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História Forever - Tempos Modernos.


Escrita por: littlelotte

Notas do Autor


Amoooooooooooorecos!
Eu tô tão feliz, mas tão feliz de estar postando o início da nova fase. Espero que vocês gostem tanto quanto gostaram da outra e me emocionem ainda mais com seus comentários maravilhosos que me incentivam a continuar escrevendo.
Obrigada por tudo e aqui está o novo capítulo.
Boa leitura <3

Capítulo 15 - Tempos Modernos.


Fanfic / Fanfiction Forever - Tempos Modernos.

"Ontem passado. Amanhã futuro. Hoje agora. Ontem foi. Amanhã será. Hoje é. Ontem experiência adquirida. Amanhã lutas novas. Hoje, porém, é a nossa hora de fazer e de construir."
Chico Xavier.

 

Turquia, 2016.

 

- Você tá toda errada, Elizabeth. Toda errada! Depois de um longo preparo, você finalmente tem uma nova chance e faz esse tanto de escolhas equivocadas? - O cara usando uma espécie de túnica branca falava apontando para mim.

- Será que dá pra você ser mais específico? Eu não tô entendendo direito o que você tá falando...

- Pra início de conversa, Elizabeth, você não tinha que estar na Turquia.

- E por quê não? Vim fazer meu trabalho.

O cara parecia realmente chateado, colocou as mãos na cabeça e depois de respirar fundo, virou novamente para mim e disse:

- Só dá o seu jeito de voltar a tempo para casa, tá certo?

- Espera... voltar a tempo para casa? Como assim?

E antes que ele respondesse, eu ouvi o barulho do toque do meu telefone.

Ah, ótimo, era apenas um sonho. Um sonho bastante esquisito que por sinal, eu tenho tido com bastante frequência. É muito constrangedor ficar de frente para um homem que usa uma espécie de vestido. Seja lá quem for, a escolha de roupas não é muito boa.

Levantei cambaleando da cama e fui procurar meu celular pelas malas, e é claro, não o encontrei a tempo e ele parou de tocar. Mas, cerca de cinco segundos depois, ele tornou a tocar e eu consegui o encontrar. Estava no bolso da minha mala. Olhei na tela e logo imaginei que iria escutar poucas e boas, afinal, era uma ligação da minha mãe.

- Oi mãe! - Disse, depois de respirar fundo.

- Elizabeth, você pode me dizer o que você está fazendo na Turquia logo após o país ter tido um golpe de estado falido e estar nessa confusão toda? - A voz dela parecia desesperada.

- Mãe, esse é meu trabalho...

- Não, Elizabeth. Eles fazem a proposta para você e cabe a você aceitar ou não. Achei que tivesse juízo o suficiente para recusar uma oferta dessa.

- Mãe, eu sou enviada especial, é isso o que eu faço, foi para isso que eu estudei.

- Você estudou para colocar sua vida em risco, é isso que você quer me dizer?

- Eu realmente não estou nada afim de discutir isso com você, tá? Eu vou dar meu jeito de voltar para casa, se isso te deixa satisfeita.

- Eu acho bom mesmo, dona Elizabeth, que você esteja em Londres o mais rápido possível, tá me ouvindo?

- Tô mãe, agora tenho que desligar...

- Tá certo, se cuida hein minha filha, por favor.

- Pode deixar, dona Marga! - Eu disse antes de desligar o celular e cair novamente na cama.

Quando eu tinha meus 14 anos, escolhi minha profissão. Eu estava entrando no ensino médio mas já sabia exatamente o que eu queria. Estava decidida a cursar jornalismo na faculdade a qualquer custo. E foi sinceramente, a melhor decisão que eu tomei em minha vida. O jornalismo é algo que me completa. Ele une minhas maiores paixões na vida (escrever, falar, perguntar e viajar) e eu não poderia escolher uma profissão melhor do que essa. Mas, como nada é perfeito, minha mãe nunca me apoiou muito nessa carreira. Ela até apoiaria o jornalismo em minha vida, se, segundo ela, eu me contentasse em trabalhar em um jornal britânico sendo colunista e recebendo migalhas pelo resto da minha vida. Mas eu sou agitada demais para permanecer sentada em um escritório escrevendo, nunca quis ter uma vida monótona, e isso a deixa louca.

Meu nome é Elizabeth Parker, e eu sou filha de Adrian e Margareth Parker. Minha mãe nasceu e foi criada no Brasil e veio para cá estudar aos 18 anos quando conheceu o meu pai, em uma igreja. Sabe aquele amor de filmes de romance? É exatamente igual ao deles. Chega a ser inacreditável que um amor desses aconteça na vida real. Eles se casaram assim que se formaram na faculdade de direito e minha mãe teve problemas para engravidar. Perdeu 3 gestações antes que eu nascesse, e quando eu nasci, tive alguns problemas e fiquei internada por algumas semanas. Quando eu tinha quatro anos de idade, voltei para o hospital sem conseguir respirar direito e com muitas dores nas costas, além do coração extremamente acelerado, fui novamente internada e descobriram meu problema: arritmia cardíaca. Só não souberam explicar para meus pais como eu, uma criança de 4 anos, aparentemente saudável, tive uma crise de arritmia cardíaca. As suposições foram problemas de nervos, mas fizeram todos os exames e não acusaram nada, nem mesmo no eletro ou na ressonância. Fiquei quinze dias internada para o tratamento e depois que saí daquele hospital, minha mãe, que já me mimava, começou me tratar como se eu fosse um verdadeiro bibelô. Ela sempre foi super protetora e por mais que ela tenha motivos para isso, eu nunca fui uma pessoa, digamos assim, fácil de se lidar.

Nasci no interior da Inglaterra, em uma cidadezinha chamada Derbyshire, mas com 7 anos meus pais se mudaram para a capital, Londres. No início, obviamente foi um choque, eu estava acostumada com a calmaria e de repente me vi no meio da agitação da cidade que nunca dorme, foi bastante difícil de me acostumar com a rotina da cidade grande. O único lugar em Londres que sempre me trouxe paz, por algum motivo que nem eu mesma sei, é o Green Park, que é um dos parques reais daqui, e em minha opinião, o mais lindo. Desde que cheguei a Londres, é meu lugar preferido, meu verdadeiro refúgio.

Cursei Jornalismo na University of Westminster e me formei aos 21 anos. Hoje, aos 24, trabalho com fotojornalismo. E qual é a minha rotina? Bem, minha rotina é viajar pelo mundo fotografando. Isso mesmo, fotografando. Eu vou lá, faço a fotografia e vendo para os jornais. Parece algo simples, mas não é. Dentre os lugares que eu já fui e quase matei minha mãe do coração, eu posso citar Iraque, Irã, Sudão, Paquistão, Síria e agora, Turquia.

Minha mãe gostaria que eu me estabelecesse em algum lugar do mundo, casasse e tivesse filhos, mas eu sinceramente não sei se eu quero isso. Eu tenho uma espécie de relacionamento desde a época da faculdade, com o Isaac que é um cara gentil, amável, um verdadeiro cavalheiro que agora está trabalhando em um jornal em Paris, mas eu nunca vi seriedade no nosso relacionamento. Nunca me senti completa ao lado dele. É, cheguei no ponto certo, eu não me sinto completa ao lado de ninguém. É como se, de alguma forma, eu soubesse que tem algo ou alguém faltando na minha vida, mas eu nunca me deixei pensar sobre isso por muito tempo. Apenas vivo o presente e espero que um dia consiga todas as respostas para tantas perguntas que eu carrego dentro de mim desde sempre.

Não tenho mais motivos para continuar aqui na Turquia porque o golpe de estado faliu e isso significa que por enquanto, pelo menos, as coisas continuarão normais. Não me resta outra alternativa a não ser voltar para casa, para a alegria de minha mãe.

Ouço o telefone tocar novamente enquanto preparo minhas malas, ele já está em mãos então o atendo:

- Lizzie! Onde você está?

- Isaac, acredita que pensei em você ainda hoje?

- Acredito! Mas diga, onde você está? Quero muito te ver.

- Bem... - eu disse, dando uma risada.

- Ah, tá brincando né Elizabeth. Você não está em Londres, né?

- Cara, eu tô na Turquia!

- É muito difícil ver uma fotojornalista, não é mesmo?

- Sim, pode ter certeza. Mas já estou arrumando minhas malas para voltar pra Londres.

- Que bom, vou tentar te ver. Eu cheguei bem adiantado aqui pra ser bem sincero. Vim fazer a cobertura de um clássico de futebol, se você chegar a tempo pode vir comigo.

- Você sabe muito bem que essa coisa de esportes não é muito a minha praia, não é?

- Ah, deixa de ser chata, vai ser uma boa oportunidade para nos vermos!

- Tudo bem, tudo bem... É muito chato ter um casinho com um jornalista esportivo!

- Casinho? É isso que eu sou para você? - Ele disse, fingindo uma voz de tristeza.

- Sem DR pelo telefone, por favor...

- Tá certo, te espero aqui em Londres.

- Até breve... - E desliguei o telefone.

Arrumei minhas malas, abri meu notebook e adiantei meu voo pelo site da companhia aérea e mandei um e-mail para Rose, minha melhor amiga, com quem eu moro, avisando que iria chegar antes que o previsto. É sempre bom avisar que estou chegando antes para não ter que entrar na minha casa e ver uma cena desagradável, como já vi uma vez, quando voltei antes do combinado e peguei ela e o namorado quase pelados na sala. Foi traumatizante, sério.

Peguei minhas malas, paguei minha despesa no hotel e peguei um táxi direto para o aeroporto. O voo seria direto, sem escalas, graças ao bom Deus. Dentro de algumas horas eu estaria em casa e só de imaginar que eu finalmente poderia tomar uma ducha relaxante na minha própria casa, já me sentia melhor.

Assim que entrei no avião, apaguei completamente. Só acordei quando a aeromoça anunciou que dentro de 15 minutos estaríamos aterrissando.

***

No aeroporto de Heathrow, finalmente em casa, peguei o trem para chegar no centro de Londres e ir para meu apartamento. Quando cheguei em casa, tudo estava silencioso. Deduzi que Rose não estava lá.

Larguei minhas malas de qualquer jeito na sala, corri para meu quarto, tomei um longo banho de ducha e me joguei na cama. Foi quando eu tive um sonho estranho...

Era eu mas não era eu ao mesmo tempo. Ok, isso foi bastante louco e é difícil de se explicar, mas nem eu mesma consegui entender direito o que eu vi no sonho. Existem duas hipóteses: Ou era realmente eu, ou era alguém muito parecida comigo. Com os mesmos cabelos longos, ondulados e pretos e os olhos azuis. A única diferença é que ela usava roupas de época e corria atrás de um homem de cachinhos, coisa que eu não faria em hipótese alguma. Imagine só, eu, Elizabeth Parker, correndo atrás de homem? Sempre levei muito a sério a minha dignidade. Ela corria atrás dele desesperada, pareciam estar saindo de uma festa.

- O que você quer? - O rapaz de cachinhos olhava para ela ou para mim, não sei ao certo, e gritava essas palavras.

- Eu só quero me explicar... - A versão estranha de mim disse, em meio à lágrimas.

- Quem é você afinal? Por quê fez isso? - Ele perguntava com o rosto vermelho, provavelmente sendo consumido pela raiva.

Antes que eu pudesse descobrir o final dessa história, fui despertada de meu sono profundo, mais uma vez, pelo meu celular tocando. Eu tenho que me lembrar de desliga-lo quando for dormir, porque desse jeito não dá.

- Alô?

- Lizzie, cadê você? - a voz de Isaac parecia distante, havia muito falatório.

- Ai meu Deus Isaac! Me desculpe...

- Ainda tá na Turquia?

- Não, já cheguei há algumas horas, mas deitei pra descansar um pouco e acabei apagando...

- Você não vai me dar um toco, Elizabeth! - havia um tom de brincadeira em sua voz, mas eu sabia que ele não estava brincando, nem um pouco. Não nos víamos há uns três meses.

- O jogo já começou?

- Ainda não, dá tempo de você lavar esse rosto, passar um batom, colocar uma roupa bem confortável e vir aqui me encontrar.

- Não acredito que você vai me tirar de casa. E pra assistir um jogo de futebol. Qual é, Isaac?

- Vamos, Lizzie...

- Cara, tu é insuportável mesmo hein... Eu vou me trocar.

- Tá certo, vou te mandar o endereço do estádio por wpp. Só não demora muito tá? Se não vai pegar apenas o segundo tempo...

- Se eu tiver sorte eu chego aí no final do jogo e me livro dessa tortura.

- Deixa de ser reclamona e vai se arrumar logo...

- Tá certo. Até daqui a pouco...

- Até. - Ele disse e então desligou o telefone.

Respirei fundo, ainda deitada na cama com os braços abertos, totalmente arreganhada. Eu tenho muita consideração por Isaac e por nossa amizade, romance, lance, seja lá o que quer que tenhamos, e é só por essa razão que eu irei a esse jogo. Estou exausta da viagem e tudo o que eu mais queria nesse momento era ficar quietinha na minha casa, deitada na minha cama, tendo sonhos esquisitos e relaxando meu corpo, apenas.

Então, mesmo contra a minha vontade, me levantei e fui para o banheiro. Lavei o rosto e percebi o quão pálida eu estava. Desde que comecei a trabalhar com fotojornalismo para a Magnum Photos, tenho trabalhado muito. A cada semana é um lugar diferente e acaba me faltando tempo de... viver. Não que eu não ame o que faço, mas é realmente cansativo.

Enquanto ainda estava no banheiro do meu quarto fazendo minha higiene pessoal, ouvi a porta da sala se abrindo. Rose havia chegado. Enxuguei meu rosto e fui encontra-la na sala.

- Oi jornalista! - Ela disse, sorridente ao me ver.

- Oi enfermeira. Como andam os plantões da vida?

- Ah Liz, tá um saco! Eu tô tão exausta que nem sei como vou levantar às cinco da manhã pra cobrir um plantão da minha chefe.

- Por quê você não foi sincera com ela e disse "olha, eu tô exausta, não vai dar pra cobrir teu plantão dessa vez, se vira!" ?

- Olha quem fala, a mulher que a cada semana tá em um país diferente correndo atrás de furos de reportagem pra vender em fotos.

Ao escutar sua resposta, eu apenas dei língua pra ela e virei as costas, andando em direção ao meu quarto. Ela me seguiu.

- Chegou há muito tempo? - Disse, entrando no meu quarto após de mim e sentando na minha cama, me observando.

- Não muito, algumas horas. Só deu tempo de cochilar um pouco, até ser acordada pelo Isaac.

- Isaac? Ele esteve aqui?

- Não, ele me ligou.

- Ah sim, mas ele está em Londres?

- Está sim, e tá me forçando a acompalha-lo a um jogo de futebol...

- Mas você odeia futebol.

- Exatamente! - eu disse, pegando duas blusas no cabide e colocando elas lado a lado - Qual a melhor?

- A azul com manga de morcego - Ela apontou para a blusa que eu segurava em minha mão direita - Então quer dizer que você vai assistir futebol hoje?

- Só vou por considereção...

-Sabe o que eu acho engraçado nesse teu relacionamento com o Isaac? - Ela disse, enquanto eu entrei no banheiro para trocar de roupa.

- Não, o quê? - eu gritei.

- Eu nunca te vi falando "vou sair com o Isaac porque gosto muito dele" ou "vou sair com o Isaac porque eu o amo e acho que ele é o cara certo pra mim".

- Você nunca me ouviu dizendo isso porque isso não é o que eu sinto por ele. - Gritei, ainda dentro do banheiro.

- Se não sente isso por ele, por quê insiste nessa história louca?

- Ah Rose... - eu disse, saindo do banheiro e indo em direção ao meu guarda-roupa, pegando um brinco em minha caixinha de músicas - eu já te disse, por consideração...

- Consideração não é amor, liz!

- Mas consideração é consideração. Ah, eu não sei te explicar.

- Não acho certo você ficar se prendendo a alguém sem sentir nada.

- Mas eu não estou presa a ele... A gente só... ah, nos beijamos umas três ou quatro vezes e em duas dela eu estava bêbada, nas outras duas ele me beijou e eu me senti na obrigação de corresponder. Mas o que temos tá mais pra uma amizade, sabe?

- Elizabeth...

- Toda vez que você me chama pelo meu nome é porque vai me dar um sermão.

- Exatamente, vou te dar um sermão, porque é isso que você merece. Você já tentou deixar bem claro para ele que a única coisa que sente por ele é consideração? Pelo amor de Deus, Liz. Não o engane e acima de tudo, não engane seu próprio coração.

- Rose, eu e Isaac nunca seremos mais do que bons amigos. Eu já te disse isso milhões de vezes e vou repetir quantas vezes forem necessárias: apenas o amor mais profundo será capaz de me prender, seja em um simples relacionamento ou até mesmo o matrimônio.

- Liz...

- É sério. E você sabe que eu sou exigente demais. Sou independente, impulsiva, teimosa, marrenta, isso tudo afasta os caras. Mas sinceramente? Eu não me importo nem um pouco. Tenho quase certeza de que terminarei sozinha, então, que mal há deixar o Isaac me dar uns beijinhos de vez em quando?

- Não adianta mesmo te aconselhar não é?

- Não, não adianta. Minha cabeça é mais dura do que a da minha mãe - respondi, rindo.

- Sei bem disso.

- Agora preciso ir, já tô atrasada, Isaac pediu para que eu não chegasse no segundo tempo. Vou lá. Você vai usar o carro essa noite?

- Ah Liz, eu ia usar, mas já que...

- Não Rose, sem problemas, eu vou de metrô, é até melhor pra mim. Te ligo quando sair do estádio, tá certo?

- Tudo bem... - ela disse se levantando da minha cama e me abraçando - Juízo hein!

- Pode deixar! - Disse, retribuindo o abraço e depositando um beijo na testa dela.

O relógio marcava 20:45 da noite e eu estava com muita pressa. Desci os dois andares do prédio antigo em que eu morava com Rose correndo, pois infelizmente, essa velharia não tem elevador.

Já moro em Londres um bom tempo, mas nunca me cansarei de admirar a beleza do bairro de Westminster à noite. O Big Ben iluminado é algo simplesmete espetacular. Saindo correndo pelas ruas mas paro no sinal que está aberto. Já consigo avistar a entrada do metrô do outro lado da rua. Sinto minha bolsa vibrar. Maravilha, olha o celular tocando novamente. Odeio a evolução tecnológica. Reviro minha bolsa, o encontro e atendo a ligação.

- Oi!

- Lizzie, tá aonde?

- Tô indo pro metrô agora...

- Ah sim, eu vou sair e te encontrar lá fora...

Antes de responder, vi que o sinal ficou vermelho e eu, com toda minha pressa, fui andando.

- Tudo bem, te encontro daqui a .... - Foi a última coisa que eu disse antes de ver um clarão bem a minha frente e perder os sentidos.

 

***

 

- Eu sou Rose White, enfermeira do hospital, preciso de uma informação. - Eu disse, assustando a recepcionista, provavelmente pelo desespero em minha face.

- Pois não.

- Preciso saber se uma paciente chamada Elizabeth Parker deu entrada nesse hospital...

- Elizabeth Parker? Hm, deixa eu conferir aqui... - a recepcionista disse, mexendo no computador. Os dedos frenéticos digitando e fazendo barulho naquele teclado, me deixavam ainda mais nervosa.

- Sim! A paciente deu entrada aqui no hospital às 21:15h. - Ela respondeu depois de uns 2 minutos de silêncio.

- E em qual quarto ela está?

- Bem, pelo que eu vejo aqui ela não está no quarto, senhorita Rose...

- O quê? Não está no quarto?

- Não, ela está na UTI.

Ao ouvir essas palavras meu mundo parecia ter sido eletrizado. Eu sai de perto da recepcionista, que ficou me encarando assustada. Não tive voz nem mesmo para agradecer pela informação e por ela ter sido tão prestativa em procurar a paciente. Minha melhor amiga estava internada. Na UTI. Como eu vou contar isso para tia Margareth e tio Adrian? Como foi confirmar para Isaac que ela realmente sofreu uma acidente, depois de sua ligação desesperada para mim? Depois de ele ter ouvido tudo... Céus!

Não consigo acreditar, não consigo.

Sentei em um dos bancos, ainda pensando no que fazer. Foi quando tive um estalo e resolvi procurar o médico responsável pelo atendimento de Lizzie.

Sai andando feito uma louca pelos corredores do hospital até chegar na sessão das UTIs. O barulho do aparelho microprocessado valvular de todas as salas ao mesmo tempo estavam me dando uma agonia inexplicável. Procurei o rosto tão conhecido de Elizabeth pelos vidros das salas e não a encontrava. Parei no meio do corredor, respirei fundo e continuei andando. A cada passo que eu dava, era como se eu estivesse caminhando em direção à morte. Eu não queria perder Liz, ela fora minha melhor amiga desde a infância. Crescemos juntas, minha mãe trabalhava para tia Margareth em Derbyshire e desde então criamos um laço de amizade muito forte. Não podia perdê-la, jamais. Então, enquanto eu me lembrava de quando eu e Liz brincávamos de correr pelos gramados verdes de Derby, eu a encontrei, em uma das últimas salas do enorme corredor. Vê-la daquele jeito era doloroso demais. Seu corpo cheio de fios, seu coração monitorado, um colar cervical em seu pescoço. Eu não conseguiria segurar o choro nem mesmo se eu quisesse. E eu não queria. Precisava colocar para fora toda angústia e o medo que estavam dentro de mim.

Dois médicos estavam dentro da sala e um deles, ouvindo meu choro e percebendo minha presença através do vidro da sala, cochichou algo com seu parceiro e andou em minha direção.

- Com licença... A senhorita é alguma coisa da paciente?

- Sim, sou amiga. Melhor amiga. Dividimos o apartamento.

- Podemos conversar lá fora?

- Sim, claro... - Disse, tentando me manter calma, enxugando minhas lágrimas.

Segui o médico até sairmos do corredor das UTIs e assim que encontramos um local calmo e seguro para conversar, ele começou a falar:

- Bem, sua amiga sofreu um acidente de carro.

- De carro?

- Sim, ela foi atropelada.

- E como ela está, doutor?

- Nada bem. Não vou mentir para você, é...

- Rose.

- Rose. O estado da sua amiga não é muito fácil.

Não consegui responder, apenas olhei para cima, tentando evitar que as lágrimas caíssem novamente, sem sucesso.

- Ela fraturou 3 costelas, teve uma ruptura no baço seguida de uma hemorragia interna que estamos tentando reverter e sofreu uma fratura na cervical.

Arregalei os olhos:

- Fratura... na cervical? - Perguntei, não acreditando no que eu estava ouvindo.

- Sim, ela teve uma lesão na cervical.

- Céus...

- Vejo que você entende o que estou falando.

- Eu sou enfermeira, doutor.

- Então você, como a boa enfermeira que eu creio que é, sabe que não temos um diagnóstico nada bom. Não saberemos se a fratura na cervical chegou a lesionar a medula espinhal enquanto ela não acordar...

- Isso significa que não teremos uma resposta sobre seus movimentos...

- Sim, Rose. Não sabemos até que ponto sua amiga irá sair dessa sem terríveis sequelas.

- Isso seria demais para Liz, não, não!

- Eu sinto muito. Faremos o que for possível. Nosso foco no momento é parar a hemorragia interna.

- Por favor, salvem minha amiga, por favor!

- Eu te prometo, Rose, que faremos tudo o que estiver em nosso alcance!

***

Paris, 20:45.

 

Eu não sei explicar o que estou sentindo ao certo. Um aperto no peito, talvez? Uma angústia sem fim que parece tomar conta do meu coração. É como se eu estivesse pressentindo algo.

A pior parte de morar longe de sua família é essa: você não tem como saber se eles estão bem, se estão seguros.

Sem pensar duas vezes, liguei para minha mãe.

- Alô? - senti um certo alívio ao ouvir a voz dela, alegre como sempre.

- Oi mãe. Tá tudo bem aí?

- Tá tudo ótimo meu filho, fora a saudade que eu tô sentindo né...

- Nem me fale, tô morto de saudades! Quando você e o pai virão me visitar aqui em Paris, hein?

- Em breve, te prometo. Só não vou pra aí agora porque eu e a Cida estamos resolvendo vários assuntos da ação social, mas assim que as coisas se acalmarem por aqui eu corro pra aí.

- Espero que isso não demore muito.

- Eu tô te sentindo meio abatido, tá acontecendo algo, filho?

- Ah mãe, eu liguei só porque eu tô angustiado mesmo.

- Angustiado? E por quê?

- Não sei. É algo inexplicável. A primeira coisa que eu pensei foi ligar pra você pra ver se tá tudo bem por aí.

- Filho, isso se chama saudade. - ela disse e em seguida soltou a risada que eu tanto amo.

- Deve ser... Mas me conta, como tá a Belle? O Abner?

- Estão todos bem, morrendo de saudades de você assim como eu e seu pai.

- A única parte ruim de viver meu sonho é essa, ficar longe de vocês.

- Você não está longe nunca, filho, você está bem aqui, dentro do meu coração sempre.

- E você no meu. Mas sabe, é que nesses momentos de angústia, a gente quer correr pro colo da mãe...

- Olha aqui menino você não me faça chorar não hein! Ah filho... eu vou orar por você, Deus vai aliviar teu coração.

- Ora sim, por favor...

- Eu oro sempre por você, pra Deus te proteger, pra te dar forças, saúde e muita garra em campo.

- Deus tem te escutado direitinho hein mãe.

- Tem sim, ele é fiel sempre. E meu objetivo de oração mais recente é pra você ser convocado pro próximo amistoso da seleção. Mesmo que eu não consiga ir te ver, saber que você está no mesmo país que eu, me dá certo alívio...

- Vai dar tudo certo mãe, Deus é pai, Ele sabe o que faz.

- Sabe sim.

- Agora preciso desligar, vou me arrumar pra sair com os moleques. Te mando notícias quando chegar.

- Tá bom filho. Divirta-se aí. Acalma teu coração hein.

- Pode deixar mãe, fica tranquila.

- Beijos...

- Beijo... - Desliguei o telefone e coloquei uma camiseta pra esperar os moleques chegarem.

Dudu e Gustavo queriam ir a um pub com Lucas e Marquinhos, mas eu, depois desse sentimento de angústia terrível corroer meu peito, não estava mais afim de nada.

Cerca de 15 minutos depois da minha ligação com minha mãe, Dudu apareceu em casa.

- Qual é cara, tu ainda tá nesse estado? Tá pronto não?

- Mano, eu não tô me sentindo muito bem, será que dá pra vocês me liberarem dessa?

- David Luiz não está bem? Eu tô ouvindo direito? O moleque que é só alegria tá mal?

- Pra você ver...

- Que isso, é por causa da Sara?

- Que Sara, rapaz? Já terminamos há meses.

- Então o que é que te deixou assim.

- Não sei, só sei que não tô no clima pra sair.

- Não tô te entendendo, vai furar na noite dos homens?

- Olha, me desculpem mas eu vou sim, sério Dudu, tu me conhece, se eu realmente não estivesse me sentindo mal eu nunca me recusaria a ir encontrar com vocês lá...

- Tá certo então, tu é que vai perder mesmo. Vim só buscar minha carteira aqui em casa, o Gustavo já tá lá.

- Espero que vocês se divirtam.

- A gente sempre se diverte.

- Tô ligado, mas não vão se divertir tanto assim sem a minha ilustre presença, é claro.

- Tu deixa de ser mané, David.

- Só tô expondo os fatos.

- Sai dessa hein.

- Você finge que não se importa mas tá aí todo tristinho porque eu não vou.

- Nossa, tô tão triste, realmente. Já não basta te aturar 24h por dia nessa casa, vou ficar muito triste porque você não vai ao pub com a gente. Tô tão arrasado por causa disso que vou até passar o rodo essa noite.

- Cara, posso te fazer uma pergunta?

- Claro né.

- Tu já foi a merda hoje?

- Palhaço. Fica aí curtindo tua bad, fica. Tô indo lá... - Ele disse, irônico como sempre e em seguida saiu.

Depois que ele saiu, eu fui para o meu quarto e liguei a tv. Fiquei assistindo um pouco de futebol até que dormi. E, pra variar, tive mais um sonho estranho, um a mais para a listinha de sonhos esquisitos que têm me atormentado desde sempre.

Eu estava usando roupas de época. Daí você já percebe o quão estranho esse sonho é. Eu estava em um corredor, enquanto eu andava fazia barulho por causa do chão de madeira em que eu pisava. Empurrei a penúltima porta do corredor e vi um rosto lindo na minha frente, de uma mulher que eu nunca vi em toda minha vida, apenas nos meus sonhos. Não sei seu nome ou se ela já existiu. Dizem que quando sonhamos com pessoas que não conhecemos é porque já a vimos em algum momento da nossa vida, mas não consigo me lembrar de onde conheço aquele rosto. Eu corro até ela e digo:

- O que aconteceu com você, meu amor? - e coloco minhas mãos no rosto dela.

- Depois do desmaio, aquele monstro do Mr Williams me levou ao médico sim, mas então eu apaguei no hospital e acordei aqui, trancada. E ele ainda pediu que me dessem soníferos!

- Eu vou matar esse homem! - Eu disse, nervoso, parecendo revoltado.

- Pelo amor de Deus - Ela disse colocando as mãos em meu rosto, me acalmando com seu toque - Isso não importa mais, o que importa é que você está aqui, e me salvou!

- Assim que soube do seu desaparecimento, o que eu mais desejei na minha vida foi te reencontrar - Eu disse e quando eu ia finalmente beija-la, em um súbito, acordei.

Meu coração estava disparado, o jogo estava nos quinze minutos finais. Me sentei na cama e tentei refletir sobre esse sonho louco. Não fazia nenhum sentido. Deve ser alguma cena de algum filme que eu assisti, só pode. Tentei me acalmar e quando senti que meu coração voltou a bater normalmente, me ajoelhei e orei a Deus, pedindo perdão pelos meus erros, pedindo para que me desse uma boa noite de sono e me guardasse de qualquer mal, tirando a agonia do meu peito. Depois disso, voltei para a cama e me entreguei ao sono.

Eu precisava dormir, precisava descansar para o treino de amanhã, precisava relaxar, precisava, acima de tudo, tirar de dentro do meu peito essa sensação de que algo muito ruim aconteceu, de que tem alguém precisando de mim. Mas a única coisa que eu conseguia pensar antes que o sono me dominasse novamente era o rosto da mulher do meu sonho, e de como ela estava feliz e aliviada por ver a versão antiga de mim, e de suas palavras: "o que importa é que você está aqui, e me salvou!".

 

***

Londres, 04:35.

 

- Você não percebe, não é Elizabeth? - o cara de branco apareceu novamente em meu sonho.

- Como é que eu vou entender se você não me explica? - Falei, indignada.

- Eu não te expliquei? Eu fiz isso durante anos e mais anos. Você se preparou e então voltou e disse que estava pronta, que dessa vez iria ser cautelosa...

- Mas que diabos você tá falando?

- Da tua missão, Elizabeth, tua missão.

- Missão? Euhein, não sou missionária moço, sou jornalista.

- É, você é jornalista mas não deveria estar sendo uma jornalista que viaja pelo mundo.

- Ah é, e por quê não?

- Porque se você continuar assim você nunca vai encontra-lo.

- Encontrar quem?

- Meu Deus, dai-me paciência! - Ele colocou a mão na testa.

- Tá vendo, você não responde minhas perguntas...

- Era pra você saber do que eu estou me referindo, mas eu me esqueci da regrinha básica do esquecimento. Essa regra torna tudo mais complicado, misericórdia!

- Esquecimento? Ham? Que regra é essa?

- Deixa isso pra lá. Agora vamos falar do presente. Você tem noção do por quê está conseguindo me ver?

- Querido, eu não tenho noção nem de quem você é, quanto mais por quê eu tô te vendo.

- Eu sou seu mentor, Rafael.

- Mentor? Quê?

- Mentor, guia, anjo da guarda, chame como você quiser.

- Isso existe?

- Olha, assim você vai me ofender.

- Desculpinha. Então, Rafael, por quê eu tô te vendo?

- Porque você está em coma induzido.

- Eu tô em quê?

- Graças a sua teimosia em sair com o Isaac, você sofreu um acidente e agora está em coma induzido. Parabéns! - Rafael disse, em um tom de ironia.

- Que anjo engraçado eu tenho hein, vou te contar...

- Se você soubesse os esforços que eu tenho que fazer pra te proteger. Eu tive que gastar toda as minhas energias fazendo preces e buscando reforços pra te proteger quando você cismou de aceitar a oportunidade de trabalho na Síria. Você acaba comigo, Elizabeth.

- Me desculpe, eu não pensei que...

- Não pensou que o mundo espiritual existisse e tivesse alguém aqui que foi encarregado pra cuidar de você?

- Você falando dessa maneira parece até que só faz o que faz porque é obrigado.

- Desculpa, não foi nesse sentido que eu quis dizer. É claro que mesmo gostando muito de você, como eu gosto, eu não iria te acompanhar na Síria, no Iraque, Irã e em todos esses países maravilhosos que você foi, se eu não tivesse sido obrigado por forças superiores.

- Valeu pela parte que me toca.

- O que eu quero que você entenda, Elizabeth, é que você precisa seguir seus instintos, não o seu cérebro, entendeu?

- Não, eu não entendi.

- Você encarnou com uma missão, e precisa cumpri-la, caso contrário, voltará diversas vezes pro plano terreno e continuará me dando esse trabalhão. Então toma jeito, quando você voltar a si na terra, lembra de tudo o que conversamos aqui, lembra da tua missão, lembra de não ficar com raiva das coisas que te acontecerem porque tudo que acontece na tua vida é traçado pelo Todo Poderoso, é ele quem manda, a gente só obedece, entende?

- Entendo. O Todo Poderoso que você quer dizer é tipo... Deus?

- Não é tipo Deus, é Deus. Ele te deu uma nova chance de viver coisas maravilhosas, não desperdice isso.

- Não irei desperdiçar.

- Você promete que quando voltar a si você vai se lembrar do que eu te falei e vai fazer a escolha certa?

- Como eu saberei que é a escolha certa?

- Escutando o seu coração.

- Tá certo Rafael, eu prometo pra você que vou fazer a escolha certa.

 


Notas Finais


<333


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