POV Connor
Noite do Ano Novo
Meu pai tinha alugado o clube da cidade para dar uma festa de fim de ano ou algo do tipo. A falsidade das pessoas aqui me dava ânsia. Ter que falar sorrindo com todos como se eu ligasse para algum dele. Isso não era eu, era meu pai. E sinceramente, eu não quero ser como ele.
Vi o Tyler se aproximando. Pelo menos tinha ele.
- Por que tão distante? – Tyler disse se encostando ao meu lado na parede.
- Tudo isso me da nojo. – Falei olhando os sorrisos falsos de todos. – Prefiro ficar distante disso.
- E a Blair? – Ele perguntou calmo. – Não vem?
- Ela vai virar o ano com a mãe. – Falei e vi o Tyler sorrindo ironicamente.
- Lembra do quatro de Julho? – Ele começou a falar. – Quando você pediu a Blair em namoro e ela disse que não?
- Lembro. – Falei sério.
- A Eloá me disse porque ela não aceitou. – Tyler falava com certeza. – Acredita que foi por causa do professor Denzel?
- Ele deu conselhos de merda a ela? – Falei fingindo não ligar.
- Não. – Tyler riu novamente. – Ele na verdade estava, ou melhor, está pegando a Blair. Acho que seria demais para ela ter que larga-lo.
Fiquei parado sem palavras. O Tyler só pode tá brincando.
- A Eloá disse isso? – Falei rígido.
- Insinuou. – Tyler respondeu.
- Então me diz por que você parece estar tão feliz com isso? – Falei irritado ficando na frente dele.
- Porque a merda de sua namorada está a mais de um ano me chantageando com vídeos que ela possui. – Ele disse com ira na voz.
- O que? – Falei perdido.
A merda de ser amigo do Tyler é isso. Ele tá fudido e não me conta nada, quando chega ao fundo do poço é que me procura.
- Ela... Ela... – Ele pronunciava. – Ela tem um vídeo da Eloise dando pra mim
- E daí, cara? – Falei quase rindo. – Todo mundo transa. E isso rolava antes da Kate.
- O que? – Tyler disse me olhando irritado. – Que merda, Connor. Deixar esse vídeo vazar é sujar a imagem da Eloise. Sabe o que meu pai vai fazer comigo?
- Não, mas sei o que sua mãe vai fazer com seu pai. – Ri, isso era cômico. – Quando ela descobrir que seu pai fez o exame de DNA e descobriu que ela não era filha dele, mas mesmo assim continuou tratando-a como filha e gastando dinheiro com ela. E pior ainda vai ser quando ela perceber que seu pai contou a você e não a ela.
- Dane-se a minha mãe. – Falei irritado. – Meu pai a considera filha, e nada vai mudar isso, nem mesmo o fato deu ter feito isso.
Até hoje eu não entendo porque sou amigo do Tyler. Ele quer dar um de bom moço, mas eu sei que não é bem assim. Ele me conta todo o podre que existe na vida dele, e não é coisa normal, são coisas nojentas.
- Sabe o que é engraçado? – Falei rindo. – Você é hipócrita demais, cara. Tá aí choramingando pela imagem da Eloise, mas até onde eu me lembro você tá fazendo chantagem a Eloá com bem menos.
- Eu terminei com a Eloá por causa da Blair! – Ele disse quase gritando. – Só estou fazendo isso para ter ela de volta. A Blair prometeu que ia me ajudar a tê-la de volta e não tá cumprindo.
- Não vai ter a Eloá de volta assim! – Falei o óbvio.
- E o que quer que eu faça? – Ele disse desesperado. – Fique olhando ela ficar apaixonada cada dia mais pelo Caleb sem fazer nada? Eu tinha que fazer alguma coisa.
Pensei por alguns minutos. A Blair tinha passado dos limites. Chatagear o Tyler é uma coisa, mas não querer namorar comigo por causa da merda do Denzel? Sério isso?
- Vou ver o que posso fazer. – Falei bufando. – Mas se você fizer alguma bosta com a Eloá ou até mesmo com a Blair, pode esquecer a minha ajuda.
- Tá! – Ele sorriu largamente.
- Tenha paciência. – Falei dando alguns passos para longe. – É só o que te peço.
Caminhei até onde meu pai estava. Uma mesa grande com vários homens, inclusive o pai do Tyler.
- Pai. – Falei em seu ouvido.
- Fala com as pessoas. – Ele disse antes que eu prosseguisse.
- Boa noite. – Falei olhando em volta.
- Boa Noite, Trent. – os homens que ali estavam responderam.
- Eu preciso sair. – Disse ao meu pai. – pode me emprestar o carro?
Ele pegou a chave e me entregou. Caminhei até a saída do Clube e entrei no carro.
Flash Back On.
Meu pai se olhava no espelho tentando arrumar sua gravata.
- Que merda. – Ele falava irritado.
- Não entendo por que tenho que ser amigo desse Tyler. – Falei irritado também.
Ele se virou para me olhar.
- O pai dele é dono de firmas bem grandes. – Ele apontou para mim. – Vocês dois se aproximando será ótimo para nós. Assim que eu me lançar na política, ele irá me apoiar.
- Então é pela influencia dele e o dinheiro? – Ri seco.
- É muito além disso, Trent. – Ele se sentou ao meu lado. – A gente enfim vai poder ter a vida que sua mãe sempre sonhou para você. Você terá tudo novo, será o primeiro em qualquer lugar.
Digamos que a vida não é muito legal com a gente. Meu pai a cada mês praticamente esta em um emprego novo. Não tem grandes lucros e por isso desde pequeno minhas roupas são doações, e a comida é lucro quando a temos.
Até que esse ano ele virou motorista da firma do pai do Tyler. Os dois se aproximaram, o senhor Dylan é um cara legal. E meu pai usou a oportunidade para falar de seus sonhos de entrar na política, e agora o Sr Dylan está o ajudando.
Mas pedir para eu ser amigo do garoto que me empurrou aos nove anos numa poça de lama em frente a escola só para me humilhar por eu não ter mãe, aí já é demais.
Ele podia ter tirado onda o quanto quisesse com minhas roupas rasgadas, ou meu sapato que estava com buracos na sola, mas falar da minha mãe como forma de me humilhar, isso foi a gota d’agua.
Eu sou grato ao senhor Dylan, afinal ele está pagando para eu estudar no melhor colégio da cidade, mas ao Tyler eu não devo nada.
- Eu sei que quando vocês eram pequenos tinham problemas. – Meu pai pós o braço sobre meu ombro. – Mas vocês já têm doze anos. Cresceram.
- O que quer dizer com isso? – Falei direto.
- Quero dizer para você dar uma chance ao rapaz. – Ele se levantou. – Ele nem deve lembrar disso.
- Mas eu lembro. – Falei irritado.
- E eu peço que esqueça. – Ele disse. – Se não quiser fazer isso por mim, faça por Alice, ela ficaria feliz.
Alice. Ele falava da minha mãe como se a conhece bem, mas eu sei que não a conhecia. A vovó sempre me contou de forma clara o homem horrível que ele era com ela.
- A mamãe nunca pediria para eu ser amigo de uma pessoa como ele. – Falei me levantando e saindo daquele apartamento.
Eu faria amizade com o Tyler, pelo meu pai. Mas nunca vou esquecer o lixo que há dentro dele
Caminhei até as escadas e acabei batendo de cara com uma garota. Ela caiu de um lado e eu do outro. Me levantei rapidamente e fui ajuda-la.
- Você tá bem? – Segurei ela e a puxei para cima.
- Não, seu louco, podia ter me matado. – Ela disse séria me deixando um pouco assustado.
- Me desc...
- Para disso. – Ela sorriu. – Eu to só brincando, é claro que eu to bem.
- Ah. – respirei aliviado. – Eu pensei que você fosse uma dessas garotas malucas que surtam por tudo.
- Vê isso! – Ela ergueu as mãos me mostrando suas unhas enormes com exceção de uma que parecia ter quebrado. – E eu nem morri quando ela quebrou.
Ri junto dela. Ela tinha uma risada calma.
- Você mora por aqui? – Falei animado.
- Meu pai foi transferido para Westport há três dias, e como não tínhamos tempo a perder, viemos para cá, mas é por pouco tempo. – Ela sorria.
É claro. Era bom demais eu encontrar uma garota tão legal assim na mesma classe social que eu. Ela devia ser rica.
- Seu pai faz o que? – perguntei curioso.
- Meu avô é dono de bancos, e abriu um aqui há pouco tempo, então mandou meu pai para trabalhar nele. – Tinha que ser. – E você?
- Meu pai é motorista. – Falei um pouco envergonhado.
- Que legal! – Ela disse espontânea.
Abaixei a cabeça sem assunto e sem jeito por estar perto de uma garota tão bonita sem ser tratado mal.
- Você estuda onde? – Ela perguntou e eu a olhei.
- Ganhei uma bolsa esse ano na Liberdade. – Falei.
- Que legal! – Ela sorriu mais ainda. – Eu vou para lá também! E é muito legal saber que não vou ficar sozinha porque já tenho um amigo.
Sorri sem jeito.
- Vai por mim. – balbuciei. – É melhor você fingir que não em conhece, eu não sou o tipo popular.
- Que grande besteira. – Ela revirou os olhos. – A gente pode até se juntar para derrubar a classe dominante.
Ri dela, parecia que ela quase não pensava em nada as vezes.
- Eu moro no apartamento 202. – Ela disse sorrindo. – Podia ir lá amanhã pra gente jogar vídeo game ou então fazer outra coisa.
- Claro. – Falei animado. – Seu pai não vai dizer nada?
- Ele vai ficar feliz ao ver que fiz um amigo. – Ela sorriu.
Não parecia que era difícil para ela fazer amigos.
- Me diz seu numero, assim eu te ligo. – Ela propôs.
- Eu não tenho celular. – Falei sem jeito.
- Ah... – Ela pensou por um instante. – Então me fala em qual apartamento você mora que amanhã mesmo apareço lá e te arrasto para minha casa.
Sorri com aquilo novamente.
- Moro no 103. – Falei. – Meu nome é Trent.
Ela esticou a mão e pegou na minha.
- Eu sou Blair. – Ela sorria tanto que suas bochechas chegavam a serem rosadas.
Flash Back Off
E aqui estou. Em frente ao prédio que há cinco anos atrás conheci a Blair. Algumas semanas depois disso ela se mudou para o Centro, mas ela e sua mãe sempre vinham me buscar para eu passar as tarde na piscina enorme da casa delas ou na sala de jogos.
Não demorou muito até meu pai ser eleito e a gente se mudar para uma casa grande e boa. Cheia de empregados. Ele passava o dia fora de casa, e a Blair era minha única companhia.
A gente começou meio que a namorar, não sei se aquilo era namoro. Ela foi o meu primeiro beijo e eu fui o primeiro beijo dela, éramos desengonçados.
Na escola todo mundo falava com a gente. Ela me ajudou a ter alto confiança, e como eu era filho do prefeito todos me respeitavam agora. Até o Tyler.
O pai da Blair foi assassinado a dois anos atrás e desde então ela mudou. Ficou seca, não sorria mais, mal me beijava. E foi então que ela terminou comigo. Nunca entendi o porque. A gente voltou a ficar depois disso, mas não era a mesma coisa, era como se a paixão que ela sentia por mim, tivesse acabado. Mesmo eu ajudando ela com tudo, ela ainda assim me trata como um nada.
Eu ainda amo a antiga Blair e acredito que ela ainda exista, mas essa nova Blair não foi pela qual eu me apaixonei.
Desci do carro e caminhei até dentro do prédio que tinha paredes fedendo a mijo.
Elas agora moravam no 120, e era estranho entrar na casa dela e não ter mais o pai dela por perto. Eu odiava vim aqui, fazia com que eu me lembrasse da minha infância, o que era algo que eu detestava.
Subi as escadas e ao chegar em frente a porta da Blair percebi que estava muito quieto lá dentro. Bati na porta e quem me atendeu foi sua mãe.
Ela agora trabalhava em dobro para ganhar menos da metade do que tinham antes.
- Trent. – Ela falou surpresa. – Já veio deixar a Blair?
- O que? – Falei perdido. – Eu não entendi, senhora Clarck.
- A Blair me disse que passaria a virada do ano com você. – Ela disse um pouco preocupada.
- A senhora pode ligar para ela? – Pedi já imaginando com quem ela estaria.
- Claro. – Ela deu espaço para que eu entrasse na casa e foi pegar o telefone.
Ela discou o numero e esperou andando de um lado para o outro.
Eu olhava o pequeno apartamento.
- Filha? – Ela disse calma. – Onde você está?... Não, o Trent está aqui em casa comigo... Claro. – Ela olhou para mim. – A Blair quer falar com você.
Peguei o telefone e fiquei quieto.
- Connor? – Ela disse por fim.
- Você tá com o Denzel, né? – Falei simples e ela ficou quieta.
- Que Denzel? – Ela tentou fingir, mas a preocupação em sua voz a entregou.
- Eu sei de tudo, Blair. – Falei chateado. – E quer saber? Cansei de esperar pela antiga Blair. Você pode tentar o quanto for, mas nunca vai voltar a ser como antes.
- Achei que você já soubesse. – Ela disse calma.
- O que? – Falei sem entender.
- A antiga Blair morreu há muito tempo. Se tá sendo difícil para você me ver assim, imagina pra mim?
- Você que não quer mudar. – Falei controlado por a mãe dela estar ali.
- Mudar? – Ela riu. – Eu já mudei.
Ela estava certa. Desliguei o telefone e o entreguei a senhora Clarck.
- O que ela disse? – Ela me olhava preocupada.
- Ela está bem. – Falei sem jeito e me dirigi até a porta.
- Não minta para mim, Trent. – Ela falou baixinho. – Você sabe melhor do que ninguém que ela não está bem.
Sim, eu sei.
Girei a maçaneta e sai da casa sem dar resposta nenhuma.
Desci às escadas as presas e entrei no carro. Eu sabia bem o que faria agora.
Parei o carro na esquina para que ninguém visse que eu estava aqui. Fui até o fundo da casa e vi a janela do quarto da Eloá. No lado da sacada existia alguns detalhes na parede que tornavam fácil a escalada.
Subi por eles e ao pular na sacada não vi nada dentro do quarto da Eloá, a cortina estava tapando tudo.
Bati na porta de vidro duas vezes até que escutei a voz dela.
- TJ? – Ela disse assustado.
- Não, é o Connor. – Falei sério. – Posso entrar?
Ela puxou as cortinas e me olhou confusa. Seu rosto estava inchado. Ela abriu a porta para que eu passasse.
- O que faz aqui? – Ela disse dando espaço para eu entrar no quarto dela.
- Eu sei o que o Tyler tá fazendo com você. – Falei e ela me olhou assustada. – Sei das fotos e das ameaças.
- O que? – Ela quase gritou. – E o que você quer? Quer entrar na onda dele, é isso?
- Não. – Falei bruto. – Quero te ajudar.
Ela me olhou desconfiada e foi até a cama. Se sentou e começou a olhar os pés descalços.
- Ajudar como? – Ela disse como uma criança indefesa.
- Eu vou te contar uma coisa, mas você não pode dizer a ele que sabe, nem a ninguém. – Olhei para ela. – Posso confiar?
- Pode! – Ela disse animada.
- A Eloise não é filha do Dylan. – Falei e ela me olhou surpresa. – O Tyler sabe, mas a Ruby não.
- E o que isso tem haver comigo? – Ela disse tentando fingir que não estava impactada.
- A Blair tá ameaçando o Tyler com isso. – Falei me sentando ao lado dela. – Ele só começou a ficar contigo porque ela o ameaçou. Ele só terminou contigo porque ela o ameaçou também. Se ele não faz o que ela pede, corre o risco de todo mundo ficar sabendo que o Eloise não é filha do Dylan, e se isso vazar o casamento dos pais do Tyler pode chegar ao fim.
- Então, para parar o Tyler... – Ela disse pensativa.
- Temos que parar a Blair, primeiro. –Completei.
- E como a gente faz isso? – Ela disse curiosa.
- Preciso que você confie em mim. – Falei já sabendo bem como resolver tudo isso. – Eu vou resolver isso na primeira semana de aula, mas até lá você precisa ter calma.
- Por que tá me falando isso? – Ela disse olhando para baixo. – Nem vai precisar de mim.
- Porque todo mundo tá escondendo as coisas de você. – Respondi sincero. –Você tá desarmada e perdida nesse jogo. Achei que seria melhor alguém te contar algo.
- Obrigada, Connor. – Ela disse sorrindo. Acho que foi a primeira vez que ela sorriu para mim.
- Relaxa. – Segurei a mão dela que estava bastante fria.
Ela me abraçou e fiquei sem reação. A abracei sem jeito. Nunca imaginei que a Eloá pudesse ser tão sensível assim.
O primeiro fogo estourou no céu e pude ver o brilho dele pela porta de vidro do quarto da Eloá.
Algo me diz que esse novo ano não será o melhor
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.