo.

“É legal aqui”, comentou, fazendo o mais velho desconfiar do que havia se passado por aquela cabecinha nos poucos minutos em que estivera afastado.

Em vez de fazer qualquer questionamento, entretanto, ele mostrou as roupas para Jimin enquanto murmurava um obrigado tímido pelo elogio ao apartamento, emendando com a explicação sobre as roupas. “Devem servir em você... pode se trocar no quarto, se quiser”.

“Eu…”, Jimin parecia querer dizer algo enquanto aceitava as roupas, mas contentou-se com um “obrigado”, pegando as peças das mãos de Yoongi e seguindo na direção indicada por este.

“Você está com fome? A gente pode sair e…”, perguntou da cozinha quando ouviu o som dos passos de Jimin aumentando, cada vez mais próximo. Esticou o pescoço para observar o mais novo e pôde notar que as roupas haviam ficado bem afinal – sorte sua que gostava de roupas folgadas.

“Eu ‘tô bem, eu comi alguma coisa antes de você me encontrar”, o mais novo respondeu, encolhendo os ombros, e Yoongi suspirou.

“Quer beber alguma coisa então?”

“Tem vodka?”, questionou com um sorriso travesso, recebendo um olhar contrariado de Yoongi.

“Mesmo que eu tivesse, não ia deixar você chegar perto da garrafa”, rebateu, voltando a abrir algumas portas do armário da cozinha. “Chá? Eu acho que tenho chá aqui, é bom pra ajudar a dormir… Ou pelo menos me ajuda a dormir às vezes”.

“Chá é…”, Jimin começou a falar, e Yoongi interrompeu sua busca para encarar o garoto. Não iria continuar se ele não quisesse. “Chá é bom”, concedeu e sorriu.

O silêncio perdurou enquanto a chama do fogão esquentava a água – e mesmo depois que o barulho das borbulhas tentara diminuir o tamanho da ausência de sons, de palavras. Jimin bebeu o chá de canela que Yoongi preparara para ele com calma, queimando a língua no processo, mas sem reclamar. Apesar dos detalhes desagradáveis da bebida, o uso de roupas secas, a permanência em um lugar livre de qualquer pressão ou de impessoalidade e a ingestão de uma bebida quente pareciam afetar cada vez mais o ânimo do mais novo.

Eles estavam sentados no chão da sala, lado a lado, com as costas apoiadas sobre o sofá. A cabeça de Yoongi pendia para trás, apoiando-se sobre o estofado com seu pescoço dobrado em um ângulo estranho, mas nada que ele não pudesse aguentar – ele já havia dormido em locais piores que aquele e em posições menos confortáveis também.

Quando o mais novo finalmente deixou a caneca no chão, ele ousou quebrar o silêncio não apenas com o barulho do objeto sendo depositado sobre o piso, mas também com um tímido pedido de desculpas pelo incômodo.

“Não se precisa se preocupar”, Yoongi se levantou, andando até o quarto para buscar seu travesseiro e seu cobertor, sob o olhar curioso do mais novo. Ao voltar, ele jogou os objetos sobre o sofá, ajeitando-os o melhor que podia.

“Você vai dormir no meu quarto, eu fico com o sofá”, disse a título de explicação antes de voltar para o quarto para garantir que o mais novo teria lençol e travesseiros limpos.

“Não precisa, hyung, eu durmo em qualquer lugar, até no chão, de verdade, não preci-”, apressou-se em falar, atropelando as palavras em desespero, como se Yoongi fosse mudar de ideia com aquele monte de coisa sem sentido.

O mais velho, contudo, parou para observá-lo com uma expressão que provavelmente dizia que ele não iria ouvir nada do que o outro estava falando, só para o caso de ele não ter entendido ainda essa parte.

“Se você não quer falar sobre o que é tudo isso, tudo bem, eu não me importo. Mas pelo menos durma em um lugar confortável”, disse em tom de definitividade, de quem não quer que mais nenhuma palavra seja dita sobre o assunto.

Foi uma questão de tempo até tudo estivesse pronto e os dois estivessem em seus respectivos leitos, as luzes do apartamento apagadas. Yoongi não tinha certeza se conseguiria adormecer com Jimin dormindo no cômodo ao lado, mas ele sentiu os olhos pesando em algum momento e teria adormecido se o som de passos no escuro não o tivessem deixado alarmado.

“Jimin?”, ele chamou e pensou ter ouvido alguém respirando pesadamente.

“Eu não consigo dormir”, o outro choramingou, a voz dele soando perto embora não perto demais – Yoongi imaginava que ele estivesse perto do final do corredor, mantendo uma distância segura para garantir que não iria assustá-lo.

“Quer... alguma coisa...?”, perguntou experimentalmente, jogando as cobertas para o lado e sentando-se sobre o sofá, esperando para saber como poderia ajudar.

“Aham”, foi a resposta, mas não houve nada mais que aquilo. Pelo menos não até que Yoongi sentisse a presença do rapaz ao seu lado, sentando-se ao seu lado no sofá.

“Jimin...”, repetiu o nome do rapaz como um aviso ou como uma indagação – era difícil dizer. Pensou que sua voz sairia rude, como era costume, mas percebeu que estava bem suave, calma até.

O garoto se acomodou o melhor que pôde, mesmo que os dois mal coubessem no sofá.

“Só... vou ficar aqui um pouco”, ele disse como se soubesse exatamente o que preocupava o mais velho, e Yoongi olhou fixamente para o lugar onde ele julgava estar o rosto do mais novo, como se ele pudesse sentir a intensidade de seu olhar incrédulo no escuro.

Jimin era um idiota, decidiu.

Mas, mesmo assim, voltou a se deitar, acomodando-se contra o corpo de Jimin, consciente demais da presença dele ali, calor tornando tudo um pouco mais real do que ele gostaria. Eles estavam deitados de frente um para o outro, mal se tocavam, porém era como se de repente não houvesse sequer espaço para que eles respirassem sem que o ar que escapava de seus pulmões se mesclasse ao ar que o outro expirava. Yoongi estava completamente sem sono de novo.

A ausência de luz tornava tudo diferente. Era possível saber que as coisas estavam lá, mas era difícil acreditar, a menos que você seja capaz de sentir – como qualquer objeto no escuro é praticamente inexistente até que você bata o dedo mindinho do pé.

Talvez por isso, muito depois, quando o tempo já era uma noção perdida no apartamento escuro, Yoongi pôde escutar.

A princípio ele achou que estivesse imaginando coisas, contudo não demorou muito para que ele entendesse que Jimin estava finalmente falando sobre o que o perturbava.

“Eu me meti em problemas hoje no trabalho”, ele confessou. “E saí de lá antes que tudo ficasse pior.

“No começo, não era fácil, porque eu era muito inseguro, meu corpo nunca foi algo de que eu me orgulhasse. Mas eu aprendi com o tempo que as pessoas não viam daquela forma. Eu sempre gostei que as pessoas pareciam se esquecer de qualquer problema que elas tinham quando eu estava no palco. Mas eu sentia desconforto quando alguém pagava por algo mais... privado.

“Quando eu ainda estava com... meu ex, eu... Eu sentia que trabalho era trabalho e que relacionamento era relacionamento, mas eu sempre ouvi ele dizer que não tinha diferença. Que eu me expunha desnecessariamente e que ele tinha vergonha de mim, não que ele dissesse isso sempre, não no começo.

“Depois só ficou pior e... eu passei a ficar apático e depressivo. Pra conseguir  lidar com tudo, deixei que Jay ficasse mais real a cada dia que passava. Era meu escudo, de onde eu tirava minhas forças.

“Eu ouvi muita coisa, hyung. Muita coisa, muita coisa que eu não quero lembrar...”, e então ele fez uma pausa mais longa, para respirar fundo antes de continuar. “No começo eu pensei que eu ficava no meu trabalho por birra, porque eu estava sendo infantil e egoísta, mas eu gosto do meu trabalho e paga bem. Mesmo que as pessoas julguem o que eu faço quando estão fora da plateia, eu gosto do que faço.

“Então meu namoro acabou, porque ele disse que não iria ficar com uma puta”. Jimin riu, e Yoongi imaginou que aquela risada tinha um quê de histérica. “Ele disse que eu não valia nada e que-” Yoongi ouviu um soluço. “Depois que acabou”, ele continuou depois de se recuperar, voltando a falar no mesmo murmúrio, como se tivesse medo das palavras, sem completar a frase anterior. “Eu não sentia nada no trabalho, nem gostava, nem desgostava, nem sentia nojo de mim, nem conseguia me importar. Meus amigos me ajudaram mais do que eu posso contar, céus. E eu estava indo bem...

“Mas aí aconteceu de novo, hyung. Eu senti... nojo de mim e ouvi as palavras se repetindo na minha cabeça, o que ele me disse. Antes.”

Yoongi tinha vontade de abraçá-lo. Ele não sabia o que Jimin sentia, não podia saber pelo que ele estava passando, mas sabia que ele precisava de algo em que se apoiar, porque às vezes é difícil para todo mundo seguir sozinho.

E ainda assim, ele não conseguiu se mover.

“Acho que é porque eu estou sentindo coisas... De novo. Tem alguém e... E ele faz eu me sentir como se eu valesse a pena, como se eu importasse. Eu nem sei se ele gosta de mim, eu nem sei se ele gosta de pessoas do mesmo gênero e...”, ouvir dizer aquelas palavras doeram ainda mais em Yoongi, e foi preciso engolir o desapontamento e a decepção antes de dizer qualquer coisa na tentativa de fazê-lo se sentir melhor.

“Mas isso é bom, não é? Gostar de alguém e ser apreciado por alguém?”

“É... Eu só... Tenho medo de não-”

“Primeiro, se ele vale a pena, então ele devia ser capaz de compreender a história do trabalho, eu não sei, diálogo em um relacionamento é fundamental”, falou com sinceridade, sabendo que ele jamais poderia julgá-lo. “Segundo, se ele não gostar de pessoas do mesmo gênero, você chuta a bunda dele. Com força. Mesmo que seja no sentido figurado”.

Yoongi sabia que, no mundo real, não era assim que as coisas aconteciam. Se alguém não gostava de pessoas de determinado gênero, o melhor a se fazer era seguir em frente, porque ninguém era obrigado a gostar de nada, mas achou que aquelas palavras não iriam fazer mal naquela noite.

Jimin soltou uma risada baixa, e Yoongi encarou aquilo como um bom sinal.

“Você pode até me chamar, se você não quiser sujar as mãos”, murmurou, satisfeito consigo mesmo por ter conseguido fazer o outro se animar, mas a risada de Jimin morreu subitamente em um soluço. “O quê? Eu disse algo errado?!”

“Não, hyung”, Jimin respondeu com um suspiro. “Você só ameaçou chutar a própria bunda.”

 


Notas Finais


Adivinhem quem eu não consegui escrever nada da fic do amigo secreto?! Mas tem atualização, né, olha aí!! E com mais de seis mil palavras ~ (7k, na verdade, se eu não estiver enganada).

Eu tenho certeza de que ainda é "amanhã" nem que seja no fuso-horário do Havaí, então é isso q /foge.

Eu estou me perguntando se estou fazendo algo certo com essa fanfic, agora que paro pra pensar, mas é pesando todas as palavras que eu escrevo/edito. Espero que a mensagem original não tenha ficado perdida em meio a tanta confusão. Qualquer coisa, vocês sabem onde me encontrar, não é? Pra bater um papo maroto sobre a vida, o universo e tudo o mais!

Muito obrigada por chegarem até aqui <3 (pra quem não chegou só obrigada mesmo).
Beeeijos e até ~


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