História Forms of Fear - Verdades a tona

O Caleb estava me levando em casa. Já passava das 18hrs da noite. Ele, a Poliana, a Gwendoly, o Pietro e eu saímos para almoçar no restaurante da mãe do Caleb. Ela me olhava diferente, com certeza estava me julgando pelo que aconteceu, se é que ela sabe o que aconteceu.

Quando voltamos o Connor e o Tyler não estavam mais no hospital. A Kate tinha acordado e a Blair estava em um dos quartos com ela. Assim que a Blair pediu desculpas, eu acho, ela foi embora.

A Kate ficou bem atordoada quando viu a gente lá. Acho que ela não esperava que algo assim pudesse acontecer. Ou eu aparecer lá. Ficamos conversando um pouco com ela e quando percebemos já estava tarde.

Ela não é tão ruim assim. Não falamos do Tyler em nenhum momento e ela não trocou farpas comigo. Ela está pensando em voltar para Dane, não pretende mais voltar a escola. As meninas deram apoio moral a ela ara ela ficar, mas se fosse eu no lugar dela, faria o mesmo.

A humilhação é tão amarga e dolorosa que vale mais a pena desistir do que enfrentar os problemas.

Convidei o Caleb para entrar em casa comigo. Ele aceitou.

- Sua mãe está com raiva de mim, sim. – Falei fazendo drama.

- Claro que não. – Caleb sorriu.

- Caleb? – TJ falou jogado no sofá assistindo algo na televisão. – Você por aqui?

- Não sou bem vindo? – Caleb sorriu pois sabia bem a resposta.

- Eloá! – Naomi disse vindo do escritório até onde eu estava.

- O que? – Cruzei os braços e revirei os olhos.

- Você disse que voltava na hora do almoço. – Ela parecia preocupada. – Sua mãe agora quer matar você e eu.

- Drama. – Revirei os olhos novamente.

- Eloá? – Minha mãe falou descendo as escadas. – Onde você estava?

- Falei que ia ao hospital ver minha colega. – Falei calma pelo Caleb estar ali.

- E disse que voltava na hora do almoço! – Mamãe falou irritada e a Naomi se encolheu.

- Tive um imprevisto. – Falei e foi então que ela percebeu que o Caleb estava lá.

Ele parecia desconfortável com a situação.

- Então é por causa disso? – Ela riu. – Se você aparecer nessa casa grávida é bom arrumar um novo teto.

- MÃE! – Falei nervosa e até envergonhada.

Percebi o TJ bufando.

- A gente não... – Caleb tentou falar, mas ela o interrompeu.

- Não me importa, Caleb. – Ela disse com um tom diferente para ele. – Eu não o culpo por minha filha ser afoita.

- A GENTE NÃO TAVA FAZENDO NADA! – Gritei irritada.

- CLARO QUE NÃO! – Ela gritou da mesma forma que eu. – E EU SOU ALGUMA IDIOTA?

- Senhora Lancaster. – Naomi disse.

- Não estou falando com você. – Minha mãe respondeu indignada.

Naomi engoliu em seco e parecia estar se segurando para não dizer nada.

- Já chega, mamãe. – TJ falou se levantando.

- A Eloá precisa escutar isso. – Ela falava me irritando cada vez mais. – Você pensa que as pessoas não falam de você nessa troca de namorados?

- Troca? – Falei quase sem acreditar.

- Não dê uma de idiota. – Ela falou respirando fundo.

- Idiota é você! – Gritei. – Meu pai te trai embaixo desse teto e você nem liga! Porque tá ocupada demais para perceber isso! E quer saber eu não culpo o papai, você bem que merece.

Ela bufava, mas eu não me importei, continuei de cabeça erguida.

Ela ergueu a mão para me bater, mas não sei como, o TJ chegou rapidamente ao lado dela segurando seu pulso.

- Já chega. – Ele disse irritado.

- Já não bastava eu ter que lidar com essa problemática. – mamãe disse olhando para o TJ. – Agora eu tenho que lidar com essas loucuras de traição, assim como você dizia.

- Ela é sua filha, merda. – TJ falou sem alterar a voz.

O Caleb segurou minha mão com força. Já tinha esquecido que ele estava aqui.

- Eu sinto muito. – Sussurrei para ele.

- Tá tudo bem. – Ele sorriu de forma superficial.

- O que está havendo aqui? – Papai falou abrindo a porta. – Toda a vizinhança pode ouvir seus gritos, Alexandra.

- Vai papai. – Falei cruzando os braços. – Fala a ela que você tem outra mulher e a culpa é dela.

- O que? – Ele me olhou perplexo.

- Eu não tenh...

- Não! – TJ gritou o interrompendo. – Claro que não, pai. Você é um homem santo.

- O que você está dizendo, seu moleque? – Ele disse indo em direção ao TJ, mas eu me joguei na frente.

- Eu quero ela fora da minha casa. – Mamãe disse com raiva.

- O que? – Berrei irritada.

- Eu preferia que tivesse sido você no lugar da Valentina. – Ela disse seca.

Eu respirei fundo e lutei para segurar minhas lágrimas. Eu sempre soube disso, mas ouvi-la falando assim, ainda doía.

- Como pode dizer isso? – Caleb falou me surpreendendo.

- Não precisa se envolver. – Falei segurando forte sua mão.

- Você é uma mãe de merda. – Caleb disse e ela olhou para ele surpresa. – Nem sei se pode ser chamada de mãe.

- Saia daqui. – Ela disse com fúria na voz. – Não é bem vindo em minha casa.

Caleb e TJ trocaram olhares.

- Vem, Eloá. – Caleb disse me puxando.

- Minha filha não vai a lugar nenhum com você. – Meu pai segurou o braço dele.

- Eu vou sim. – Falei com vontade de chorar.

- Eloá. – Ele disse firme.

- Eu odeio você. – Falei soltando a mão do Caleb e indo para cima dele. – Como pode deixar ela me tratar assim por tanto tempo. Eu odeio você.

- Mas filha. – Ele segurou meus braços para que eu parasse de bater em seu peito.

Ao ouvir essa frase não consegui mais aguentar, as lágrimas saíram desesperadas por meu rosto.

- A Valentina era sua filha. – Senti meus lábios tremendo. – Eu não.

- Fale logo a ela, Taylor. – Dayse disse vindo da cozinha. Ela parecia desesperada. – Diga logo a verdade!

- Que verdade, Dayse? – Falei me afastando do meu pai.

- A outra mulher do seu pai não era a Naomi. – Ela disse e pude ver uma lágrima descer por seu rosto. – Era eu.

- Não. – Falei rindo dela. Ela esta mentindo, só pode.

- Eu nunca quis te magoar, Eloá. – Ela disse calma. - Mas já cansei de esconder isso de você!

- Sua piranha. – Minha mãe se virou e foi para cima da Dayse, mas o TJ a segurou no ar.

- Como pode, Dayse? – Falei mais para mim mesma.

- Não durou muito. – Meu pai segurou meus braços para que eu o olhasse.

- Não me importa, não me importa. – Falava em sussurros.

- Calma. – Caleb disse me puxando para seus braços.

- Fala do Tio Dennis. – TJ gritou com a mamãe a soltando no chão. – Fala a Eloá que o que aconteceu a Valentina não é culpa dela, e sim, sua!

- Cale a boca. – Ela disse com os dentes trincados.

- O que tem o Dennis? – Papai falou engolindo em seco.

- A merda daquele chocolate só estava lá em casa porque o Tio Dennis gostava. – TJ disse com raiva. – Até aí não é um grande problema. – Ele riu. – O problema é ela ter comprado para agradar o amante.

- Não foi culpa minha. – Mamãe gritou caindo em lágrimas.

- Foi sim! – TJ gritou de volta. – Enquanto eu e a Eloá estávamos enlouquecendo com a Valentina roxa nos braços você estava na casa dele transando e fazendo sei lá o que mais.

A mamãe ficou quieta, não rebateu. E com isso silêncio finalmente surgiu.

- Ela era minha filha? – Meu pai falou fazendo com que eu o olhasse.

A mamãe ficou calada.

- Foi o que pensei. – Ele sorriu.

- Eu vou embora daqui. – Falei limpando as lágrimas e indo em direção ao meu quarto.

- Eloá, eu sinto muito. – Dayse estava chorando. Ela tentou segurar minha mão, mas me esquivei dela.

- Não me toca. – Falei controlando o choro. – Não me toca.

Corri até meu quarto e peguei uma bolsa de viagem, comecei a jogar algumas roupas ali dentro.

- Você não vai embora. – Meu pai entrou no quarto e começou a puxar minhas coisas.

- Para! – Gritei. – Só me deixa em paz, porque a oito anos atrás você não se importou de se livrar de mim.

- Sua mãe podia pedir o divorcio, Eloá. – Ele disse com os olhos vermelhos. – Eu não podia correr o risco de te perder.

- Perder o TJ. – Rosnei. – Eu não acredito em você.

- Eu te proíbo de sair dessa casa. – Ele falou autoritário.

Eu peguei minha bolsa e joguei contra ele, mas ele desviou.

- Por que logo com a Dayse? – Gritei e bati nele, ele novamente me segurou. – Por que não outra pessoa?

- Não foi algo planejado! – Ele me chacoalhou. – Não foi, só aconteceu.

- Eloá? – TJ e Caleb entraram no meu quarto.

- Sai daqui! – Berrei para o TJ. – Você é o pior. Você sabia de tudo isso e me escondeu!

- Foi para o seu bem. – TJ não se alterou.

- Não! - Fui pra cima dele. – Não foi.

- Calma, shh. – Caleb disse pegando em meus pulsos.

Olhei em seus olhos azuis e senti toda a calma dele vindo para mim, e isso foi ótimo.

- Tenta entender o TJ. – Ele falou e sorriu um pouco nervoso. Foi então que percebi que suas mãos estavam geladas.

- Você sabia. – Pronunciei com desgosto.

O Caleb abriu a boca, mas não disse nada.

Puxei meus braços de perto dele.

- Você sabia! – O empurrei. – Foi por isso que se aproximou de mim? Para dizer ao TJ como eu estava?

- Eu pedi que ele fizesse você e o Tyler terminar. – TJ falou.

Parei e analisei a frase que o TJ acabará de pronunciar.

- Isso explica muita coisa. – Ri de mim mesma, que grande idiota eu sou.

- Mas eu gosto de você. – Caleb disse vindo me segurar.

- Mentiroso! – Gritei. – Você é um mentiroso, cínico! Já conseguiu que eu e o Tyler terminássemos. Pode ir embora! Assim como o TJ foi embora.

- Eloá! – TJ aumentou seu tom. – O Caleb só estava me ajudando.

- Gostar de você não fazia parte do plano. – Caleb disse calmo.

Poderia ter sido lindo, se não fosse uma mentira.

- Vai embora. – Falei. – Depois a gente conversa sobre isso.

Ele me olhou assustado e pude perceber sua respiração ficar pesada.

- Vai! – Gritei.

- Se é isso que você quer. – Ele falou e fungou.

Pensei em pedir para ele ficar, mas ele fazia parte dessa grande sujeira. Eu não o queria perto de mim agora.

Ele me deu as costas e saiu do quarto.

- Eloá, não é culpa dele. – TJ disse assim que ele saiu.

- Ele me enganou e me usou. – Falei com os dentes trincados.

- Mas ele não ficou com você por brincadeira! – TJ queria justificar o Caleb, mas não dava.

Não dá para lidar com o fato de toda a minha família mentir para mim, eu não ter um só amigo verdadeiro aqui, e ainda o Caleb ter me usado. É demais para mim.

- Eu vou embora. – Falei respirando fundo e pegando novamente minha bolsa.

- E para onde você vai? – Meu pai disse. Ele estava certo, eu não tinha para onde ir.

- Para a minha casa, Taylor. – Naomi disse entrando no meu quarto.

Olhei sem entende-la.

- Não ouse fazer isso. – Meu pai falou com raiva. – Você trab...

- Não. – Ela disse calma. – Eu me demito.

- O que? – Meu pai disse perdido. – Mas e seu filho? Pense nele.

- Eu penso. – Ela disse respirando fundo. – E é por isso que eu sei que para ele é mais importante me ter presente na vida dele. Isso aqui me destrói. E sinceramente não quero uma vida assim para nós dois.

- E o que você vai fazer? – Meu pai disse enfurecido.

- Vou trabalhar no restaurante dos Hunter’s. – Ela se mantinha calma. – Não vou ganhar tanto, mas pelo menos vou poder cuidar melhor do Titan. Sem falar que lá ninguém me faz chantagem.

Ela falou me deixando surpresa.

- Vamos, Eloá. – Ela disse séria.

Corri pegando minhas roupas num bolo e as jogando na minha bolsa.

A pendurei em meu ombro e corri até a porta. Descemos as escadas.

- Eloá. – A Dayse se levantou do sofá assim que me

- Eu esperava mais de você, Dayse. – Prendi as lágrimas. – Bem mais.

Seus olhos se encheram de lágrimas. Talvez isso nem seja culpa dela, apenas do papai, mas ainda assim dói em mim.

- Vamos. – Naomi disse abrindo a porta.

Entrei no seu carro e fomos até a sua casa, não demorou. Na verdade foi bem rápido.

- Não precisava ter feito isso. – Falei descendo do carro e olhando ao redor para me certificar que o Caleb não estava perto.

- Eu sei. – Ela disse séria.

- E desculpa...

- Não precisa disso. – Ela travou o carro.

Caminhamos até a entrada da sua casa. Assim que passamos pela porta pude ver o Titan no chão da sala, brincando com alguns cubos.

- Oi meu amor. – Ela se abaixou e beijou ele.

- Maaa. – Ele tentava pronunciar algo, mas isso era tudo que saia.

- Como você tá? – Ela se levantou e me olhou bem. – Quer um banho? Ou comida?

- Não. – Falei pra baixo. – Só preciso pensar um pouco.

- Me dá isso. – Ela disse pegando minha bolsa.

- Naomi? – Uma mulher de cabelos já brancos falou se aproximando da sala.

- Já cheguei. – Ela falou calma. – Essa é minha mãe.

..........

Estava em um dos quartos da casa da Naomi, o Titan estava na minha cama e não parava de sorrir. Pelo menos ele tá bem com toda essa situação e não precisa se preocupar com nada.

Passava a escova da Naomi por meu cabelo, ele estava bem úmido.

- Oi. – Naomi disse entrando no quarto com a mamadeira para o Titan.

- Oi. – Sorri fraco.

Ela se sentou em minha cama e pegou o Titan nos braços. Ele se ajeitou confortável no colo dela antes de começar a beber o leite.

- Amanhã eu dou um jeito nisso. – Falei me sentando na cama. – Não é justo com vocês fazer isso.

- Isso o que? – Ela disse sem desviar o olhar do Titan.

- Ah... – Pensei nas palavras. – Trazer toda essa merda para cá. Não quero te prejudicar.

- Acha mesmo que aqui é tudo uma maravilha? – Ela sorriu.

- E não é? – Falei olhando para o rostinho do Titan.

- Quando eu falei a minha mãe que eu estava grávida ela me botou para fora de casa. – Ela dizia calma. – Ao que parece seria uma grande vergonha dentro da igreja e eu estava sujando o nome da família.

- Mas fizeram as pazes né? – Falei curiosa.

- Claro. – Ela sorriu. – Afinal, sua mãe me deu essa casa. Claro que tudo ficou bem.

- Minha mãe... – Balbuciei. – Fez o que?

- Quer mesmo ouvir essa história? – Ela disse calma.

Eu fiz que sim com a cabeça. Eu precisava ouvir toda a merda logo.

- Quando você chegou aqui eu estava grávida do TJ. – Ela disse sem nem me dar tempo de processar a informação. – Eu e ele iríamos viver em Chicago, ele trabalharia em um bar e eu cuidaria da casa e do nosso filho. Mas quando sua mãe soube, ela negociou com a minha. Eu diria ao TJ que ia abortar, e assim, ele iria ficar livre para fazer a sua faculdade de direito e trazer prestígio a família. E é claro que sua mãe ajudou com tudo, enxoval, quarto, brinquedos, sem falar da casa e a ajuda mensal.

- Você trocou meu irmão por dinheiro? – Falei controlada para não assustar o Titan.

- Claro que não. – Ela tinha um olhar triste. – Não seria justo fazer o TJ desistir do sonho dele por um bebê...

- Você... – Falei a interrompendo.

- Posso terminar? – Ela disse me olhando rapidamente. – O relacionamento da gente já estava bem ruim, a gente estava se confiando do Titan salva-lo. Não seria justo com o Titan fazer isso, botar toda essa pressão em cima dele, para no fim ele ter pais que se odeiam. Eu achava muito que o TJ estava querendo isso, estava conformado e feliz com tudo, mas aí eu escutei ele contando ao Ches que um filho seria um fardo e tanto para ele e que a única coisa boa nisso tudo seria poder sair de casa. – Ela sorriu fraco. – Eu realizei esse desejo dele, ele saiu de casa, mas não precisou usar nem a mim nem a meu filho.

Ela ficou em silencio e fechou os olhos. O Titan segurou a mão dela como se estivesse sentindo a angustia dela e quisesse fazer algo para acalma-la.

- Eu só facilitei a nossa felicidade. – Ela voltou a falar, mas dessa vez com a voz falha. – O TJ pode sair de casa sem ter que arrastar um fardo, e o Titan não precisou crescer com pai brigando e sem dinheiro nenhum. Ele pode ter tudo, uma boa casa, roupas novas.

- O TJ não disse isso. – Falei rindo nervosa.

Ela tirou a mamadeira seca da boca do Titan e o sentou na cama dando leves batidinhas em suas costas.

- A Julie quem nos apresentou. – Ela disse. – Ela sempre foi sincera comigo e disse que ele gostava dela, mas isso já tinha chegado ao fim. E quando eu falei a ela do bebê e pedi o conselho dela sobre o que devia fazer ela disse para eu aceitar a proposta da Alexandra. – Ela parou para respirar. – Alguns dias antes ele tinha se encontrado com ela no shopping, eles jogaram um pouco e quando ele a trouxe em casa tentou beija-la. Ela não tinha contado antes para não nós prejudicar e para que eu não ficasse com raiva dela.

- O TJ não...
- Para de dizer isso. – Ela riu. – Ele não é santo e nem o mocinho disso tudo. Ele me magoou muito, Eloá. Então não tente defende-lo.

Ela falou e pareceu um apelo. Isso parecia estar doendo bastante nela.

- Mas e o Titan? – Falei sem me controlar. – Ele não merece um pai?

- Claro. – Ela disse olhando o filho. – Eu sei o quanto é difícil não ter um pai. A gente conversou sobre isso na noite de natal. Ele vai tentar resolver a vida dele antes de entrar na do Titan.

Olhei para ela e parecia que a cada minuto ela ficava mais triste.

- Não é isso que você quer, né? – Falei olhando em seus olhos. – Você queria ele de volta na sua vida.

- Essa é a segunda coisa que eu gostaria. – Ela sorriu.

- E qual a primeira? – Falei vendo uma lágrima descer por seu rosto, mas ela a limpou rapidamente.

- A primeira seria ele bem longe da gente. – Ela puxou o Titan para perto dela. – Preferia que ele nunca tivesse voltado.

Ela disse e abraçou o Titan contra o seu corpo.

Nunca imaginei a Naomi tão frágil assim. No final das contas, ela foi a única que não mentiu para mim.

- Me desculpa. – Falei abraçando a ela e ao Titan. – Me desculpa.

Senti suas lágrimas batendo em meu ombro. Deve ter sido bem aliviante para ela poder contar isso e finalmente se libertar dessa merda.

Xxxx

Acordei com o Titan mexendo em minhas pernas. Ele estava em pé se segurando a cama. Eu, o Titan e a Naomi dormimos juntos e foi bem aconchegante. Normalmente eu fazia isso com a Valentina.

Não dá para acreditar que as coisas podiam ter sido diferentes.

- Bom dia, sobrinho. – Falei e sorri ao pronunciar isso. – Dá para acreditar nisso, Titan?

Passei a mão por seus cabelos. Ele se balançava.

Peguei meu celular que tinha passado a madrugada carregando e vi que já eram 10 horas. Eu estava pouco ligando de ter perdido aula hoje.

Eloá: Poliana? O que teve hoje na aula?

Enviei e fiquei esperando ela falar algo. O Titan puxava meu edredom e botava sobre sua cabeça. Era engraçado vê-lo assim.

- Vem cá. – o puxei para meu colo. – Eu prometo que vou cuidar de você, tá? – Falei e ele sorriu, pude ver manchinhas brancas em sua gengiva. – O TJ pode até não tá presente em sua vida agora, mas eu sei que ele te ama. Eu já te amo muito.

Meu celular vibrou, eu o peguei e o Titan começou a por suas mãozinhas sobre a tela.

Poliana: Hoje não houve aula, não. Por causa do que houve ontem com a Kate. Suspenderam as aulas até a quinta feira. Tinha esquecido?

Eloá: Tinha esquecido disso

Toda essa merda me fez esquecer da Kate e todo o resto.

Poliana: Mas tá tudo bem? Não precisa falar se não quiser.

Olhei aquela mensagem e fiquei quieta pensando. A Poliana parecia tão preocupada e ao mesmo tempo com medo.

Acho que eu sou uma grande filha da puta. Ela foi a outra do Tyler, mas eu ao invés de me afastar preferi ficar maltratando ela. Talvez seja por isso que coisas ruins me acontecem.

Eloá: Tá tudo bem. Qualquer coisa te aviso.

Poliana: Certo.

Eloá: Obrigada... Por tudo.

Digitei e não hesitei em enviar.

- Vamos ver o sol? – Falei e o Titan se agarrou a seu pé o levando a boca. – Não, assim não.

Sorri e o peguei no colo. Fomos até a sacada. Dava para ver as lojas em frente a casa, um lava a jato não muito longe. Fiquei surpresa ao ver a Zara e o Caleb na calçada em frente a casa da Naomi, em baixo da sombra de uma árvore.

Ele estava de cabeça baixa e ela alisava seu braço.

- Isso não tá me cheirando bem. – Olhei o Titan. – E pra você?

- Naa. – Ele balançou a cabeça. Me perguntava se ele realmente tinha me entendido.

Olhei novamente e vi a Zara abraçando o Caleb. Talvez ela só o esteja consolando por ontem ou algo do tipo. Será que aconteceu algo sério com ele?

Foi então que ela se posicionou na ponta dos pés e o beijou. Isso doeu bastante.

- Ele parece estar gostando. – Falei vendo aquela cena. Me virei e entrei em casa. Não vale a pena sofrer mais. E sinceramente, perder o Caleb não é o maior dos meus problemas.

Entrei em casa e desci as escadas. A avó do Titan arrumava a cozinha.

- Devia por uma roupa decente, não está na sua casa. – Ela disse fazendo cara feia. E não, ela não sabe quem eu sou.

- Devia. – Falei sem dar interesse a ela e me sentando na mesa.

- Desça daí. – Ela falou bruta.

Revirei os olhos.

Decidi me deitar no sofá da sala e assistir algo. Passava os canais e o Titan se animou ao ver um desenho, bem mal feito para falar a verdade. Decidi deixar para ele assistir um pouco.

O desenho já chegava ao fim quando a Naomi chegou e ela veio acompanhada.

- TJ? – Falei me levantando com o Titan nos braços.

- Oi. – Ele falou me abraçando. – Eu sinto muito.

- Eu estava com raiva. – Respirei fundo, eu tenho certeza que o que ele fez não foi por mal. – Tá tudo bem.

- Tá. – Ele sorriu meio seco. – Oi.

Ele falou mostrando as mãos a Titan num gesto de tentar pega-lo.

Titan olhou para a Naomi e em seguida estendeu os braços para o TJ.

- Você tá enorme, filho. – Ele falou beijando o topo da cabeça do Titan e pude notar a Naomi suspirar com aquela cena.

- O que veio fazer aqui? – Falei atraindo a atenção dele.

- Vim conversar com a Naomi sobre o futuro. – Ele disse e voltou a olhar para o filho. – E você vai voltar para casa até eu ter uma ideia melhor.

- TJ! – Protestei.

- Confie em mim. – Ele me olhou sério.

Sempre confio, TJ...

POV Caleb

PLAY

A Zara tinha vindo aqui em casa pegar um dinheiro com a Julie para uma confraternização na igreja. A Julie tinha saído então eu que fiquei responsável por entregar o dinheiro.

- Soube que a Eloá foi almoçar com você ontem no restaurante. – Ela disse atravessando a rua até uma árvore próxima ao carro do Cameron.

- É. – Falei um pouco entristecido.

A Eloá já tinha todos os motivos do mundo para não confiar em mim, e quando eu decido que vou provar ser diferente do Tyler, a bomba acontece.

Não foi mentira o que o TJ disse, mas eu preferia que ela não soubesse, pelo menos não naquele momento.

O pior foi ela ter dito que depois a gente conversava sobre o assunto. A última garota que me disse isso foi a Zara, e logo em seguida saiu da minha vida por entre meus dedos.

- Vocês voltaram? – Zara sorriu.

- Não. – Cocei minha cabeça. – Na verdade acho que a perdi pra valer agora.

- Posso ser sincera? – Ela pediu olhando para o chão.

- Pode. – Ela respirou fundo ao ouvir isso.

- Acho que a Eloá tá brincando com você. – Ela disse.

- Não. – Me encostei na árvore. – É só que... Ela sabe sobre o nosso passado e as coisas que eu já te fiz, isso deixa ela insegura. Ela pensa que eu sou como o Tyler.

- Você é muito melhor que o Tyler. – Ela disse revirando os olhos.

- Mas a Eloá ainda não sabe. – Falei calmo.

- Drew. – Ela disse inquieta. – A Eloá não quer abrir os olhos para o que ela tem, essa é a verdade. E daí o passado? Eu até apoiava vocês no começo, mas agora... Sei lá. Depois do natal parece que você só fica mais triste quando vê ela.

- Impressão sua. – Falei me chateando com ela.

E daí o passado? Sério que ela disse isso?

- Só não quero que você saia machucado. – Ela falou abaixando a cabeça, eu fiz o mesmo.

Ela alisou meu braço de forma que eu me arrepiei.

- Não vai ficar com raiva de mim, né? – Ela perguntou com uma voz manhosa.

- De boa. – Respondi.

Ela se aproximou de mim e antes que eu analisasse o que estava acontecendo ela me beijou.

Mal dava para acreditar nisso. Fechei meus olhos e peguei em sua nuca.

Não sei, mas tinha algo estranho. Eu me lembrava do beijo dela bem mais gostoso, mas doce. Seus lábios agora pareciam ásperos.  Os lábios da Eloá se encaixavam e seus beijos sempre tinham um toque de carinho e sexualidade.

- Zara. – A afastei. – Isso não tá certo.

Falei abaixando a cabeça.

- Ah... – Ela disse sem jeito. – Desc...

- Não devia ter feito isso. – Falei

- Eu sei. É só q...

- Eu to confuso, ok? – Falei irritado. – A Eloá me deixa louco, mas não por chatice ou algo assim. Me deixa louco porque eu sei que posso perdê-la a qualquer momento e o pior de tudo é que pode ser para o Tyler. Aí agora você vem me beijar? Qual a sua? Isso só piora tudo.

- Não foi essa minha inten....

- Tá, eu sei. – Falei me acalmando. – É só que... Não sei como falar isso sem te magoar...

- Eu sou uma ótima garota, mas a gente não combina, não é isso? – Ela sorriu fraco. – Você só consegue pensar na Eloá e blá, blá, blá.

- Não leva para o lado pessoal. – Falei com a cabeça abaixada.

- Não. – Ela disse sorridente. – Mas quando ela te magoar, eu já sei pra quem você vai correr.

Ela disse indo até o carro. E para ser sincero, eu não dei a mínima.

Depois que a gente terminou ficamos algumas vezes e ela sempre foi seca comigo. Depois que eu comecei a sair com a Eloá e deixei ela de lado, ela decidiu que sabia o que era melhor ou não para mim. E isso só me faz ver o quanto a Eloá é certa pra mim.

Sem ciúmes excessivos, sendo explosiva e carente ao mesmo tempo, e acima de tudo sempre tentando compreender o lado do outro, mesmo sem querer demonstrar isso.