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História Fora de ritmo - Jay


Escrita por: nunytales

Notas do Autor


*capítulo com referências a fetiches (não sei se alguém considera como tw, mas vamos deixar o aviso, né)

Capítulo 7 - Jay


 

 

As latas de refrigerante pesavam pouco em suas mãos, porém era como se Yoongi estivesse carregando o mundo em seus braços.

Referido peso nada mais era que culpa e arrependimento, os quais também eram responsáveis por prender seus pés ao chão, impedindo-o de andar. Sabia que sua oferta de paz não era o suficiente para compensar pela grosseria do outro dia e até tinha um Plano B, mas, por enquanto, precisaria confiar no gosto de Namjoon por refrigerante de cola e em seu pedido de desculpas mal ensaiado – se fosse ensaiar até chegar à perfeição, nunca o proferiria para a pessoa que deveria ouvi-lo, então o melhor era arriscar.

Avistou-o através das portas de vidro, sentado em um dos bancos da copa, com o almoço que a namorada havia preparado mais uma vez, e respirou fundo antes de adentrar o local. Preferia agir sem pensar demais e saber a resposta do outro em vez de imaginar todas as possibilidades – “a situação entre a gente não pode ficar pior”, era o que dizia a si mesmo antes que qualquer pensamento arruinasse sua tentativa sem que tivesse a oportunidade de colocá-la em prática.

Colocou a lata sobre a mesa com uma batida forte, dificultando o trabalho de ignorá-lo – Namjoon não levantara o olhar em nenhum momento para encará-lo desde que ele entrara na copa. Sentou-se ao lado do mais novo antes de abrir a própria lata de refrigerante – que comprara para ter o que fazer com as mãos e com a boca enquanto se preparava e esperava que as coisas se resolvessem com uma boa conversa.

Enquanto bebia goles enormes de bebida e sentia a garganta doendo pela velocidade com que ingeria o líquido gaseificado, Yoongi podia finalmente sentir o olhar de Namjoon em sua direção. Sabia, no entanto, que o outro não seria o primeiro a falar: nunca era o primeiro a falar quando sabia que estava certo e que era papel da outra pessoa reconhecer seu erro. Especialmente se a outra pessoa era Yoongi.

“Eu sei que você só estava preocupado e tentando evitar que uma catástrofe acontecesse”, Yoongi falou afinal, encarando a lata de refrigerante que segurava entre as mãos. “E que eu sou um merdinha mal agradecido”.

“Sim, você é”, Namjoon concordou com um tom de voz calmo, quase letárgico, ajudando o outro em seu momento de autodepreciação. “Já acabou?”

“Você sabe que eu sou péssimo com essas coisas”, reclamou com uma risada sarcástica. Não tinha intenção de se fazer de vítima ou de se justificar, mas era a única coisa que conseguia pensar para responder ao questionamento feito pelo mais novo.

“Eu sei, por isso é tão engraçado ver você lutando contra o orgulho pra conseguir dizer a palavra com D.”

“Desculpa”, pediu, ainda olhando para a mesa e para a lata que descansava à sua frente.

“É, essa palavra com D”, Namjoon falou de boca cheia, interpretando seu pedido como uma continuação da conversa, o que provocou um revirar de olhos do mais velho.

“Eu estou pedindo desculpas, Namjoon!”, elevou a voz, irritado com aquela falta de compreensão com o momento. Ele não havia se preparado para ter que lidar com a ignorância do outro, mesmo que, na verdade, Namjoon fosse uma das pessoas mais inteligentes que ele já conhecera.

“Eu também sei disso, só queria implicar um pouco”.

“Idiota”, murmurou entredentes, mas alto o suficiente para que o outro o ouvisse.

“Eu ainda não disse que desculpava você, eu, no seu lugar, seria um pouco mais gentil”, comentou ao que Yoongi finalmente se virou para fitá-lo. Sabia que merecia tudo o que Namjoon estava fazendo e um pouco mais, mas não falaria aquilo em voz alta e ainda agiria como se estivesse surpreso. “Eu estava com medo, sabia? Que você estivesse passando por problemas sérios, porque da última vez eu quase perdi o meu amigo”.

“Eu sei, não eram os mesmos problemas de antes, mas eram problemas de alguma forma- não tão graves quanto você deve estar pensando”, explicou. No passado, quando Yoongi ainda tinha sonhos demais, preocupações demais e amor-próprio de menos, ele entrou em um ciclo doentio de trabalho. Estava se destruindo aos poucos, e, se não fosse por Namjoon, sem dúvidas algo pior teria acontecido na ocasião.

“Então está tudo resolvido agora?”, indagou, referindo-se ao problema mencionado por Yoongi.

“Acho que sim”, respondeu com sinceridade, embora ainda não tivesse muita certeza de como ele e Jimin se comportariam dali para frente.

“Ótimo”, Namjoon soltou com um tom animado, finalmente aceitando a lata de refrigerante que Yoongi lhe levara. Ele bebeu alguns goles com entusiasmo, deixando o mais velho refletindo sobre o que aquela reação queria dizer, mas não foi preciso pensar muito para descobrir. “Só essa latinha não vai ser suficiente, você sabe”.

“Sei, seu sanguessuga, e é por isso que eu tenho um Plano B”, confessou, mas não havia nenhum sentimento negativo em seu peito ou em sua voz.

“Sempre preparado, não é mesmo? E o que vai ser?”

“Próxima vez que nós formos sair, eu pago pelas bebidas”, replicou, ganhando uma risada de Namjoon, tapinhas amigáveis em suas costas e uma oferta que ele não poderia recusar.

“Está com fome? Acho que não consigo comer isso tudo sozinho”.

Assim ele soube que tudo estava bem.

O que Yoongi não podia imaginar, no entanto, era que toda a animação de Namjoon seria contagiante a ponto de todos os seus colegas de trabalho de repente estarem se comportando de forma bastante suspeita.

“O que está acontecendo aqui?”, questionou quando Donghyuk de repente apareceu com um copo de água e o entregou, sem que ele sequer precisasse pedir – e, mesmo que Yoongi pedisse, o máximo que conseguiria ganhar, em condições normais, era uma resposta desaforada.

“Namjoon disse que-”, o outro começou a explicar, sendo interrompido pela mão do homem em questão, que cobrira a boca de Donghyuk para evitar que ele continuasse falando.

“Namjoon?”, Yoongi ergueu uma das sobrancelhas, já imaginando o que havia acontecido.

“Sabe como é...”, Namjoon começou, a título de explicação, mas não foi preciso dizer mais. Yoongi sabia.

Sorte deles que ainda se sentia culpado o suficiente para pagar por bebidas para todos, perdoando deslizes de língua e mesmo atos carregados de todas as intenções que poderiam possuir.

 

 

Era a última vez, Yoongi disse a si mesmo enquanto passava pela porta daquele clube noturno que oferecia como atração especial seus dançarinos, os quais, com o passar da música e dos movimentos sensuais de seus corpos, desfaziam-se das peças de roupa que vestiam.

Estava ali para ver Jay uma última vez – soava como uma despedida, e talvez até fosse uma. Era difícil se imaginar visitando aquele lugar no futuro não apenas pelos acontecimentos de alguns dias antes, mas também pelos pensamentos que teimavam em visitá-lo em horas inoportunas, que o faziam questionar incessantemente, sem que ele conseguisse chegar a uma conclusão.

Estar ali de novo lhe trazia lembranças; algumas não muito agradáveis, como o encontro com o ex-namorado de Jimin. A conversa que tivera com o passado do mais novo noites antes conseguia assombrar sua mente vez ou outra, e era provável que fosse a grande causadora de todas as suas digressões de pensamento – Yoongi suspeitava ainda de que aquele fosse o motivo principal de sua visita àquele lugar. Ali dentro, no entanto, tudo só se tornava ainda pior.

“Você está de volta...”, foi a primeira coisa que Seokjin disse quando o viu deslizar sobre um dos bancos, acomodando-se ali. O barman não parecia estar feliz em vê-lo novamente, mas também não parecia como se estivesse prestes a atirá-lo de um penhasco, o que sem dúvidas era um bom sinal.

“Eu só preciso ordenar as ideias”, confessou, recebendo um olhar desconfiado de Seokjin – uma reação como aquela não era melhor que uma ausência de reação, mas era o que ele tinha por enquanto.

“E eu gostaria de mencionar que há poucas coisas que eu não faria para livrar Jimin de uma má companhia, acho que é meu dever informar”, Seokjin afirmou com um sorriso nos lábios que, apesar de ser uma atitude tipicamente gentil, acabara por revelar a ameaça implícita em suas palavras. “Teria mencionado antes se tivesse tido a oportunidade”, ele adicionou, como se estivesse se referindo ao aviso de uma ligação perdida – como se dissesse “alguém ligou pra você, mas uma pena que você não pôde atender” em vez de um “eu vou triturar sua carne e seus ossos se você fizer meu pequeno Jiminie sofrer”.

“Isso é ótimo”, falou mais para evitar que o silêncio o denunciasse. Não que pretendesse machucar Jimin, mas Yoongi tinha dúvidas demais para se sentir seguro.

Seokjin aceitou suas palavras e seu sorriso sem graça, voltando para sua postura habitual de quando estava por trás do balcão, deixando Yoongi de lado depois daquela breve troca de cumprimentos – se é que poderia ser chamada assim.

A espera em si nem era a pior parte, mas era exaustiva mesmo assim.

Jimin– Jay só foi chamado ao palco depois de muito tempo desde sua chegada, e o anúncio do nome fez o coração de Yoongi afundar em seu peito enquanto ele se virava para ver a forma como as luzes piscavam, gerando ansiedade e expectativa em todos que preenchiam o local.

Deixou o banco onde estivera esperando e andou a passos lentos para se juntar à multidão de pessoas que assistia a tudo com empolgação. Ver Jimin subir no palco não era nenhuma novidade, mas ainda assim fez Yoongi se sentir sem ar. Ele emanava uma espécie de brilho próprio, que nada tinha a ver com a forma como sua pele era iluminada pelos holofotes. O brilho de Jimin estava nos olhos, no sorriso contido que se curvava mais para um dos lados da boca, na energia de seus movimentos a cada batida da música.

A música não era o ponto alto da apresentação, tampouco era a ausência de roupas que o corpo de Jimin experimentaria em instantes. Yoongi não sabia se era o único capaz de ver tais coisas, mas o dançarino parecia estranhamente... Feliz.

Não era uma profissão glamorosa, não era uma profissão que rendia muito, e tinha a grande desvantagem de colocar as pessoas à mostra, permitindo que fossem tratadas como um objeto, uma figura de desejo que estava ali para ser consumida pelos olhares cobiçosos dos que estavam na plateia, e, ainda assim, Jimin escolhia ser um otimista, mesmo com todas as coisas que havia enfrentado no passado.

De repente se tornou fácil imaginar Jimin assumindo uma postura defensiva – “paga as minhas contas e eu não prejudico ninguém”, ele diria.

Estava um tanto quanto difícil de entender, e Yoongi preferia quando Jimin comentava sobre o último filme de animação que ele assistiu, quando ele se preparava para defender os ditos filmes dos comentários de desdém do mais velho – e o produtor nem achava realmente que animações eram filmes para crianças, mas gostava de soltar um comentário que denotava tal pensamento, somente para garantir que o outro continuaria falando e falando. Contudo, não era sua vida, era a de Jimin.

Quando Jay terminou, parado de joelhos sobre o palco, respiração ofegante e as luzes piscaram antes de finalmente apagarem para que ele saísse do palco, Yoongi se perguntou como deveria lidar com a mistura de ciúmes e orgulho que inundou seu peito ao vê-lo vestindo tão pouco e recebendo tantos aplausos como se fosse algum tipo de divindade.

“Vejo que está aproveitando o show”, uma voz vagamente familiar falou por perto, e só então Yoongi percebeu que tinha companhia – o tipo ruim de companhia. “Como as coisas estão indo?”, ele ainda perguntou como se os dois fossem velhos amigos que não se viam havia meses. Era possível notar pela forma como as pálpebras dele pesavam e pela forma como as palavras saíam arrastadas que ele devia ter consumido uma quantidade razoável de álcool.

“Por que você está aqui?”, Yoongi questionou em vez de responder. Imaginava que ele fosse uma daquelas pessoas que, mesmo tendo sido o pior tipo de parceiro, acabavam assombrando a vida do outro após o término, como se fosse a verdadeira vítima da ausência de compaixão alheia. “Descobriu tarde demais o quão importante é a pessoa que você tinha ao seu lado? Deve ser difícil lembrar que foi você que expulsou ele da sua vida, não é?”, falou o mais alto que conseguiu, mal reconhecendo a própria voz naquelas palavras, na animosidade inesperada de seu tom.

“O que você sabe?!”, o outro questionou com um nítido ar de desprezo. Fazia Yoongi sentir vontade de apagar aquele sorriso arrogante a tapas, mas ele era uma pessoa civilizada afinal.

“O suficiente”.

“Você está mentindo”, e, dizendo isso, ele riu debochado.

“Você pode pensar o que quiser, mas lá no fundo você sabe que é verdade”, rebateu. Não tinha que provar nada a ninguém, especialmente se era alguém que disse todas aquelas coisas para Jimin. “Eu ainda não sei quais suas intenções, mas seu tempo acabou. Jimin seguiu em frente e sem você”, adicionou antes de virar de costas e andar na direção dos banheiros. Sabia que poderia ser seguido, mas o mais importante era estabelecer uma distância entre eles, para não ter que ouvir mais nada; para cortá-lo de uma vez de suas vidas, embora o corte final só Jimin pudesse fazer.

Mas Yoongi nunca chegou a realmente impor uma distância segura. Num instante ele estava se afastando, a passos firmes, confiantes. No instante seguinte ele estava sendo puxado pelo ombro, sendo atingido no rosto com um golpe certeiro que o fez perder a noção de quem era e de onde estava.

As pessoas haviam aberto um espaço ao redor deles, assustadas com a demonstração de violência repentina. Quando Yoongi se recuperou, seus olhos se fixaram no causador daquela cena. Ele iria deixar passar, deixar que os seguranças se encarregassem de retirá-lo do estabelecimento. Era o melhor a se fazer, disse a si mesmo. Poderia até tomar alguma providência sobre a agressão sofrida, seria interessante saber o que ele faria acaso suas atitudes tivessem consequências mais sérias. Entretanto, apesar de civilizado, Yoongi estava desejando apenas uma desculpa.

“Obrigado por ter sido o primeiro a partir pra agressão física”, disse com um sorriso que poderia ser descrito como amedrontador antes de avançar na direção do rapaz que o encarava com um desafio escrito em suas feições.

 

 

Yoongi não teve a oportunidade de desferir mais que dois socos, sendo atingido pelo punho fechado do outro mais uma vez. Logo eles estavam sendo separados por Jimin e mais alguns seguranças que apareceram no local, alarmados pela reação das pessoas que presenciaram tudo em primeira mão.

Alguém segurava os braços de Yoongi por trás, puxando-os em direção às suas costas, impedindo-o de voltar a acertar Choi Eunsuk, como ele finalmente havia descoberto que o outro se chamava. Este estava recebendo o mesmo tipo de tratamento que o produtor.

Jimin havia aparecido no local e bloqueava o corpo de Yoongi com o seu, apoiando as duas mãos sobre seu peito, com um olhar duro na face bonita. “O que pensa que está fazendo, Min Yoongi?”, ele perguntou com os dentes cerrados, ignorando os gritos que Eunsuk lançava na direção deles dois – ofensas que só faziam o sangue de Yoongi ferver ainda mais.

“Eu estava tendo uma conversa com esse otário, anda, me deixa concluir o que foi começado”, pediu, mas ouvir as próprias palavras fez Yoongi perder muito de seu entusiasmo em continuar a dita “conversa”. O olhar de Jimin e a forma como ele se colocava à sua frente também o desencorajavam e eram ainda mais efetivos que ouvir seu “eu-beligerante” falando.

“Peço para que se retirem desse estabelecimento nesse instante, ou vamos ser forçados a chamar a polícia”, o segurança que segurava Yoongi anunciou, notando que este já se encontrava mais calmo, capaz de ouvi-lo afinal.

“Você devia acompanhar seu namorado pra casa”, a voz de Seokjin se fez ouvir por cima de todo o barulho, e, a princípio, Yoongi não entendeu a quem se referia ou a quem se dirigia, até ouvir a voz de Jimin novamente.

“Eu vou te levar pra casa”, anunciou, exatamente como sugerido pelo outro. Tinha um olhar de preocupação, e só então Yoongi deu a devida atenção à sensação de incômodo perto de seu olho – provavelmente a área estaria inchada e roxa na manhã seguinte. Mas incômodo maior era o arrependimento que tomava o lugar de toda a coragem de antes.

“Não precisa, eu sei como voltar”, rebateu bruscamente, mas a verdade era que preferia voltar sozinho, sem causar mais nenhum problema para Jimin – já bastava os que já havia provocado com a irracionalidade de seus atos até aquele momento.

“Isso não está aberto para discussão, e você perdeu qualquer direito de dizer alguma coisa quando partiu para a violência, agora vem”, Jimin adicionou, segurando-o pelo braço e o puxando até o lado de fora. “Espere aqui enquanto eu pego as minhas coisas”, ordenou quando já se encontravam do lado de fora antes de lançar um último olhar irritado para o mais velho e se afastar.

“Não é como se você me deixasse muita escolha”, murmurou depois de ver a figura do outro desaparecendo pela porta novamente, não contemplando outra alternativa a não ser esperar. Claro, ele poderia ir embora sem dizer uma só palavra e ignorar a situação, mas em nenhum dos possíveis cenários imaginados como decorrência de tal decisão o resultado parecia bom.

A espera não foi longa – Yoongi preferiria que Jimin demorasse um pouco mais, se tivesse que ser sincero. O stripper o encontrou de volta do lado de fora em menos de quinze minutos, com roupas diferentes das que usava pouco antes, sem, no entanto, ter retirado a maquiagem que aformoseava seu rosto – embora fosse verdade que ele ficava mais bonito sem qualquer traço do lápis preto ao redor dos olhos e de todas outras coisas que lhe colocavam na cara.

Em menos tempo ainda eles estavam em um táxi de volta para o apartamento de Yoongi, ambos calados, com Jimin no banco da frente, enquanto o mais velho ocupava o banco de trás sozinho. Sua cabeça pendia para trás a fim de se apoiar sobre o encosto, seus olhos estavam fechados, sua mente concentrada apenas na própria respiração e nos pontos de seu corpo se e encontravam doloridos, a saber: seu rosto e sua mão direita.

Quando finalmente pisaram no imóvel onde o mais velho morava, a primeira coisa que Jimin fez após se livrar da bolsa que carregava consigo e dos tênis, ali mesmo na entrada, foi andar até a cozinha, procurando na geladeira por algo que pudesse colocar no machucado de Yoongi. Este, por outro lado, jogou-se sobre o sofá, descansando o corpo exatamente como havia feito durante o percurso até ali.

“O que aconteceu lá dentro?”, Jimin questionou depois de um tempo, finalmente tendo reunido coragem para falar enquanto se sentava ao seu lado. Ele carregava consigo alguns blocos de gelo enrolados em uma flanela que havia encontrado na cozinha mesmo e levantou a mão, fazendo menção de colocar o arranjo sobre seu machucado.

Não parecia mais tão irritado quanto estava antes, mas não era o Jimin que ele “conhecia” – ou pelo menos não era o lado de sua personalidade que não tinha que lidar com a briga entre a pessoa por quem estava apaixonado e seu ex, em seu local de trabalho. Parecia cheio de dúvidas, de questionamentos, e Yoongi se perguntava se ele estava com medo do que havia visto ou daquilo que não podia ver, as razões por trás dos socos desferidos momentos antes.

Sentia vontade de rir – pela ironia de se ver trocando murros com alguém como se tivesse voltado a ser adolescente, exceto que em nenhum momento de sua vida ele havia se envolvido em brigas por perder o temperamento ou, pior, por sentimentos que ele não conseguia mais controlar. Ele também nunca havia sido pego desprevenido e atingido daquela forma.

Mas ele não havia feito aquilo por Jimin.

“Eu não fiz aquilo por você”, falou, em vez de responder à pergunta feita, pois sabia que Jimin não queria os fatos – estes ele já tinha, já os havia presenciado. Os motivos, por outro lado...

“Eu não disse que foi”, Jimin rebateu prontamente, dando sinais de sua própria irritação, algo que Yoongi nunca pensou que veria, não no mais novo. Suas palavras foram acompanhadas da pressão mais forte dos blocos de gelo contra o rosto do mais velho, que gemeu de dor. “Então você sabe...”, a expressão, a voz e a mão suavizaram de repente, e foi a vez de Yoongi franzir o cenho, afastando o rosto do arranjo gelado.

“O que eu sei?”, questionou, uma vez que a afirmação do outro era bem vaga, pronunciada sem qualquer preâmbulo ou contexto, capaz de comportar qualquer significado.

“Que aquela pessoa é– era…”, não conseguiu concluir, as palavras ficando presas em sua garganta.

“É difícil não saber quando a pessoa se identifica pra você e se recusa a largar do seu pé”, rebateu, deixando que as memórias trouxessem uma mescla de sarcasmo, aversão e agressividade para sua voz.

“Foi por isso que aquilo começou?”, Jimin perguntou com o cenho franzido, soando incapaz de acreditar no que seus ouvidos captaram. Yoongi não sabia se deveria dizer que ele não tinha exatamente certeza do que havia movido o outro a desferir o primeiro soco – existiam muitas possibilidades, era verdade, mas apontar apenas uma como a grande causadora de tudo… Impossível. Talvez fosse a mistura de todas elas com as circunstâncias; talvez eles só precisassem de uma fagulha afinal, uma mera desculpa. “Só não faça mais isso, eu não gosto de ver você assim…”, ele apontou para o rosto de Yoongi no geral, mas não demorou muito para que ele ficasse com o olhar desfocado, o silêncio crescendo entre eles denso como irídio.

“O que você ‘tá olhando? Por que essa cara?”, Yoongi comentou, vendo o mais novo olhando para ele com uma expressão que não vista antes.

“É que...”, começou a explicar, mas se interrompeu a meio caminho, mordendo o lábio inferior. O produtor podia ver que ele estava pensando, debatendo consigo mesmo sobre se deveria ou não falar sobre o que estava pensando naquele exato momento. Não era um silêncio indicativo de que ele não queria falar, não... “Eu disse que não gosto de ver esses machucados todos na sua cara, mas... você fica realmente... atraente... brigando”.

Yoongi encarou Jimin enquanto se esforçava para acreditar no que havia acabado de ouvir. Primeiro tinha que lidar com o outro reclamando por sua falta de educação e por arruinar a noite para depois ouvir que ele ficava... Atraente?

“Não me diga que isso te excita...”, Yoongi provocou, surpreendendo-se em como sua voz parecia ainda mais rouca e ainda mais baixa. Era para ser apenas uma brincadeira, fruto de sua incredulidade, mas ele gostava da ideia de Jimin o achando atraente. Gostava bastante. Se ele tivesse entendido errado, poderia apenas desconversar e fingir que nada acontecera, mas Jimin não estava exatamente discordando.

O rosto do stripper estava tão ou mais vermelho que um tomate e seria a coisa mais adorável se Yoongi não estivesse tendo dificuldades em lidar com a informação de que Jimin o achava atraente depois de uma briga com seu ex. Como resposta à sugestão de Yoongi, o mais novo apenas acenou com a cabeça afirmativamente, e o produtor sorriu antes de se inclinar para beijar-lhe os lábios com delicadeza, sendo correspondido de imediato.

Não foi preciso mais que uma troca rápida de olhares para que eles se entregassem ao momento. Yoongi conseguia esquecer a dor perto de seu olho enquanto sentia os lábios do outro sobre os seus, cada vez mais ávidos, mais cobiçosos. Afinal ele havia ficado mesmo excitado com toda a ação de minutos antes.

Jimin passou uma das pernas sobre as suas, de modo que seu joelho direito se apoiasse sobre o sofá, ao lado do quadril de Yoongi, ao passo que o joelho esquerdo permanecia apoiado do outro lado. A nova configuração fez Yoongi lembrar-se de outra noite que ficara no passado, quando o stripper havia sentado sobre seu colo daquela mesma forma e tentara executar uma dança sensual.

Daquela vez, o mais novo não estava bêbado e parecia consciente demais do que estava fazendo, a julgar pela forma como se demorou com o corpo suspenso antes de finalmente sentar-se sobre as pernas do mais velho. Yoongi até tentara entender – em meio ao beijo desesperado em que se encontravam – o motivo da hesitação de Jimin, mas todas as peças do quebra-cabeça só fizeram sentindo quando ele parou de enrolar e deixou que seu corpo lentamente se posicionasse sobre o seu: ele estava calculando qual ponto iria causar maior efeito naquela situação e conseguira fazer o mais velho sentir o ar deixando seus pulmões de uma só vez ao senti-lo duro contra sua própria ereção.

Era difícil dizer se Jimin sabia o que havia acabado de provocar em Yoongi. Não havia como julgar pela forma como ele avançara com os beijos em direção ao seu pescoço com naturalidade quando Yoongi se afastara para deixar um suspiro escapar. No entanto, não era difícil perceber que ele estava longe de estar satisfeito, se os movimentos discretos de quadril a que dera início sem sequer perceber era algum indício.

Yoongi deixou que suas mãos passeassem pelas costas do mais novo, avançando para cima até que seus dedos encontrassem os fios de cabelo castanhos e macios. Foi quando Jimin afastou o rosto de seu pescoço.

“O quê?”, questionou. Yoongi notou que ele havia interrompido completamente o que fazia não apenas com a boca.

“Nada importante”, respondeu, em vez de explicar que seu gesto não significava que pretendia interrompê-lo. Ainda assim, Yoongi o puxou para perto, até que suas testas estivessem coladas uma na outra, as bocas tão perto que era possível sentir a respiração dele batendo contra a pele de seu rosto. “Você pode continuar o que estava fazendo, sabe?”, sugeriu e não demorou muito para que Jimin sorrisse.

“O que exatamente?”, indagou com um tom de voz divertidamente sensual. “Eu estava fazendo coisas com partes diferentes do meu corpo...”

Então ele havia notado...

“Eu gosto do que você estava fazendo – com a boca ou com o quadril, não importa”, confessou, arrancando uma risada baixa do mais novo.

“Assim?”, indagou, movendo o quadril lentamente para frente, fazendo Yoongi prender a respiração. “Ou talvez assim?”, provocou, daquela vez movendo o quadril em um círculo que conseguiu arrancar um gemido falho da garganta do mais velho.

“Deus, era assim que você pretendia fazer lap dance no outro dia?”, deixou escapar, já incapaz de manter seus pensamentos só para si.

“Não... isso é algo que eu só pensei em fazer depois de todas as coisas bonitas que você me disse no outro dia...”

“Eu preciso me lembrar de dizer essas coisas mais vezes”, murmurou, puxando Jimin para um beijo, o qual foi recusado. O mais novo virou o rosto, oferecendo seu pescoço no lugar de sua boca, mas Yoongi não pretendia recusar o que de bom grado o outro lhe presenteava.

“Mas não pode ser a mesma coisa de antes e você precisa evitar brigar, hyung… Você vai se sair bem, eu sei disso”, explicou, ofegante, enquanto as mãos de Yoongi avançavam para deslizar sobre a pele da lateral de seu corpo, infiltrando-se por baixo da camisa para tocar a pele macia que recobria a parede sólida de músculos que revestia seu tronco. Ele já havia visto Jimin e abraçado Jimin, mas sentir na palma de suas mãos era completamente diferente, fazia-o sentir vontade de apertar.

“Talvez você esteja criando expectativas que eu não sei se vou conseguir atender”, rebateu, apertando a mão sobre a pele com força e ouvindo um soluço em resposta ao seu gesto.

“Você tem atendido às minhas expectativas muito bem”, foi o que ouviu em resposta às suas palavras.

“E eu odeio brigar, hoje foi a única exceção de uma vida”, afirmou. Não precisava mencionar que ele já havia se metido em coisa pior quando mais novo, aquele tempo definitivamente havia ficado para trás.

Jimin ajeitou-se sobre seu colo, procurando uma nova posição na qual se acomodar, mas o simples movimento foi suficiente para que ele deixasse escapar um gemido com sua voz doce ecoando pela sala.

“Nada contra seu sofá, mas não é melhor irmos pro quarto?”, Jimin sugeriu contra sua boca antes de finalmente ceder aos seus beijos. Yoongi sabia qual o desfecho mais provável para o caminho que seguiam, porém um pequeno detalhe ameaçava atrapalhar a noite.

“Meu quarto seria ótimo, mas...”

“Mas?”, Jimin o incentivou a continuar, afastando-se para encará-lo apropriadamente.

“Não vamos poder ir muito além do que estamos fazendo, eu não tenho lubrificante...”, confessou, sentindo seu rosto esquentar, ao que Jimin começou a rir. “O que foi?”

“Pensei que fosse algo mais sério, eu definitivamente estava preparado para o pior, mas se você não tem lubrificante, ou camisinha, ou sei lá, a gente pode dar um jeito”, ele disse e piscou um dos olhos. “O que acha de um banho? Você pode passar sabonete em mim e...”, sugeriu, interrompendo-se para morder o lábio inferior. Yoongi não precisava de maiores explicações.

“Gosto bastante dessa ideia...”

 

 

Duas pessoas debaixo de um chuveiro não era sinônimo de economia como se poderia argumentar. Ainda assim, Yoongi não conseguia se importar com detalhes como aquele, que pareciam insignificantes diante de necessidades mais urgentes, como Jimin deslizando a mão por seu corpo, estimulando suas terminações nervosas e levando-o ao êxtase, enquanto ele mesmo tentava sentir em sua palma cada centímetro de pele disponível do corpo do outro, provocar as mesmas sensações que experimentava, arrancar gemidos de prazer que eram música para seus ouvidos treinados.

Yoongi achava que seus banhos tinham uma duração razoável, nem longos demais, nem curtos demais. Às vezes ele não tinha muito tempo a perder e acabava apenas se molhando; e não era como se ele nunca tivesse feito sexo no banheiro, apesar dos riscos que acompanhavam a atividade. Mas com certeza aquele fora seu banho mais longo. O tempo parecia passar devagar para sua mente perdida na existência de Jimin, nos olhares que o mais novo lançava em sua direção, nos suspiros que ele soltava de vez em quando, nos beijos molhados que tinham uma pitada de desespero, mas que eram doces e preguiçosos, como se ele não quisesse que aquele momento nunca acabasse – dizer que Yoongi compartilhava do sentimento era atestar o óbvio.

As peles começaram a enrugar devido à umidade excessiva depois de algum tempo, a deixa para que saíssem do banheiro e procurassem um local seco, macio e aquecido onde pudessem ficar. “Vamos acabar logo com isso”, Yoongi sugeriu – sugestão que foi prontamente aceita por Jimin.

Ambos vestiram roupas confortáveis depois de se secarem – Jimin usando novamente peças que pegara emprestadas com Yoongi. Daquela vez, no entanto, não havia necessidade para que dormissem em locais separados, pelo contrário. Deitaram-se tão perto um do outro na cama do mais velho que era difícil acreditar que eles conseguiriam dormir sem machucar um ao outro caso se mexessem durante a noite.

O pensamento não impediu Yoongi de envolver em um abraço o corpo de Jimin, que sorria de contentamento com o arranjo. Tinha a certeza de que, daquela vez, Jimin acordaria em seus braços não por um erro, por uma vontade manifestada durante um estado de inconsciência, mas por um acerto, consciente e livre de arrependimentos.

 

 

Na manhã seguinte, Yoongi entrou de volta no quarto para ver Jimin acordado, deitado preguiçosamente como se não pretendesse levantar do ninho feito de lençóis em que se encontrava. Os cabelos estavam bagunçados contra o travesseiro, o rosto amassado, mas ainda parecia o ser-humano mais atraente que o mais velho tivera a oportunidade de ver em sua vida até então.

Ao vê-lo entrando no quarto, Jimin franziu o cenho. “Não acredito que você me deixou acordar sozinho”, acusou com um tom de voz que denunciava toda a frustração que sentia. Yoongi entendia aquele sentimento, embora desconfiasse que acordar com um Jimin ao seu lado era melhor que acordar com um Yoongi – acordava consigo todos os dias e chegava a ser desanimador nos piores.

“Eu não reclamaria no seu lugar, eu fui comprar comida”, confessou. Sabia que teria que fazê-lo mais cedo ou mais tarde, por isso resolvera fazê-lo cedo a fim de aproveitar a companhia de sua visita tanto quanto pudesse depois, ciente de que não precisaria deixá-lo.

“Ainda assim, eu me senti abandonado aqui”, resmungou, fazendo um bico com os lábios que provocou uma reação estranha no peito do mais velho, o qual desconfiava que o coração em seu peito havia crescido de tamanho e se recusava a permanecer preso naquela limitada caixa torácica – além de, claro, bater sem qualquer controle, pronto para sair dali se preciso fosse.

Às vezes, quando falava com Jimin, Yoongi desconfiava de que era todo coração.

“Eu posso compensar por isso”, rebateu calmamente, fingindo indiferença, escondendo suas expectativas, mas ele perdeu o controle sobre qualquer fachada que tivesse criado quando viu Jimin acentuar a expressão em seu semblante ainda mais.

“O que você está esperando?”, o mais novo o desafiou. Ao contrário de Yoongi, Jimin ainda conseguia esconder qualquer sentimento por trás da exagerada imitação de aborrecimento, e o que o outro poderia fazer a não ser se render àqueles lábios convidativos?

Yoongi subiu sobre a cama e engatinhou até estar sobre Jimin, aproximando os lábios devagar para beijá-lo inocentemente, para testar se tudo bem usar o gesto como compensação.

“Ainda tá pouco”, murmurou quando o mais velho se afastou, e Yoongi sorriu por notar o hálito com cheiro de menta em vez do natural odor matinal. Talvez Jimin não tivesse achado tão ruim assim acordar sem tê-lo por perto.

Não que Yoongi o culpasse quando havia feito questão de escovar os dentes antes de sair mais cedo, preocupado com o detalhe em um ponto tão inicial do relacionamento.

Reconhecendo as palavras de Jimin como uma ordem para que continuassem, Yoongi o beijou sem pressa, aproveitando para sentir a boca macia com calma, esperando o momento certo para mover os lábios contra os do outro, esperando pelo convite implícito para um beijo mais intenso.

Estava concentrado em sua ocupação, mas nem por isso Yoongi foi capaz de entender como o beijo casto a que dera início se transformara em um beijo pouco inocente em questão de segundos, com suspiros escapando em sua boca sendo substituídos por gemidos baixos e tímidos que ele sorvia sem sequer pensar duas vezes. Os mesmos gemidos foram os responsáveis pelo aquecimento de seu corpo, pela concentração de seu sangue em sua pélvis, pelo aperto do tecido de suas calças. Yoongi sempre demonstrara ter uma fraqueza por sons – alguns, em especial.

Uma das mãos de Jimin foi parar em sua nuca em algum momento, e as unhas arranhavam o local provocando um arrepio em sua pele que logo se transformou no leve estremecimento de seu corpo. Uma risada então interrompeu o momento, e Yoongi precisou se afastar para encarar o rosto do mais novo.

“Você é bem sensível, não é?”, Jimin comentou com o que Yoongi reconhecia como divertimento brilhando nas orbes escuras.

A título de resposta, ele apenas soltou um som de desdém que se assemelhava a um grunhido vindo do fundo de sua garganta. “Se isso é sua tentativa de falar coisas sujas, saiba que você é péssimo”, provocou, fazendo Jimin rir.

“Foi só um comentário, hyung...”, defendeu-se, antes de se inclinar para voltar a beijá-lo.

Daquela vez, no entanto, Jimin tocou seu corpo, conduzindo-o até que fosse Yoongi a estar deitado ao seu lado e sentando-se sobre seu colo, do mesmo modo como havia feito na noite anterior.

“Parece que você gosta de estar no comando, heh”, Yoongi comentou com bom-humor, vendo Jimin endireitar a coluna e abrir os olhos em espanto. “Nunca pensou sobre isso?”, indagou, surpreso.

“Só não pensei que você ia perceber tão cedo”, ele murmurou, fingindo estar indignado e olhando para o lado, um lugar onde o rosto do mais velho não estava visível.

“Eu gosto disso”, Yoongi admitiu, atraindo a atenção dele novamente para si. Viu com desconfiança um sorriso brotar nos lábios volumosos e se perguntou onde havia errado para ter aquele tipo de olhar malicioso voltado em sua direção.

“Não me diga que isso te excita...”, ele murmurou. A repetição das palavras da noite anterior deixou Yoongi sem reação a princípio, até que seus lábios espelhassem o sorriso que estampava o rosto do mais novo.

“E se eu disser que sim?”, questionou com a voz rouca soando ainda mais rouca que o normal.

“Então problema resolvido...”, replicou, mas seu sorriso logo murchou completamente. Yoongi franziu o cenho em uma interrogação muda, ao que Jimin explicou “Quer dizer, eu tinha esquecido que você não tem lubrificante...”

“Quanto a isso”, Yoongi abriu a boca para explicar, mas hesitou. Esperava que Jimin não o achasse um pervertido ou algo pior. “Comida não foi a única coisa que eu comprei enquanto estava fora”, admitiu, sentindo o rosto esquentar sob o olhar curioso e perplexo do outro. Fora uma decisão repentina que tivera ao passar por perto de uma loja de conveniência da vizinhança, depois de notar o quão cedo estava. Não havia pessoas nas ruas ou frequentando estabelecimentos comerciais, exceto por alguns poucos notívagos e pessoas que acordavam com os primeiros raios de sol. Como sempre, havia sido uma experiência vergonhosa, porém necessária, e Yoongi era alguém que aprendera que era melhor estar prevenido.

O olhar de Jimin aos poucos foi mudando, retornando para aquele cheio de malícia de segundos antes.

“Então você tinha planos?”, ele provocou, mas não deu tempo para que Yoongi respondesse antes de retirar a blusa com que havia dormido, revelando o corpo bem definido.

Mas longe de olhar com desejo para o tronco nu a sua frente, Yoongi sentia algo mais.

Admirava o esforço feito pelo mais moço para conseguir atingir aquela forma e se perguntava se era tudo apenas para manter um padrão ou se ele fazia por gostar da imagem que via no espelho.

“O que está fazendo?”, Jimin perguntou, confuso, e Yoongi notou que tocava cada gominho do abdômen do outro com as pontas dos dedos deslizando levemente sobre a pele. Era um toque cheio de reverência, no entanto, espelhando os pensamentos que se passavam em sua mente. O questionamento do outro o fez recolher a mão.

“Eu estava apenas...”, tentou explicar, mas não conseguia colocar para fora as palavras que pareciam tão certas momentos antes. Em vez de tentar forçar sua reflexão a sair, no entanto, optou por expressar suas conclusões.

“Você é maravilhoso”, disse, e percebeu que não era tão difícil assim elogiá-lo.

A reação de Jimin ao seu elogio foi bastante inesperada. Sem dizer qualquer palavra, o rapaz fechou os olhos e respirou fundo – era possível ver o peito se movendo a cada vez que ele inspirava e expirava. Yoongi observava-o com interesse, tentando descobrir pelos pequenos detalhes se eles estavam bem.

“Você não devia dizer coisas assim”, finalmente se pronunciou, não um obrigado, mas uma repreensão que, longe de se assemelhar a uma crítica, soava como um pedido entristecido.

“Mas eu estou dizendo a verdade, Jimin”, retrucou, sem entender. “Você é maravilhoso, não apenas é bonito, como tem um coração bondoso e uma cabeça sensata, então por que eu não poderia dizer coisas assim?”

“Porque assim eu me sinto fraco, quando tudo o que eu fiz até agora foi tentar me fazer de forte...”, respondeu, naquele mesmo tom, ainda de olhos fechados. Já não parecia mais tão confiante quanto momentos antes, já não usava a fachada que Jay o ajudara a construir. Aquele era Jimin em sua forma mais natural, mais pura.

Aproveitando-se do momento, Yoongi inverteu as posições, ficando novamente por cima do corpo do outro, que evitava fitá-lo. Com paciência, distribuiu beijos por toda a extensão da pele desnuda, peito, abdômen e rosto, enquanto repetia para Jimin todos os elogios que conseguia imaginar, tendo a certeza de que ele absorveria a ideia, talvez ele até se acostumasse com aquele tipo de tratamento.

Gravava cada movimento que o outro fazia, em busca de qualquer sinal de desconforto ou de que seus beijos não eram bem-vindos, mas Jimin não mais reclamava, tampouco tentava evitar o toque de seus lábios, o que o encorajou a continuar.

“Hyung?”, Jimin o chamou com a voz saindo estrangulada, como se ele tivesse engasgado com a própria saliva, e o encarava afinal, mas Yoongi não conseguia decifrar o que via ali. “Diz de novo”, pediu com urgência. “O que você acabou de dizer”.

“Que você tem sido bom?!”, indagou, ao que Jimin respondeu com um aceno de cabeça. “Você tem sido tão bom, Jimin”, atendeu, esperando que a compreensão o atingisse como um raio ou algo do gênero.

O mais novo, por sua vez, fechou os olhos novamente e mordeu o lábio inferior enquanto soltava um suspiro longo. Yoongi ainda não tinha certeza do que estava acontecendo, mas suspeitava de que em breve iria descobrir – não como um raio, mas aos poucos.

“Jimin?”

“Hyung, eu quero você”, disse enquanto segurava a mão de Yoongi e a conduzia até que estivesse sobre a lateral de seu quadril. Como por instinto, o mais velho apertou o local, deslizando a mão até que esta estivesse presa entre o colchão e a bunda do outro. “Por favor”, gemeu.

“Eu não sabia que você também tinha fetiche por elogios, Jimin...”, sua voz era bastante semelhante a um rosnado, mas sequer passou por sua cabeça questionar novamente, não quando Jimin o olhava com expectativa.

Yoongi preparou Jimin com dedos trêmulos depois de lambuzá-los com lubrificante e esperar que absorvessem o calor de seu corpo. Sabia que não havia motivos para nervosismo, mas entre a ansiedade e o medo de machucar o outro, tudo o que ele podia fazer era se segurar para não fazer nada errado – e abusar do lubrificante comprado mais cedo, especialmente sobre o material emborrachado do preservativo utilizado.

De posse das informações adquiridas naquela manhã era fácil conseguir uma reação positiva de Jimin. E se Yoongi já havia gostado da experiência da noite anterior, naquela manhã tudo parecia ainda mais intenso, com Jimin arqueando as costas a cada nova investida de seu corpo contra o dele, comprimindo os músculos de um jeito que fazia Yoongi soltar um som que era uma mistura de grunhido e de gemido, o qual harmonizava com o som doce que deixava a garganta do mais novo e que só o incentiva a continuar.

Yoongi sabia que tentar beijá-lo era inútil quando eles mal conseguiam suprir os próprios pulmões com a quantidade de oxigênio necessária para seus organismos. Mesmo assim, ele encostou os lábios aos de Jimin por alguns segundos, murmurando mais elogios contra a boca entreaberta enquanto os olhos do outro, semicerrados e mais escuros que normal, eram atraídos pelos seus.

Notando que Jimin movera a mão para se tocar, Yoongi envolveu a mão dele, acompanhando os movimentos ritmados que ele fazia, cada vez mais rápidos, sem ritmo definido, da mesma forma que seu quadril também se movia.

Jimin juntou suas testas enquanto gozava com um gemido mais longo, mais agudo que qualquer um até então, e Yoongi não demorou a encontrar o mesmo destino, enquanto o mundo girava mais devagar e seu corpo cedia à fraqueza que o orgasmo provocara.

“Você já sabe tanto sobre mim, não acredito que agora sabe também isso tudo”, foi a primeira coisa que Jimin disse, ainda com Yoongi dentro dele enquanto esperava se recuperar o suficiente para se mover.

“Vou usar esse conhecimento com sabedoria”, prometeu com um sorriso fácil em seu rosto, o qual foi capaz de afastar qualquer sombra de preocupação do rosto bonito de Jimin.

 

 

O número de Jimin surgindo na tela de seu celular não era uma ocorrência tão incomum que o deixasse de cenho franzido, mas certamente ver o dito número surgindo na tela de seu celular no meio da tarde era uma ocorrência digna de fazê-lo parar por alguns segundos encarando a tela do celular, com rugas entre as duas sobrancelhas, ponderando se iria atender ou não.

Não importava que o aparelho estivesse no silencioso, as vibrações foram o suficiente para atrair a atenção de Namjoon, que com certeza esperava que ele parasse de olhar para o celular como se ele nunca tivesse visto um daqueles em sua vida e pusesse um fim àquela perturbação.

“Vai ficar só aí parado? Pode ser urgente...”, o mais novo falou quando o celular de Yoongi parou de vibrar somente para recomeçar segundos depois.

“Tem razão”, Yoongi murmurou, saindo de seu transe estranho, e se levantou para deixar a sala, deslizando o dedo sobre a tela tão logo se viu no corredor.

“Tá tudo bem?”, questionou assim que atendeu em vez do usual “alô”. Talvez ele estivesse pensando demais sobre o que era comum ou incomum em seu relacionamento com Jimin, mas era tarde demais para parar com a preocupação depois que ela aparecia.

“Está, sim, eu só queria saber se você vai voltar cedo pra casa hoje, acho que vou precisar de um lugar para ficar”, Jimin falou despreocupadamente, o que só aumentou ainda mais a sensação de inquietação em Yoongi. Como ele poderia precisar de um lugar para ficar e estar bem era um conceito que o mais velho não compreendia, não depois do que havia acontecido noites antes.

“Aconteceu alguma coisa?”, questionou com cautela, bagunçando os fios de cabelo desbotados. Estava se aproximando da escada para o terraço, mas parou por alguns segundos para tentar descobrir através dos pequenos detalhes sonoros na ligação se havia algo que o outro não estava lhe contando. Mas a resposta de Jimin parecia leve, sem a gravidade que problemas costumavam imprimir nas palavras, não apenas na entonação, mas também na escolha do vocabulário empregado.

“Eu explico mais tarde, eu ‘tô atrapalhando, não é?”, desconversou com um sorriso amarelo que era perceptível mesmo que Yoongi não pudesse ver-lhe o rosto ou os lábios.

“Eu... Vou chegar o mais cedo possível”, prometeu antes que Jimin se despedisse rapidamente com um “até mais tarde” e desligasse a chamada, deixando Yoongi parado no meio do corredor, encarando o papel de parede de seu celular como se ali fossem surgir magicamente todas as respostas para as perguntas que aquela ligação provocara.

Foi preciso que Yoongi mandasse mensagens para Jimin, perguntando se ele queria uma carona, mas não houve nenhuma resposta até às seis da noite, quando o mais novo recusou qualquer ajuda que lhe fora oferecida. “Eu sei onde você mora, hyung, não precisa mesmo, só me diga a hora que vai estar em casa, certo?”, ele mandara como resposta, em uma sequência de mensagens e emoticons que era costumeira e até mesmo esperada.

Encontrou Jimin com as costas apoiadas contra a parede ao lado da porta do apartamento onde morava, esperando pacientemente com um sorriso discreto nos lábios e um olhar distante. Segurava a mochila pela alça, mas deixava que o objeto repousasse sobre o chão ao lado d seus pés. Quando ele o notou parado no corredor, endireitou o corpo, virando-se para encará-lo.

“Bem-vindo de volta”, disse, mesmo que ainda estivessem no corredor e fosse inesperado, diferente, considerando que eles não moravam juntos. No entanto era bom ser recebido por alguém que fazia Yoongi acreditar que todas aquelas coisas que atestavam o quão estranha a situação era não importavam de verdade.

“Você esperou muito?”, questionou, avançando para destravar a porta. Sabia que ele mesmo tinha avisado a hora em que sairia da companhia em que trabalhava, mas acabara ficando preso por alguns minutos a mais enquanto revisava uma composição para entregar ao seu chefe imediato – o prazo já havia se esgotado e ele o havia perdido, mas inspiração trabalha de formas inesperadas.

“Não, eu nem vi o tempo passar”, respondeu, acompanhando-o para dentro do imóvel.

“Você me disse que explicaria tudo o que aconteceu”, mencionou, esperando pelas explicações que lhe eram devidas, embora tentasse não demonstrar toda a preocupação que sentia – que sentira desde a ligação de mais cedo.

“Eu não vou mais trabalhar com stripper”, anunciou sem rodeios, fazendo Yoongi fitá-lo com a boca entreaberta.

“O quê-?”, tentou formular uma pergunta sem sucesso. Não conseguia imaginar o que havia ouvido, porque se acostumara com a ideia e era a realidade que ele conhecia. Não pensara em um caminho diverso e, agora que este se apresentava à sua frente, era fácil se sentir perdido.

“Nunca pensei que ficaria lá para sempre, mas nunca pensei muito sobre quando sairia, e até acho que é assim, não é? As pessoas estão sempre mudando e indo atrás de seus sonhos...”

“Entendo...”, foi a única coisa que Yoongi disse, porque era a única coisa que se passava em sua cabeça. Concordava com o que Jimin dizia, discordar, por outro lado, estava fora de cogitação.

“Eu resolvi mudar por mim, porque é a minha vida”, ele adicionou, mais timidamente. “Mas fico feliz que tenha sido compreensivo comigo, acho que era o que eu precisava, saber que eu tinha um apoio...”, a voz dele foi sumindo ao final, como se não tivesse certeza do que estava dizendo, com medo de dizer algo errado. “Então obrigado”.

“Não, obrigado você por ter pensado no que era melhor pra você e por me ensinar coisas valiosas sobre as pessoas”, rebateu, com um suspiro e um sorriso cansado. Estava feliz por tê-lo entendido, por estarem tendo aquela conversa. Jimin era muito mais maduro do que se poderia dizer de um garoto como ele, e Yoongi estava orgulhoso. “Onde você vai trabalhar agora?”, indagou, antes que pudesse pensar se estava ultrapassando limites ou não.

“Eu consegui um contrato temporário pra back dancer de um grupo de ídolos pop através de um amigo e eu tenho outros projetos em que estou trabalhando, então pensei que era hora, você sabe, de me aposentar...”, explicou enquanto brincava com os dedos da mão.

“Então esse é o fim de Jay, hm...”, soltou ao lembrar-se de todas as vezes em que vira o outro lado de Jimin. Saber que não o veria mais no palco – ou mesmo fora dele, quando o mais novo se mostrava confiante e seguro de si – era um tanto quanto triste. Havia muitos pontos positivos no alter ego que poderiam ser levados para fora dos palcos também.

“Não...”, no entanto, foi a resposta que recebeu, como se Jimin estivesse pensando as mesmas coisas que o mais velho. “Jay não pode morrer assim fácil, acho que mais que uma simples máscara, ele faz parte de mim agora, e eu sou muito grato por ter me tornado alguém mais forte graças a ele.”

“Você tem razão”, concordou, feliz por estar errado e por constatar que Jimin talvez nunca fosse deixar de surpreendê-lo com pequenas coisas como palavras tais quais as proferidas em um momento como aquele.

“Será que a gente podia celebrar?”, Jimin perguntou, animado de repente. “Eu gostava do trabalho antigo, mas acho que não é má ideia imaginar que é um novo começo e que é um bom momento para se divertir um pouco?”

“O que você tem em mente?”, indagou como réplica. Não poderia dizer que sim ou que não sem saber no que estava se metendo, mas temia que a sugestão do mais novo, ao contrário de seus pensamentos de segundos antes, representassem uma surpresa da qual ele não iria exatamente gostar. Yoongi podia sentir pelo brilho no olhar que havia algo mais ali, algo oblíquo, astucioso.

Karaokê...”, ele sorriu, confirmando as suspeitas do mais velho de que havia malícia nas intenções do outro.

“Não. Nope. Sem chances, você não quer me ouvir cantar...”, respondeu de imediato, mas o brilho no olhar de Jimin não fraquejou por um segundo sequer.

 

 

“Então…”, Taehyung começou, causando uma estranha sensação de déjà vu em Yoongi. Não importava que eles não estivessem no apartamento compartilhado por Jimin e pelo rapaz que o encarava como se estivesse prestes a transformá-lo em sua presa – isso é, se ele fosse um filhote de algum dos felinos maiores, porque não era exatamente capaz de intimidar, mas era óbvio que ele estava se preparando para algo. “Teleporte, telecinesia, invisibilidade, imortalidade e manipulação de matéria: se fosse para escolher só um desses poderes, qual você escolheria?”

“Essa é uma daquelas perguntas de novo, uh?”, questionou mesmo que soubesse a resposta para a pergunta. Foi impossível não olhar para Jeongguk, o qual estava sentado ao lado de Taehyung compartilhando o mesmo lado da mesa que este, a fim de ver a reação dele, de tentar descobrir se eles tiveram alguma discussão antes daquele momento sobre a resposta menos adequada para os padrões do outro. “Telecinesia”, respondeu depois de pensar por algum tempo, percebendo uma expressão de quem considerava a resposta minimamente decente estampada no rosto de Taehyung.

“Na escala do quão legal você é baseado nas respostas dessa pergunta, você está no segundo nível mais alto, hyung”, ele o informou com um tom solene.

“E qual seria o primeiro?”

“Imortalidade”, anunciou satisfeito consigo mesmo, achando-se muito esperto. Mas havia muitos motivos para imortalidade não ser tão legal quanto Taehyung provavelmente estava pensando.

“E por que eu fiquei logo em segundo se o pior é imortalidade?”. Ao ouvir isso, a expressão de Taehyung mudou para uma de completo horror. Seus olhos se arregalaram, a boca pendeu entreaberta enquanto ele emitia um som que se assemelhava ao de um carro cujo motor parava de funcionar subitamente. Yoongi até tentou controlar a sentimento de diversão que aquela situação provocara em seu peito e até conseguiu evitar a gargalhada, embora não tivesse impedido que um sorriso curvasse o canto esquerdo de sua boca, o que pareceu ofender Taehyung ainda mais.

Jeongguk, sentado ao lado de Taehyung, já havia desistido e estava curvado sobre a mesa, tentando não morrer sem ar por rir demais.

“Que blasfêmia!!”, Taehyung objetou depois de se recuperar por um momento. “Como você pode dizer algo como isso?”.

“Mas é verdade: já pensou sobre todas as consequências da imortalidade com cautela? Eu faria isso, se fosse você”, Yoongi disse calmamente, observando os lábios de Taehyung formarem um bico. Será que Jimin iria se importar se ele destruísse os sonhos de seu melhor amigo e companheiro de apartamento? “Depois de algum tempo, todas as pessoas que você conhece vão ter desaparecido e você vai presenciar a morte de todas elas…”

“Eu faço outros amigos”, Taehyung replicou, em uma tentativa desesperada de não se dar por vencido.

“Eles vão morrer um dia também”, Yoongi adicionou, como um golpe de misericórdia. Sabia que estava bem perto de ultrapassar todos os limites, mas não tinha dúvidas de que Taehyung reconsideraria seu ranking de poderes. “Se o mundo acabar de verdade um dia, você também não vai desaparecer junto com o resto da humanidade e vai vagar pelo universo sozinho…”

“Ele tem um ponto”, Jeongguk concordou, para pavor de Taehyung que se recusava a ouvir, alongando a vogal ao pronunciar um “não” demorado.

“Não acredito que você está aterrorizando o Taehyung”, Jimin comentou tão logo entrou na sala do noraebang, depois de acertar todos os detalhes da permanência do grupo no lugar, notando a tristeza na expressão de Taehyung e o ar de triunfo de Yoongi.

“Eu estava apenas tendo um diálogo maduro com ele”, rebateu, controlando o melhor que podia a vontade de rir de seu descaramento, ao passo que Jimin se aproximava para se sentar ao seu lado, tão perto que fazia Yoongi sentir vontade de inclinar-se na direção dele e respirar bem perto da pele do pescoço tentador.

“É mentira, Jiminie, ele está dizendo que eu vou morrer sozinho”, Taehyung rebateu, dedurando o mais velho enquanto se utilizava de uma voz exageradamente dengosa. A voz chamou a atenção de Yoongi novamente para o fato de que ele não estava com sozinho com Jimin. No entanto, longe de se sentir frustrado, ele se divertia com a situação, a qual só ficava mais cômica a cada minuto que passava. Além disso, ele teria tempo para outras coisas com Jimin quando os dois voltassem para seu apartamento – o mais novo ainda iria passar a noite com ele, e Yoongi tinha esperanças.

“Na verdade”, Jeongguk interveio, “é justamente o contrário: você vai viver sozinho”. Tinha um sorriso vitorioso no rosto enquanto Taehyung o encarava com olhos que seriam capazes de lançar raios lasers, se tal fosse possível.

Nesse momento Seokjin irrompeu pela porta, com os cabelos bagunçados e ofegando. “Desculpem o atraso”, ele pediu quando notou os quatro pares de olhos em sua direção. “Eu estava atrás de alguém para me substituir no trabalho”, explicou. Jimin se levantou para abraçá-lo, e Taehyung e Jeongguk interromperam a discussão que travavam para recebê-lo com sorrisos enormes no rosto.

Yoongi, a seu turno, observava o abraço entre os dois amigos com expectativa. Era a primeira vez que encontrava Seokjin depois de todo o acontecido com o ex namorado de Jimin, e ele estaria mentindo se disse que estava se sentindo calmo.

Mas Seokjin, ao olhar para ele, apenas o cumprimentou com um aceno de cabeça e um meio sorriso antes de se dirigir a Taehyung e Jeongguk. Jimin, por sua vez, voltou a se sentar ao seu lado, preocupado com a lista de músicas disponíveis, e assim Yoongi soube que tudo estava bem.

Naquela noite, Yoongi descobriria que era o único que não conseguia exatamente cantar, embora fosse muito bom em raps. Ele se tornou a piada do grupo de amigos, não sendo competição para nenhuma das vozes dos outros – que eram distintas entre si e que foram capazes de deixar o produtor satisfeito. Mesmo assim, mesmo sendo o motivo das risadas na maioria das vezes, ele não poderia lamentar o tempo que passaram naquela sala, recheada com música e risadas – sons que lhe eram agradáveis, especialmente se dentre as pessoas estivesse um certo garoto que o olhava com olhos brilhantes de excitação e bom humor, brilho esse visível apesar de quase desaparecer em crescentes escuros no rosto bonito.

Quando o tempo deles acabou, o clima de euforia permaneceu entre os cinco durante a caminhada até um ponto onde pudessem se dividir em táxis a fim de voltarem para casa. Eles conversavam sobre as músicas que não tiveram tempo de cantar, lembravam os momentos que haviam vivido apenas minutos antes, e talvez fossem capazes de seguirem naquele estado de espírito até o amanhecer.

Jimin caminhava ao lado de Yoongi e gargalhava, escondendo o rosto com uma das mãos enquanto a outra agarrava-se ao braço do namorado, como se fosse o gesto mais natural para ele. Alguns meses antes Min Yoongi teria dificuldades em acreditar que semelhante quadro seria o desfecho de uma de suas noites; não o trabalho, não um clube de strip em Itaewon que tinha dentre seus strippers um dançarino com um corpo maravilhoso capaz de cativar até um produtor que costumava pensar demais e agir de menos, mas também com um coração de ouro capaz de fazer o dito produtor se apaixonar lentamente.

Fazia Yoongi pensar no quanto a vida toma turnos inesperados não apenas por conta do que chamavam “destino”. Às vezes as mudanças acontecem voluntariamente, e as pessoas seguem caminhos não imaginados antes, aventurando-se no desconhecido em busca do que desejam.

Não se arrependia de sair da rota anteriormente estabelecida, fugir da rotina, perder a batida, conhecer algo diferente. Entre vozes desafinadas, ritmo equivocado e corações descompassados, Yoongi havia encontrado uma melodia nova, diferente, mas não menos admirável.

 


Notas Finais


Olá ~~~~

Eu tenho umas boas coisas pra botar pra fora, então talvez fique bem grande, mas espero que possam perdoar o tamanho, caso se interessem pelo que eu ainda tenho a dizer.

Essa nota final está sendo escrita enquanto eu concluo o último capítulo de Fora de Ritmo e, por mais que eu tenha sofrido com vários tipos de pensamentos negativos antes e durante o processo de escrita (especialmente desde o dia 21/01, quando eu publiquei o sexto capítulo, na verdade), eu tenho mais sentimentos conflitantes (e positivos) do que eu pensei que teria.

A consciência de que a história está acabando não me veio quando eu estava escrevendo a última cena - que foi a penúltima cena que eu escrevi. Não veio quando eu coloquei o ponto final onde ele deveria ficar. Está vindo enquanto eu escrevo o parêntese, aquela cena ali da manhã seguinte à confusão com o ex do Jimin. Eu não acho que tenha mencionado nenhuma vez, mas essa foi a cena que deu origem à essa história. Eu sabia que queria Yoongi valorizando o Jimin não apenas pelo corpo que ele possuía/possui, mas por tudo o que ele era/é. O resto, todo o enredo, veio a partir desse momento.

É engraçado chegar ao final de uma história que, pra mim, é bem simples, depois de ter seguido um caminho tão longo. Eu não acreditei que passaria de 20.000 palavras com ela, mas aqui estamos nós, não é mesmo. Mais de 40k. Foi mais de um ano para escrever e concluir - não sem interrupções, claro - mas eu estou feliz.

Primeiro, estou feliz por ter conseguido concluir essa fanfic. Pensei que esse sentimento se devia ao fim da obrigação de escrever e postar, mas não é verdade. Eu estou feliz por ver um trabalho finalizado, porque eu sou o tipo de pessoa que se sente realmente mal com o fato de que eu já fui daquelas que não conclui o que começa.

Segundo, eu estou feliz por ter dado o meu melhor, por ver quanto eu amadureci com ela/por ela, e, mais importante de tudo(!!!), eu estou feliz por ter tido pessoas maravilhosas a acompanhar essa história comigo. E se eu estou feliz hoje, muito se deve a quem favoritou e comentou ou, de alguma outra forma, falou sobre Fora de Ritmo, e eu só tenho a agradecer, MUITO OBRIGADA!!! T__T

Ao mesmo tempo, eu estou triste por ter chegado ao final. Eu não pensei que fosse possível, mas eu estou com os olhos cheios de lágrimas????? Informação inútil, mas, né, vamos deixá-la aqui.

Quanto aos comentários que eu disse que ia responder e eu não estava mentindo, queria mencionar isso. Mas eu realmente fico com vergonha pela demora por responder + demora em atualizar e tudo vira uma avalanche. Dessa vez vai(!!!), porque eu também não gosto de deixar comentários não respondidos ;~; Espero que possam perdoar essa autora guenza viciada em escrever e que tem receio de dizer coisas erradas de vez em sempre.

No mais, eu queria agradecer! De novo, sim: a cada favorito, comentário e menção à Fora de Ritmo por aí. Espero que o último capítulo tenha feito jus à espera, à história e ao carinho que vocês deram para FdR de uma forma ou de outra. Comentários sobre a história/desfecho são bem-vindos, tá bem?!

E eu vou mencionar ainda as duas pessoas que me ajudaram durante essa jornada mais do que elas mesmas imaginam: P. e Y., obrigada por me ouvirem, pelo apoio e por serem minhas cobaias preferidas <3

É isso. Beijos, muito obrigada mais uma vez e, quem sabe, até uma próxima?


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