Dirigia apressadamente até o endereço que tinha conseguido com a mãe da Blair. Puxava a gravata de mim, o calor me matava.
Meu celular tocava sem parar, notei que era o Tyler.
– O que? – Falei assim que atendi.
– Onde você tá, imbecil? – Ele berrou. – Meu casamento é em poucas horas e você sumiu.
– Eu não vou. – Falei simples.
– O que? – Ele disse descrente. – E as alianças?
– Quer saber, Tyler? – Falei irritado. – Eu não dou a mínima pra esse casamento de fachada. Você vai mesmo me dizer que ama a Eloá? Vai mesmo me dizer que vai faze-la feliz e amada todos os dias pelo resto de suas vidas? Não dou três anos pra essa merda acabar.
– Quer parar de dizer o que eu sinto ou deixo de sentir pela Eloá? – Ele disse irritado. – Eu amo ela, só eu sei o quanto foi difícil vê-la com o Caleb. Ela é a única que eu sempre posso contar e a única que já se preocupou de verdade comigo.
Ri irônico.
– Eu sei que você só tá comigo por obrigação. – Ele falou me surpreendendo. – Não sou idiota.
– E vai fazer o que? – Falei irritado. – Vai me ameaçar? Dizer que se eu não for seu amigo vai fazer meu pai perder o cargo? Pois que faça.
– Não preciso mendigar amizade nenhuma, Connor. – Ele disse calmo. – Quer saber? Faz o que quiser com as alianças, eu não me importo. Mas eu continuo amando a Eloá, e você não pode mudar isso.
Ele falou convencido de que essa era a verdade.
– Se a ama, deixe-a livre. – Falei tentando prestar atenção na estrada.
– Da mesma forma que você fez com a Blair? – Ele falou irritado. – Pelo amor de Deus, Connor. Para de ser imbecil. Você deixou a Blair se afastar ao poucos, e agora tá aí querendo descontar no meu casamento.
– Não entende? – Gritei. – Eu quero salvar a Eloá de você e de toda essa merda.
Ele ficou calado, mas eu sabia que ele ainda estava lá, pois eu podia ouvir sua respiração.
– Me perdoa, Connor. – Ele falou me deixando confuso. – Eu sei que você nunca quis realmente ser meu amigo por causa do passado e de todas as idiotices que eu dizia, mas eu sinto muito. Eu era uma criança, queria chamar a atenção. Sei que isso não justifica. Mas eu tentei, tentei de verdade ser seu amigo. Talvez se as coisas tivessem sido mais diferentes, pudéssemos ser grandes amigos.
Ele falou e dessa vez eu fiquei calado. Nunca imaginei o Tyler me pedindo perdão por algo que eu achava que só eu lembrava.
– A Blair teve um bebê. – Falei engolindo em seco.
Ele sempre me falou da raiva que sente do Caleb por ele ter escanteado a ele pela Zara. Não quero que ele pense que nossa amizade foi só uma troca de favores. Teve seus bons momentos.
– O que? – Ele disse confuso.
– É uma menina. – Falei vendo a placa de Milwaukee. – Eu estou indo atrás delas agora.
– Cara... – Tyler disse fazendo uma pausa. – Como você tá?
Ele parecia preocupado.
– Eu to louco! - Falei sorrindo. - Eu tenho uma filha, faz ideia do quando isso é foda? Eu nem a conheço e já sinto algo diferente por ela.
Ele ficou um tempoquieto
– Se precisar usar as alianças, pode usar. – Ele disse calmo. – Será por algo verdadeiro.
– Valeu cara. – Falei sem esperar essa atitude dele.
– Boa sorte com elas. – Ele disse calmo. – E não se preocupa com a Eloá, eu posso dar um jeito nisso.
– Certo. – Falei finalizando a ligação.
Rodei por mais uns dez minutos até achar a casa da avó da Blair. Quem me atendeu foi uma senhora de uns 70 e poucos anos, ela pediu para eu entrar junto com ela e esperar do lado de fora do quarto enquanto ela falava com a Blair.
– Entre, querido. – A senhora disse sorrindo largamente.
Entrei no quarto e fiquei paralisado com a cena que vi.
A Blair estava sentada numa poltrona com uma bebezinha no colo. A bebê era tão pequenina, ela usava uma roupinha rosa e uma faixa com um enorme laço branco.
– Oi. – Blair disse ao olhar para o lado e me ver.
– Oi. – Disse engolindo em seco.
– Senta. – Ela disse apontando para um puff a frente dela.
Caminhei até ele e me sentei, fiquei olhando admirado para a bebê em minha frente. Ela parecia tão frágil e inocente.
– Quer pegar? – Blair disse sorrindo.
– Não. – Falei nervoso. – Eu posso machuca-la, ou então faze-la chorar. Melhor deixar assim.
– Deixa de ser bobo. – Blair sorriu como fazia antigamente. – Você é o pai, vai saber o que fazer.
Sorri largamente ao ouvir isso, mas ao mesmo tempo senti um calafrio percorrer minha espinha.
Ela era molenga e não parecia muito confortável trocar os seios da Blair pelos meus braços peludos.
Uma vida, pensei assim que ela se ajeitou com a cabeça sobre meu braço. Vou ter que limpar o coco dela e saber reconhecer o choro de fome, de cólica, de dentes nascendo. E essa é a parte boa, tenho que ter cuidado com as quedas, a escola, as amizades. Logo ela vai estar namorando, um idiota talvez. E aí vai vim a faculdade e ela vai para longe de mim...
– Connor? – Blair disse fazendo com que eu voltasse a realidade.
– Blair. – Respirei fundo. – Os pais normalmente têm uns nove meses para se preparar, pensar em fraudas, comprar o enxoval, analisar a futura escola, e ela não vai namorar.
Falei e a Blair franziu a testa, em seguida ela riu.
– É. – Ela sorria. – Não vai namorar. E não precisa se preocupar com o resto.
Ela disse, mas não me deixou muito aliviado. É claro que vou me preocupar.
Vi a bebê abrindo a sua boquinha e pensei que ela fosse chorar, mas ela apenas começou a chupar sua própria língua.
– Que bonitinho. – Falei sorrindo com aquilo.
– Dá para acreditar que foi a gente que gerou isso? – Blair disse com um tom meigo e encantado.
– Não. – Olhei fixado em minha filha. – É perfeito demais tudo isso.
Ela passou a mão pelos cabelos negros. Essa faixa já tá me irritando. A tirei calmamente da cabeça da minha filha.
– Não, Connor. – Blair disse pegando a faixa. – É difícil de colocar.
– A intenção é ela ficar sem isso. - Falei sério. - Pode machucar a cabeça ela.
Blair revirou os olhos. Grande besteira essa de deixar os bebês arrumados a força só para ficarem mais bonitinhos. Tem que deixar a vontade, porra.
– O nome dela é Alice. – Blair disse fazendo meu coração acelerar. O nome da minha mãe.
– É um nome bonito. – Falei sorrindo. – Tem uma coisa no meu bolso. Pode pegar?
– Tá. – Ela disse confusa.
Senti sua mão entrando no meu bolso e puxando a caixinha com as alianças da Eloá e do Tyler.
– Ele disse que eu podia usar. – Falei calmo. – É só simbólico, depois compro uma aliança de noivado de verdade para você. Se você aceitar é claro.
Ela deixou a caixa no braço da poltrona, abaixou a cabeça e tapou a boca. Vi que ela chorava, queria fazer algo, abraça-la, mas tinha medo de me mover com a Alice.
– Calma, amor. – Falei olhando para ela. – Não precisa aceitar. Eu vou continuar sendo o pai da Alice, isso não vai mudar o que sinto por ela.
Ela não cessou o choro.
Entreguei a Alice nos braços dela, e ela começou a se acalmar. Me levantei e segurei o rosto dela fazendo ela me olhar.
– O que foi? – perguntei calmo.
Eu queria que ela aceitasse, mas na verdade o que eu queria mesmo, era ela feliz.
– Promete cuidar da gente? – Ela pediu soluçando.
– Anjo. – Sorri para ela. – É claro que vou cuidar. Vou amar incondicionalmente a Alice e dar o melhor a ela sempre. E também vou amar e aceitar a mãe dela, do jeitinho que ela é.
– Vai querer me mudar? – Ela disse e eu percebi qual era o medo dela.
Era ter que fingir ser outra pessoa. Era ser cobrada demais pela volta da antiga Blair.
– Não me ouviu? – Falei sorrindo. – Do jeitinho que você é.
Ela sorriu me olhando docemente.
– Eu te amo. – Ela disse.
Beijei seus lábios e senti como se pudesse trazer o mundo até ela e minha filha.
– Eu te amo mais. – Pronunciei e ela sorriu.
Ela segurou minha nuca e me fez uma carinho.
A Alice estava entre nós, mas não parecia incomodada com o calor.
É exatamente isso que eu quero. Poder estar com elas duas sempre. Podem consolar e fazer a Blair se sentir amada, e ter a Alice sempre por perto. Porque nada nunca vai mudar o que eu sinto por ela.
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