3 anos mais tarde...
Voltava para casa satisfeito comigo mesmo por ter conseguido sair mais cedo da faculdade.
Ultimamente eu e a Sheila só tínhamos tempo para nos vermos a noite, mas hoje seria diferente. Hoje eu poderia passar a tarde inteira unicamente com ela, e assim que chegasse em Casa poderia fazer a sua surpresa que eu tanto planejei.
– Tá pensativo, cara. – Curly disse sem desviar o olhar da estrada.
Depois do Josh, ele era o meu melhor amigo aqui em Nova York.
– To pensando na Sheila. – Falei sorrindo.
– Vai mesmo pedi-la em casamento hoje? – Ele disse calmo.
– Vou. – Sorri.
Ele balançou negativamente a cabeça.
– O que houve? – Bufei já sabendo onde isso ia acabar.
– Vocês só namoram a onze meses. – Ele disse desconfortável. – Não acha muito cedo para pedi-la em casamento?
– Não, cara. – Tentei manter a calma. – É a hora certa.
O Curly não gostou muito quando eu comecei a sair com a Sheila, porque segundo ele, ela não é para compromissos. Mas não é o que parece.
– E Westport? – Ele perguntou calmo.
Desde que meus pais se separaram, só meu pai permaneceu na cidade. Minha mãe foi para a capital. Não fazia muito sentido ir lá. E é por isso que não vou.
Eu e o Connor continuamos nos falando. Agora ele é pai de família, e se esforça muito para isso dar certo, e ver o quanto ele e a Blair estão bem, me faz querer poder construir algo pelo menos parecido com o que eles têm.
– Eu já conversei com meu pai a respeito disso. – Falei calmo.
E o papai já deve ter comunicado a Eloise. Ela também está morando aqui em Nova York, mas raramente nos vemos. Só quando o Curly a leva para alguma das nossas reuniões, ao que parece eles estão juntos.
– Ainda acho uma má ideia. – Ele falou me deixando angustiado.
Fiquei calado, talvez isso fizesse ele entender que já deu dessa conversa.
– Ela nem se quer sabe da tal garota. – Ele disse me fazendo revirar os olhos.
– A ELOÁ? – Berrei. – Já faz mais de três anos isso!
– Mas seria bom a Sheila saber sobre esse pequeno detalhe. – Ele disse bufando.
– Qual a diferença? – Falei sem paciência. – Quando eu vim para aqui eu pude recomeçar, você não entende? O antigo Tyler, o Tyler que traia, o que se deixava levar, o que pós o egoísmo acima de qualquer um, esse Tyler morreu no dia do meu casamento com a Eloá... E você sabe disso.
Ele respirou fundo.
– Só porque você quis recomeçar não significa que o passado não existe. – Ele disse.
– Mas eu prefiro agir como se isso tudo nunca tivesse acontecido. – Era difícil demais para ele entender.
Mas contar a Sheila sobre o passado e tudo mais, era como ter que reviver tudo aquilo. Tudo o que eu fui e fiz. Significava ter que aceitar que aquilo já foi eu, e que talvez ainda seja parte de mim.
No meu recomeço, não está incluso mentir para a Sheila. Mas esconder isso dela talvez seja a melhor coisa. O que ela sabe de mim é que a Eloise é minha irmã de consideração, vim do interior de Wisconsin e meus pais são separados. Apenas isso.
Fomos o resto do caminho em silencio. Ele não me faria mudar de ideia, por nada que ele dissesse nesse mundo.
O carro parou em frente a casa que eu morava com a Sheila e a prima dela. Em breve nos teríamos a nossa própria casa. Sorri alegre. Abri a porta do carro, mas antes que eu descesse o Curly segurou meu braço.
– Pensa bem nisso, cara. – Ele falou de cara feia.
Puxei meu braço e fiz uma careta.
– Já pensei, cara. – Falei batendo forte a porta do carro dele.
Caminhei até a entrada. Acho que o Curly só está com ciúmes do fato de eu não morar mais com ele e os meninos, ou por eu as vezes trocar as noites de bebedeiras por uma noite no cinema ou numa lanchonete de estrada com a Sheila.
Isso é um problema dele. Eu passei mais de um ano sem sair com nenhuma garota por causa de como fiquei após a Eloá. Mas pelo menos isso me ajudou a ter paciência, a esperar e a entender que as vezes é preciso colocar os outros a cima de nós mesmo e dar valor.
Um pouco clichê isso, mas essas coisas não fazia sentido para mim a alguns anos atrás.
Abri a porta e notei que tinha alguém na cozinha. Me aproximei sorrateiramente, dava para notar de longe que era um homem.
– Josh? – Falei ao ver meu amigo sentando a mesa, cabisbaixo.
– Tyler. – Ele se levantou apressado e me olhou empalidecendo.
– O que faz aqui? – Perguntei confuso.
Ele sabia do meu pedido de casamento. Sabia que não queria ninguém aqui no momento. Pensando bem agora, ele sempre me pareceu próxima até demais da Sheila.
– Josh, vamos... – Ouvi a voz da Sheila vindo da sala. – Já deixei um bilhete para o Tyler no quarto e...
– E? – Falei aparecendo para ela e percebi que ela tinha uma mala ao seu lado.
Ela ficou seria ao me ver.
– O que faz aqui? – Ela disse olhando para o Josh..
– Eu moro aqui. – Falei rindo.
– Tyler... – Ela mordeu os lábios.
Ela sempre fazia isso ao ficar nervosa. Suas bochechas ficaram rosadas destacando as sardas que ela tinha ali. Ela deslizou as mãos por seus cabelos negros e olhou para o chão.
– O que tá acontecendo? – Falei olhando para o Josh.
– Eu sinto muito. – Ele falou entristecido.
Eles não podiam ter feito o que eu estava pensando.
– Foi errado o que eu fiz, mas...
Antes que ele terminasse a frase pulei em cima dele, fazendo ele cair ao chão. Dei um soco forte em seu queixo.
– Tyler. – Sheila me puxou de cima dele, mas não conseguiu me mover. – Para! Foi escolha minha.
– Pensei que fosse meu amigo. – Olhei com fúria o Josh.
– Me perdoa, cara. – Ele pediu ainda em baixo de mim.
Dei outro soco no rosto dele, e ouvi os gritos da Sheila.
– Calma. – Ele disse olhando-a. – Eu mereci isso.
– Ta vendo porque não posso casar com você? – Ela disse me puxando novamente.
– O que? – Falei, saindo de cima do Josh e indo para frente dela.
– O Josh me contou que você ia me pedir em namoro e isso me deixou com medo, Tyler! – Ela berrou irritada. – Você não me conta nada a seu respeito. Agora tá batendo no seu melhor amigo, provando ainda mais que a gente não se conhece.
– Espera. – Falei me acalmando. – Então você não tá me traindo?
– Não! – Ela disse entredentes ficando rosada. – Por que é tão difícil confiar em mim?
Eu sabia a resposta. Após tantos anos só recebendo falsidade e pessoas interesseiras, se tornou difícil me aproximar das pessoas de verdade. E pior ainda é não poder confiar na Sheila mesmo querendo.
– Eu vou embora. – Ela disse ajudando o Josh a se levantar. – Se é assim que pensa sobre mim, isso quer dizer que não me conhece mesmo. Não adianta a gente tá junto se você só quer o status.
– Que status, garota? – Falei irritado.
Ela bufou arrastando sua mala até a entrada.
– Por que fez isso? – Perguntei ao Josh antes que ele saísse.
– Ele negaria o pedido, Tyler. – Ele disse calmo. – Aquela garota de Westport já te magoou demais para que eu deixasse que a Sheila fizesse o mesmo.
– O que? – Falei confuso.
– Na hora pareceu que seria bem melhor te ver triste por ela ter ido embora do que por ela ter dito não a você. – Ele falava cabisbaixo.
– A culpa não foi sua. – Falei pensativo.
– JOSH! – A Sheila berrou.
– Eu...
Ele ia dizer algo, mas antes disso sai correndo até onde a Sheila estava parada.
– Tyler, não insista. – Ela disse se afastando. – Você não se abre comigo e isso me destrói. Não adianta forçar algo que não da certo.
– Mas a gente da certo...
– Não! – Ela disse entristecida. – Não dá. Você não valoriza o quanto eu me esforço por você, se valorizasse, me contaria de seu passado.
– O que você quer saber? – Falei respirando fundo.
– Quem é Eloá? – Ela disse me olhando esperançosa.
Ótimo,algum dos idiotas falou o nome da Eloá para ela.
Cocei minha cabeça com medo.
Olhei no fundo de seus olhos e percebi o que ela queria me dizer. Ela não se importava com o passado, só precisava saber.
– Vamos lá pra cima. – Peguei a mala de suas mãos e beijei sua testa. – As coisas começam bem antes dela. Começam com a Eloise.
Falei sentindo minha garganta secar, mas se eu quero passar o resto da minha vida ao lado dela, é preciso ela me conhecer por inteiro. E depois disso, se ela não me aceitar, talvez só não fosse para ser.
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