História Forms of Fear - Tj?

Passei dois meses inteiros só desejando que ele voltasse. E agora que o vejo bem na minha frente mal dá para acreditar, tenho medo de abraça-lo e ser só mais um sonho.

Se bem que a Naomi está aqui, então provavelmente deve ser um pesadelo.

Ele jogou o cigarro no chão da sala e pisou em cima.

- Não vai me abraçar, pirralha? – Ele disse abrindo os braços.

Corri até ele e o segurei com força. Eu ficava abaixo de seu ombro. Não que ele fosse alto, era apenas eu que era bem pequena.

- TJ? – A voz da mamãe soou atrás de mim.

- Você tem muita coisa que me explicar. – Ele sussurrou em meu ouvido.

Me afastei dele e ele caminhou até a mamãe.

- Oi, mamãe. – Ele pronunciou com desprezo.  Olha só, temos visitas.

Ele disse sorrindo olhando para a cozinha.

A Naomi me olhava desconfiada.

- o que foi? – Sussurrei.

- O que ele faz aqui? – Ela disse nervosa.

Pimba. Então é mesmo ela a outra do meu pai.

- Tá preocupada? – me aproximei dela sorrindo. – Quem não deve, não teme.

Entrei na cozinha e vi que o TJ tinha ocupado o lugar da Naomi.

Fiquei parada na porta junto a minha mãe e a Naomi.

- Esse é meu filho, O Timothy. – Papai falou passando a mão nervoso pelos cabelos.

- Muito prazer. – O Senhor Banks disse esticando a mão para cumprimentar o TJ.

- E aí, cara! – Tj apertou a mão do homem. – Tem cara de ser bem rico. Me diz...

Papai sorriu sem jeito e o homem parecia admirado com o TJ.

- Quem tá te dando um golpe? – TJ perguntou pegando os restos do frango na bandeja com as mãos. – Meu adorado pai, ou minha recatada mãe?

- Timothy! – Papai disse se levantando brutalmente da mesa. – Sai já daqui.

- Não precisa se irritar, velho. – Ele se levantou calmamente com um pedaço de frango na mão. – Já to de saída.

Ele passou ao meu lado e soltou um beijo para a Naomi que fez cara feia.

- Para onde vai? – Falei parando-o.

- Pensei em ir para o seu quarto. – Ele não tirava o sorriso do rosto

- Claro. – Sorri, ouvi meu celular tocando. – Vai na frente, eu já chego.

- Beleza. – Ele disse indo até as escadas.

Peguei meu celular e respirei aliviada ao ver que era a Blair.

- Oi Blair. – Falei calma e até um pouco feliz.

- Você é uma mentirosa. – Ela disse me pegando de surpresa.

- O que? – Falei confusa.

- Pensa que eu não sei o que você fez com o Denzel? – Ela disse irritada. – Eu sempre estive ao seu lado, você não podia ter feito o que fez com ele só por ciúmes.

- Toma no cu, Blair! – Berrei atraindo a atenção da Naomi. – Eu já to cheia de problemas e ter  que me preocupar com seus surtos idiotas não será um deles! Ele é só um professor idiota. E se ele terminou com você por causa disso, só lamento, mas sinceramente você tá bem melhor sem ele.

- Escuta aqui. – Ela tentou falar.

- Não! – Berrei. – Escuta aqui, você sua mísera! Fica de putaria com o Connor e depois quer vim choramingar no meu ouvido e descontar sua provável briga com ele em mim. Mas quer saber? Pode se juntar você, aquele professor de merda e o Connor e ir para a baixada da égua, porque eu já to cheia. Pensa que só você tem problemas, sua idiota? Eu passo por coisa bem mais seria do que essa frescura adolescente e você nem percebe porque tá ocupada demais decidindo para quem vai dar essa noite.

- Não acredito que você disse isso. – Ela falou amansada.

- pois acredite. – Falei rígida. – Você se acha uma ótima amiga, mas querida, você não é isso tudo. Passar bem.

- Eloá! – Ela tentou falar, mas eu apenas desliguei em sua cara como ela havia feito dias atrás.

Ao me virar percebi a Naomi, a Dayse, meus pais e seus sócios me olhando parados sem reação perto das escadas.

Passei na frente deles com uma cara bem feia.

- Tenham uma boa tarde! – Disse rude subindo as escadas.

Ao entrar no meu quarto vi o TJ mexendo em minha mesa de estudos.

- O que tá fazendo? – Falei curiosa me aproximando dele.

Nem Tyler, nem Blair nem ninguém vai estragar meu momento com o TJ. Ninguém.

- Não consigo te imaginar estudando. – Ele disse rindo.

- Idiota. - Falei batendo em seu peito.

- Quando vai começar a falar? – Ele disse sorrindo.

- Falar o que? – Disse me sentando na cama.

- Tudo! – Ele pulou caindo deitado ao meu lado.

- Ok. – Disse nervosa. – Vou do começo. Após o ano novo eu comecei a namorar com o Tyler.

- Porra, Eloá. – Ele disse, parecia até muito calmo.

- A gente já terminou. – Falei mexendo no meu cabelo. – Mas eu to com um cara. Caleb. A Dayse disse que você o conhece.

- É! – Ele falou despreocupado. – Cuidado com ele.

- Por que? – Falei curiosa e ele sorriu.

- Ele é um ótimo amigo, mas namorado... – Ele fez uma pausa, pensativo. -  Não acho que ele seja o certo para namorar minha irmã, mas prefiro ele ao Tyler.

- Acho que a outra do papai é a Naomi. – Falei calma.

- O que? – Ele disse se sentando.

- Eu e ela estamos nos dando melhor ultimamente, mas não sei TJ... – Falei confusa. – Não confio nela.

- Tá tudo bem. – Ele me puxou para seus braços.

- E tem a Blair, ela tá com aquele professor. O Tommy Denzel, lembra dele? – Perguntei ouvindo seu coração.

- A mulher dele vai matar ela quando descobrir. – TJ disse.

- O que? – Falei confusa me afastando dele para ver seu rosto. – Ele é casado?

- É. – Ele disse como se fosse óbvio. – Eles têm dois filhos. Um menino que deve tá com uns sete anos, e uma menina de três anos.

Fiquei abismada. A Blair sabia disso? Se souber, ela é uma baita filha da puta.

- Ela meio que fica com o Connor também. – Falei calma.

Ele se aproximou de mim e beijou minha cabeça me puxando para seus braços.

- É bom que você não se contaminou por ela. – Ele disse. – Você é diferente.

Se for pensar direito, acho que eu sou exatamente como a Blair. A diferença é que sei disfarçar bem.

Não era justo fingir para o TJ assim.

- Por que você sumiu? – Falei curiosa e duvidosa.

Ele respirou fundo.

- Eu talvez tenha descoberto quem é a outra mulher do papai. – Ele respirou fundo me deixando eufórica. – E ele para evitar escândalo me mandou para a capital, morar em uma pensão ou algo assim.

- E por que você não fez nada? – Me levantei irritada e animada ao mesmo tempo.

- Tem muita coisa envolvida. – Ele começou a se mexer desconfortável na cama. – Mas eu descobri algumas coisas.

- O que? – Falei animada.

- É melhor eu não te envolver. – Ele coçou a cabeça sem jeito.

- Tá. – Caminhei até a porta irritada. – Você nunca me conta nada mesmo.

- Eloá! – Ele falou aumentando o tom de voz. – Eu sei o que é melhor para você, ok?

Abaixei a cabeça chateada. Não queria brigar com meu irmão justo agora que ele voltou.

- Que bom que você tá aqui. – Falei por fim. Ele sorriu aliviado e me abraçou.

- Timothy! – Papai falou batendo a porta com força e adentrando o quarto. – Qual o seu problema?

TJ revirou os olhos.

- Filho? – Mamãe veio logo atrás. – Nada justifica seu comportamento, querido.

Ele ergueu seus dedos do meio para os dois.

- FODAM-SE! – Ele disse sorrindo.

- Vou arrancar seus dedos. – papai falou indo para cima dele, e ele me usou de escudo.

- Pode vim! – TJ falou.

- Taylor, calma. – Mamãe falou segurando meu pai. – Seu filho voltou para casa, fique feliz.

- Cala a boca. – TJ falou para a mamãe.

Ela olhou para o TJ sem compreender aquilo. Nem eu estava compreendendo.

- Eu vou dar uma volta. – Ele disse saindo de trás de mim. – Eloá, vamos a casa dos Hunter?

- Sim. – Sorri animada. Ele pegou em minha mão e saímos do quarto.

- Eloá! – Papai gritou atrás de nós. – Não ouse sair com ele.

- Vão se foder. – TJ falou me puxando.

Papai ficou parado no topo das escadas. Eu não queria desobedece-lo, mas se fosse para o TJ sumir, eu iria com ele dessa vez. E tenho certeza que não sentiria falta de nada daqui. Nem da mamãe, nem do meu pai, nem a Blair ou o Tyler.

Talvez pudéssemos levar os Hunter e a Dayse conosco.

Ri de meus pensamentos. Eu não deixaria o TJ ir embora. Nunca mais.

Seguia o TJ com medo do que o papai podia fazer. Ele é capaz de muita coisa, e o TJ sabe bem disso.

- A gente não devia fazer isso. – Falei medrosa colocando o

- Que se danem eles dois. – Ele falou dando partida em seu carro.

- TJ. – Falava olhando pela janela a cara do nosso pai. – Isso vai dar muito errado.

- A intenção não é essa? – Ele disse calmo. – Levar eles dois até o limite? Cai na real, Eloá. Eles não vão fazer nada, o máximo é mandarem você para o oeste e eu para o leste.

- Ou então me mandar embora e deixarem você ficar. – Falei olhando chateada para ele.

- Por que diz isso? – Ele me olhou rapidamente.

- Porque quem foi colocada para fora de casa aos nove anos fui eu, não você. – Falei sem expressão. – Era eu quem só via aos meus pais uma vez ao ano.

- A gente não precisa deles. – Ele disse rindo. – Olha só a merda que é nossa família.

- Você não precisa deles. – Falei respirando fundo.

Ele freio o carro e me olhou fixamente em seguida

- E você também não. – Ele pós o dedo em meu rosto. – Acredite em mim quando eu digo que você ter ido para aquele internato foi a melhor coisa que já te aconteceu. Você foi poupada de ver muita sujeira que rola dentro daquela casa. Sua família sou eu, Eloá. Tá?

Olhava em seus olhos, eles não tremiam. Isso não era coisa de momento. O TJ estava falando sério. Ele sabe algo que não quer me contar, se ele contasse, talvez fosse mais fácil para mim.

- E se você for embora de novo? – Falei calma. – Eu fico sozinha de novo?

- Em menos de três meses você faz 18. – Ele disse dando partida no carro. – Se eu for embora de novo, você vai comigo.

O TJ falava como se fosse algo bastante fácil, mas não seria.

Passamos em frente a loja da Ruby, vi o Tyler parado na frente com a Kate. Ela o abraçava com muito carinho. Eu poderia até ter achado fofo, ou algo do tipo, mas na verdade eu só queria que a Kate despedaçasse o coração do Tyler para ele deixar de ser esse maldito filho da puta.

O TJ entrou em uma rua e logo chegamos a casa do Caleb.

Tirei meu cinto e então olhei o TJ.

- O que? – Ele sorriu.

- Como sabia que a casa é aqui? – Perguntei curiosa.

- Ah... – Ele parecia sem palavras. – Eu vim aqui algumas vezes e é fácil de lembrar.

- Sei. – Falei séria.

O TJ não decoraria onde é a casa de um colega. O Caleb não era só um colega, acontecia algo mais.

Desci do carro,  e caminhei até o portão, apertei a campainha e quem nos atendeu foi a Julie.

- Oi amiga – Ela disse sorrindo. – O Caleb tá lá...

Ele olhou para o TJ e fixou o olhar nele. Ele pegou o celular e começou a digitar algo.

- Julie? – Falei chamando a atenção dela.

- É o TJ? – Ela disse com um enorme sorriso.

- Sim. – Falei séria. – De onde você conhece meu irmão?

Não estava fazendo o menor sentido isso. A Julie não se lembraria de um colega do Caleb.

- É que quando eu morava aqui... – TJ falou se aproximando. – Eu era bem próximo da Julie, digamos assim.

- Fale as palavras TJ. – Ela sorriu encostando-se à parede.

- Não. – Ele revirou os olhos.

- Então eu falo. – Ele sorriu. – O destino queria tanto que a gente fosse cunhadinhas que por causa de pouco, eu e TJ não namoramos.

- Ah. – Falei sorrindo. Não dava para acreditar nisso. O TJ e a Julie?

A  Julie não era o tipo do TJ. Esse mundo está louco. Mas eu sabia que não era uma mentira, a Julie não parecia mentir.

- E por que não namoraram? – Falei sorrindo.

- Motivo um: - Ela disse erguendo um dos dedos. – Eu tinha doze e ele 16, meu pai falou: Não, não e não. Motivo dois: O TJ bebia muuuito.

- Ela já entendeu, Julie. – TJ disse revirando os olhos.

- Não acabei. – Ela disse revirando os olhos igual a ele. – E por último, minha amiga achava ele lindo, então eu pensei, já que meu pai não vai deixar eu vou apresentar ele a minha amiga e vejo no que dá.

- E deu em que? – Falei curiosa.

A Julie olhou para o TJ e eu também.

Ele ficou meio desconfiado, mas logo começou a falar.

- Eu namorei por um tempo a amiga da Julie. – Ele disse com a voz doce, o que era raro ele fazer. – Mas aí foi meu pai que veio de não, não, não.

- Por que? – Falei percebendo a tristeza no rosto do meu irmão.

- Porque ele é idiota. – Julie disse irritada. – Entrem, o Caleb tá lá em cima.

Entrei pensando que talvez fosse por isso que o Caleb e o TJ fossem tão amigos. O TJ deve ter passado um tempo atrás da Julie e o Caleb ajudava ou então atrapalhava, mas no fim ficaram amigos. Talvez a Julie seja só alguém de quem o TJ não gosta de lembrar.

Vi o Caleb descendo as escadas, ele estava olhando o celular, não tinha me notado ainda.

- Caleb? – Falei quando ele estava no último degrau.

Ele olhou sério para o lado e a me ver sorriu.

Pulei em seus braços e ele cheirou meu pescoço, me provocando arrepios.

- O que faz aqui? – Ele sorria.

- Tive alguns problemas em casa. – Falei sem jeito.

- Oi TJ. – Caleb disse esticando a mão que não estava em minha cintura até o TJ.

- Olá Caleb. – TJ pegou na mão dele.

- É bom saber que você voltou. – Caleb falou ainda segurando a mão dele.

- Também acho. – Os dois falavam tão sérios um para o outro que chegava a dar calafrios.

- Você tem muita coisa para me contar. – Falei atraindo a atenção do Caleb.

- Ah, é? – Ele sorriu.

- Sim, por exemplo. – Fingir estar pensando. – Por que não me contou que meu irmão quase namorou com sua irmã?

- A Julie já contou. – TJ revirou os olhos.

- Contei por cima. – Julie passou para a cozinha. – O Caleb quem sabe os detalhes.

- O Paul tá em casa? – TJ revirou os olhos. – É bem mais interessante estar com ele do que com um casal abobalhado ou a Julie.

- Eu sou um doce, ok? – Julie berrou da cozinha.

- Claro. – Caleb riu. – O Paul tá lá em cima, lembra o caminho?

- Sim. – TJ disse passando em nossa frente e subindo as escadas.

- Por onde quer que eu comece? – Ele sorriu docemente, me puxando até a sala.

- Pelo começo, de preferência. – Falei rindo.

- Ok. – Ele respirou fundo. – É uma história longa.

- Comece. – Me sentei no sofá cruzando as pernas.

Ele sentou ao meu lado e alisou meu cabelo. Ele começou a contar quase a mesma história da Julie só que dessa vez com mais detalhes, e falando como o TJ fazia de tudo só para estar no mesmo lugar que a Julie, ele até ia a igreja só para vê-la. Isso durou uns seis meses.

Era bom poder ter o Caleb ao meu lado, eu pude por alguns minutos esquecer o que a merda do Tyler está fazendo comigo e focar apenas nele.

As coisas podiam ser tão fáceis para mim agora, mas a vida nunca me permite o fácil.