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História Fiel devoto - Sorte e azar


Escrita por: anaciccone

Capítulo 1 - Sorte e azar


Ela mordeu meus ombros devagar, cravando os dentes na minha carne, soltando o ar quente contra minha pele. Meus olhos se fecharam enquanto eu forçava a respiração para aspirar o perfume dela. Meus dedos se emaranharam nos cachos de Debora, subindo pela nunca da ruiva. Abri os olhos e a encontrei me encarando, com um meio sorriso. Segurou meu maxilar, como tinha o costume de fazer.

 

Eu sorri ao encontrá-la, coisa que só era possível se fazer olhando bem fundo naquele castanho, com muita atenção. Eu já sabia dos obstáculos que ela tinha. Estava treinado em desvendá-la. Já sabia quando olhar. E como olhar. Decifrava as suas tênues nuances. Porque ela deixava. Ela me deixava entrar. A nossa sintonia, as nossas conexões, o nosso timing me permitiu o acesso àquele universo dela. E ela se abriu. E a gente se entendeu. Então eu estava ali, e a via. A enxergava. A encontrei no fundo do olhar cansado e vívido, em uma terça-feira à noite. Como já havia feito antes. E não pretendia parar.

 

Ela murmurou alguma coisa, a voz fraca e manhosa falhou. Mas eu entendia seu corpo e o calor que dele emanava. Minhas mãos a trouxeram pra mais perto, pela cintura, e as mãos, braços e dedos de Debora envolveram meu pescoço, rosto, cabelo. Nossas línguas se encontraram - e não havia nada que pudesse superar nossa saliva trocada, nossas línguas se encontrando. Não havia mágica maior que aquela. Era a concretização do nosso encontro que, sem sombra de dúvidas, era maior que aquilo. Era um encontro de energias. De modos de vida. De pensamento. De arte. Como se a luz dela, o humor dela, os pensamentos, a áurea dela me completassem, completassem meus dias, que passaram a fazer muito mais sentido desde que ela apareceu. Eu passei a fazer mais sentido depois que ela apareceu. E então, esse é meu ponto: Não houve mais um dia sequer em que a energia de Debora não se fizesse presente. Ela estava presente nas músicas, nos acontecimentos, nos símbolos, no trabalho, no trânsito... Não, não eram lembranças. Não eram simples referências que me remetiam à ela. Muito menos novidades que eu simplesmente gostaria de compartilhar com a mulher que amava. Isso também. Mas era mais que isso. Ela simplesmente estava presente em tudo que a vida tratava de me dar. Meu caminho se cruzava com ela, com a energia dela, o tempo todo. Era ela. Minha vida era uma sequencia repetitiva daquela mulher, antes mesmo que eu a visse materializada na minha frente pela primeira vez. Nossos espíritos se pertencem, como se fôssemos feitos da mesma matéria. Portanto, é isso: um beijo como aquele não era simplesmente uma troca de fluídos e sim uma consequência de uma série de acontecimentos que, vistos a longo prazo, observados com certo distanciamento, tratam de se conectar e fazer algum - ou todo – sentido.

 

Poderia justificar minha presença ali, no quarto daquela pequena mulher, como o cumprimento do meu destino (e não deixaria de ser verdade). Mas era ela muito mais que a minha pena, que a minha sentença. Ela era a felicidade e redenção. Era a dona dos meus pensamentos e dos meus atos. E era nisso que eu pensava toda vez que pousava os olhos nela, toda vez que a tocava, toda vez que a beijava, que escutava sua voz, que sentia seu cheiro: em como eu era uma partícula sortuda e abençoada desse grande universo, tendo meu tempo e espaço preenchidos de felicidade, paz e arte - e essas três não são denominações diferentes para a mesma bendita coisa? Minha existência fazia sentido ao lado dela e poder tocá-la comprovava diariamente que a sorte jogava ao meu favor. Eu era nada mais que um fiel devoto. Nem por um segundo ousava reclamar.

 

Ela tirou a roupa, se deitou na cama. O mundo era meu.



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