Voltava para casa da escola com as mãos dadas as do Caleb. Ele usava luvas por causa do frio que já estava chegando. E eu estava com seu casaco. Hoje ele não veio de moto, mas eu não me importo de andar com ele
- Quero saber mais sobre você. – Falei sorrindo.
Ele sorriu de volta e me olhou.
- O que quer saber?
- Tudo. – Meu sorriso não saia de meu rosto.
- Certo. – Ele disse pensando um pouco. – Eu morava em Middleton, mas pouco antes do Paul nascer nos mudamos para cá, para ficarmos mais perto da minha avó. A Julie já tentou converter a família, mas não deu muito certo, pelo menos não para mim. Eu frequentei dos 10 aos 13 anos a igreja, mas não me identificava com as pessoas, sei lá. Lá eu aprendi a tocar cinco instrumentos.
- Sério? – Falei sorrindo. Nunca imaginei que o Caleb tivesse dotes artísticos.
- Muito sério. – Ele disse alisando minha mão. – Violão, baixo, teclado, bateria e flauta doce.
- Só falta você me dizer que canta. – Ri de leve.
- Um pouco. – Ele disse me surpreendendo.
- E a Zara? – Falei tentando não ter ciuminho. – Onde ela entra nessa história
- O pai dela é melhor amigo do meu desde a adolescência. – Ele morgou. – Quando viemos para cá, ele também veio para instalar o próprio consultório médico com meu pai. A mulher dela, a tia Rebecca ajuda no restaurante. Com uns 14 anos eu e a Zara começamos a namorar, a turma da escola ficava de fogo dizendo que a gente combinava, então fomos na onda deles.
- E aí não deu certo? – Perguntei sabendo o óbvio.
- É. – Ele disse cabisbaixo. – Não me arrependo de ter namorado com ela, mas as vezes preferia que eu fosse mais maduro. Ela é da família, e ter que lembrar sempre que a vejo o lixo que eu fui, é chato.
Ok, podemos parar. Já estou ficando com ciúmes.
- E o Tyler? – Falei para ver se ele parava de falar. – Vocês eram amigos, né?
- Sim. – Ele me olhou desconfiado. – A gente estudou desde a pré-escola juntos, mas aí no ensino médio ele foi para o Liberdade, e eu para a escola pública.
Uma longa amizade, hein?
- Por que a amizade acabou? – Falei curiosa.
- Só acabou. – Ele disse, mas eu sabia que ele escondia algo. – Ele fez novos amigos, eu também. Nossos gostos passaram a ser muito diferentes. Foi na escola pública que eu conheci a Naomi. – Ele sorriu. – Ela era dessas super populares, que todo mundo queria ser amigo.
- E ela devia ser horrível. – Sorri.
Ele fez que não com a cabeça.
- Ela era muito maluca. – Ele disse rindo. – Fazia amizade fácil, mas era muito difícil se abrir de verdade com alguém. Tinha um amigo que era maluco por ela.
- E de onde conhece minha mãe? – Falei muito curiosa. Não fazia sentido eles se conhecerem.
Ele ficou tenso.
- Ela é paciente do meu pai. – Ele falou, mas eu não me lembrava da mamãe falar de nenhum médico chamado Jake Hunter. – Sempre que tinha algo no clube do seu pai, ela convidava a família.
- Então... – Engoli em seco. – Você conheceu o TJ?
- An... – Ele pensou um pouco. – A gente se falava pouco, quase não lembro dele.
Provavelmente ele não saberia do TJ agora. Desde que ele saiu de casa a um ano atrás não ouvi mais falar dele, e as vezes tenho medo que chegue alguma noticia a respeito dele e não seja algo muito bom.
- Ele era legal. – Falei sorrindo. – Acho que vocês se dariam bem.
- É. – Ele disse mais quieto, algo tinha acontecido. Ele estava me escondendo bastantes fatos, eu podia sentir isso.
Ele caminhou comigo até a porta da minha casa.
- Não quer ficar para o almoço. – Falei abraçando o corpo dele.
- Meu avô ainda está aqui. – Ele disse me apertando em seu corpo quentinho. – Acho que ele ficaria chateado se eu não fosse almoçar com ele.
- Eu entendo. – Falei me afastando dele.
- Quer que eu passe aqui amanhã cedo para te levar na escola? – Ele disse segurando meu rosto.
- Séria ótimo. – Falei sorrindo.
O papai que estava me levando na escola ultimamente, e sinceramente, o clima que se formava entre nós era bem chato.
- Certo. – Ele disse beijando minha testa. – Até amanhã, então.
Demos um selinho rápido e acompanhei com o olhar enquanto o Caleb se afastava de mim até o portão de entrada.
Entrei em casa e fui até a cozinha. Chegando lá, vi a Dayse pondo a mesa.
- Quer ajuda? – Falei sorrindo e pegando os talheres.
- Alguns sócios do clube virão almoçar aqui hoje. – Ela sussurrou. – Troque de roupa, se vista a altura. Parece que isso é bem importante para o seu pai.
- Fala sério. – Sorri girando nos calcanhares. – Minha farda cor de fumaça não está a altura do evento?
Dayse sorriu balançando a cabeça.
- Aquele rapaz está te fazendo bem mesmo. – Ela disse sorrindo. – Como é mesmo o nome dele, sei que é com K.
- É Caleb, Dayse. – Falei sorrindo.
- Quem são seus pais? – Ela disse curiosa.
- A mãe dele tem um restaurante, o nome dela é Liz. – Falei indo pegar os pratos. – E o pai é médico, cardiologista se não me engano. Ele é o Jake Hunter.
- Aah. – Ela falou surpresa. – Então ele é o filho mais velho dos Hunter.
- Sim. – Falei desconfiada. – De onde você o conhece?
- Ele vinha muito aqui em casa. – Ela disse sorrindo. – Ele e o TJ aprontavam todas. Lembro uma vez que os dois dormiram na grama, porque o TJ tinha perdidos as chaves da casa e eles não lembravam onde o Caleb morava.
- O que? – Falei pasma. O Caleb disse que mal falava com o TJ.
- Eloá. – Minha mãe disse entrando na cozinha com raiva. – O que ainda faz vestida assim? Vá logo se trocar, não estrague isso também.
Respirei fundo.
- Certo, mamãe. – Disse irritada saindo da cozinha.
Subi até meu quarto e peguei um vestido cor de salmão. Não dá para acreditar que o Caleb já mentiu para mim. Mas talvez ele só saiba de alguma coisa e quer me proteger. Ou então aconteceu algo entre ele e o TJ e ele não se sente a vontade ainda para me contar.
Talvez eu deva esperar um tempo e ver o que acontece. Afinal ele nunca me deu motivos para eu desconfiar dele, e isso é bom. Não tem por que eu surtar agora pensando besteira.
Troquei de rouba e prendi uma parte do meu cabelo para trás. Mais a altura do que isso desconheço.
Desci as escadas e percebi que a casa estava bem calma. As coisas eram diferentes sem a Naomi aqui se metendo onde não deve, mas tenho quase certeza que ela irá vim para esse almoço.
Caminhei para a cozinha, mas ouvi meu celular vibrando dentro da bolsa. Caminhei para pega-lo.
Desbloqueei a tela e fiquei achando que podia ser uma mensagem do Caleb avisando que já tinha chegado em casa, mas era mensagem do Tyler.
Tyler: Oi :)
Olhei desconfiada para aquela mensagem. O que você quer, Tyler?
Eloá: Oi.
Talvez eu não devesse responder, mas queria muito saber o que ele queria.
Tyler: Então, quer dizer que você e o Caleb estão juntos? Haha
Então era isso.
Eloá: Não que seja da sua conta, mas estamos quase namorando.
Tyler: Kk legal
Ele também pareceu seco.
Comecei a digitar, mas parei ao ver que ele tinha me enviado um arquivo. Toquei nele e esperei que carregasse, fiquei ansiosa para saber o que era aquilo.
Ao abrir tomei um susto com o que vi. A foto que eu havia mandando a poucos meses atrás para o Tyler. Dava para ver claramente o meu rosto.
Senti minha mão tremer, e a levei até a boca.
Eloá: Você disse que tinha apagado.
Digitei prendendo o choro. Calma, Eloá. Calma.
Tyler: E você disse que queria casar comigo. Planejamos um futuro, Eloá. Que merda.
Eloá: FOI VOCÊ QUEM TERMINOU!!!!
Digitei respirando fundo. Talvez isso fosse só jogo dele para fazer eu me sentir culpada.
Tyler: Eu disse que iria voltar.
Li aquilo e tive uma enorme vontade de rir.
Eloá: Não quero que volte!!! Se você precisava pensar sobre nós, então eu precisava pensar em mim! Não preciso de alguém que tenha duvidas sobre o que sente por mim!
Minhas pernas já estavam fraquejando. Maldita mensagem que resolvi responder.
Tyler: Ah, é? Quando o Caleb te encher de porrada assim como ele fez com a Zara, você me avisa.
Li aquilo e fiquei sem acreditar. Ele só podia estar mentido. É óbvio.
Eloá: Mentiroso.
Digitei ao mesmo momento em que pronunciava essa palavra com total desprezo.
Tyler: Não acredita? Kkk Pergunte a Zara, ela te dirá.
Não vá confiar nele, Eloá. Não vá.
Eloá: Tchau, Tyler.
Engoli em seco. Fiquei olhando minha tela esperando ele digitar um Tchau, rezei para que ele digitasse isso.
Tyler: Se sair eu juro que em menos de cinco minutos todo mundo já vai ter visto sua foto. E a primeira pessoa para quem eu vou mandar é seu pai.
Li aquilo e engoli em seco. Olhei para cima e tentei conter as lágrimas. Meu corpo inteiro tremia.
Eloá: O que você quer? Fala logo!
Digitei com ódio. Ódio de mim e ódio dele.
Tyler: Não tá obvio? Quero você longe do Caleb! Se eu descobrir que vocês tão namorando eu destruo a sua merda de imagem. Alias, posso fazer isso, já que você só é quem é hoje graças a mim.
Eloá: Não posso fazer isso.
Falei deixando uma lágrima escorrer por minha face.
Tyler: Então acho que vou ter que divulgar essa foto. Acha que devo fazer panfletos também?
Prendi o choro com força. Minha vontade era soltar aquele grito que estava preso em minha garganta. Estava doendo e me destruindo a cada palavra nova que o Tyler digitava.
Eloá: Eu vou me afastar do Caleb, tá? Mas aos poucos.
Tyler: Ok ¬¬ Mas acho bom se afastar mesmo.
Eloá: Por que tá fazendo isso, Tyler? Por que?
Tyler: Não fode, Eloá. To ocupado agora.
Ele disse por fim. Fiquei ali parada olhando para meu celular.
O que tinha sido isso? O que merda eu vou fazer agora? Eu não posso perder o Caleb, não agora que eu achei alguém que não me faz sentir um lixo.
- Eloá! – Dayse disse passando por trás de mim. – Sabia que você pode abrir a porta?
Ela disse sorrindo. Guardei meu celular e forcei um sorriso de volta.
Ela abriu a porta e vi dois homens de uns 30 e poucos anos na porta junto com a Naomi.
- Olá. – Dayse disse pegando na mão deles.
- Senhor Bark, Senhor Ning. – Naomi disse olhando-os. – Essa é a filha do senhor Lancaster, a Eloá.
- Olá, Eloá. – O homem magro de cabelos escuros, perdido dentro do terno falou me estendendo a mão.
Eu ouvi o que ele disse, mas parecia que minha mente não processava.
Naomi se aproximou do meu ouvido.
- Cumprimente-o.
Pisquei respirando fundo.
- Olá. – Sorri forçadamente.
Eles sorriram de volta.
- Ela está um pouco cansada da escola. – Naomi disse sorrindo falsamente. – Não é?
- Sim, claro. – Falei engolindo em seco.
Fomos até a cozinha. A mamãe e o papai não paravam de conversar com eles sobre os investimentos. Eu olhava para a salada em meu prato e só jogava os legumes de um lado para o outro.
- Filha. – minha mãe sorriu pegando em minha mão. – A comida não está boa?
Seu sorriso passava calma, mas seus olhos diziam “Come logo essa merda.”
- Eu estou um pouco cheia. – Sorri sem jeito.
- Naomi. – papai falou cortando o assunto. A mamãe estava ao meu lado, mas a Naomi estava próxima ao papai. - Você não se importaria de ir pegar as plantas no escritório?
Percebi que todos já tinham terminado o almoço, menos eu. A Dayse estava em pé perto da pia da cozinha. Seus olhos me observavam preocupados.
- Não, senhor Lancaster. – Ela disse sorrindo. Se levantou e saiu graciosamente da mesa em cima de seus saltos.
- Ela parece muito prestativa. – O Senhor Ning falou.
- Bastante. – Papai sorriu. – A empresa teve muita sorte se acha-la.
- Você teve muita chance. – Falei calmamente.
- O que? – Meu pai disse.
Percebi todos me olhando. Eu disse isso em voz alta?
- Ela é a secretária do senhor. – Falei sem jeito. – Então ela está mais ligada a você do que a empresa em si...
- Sim. – Papai falou sem me compreender.
Senti minha mãe beliscando minha barriga. Olhei para o lado e ela sorria como se nada tivesse acontecido.
A Naomi deu um grito na sala ao lado e ouvi barulho de papeis caindo ao chão.
- Eu ajudo ela! – me levantei rapidamente da mesa, antes que alguém dissesse algo e corri até onde a Naomi estava.
Vi as folhas caídas ao chão. E ela parada sem fazer nada.
- TJ? – Ela pronunciou engolindo em seco.
O que?
Olhei para a porta e vi ele parado lá. Ele segurava um cigarro entre os dedos e sorria de lado.
- Olá meninas.
Sua voz rouca saiu quase que alegre. Eu já tinha me esquecido do quanto a voz dele era grossa. E ele sempre teve o cabelo tão castanho assim?
Não acredito que ele voltou.
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