Era uma tarde fria e chuvosa o vento batia em minha janela, eu podia ouvir o barulho da chuva no telhado, e o silêncio que predominava a casa. Tudo parecia deserto e triste. Mike estava na minha frente, sem reação, com os olhos vermelhos de tanto chorar. Aquilo era injusto, me cortava o coração, eu podia sentir a brisa passar sobre meu rosto e me fazer arrepiar aos poucos. Nós não sabíamos se falávamos algo ou se simplesmente continuávamos ali em silêncio, apenas com o som da chuva no telhado, e do relógio que atormentava o tão límpido silêncio. Meu coração se apertou de um modo que senti o ar faltar, e o remorso que me tortura a cada instante.
- Eu sinto muito - falei o mais baixo o possível
- Eu também – olhou-o em meus olhos
- Que horas será o enterro? - perguntei
- Às 15:00, você vai não é? Anna era sua irmã mais velha, ela te amava mais que tudo
- Sim, claro que sim, a culpa é toda minha - chorei em silêncio
- Não, foi um acidente e você sabe que foi disso - tentou me animar, mas a verdade é que Anna deu sua vida por mim.
FlashBack ON
- Anna, é perigoso sair com o tempo assim, chovendo e úmido, ainda mais com essas curvas - reclamei e Mike concordou
- Vocês dois, hein - revirou os olhos - vamos Marie, você precisa ir mesmo com o tempo assim. Anda mamãe nos espera. Venha
- Anna e Marie, cuidado, por favor - Mike sorriu para nós, retribui o sorriso
- Tchau amor, nos vemos em dois dias - gritou Anna. Eu estava com um mau pressentimento. A mesma ligou o carro e andamos cerca de meia hora, eu sentia que algo daria errado e foi isso que aconteceu
- Você está quieta mana, parece nervosa - se eu contasse o porque ela me chamaria de maluca, isso sim
- Só um enjôo, sabe coisa nada haver - meu coração estava apertado, eu sabia o que vinha pela frente
- Hum, a senhorita não anda fazendo...
- Não mana, que isso - finalmente ri, eu esperava que nada de mal acontecesse faltava cerca de 5 km, pra chegar à casa da tia Deise, então eu me sentia um pouco mais calma quando
- Marie - Anna pulou na minha frente me segurando e senti o carro bater em árvore, minha irmã estava ainda me segurando mais parecia inconsciente, o desespero subiu
- Anna Shinoda, responde, responde mana - comecei a chorar, eu tentava a acordar, mas não conseguia, ela havia batido a cabeça na hora de me segurar
- Não, não meu deus não - gritei, procurei o meu celular em todo o lugar e não achava, procurei em minha bolsa e lá estava ele, liguei para emergência, e em menos de vinte minutos eles chegaram, eu não estava tão ferida apenas alguns arranhões, e uns cortes, um médico me ajudou a me retirar do carro que estava com toda a frente destruída, logo após outro tirou minha irmã
- Moço, moço - corri até um enfermeiro - ela vai ficar bem? Ela é minha irmã
- Eu não sei dizer senhorita, somente no hospital - comecei a chorar, eu não podia perder ela, já perdi o papai perder ela não eu não podia. Entrei junto na ambulância que a levariam para o hospital, e um dos enfermeiros fez alguns curativos em mim. Chegamos lá e ela foi direto para a sala de cirurgia eu iria junto, mas o médico me mandou para a observação. Meu coração estava a mil, eu não conseguia controlar as lagrimas, liguei para Mike na mesma hora que sai da observação
LIGAÇÃO ON
- Alô Marie, já chegaram? - ao ouvir a voz de Mike chorei mais ainda
- Mike a Anna... Ela... Mike...
- Marie, o que está acontecendo? - perguntou e pude ouvir ele com tom preocupado
- Sofremos um acidente na estrada Mike, e Anna foi me ajudar e agora está na sala de cirurgia, eu não sei nada dela, por favor, vem aqui rápido - desliguei, me sentei no chão e desabei em choro.
Eu andava de um lado para outro, de lá pra cá, ia e voltava e nenhuma informação de Anna, já tinham se passado duas horas e Mike chegou, quando o vi corri para abraçá-lo
- Mike, eu não posso perder ela - chorei em seu ombro. Ele parecia chocado, abalado, sua cara não era a das melhores, mas garanto que a minha estava pior
- Não vamos perder ela, eu juro que não - beijou minha testa ainda me abraçando - calma meu anjo - falado isso não resistiu e chorou também. As horas iam se passando, e nada de alguém com informações da Anna, meu coração estava apertado, eu sentia que tudo era culpa minha, e tudo era culpa minha mesmo.
- Parentes de Anna Shinoda - uma enfermeira gritou e logo eu e Mike fomos correndo até ela, Mike limpou as lágrimas e perguntou
- Ela está bem? Diz-me que ela está bem, por favor - Mike estava segurando minha mão com força
- Bom senhor... Shinoda? - concordou Mike e ela prosseguiu
- Ela esta com ferimentos seriíssimos, e, bom, ela deseja ver sua irmã - soltei a mão de Mike, e disse a ele.
- Vai dar tudo certo, eu prometo - abracei-o e entrei na sala, e quando vi minha irmã mais velha, a pessoa mais importante da minha vida naquele estado, me partiu o coração.
- Marie? - sua voz saia rouca e fraca
- Anna, como você está? - me aproximei
- Melhor agora, que posso ver que você está bem - sorriu e com todo o cuidado do mundo a abracei
- Você vai ficar bem, eu estou disposta a...
- Shiiiuuuu, ouve isso - fiquei quieta tentando ouvir, mas era somente o barulho da máquina de batimentos cardíacos - Ouviu? É ótimo, né
- Anna do que você está falando? Anna, Anna - olhei na maquina e seus batimentos estavam fracos e ela parecia meio tonta
- Antes de eu morrer posso te pedir uma coisa? - falando isso ela cortou meu coração mais ainda
- Você não vai morrer, Anna você não vai - segurei sua mão
- Não minta para si mesma meu amor, eu preciso te pedir isso. Me ouve, por favor - ela se irritou um pouco
- Fala - tentei conter o choro
- Eu te amo, e amo o Mike, e sei que você sente algo por ele Marie - falou e o remorso foi maior ainda
- Desculpa, mas eu jamais tentei algo com ele Anna, me perdoa - novamente segurei sua mão
- Calma meu amor, eu conheço você e sei que não faria isso - começou a tossir e isso não era um bom sinal - case com Mike, não acharia pessoa melhor pra isso - sorriu meio fraca
- Mas eu... Você... Ele... Eu...
- Promete isso pra mim - fez carinho em meu rosto
- Prometo - beijei sua mão, novamente olhei na maquina que começou a parar aos poucos - Mana, pelo amor de deus não me deixa. Mana! - gritei e sai da sala correndo chamando um médico, Mike levantou de uma das cadeiras sem entender nada e pude ver o medico correndo se aproximando de nós
- O que aconteceu senhorita?
- Minha irmã doutor, o aparelho estava parando - eu não conseguia falar direito devido ao choro, ele rapidamente entrou na sala e abracei Mike, que também estava chorando. Passaram-se alguns minutos, e o medico retornou de cabeça baixa
- Eu sinto muito - meu coração se quebrou
- Não! - gritei no meio do corredor, e cai no chão. Mike sentou ao meu lado também chorando...
FlashBack OF
Ao lembrar de todo ocorrido de dois dias atrás, senti um peso imenso e comecei a chorar. Mike não aguentou e fez o mesmo e deitei no sofá, e continuei a chorar. Mike deitou-se comigo e me abraçou, eu estava passando por um dos piores dias da minha vida, eu já tinha perdido meu pai, e minha irmã, minha mãe morava em outro estado, agora eu só tinha Mike.
- Eu te amo Mike - sussurrei limpando as lágrimas
- Eu também Marie - me abraçou forte, e assim ficamos por algumas horas, até a hora do enterro. Fomos a pé mesmo, está chovendo fraco e o tempo era frio, e meus olhos inchados, eu carregava apenas um buque de suas flores favoritas, e uma foto nossa juntas. Mike segurava minha mão com força, andamos pouco até chegarmos, mas todos já estavam rezando; Mike fechou o guarda-chuva e ficamos abraçados enquanto via uma das únicas pessoas da minha vida indo embora mais uma vez. Passaram-se os minutos e todos já estavam indo embora, menos eu e Mike que ficamos lá, lembramos dos bons momentos com ela, de quando rimos e choramos. A chuva estava mais forte, Mike sugeriu que fossemos embora, então deixei a frente de seu tumulo a nossa foto e suas flores favoritas, fiz uma oração e saímos. O caminho inteiro fomos em silêncio, eu andava pela calçada e lembro quando Anna me ensinou a andar de bicicleta, dos tombos, dos choramingos e das risadas, eu só tenho dezessete anos e já perdi meu pai e minha irmã, eu estava em crise comigo mesma. Chegamos em casa e subi deixando Mike para trás, troquei de roupa e me joguei na cama, dei uma olhada pela janela, lembrei do que ela disse quando papai morreu.
“Confie em si mesma, não deixe nada te abalar. Nem tudo é eterno, amor"
Sorri com essa lembrança, eu sabia que isso não era o fim, ela sempre estaria comigo no coração. Também me lembrei de suas ultimas palavras, "case com o Mike, não acharia pessoa melhor pra isso", eu não faria isso, posso ser louca por ele, mas Anna era minha irmã e mesmo que ela tenha me pedido é errado.
- Ta tudo bem? - Mike se encostou à porta
- Melhor agora - sorri
- Por quê? Lembrou de um momento bom? - sentou-se ao meu lado
- Na verdade, sim. Muitos. - eu já não estava mais chorando, eu sei que perdi minha irmã, mas eu tinha que me manter firme que nem quando o papai morreu
- Eu também, estava pensando nos momentos bons e também sobre algumas coisas por fora - disse Mike olhando pro nada
- No que, por exemplo? - olhei pra ele
- Que nem tudo está perdido - lacrimejou - tenho você ainda - sorriu e as lagrimas caíram
- Eu juro que jamais vou te abandonar - deitei em seus braços e assim ficamos...
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