História Found my way - Yoongi imagine - Décima sétima lembrança

Quarta-feira, dia do meu embarque de volta ao meu país natal. Não que eu não goste do Brasil, mas o que amava não estava lá, não via motivos para voltar, mas não era eu quem decidia isso. As minhas malas estavam prontas há alguns dias – Soo me ajudou com tudo desde domingo, mesmo na ressaca pelo porre da formatura – então não havia mais o que fazer.

 Naqueles últimos dias, não me consegui encontrar com Yoon Gi um dia se quer. Minha mãe resolveu ficar no meu pé para ‘evitar desastres’, nas palavras dela, mas me reuni com o restante do grupo infernal na sorveteria onde Jin trabalhava. Tentei convencer Nam Joon a ligar para o primo dele pedindo que viesse, mas o bochechudo não fazia.

Nas últimas segundas e terças-feiras que estive na Coreia do Sul, notei que Yoon Gi saia no mesmo horário pela manhã e escutava o som de seu carro estacionando ao anoitecer. Remoia-me de curiosidade, mas não conseguia o encontrar e perguntar. Nossa (S/n), por que não ligou? Mandou mensagem? Simples, minha mãe deu a louca e me deixou sem celular.

 9am, uma hora até meu vôo. Rezei mentalmente para que algum deles tivesse dito ao Yoon Gi a hora da minha partida. Não queria ir embora sem ver o rosto que eu mais amo apreciar. Entrei no carro e, durante a curta viagem de táxi até o Aeroporto Internacional de Incheon (인천국제공항 – incheon gugjegong hang), nenhuma palavra foi emitida de nenhum de nós três, mas o silêncio foi quebrado quando o taxista anunciou nossa chegada.

 Suspirei fundo ao pegar minhas malas e encarar aquele grande e movimentado estabelecimento. Fui pega de surpresa quando senti braços me rodearem e vi Jung Kook pendurado ao meu pescoço. Naquele momento, não queria saber o que meus pais pensavam ou a careta que faziam, simplesmente abracei o garoto de volta – coisa que o surpreendeu – e deixei minhas lágrimas rolarem quando vi os outros cinco se aproximarem juntando um abraço coletivo. O abraço mais aconchegante, quente, confortável e seguro que tive até hoje. Para minha infelicidade, Yoon Gi não se encontrava ali e isso me fez bater o recorde de suspiro mais longo.

 Creio que meus pais se cansaram de assistir aquela melação entre nós, já que me avisaram que iriam ‘ali’ e já voltavam. Nesse momento, finalmente alguém, vulgo Soo, se pronunciou desfazendo o abraço confortável.

— Pronto, chega de enrolação. ‘Ta limpo, anda logo! – depois de todos se afastarem, os olhei confusos, mais confusa ainda quando começaram a me empurrar até uma das cadeiras de plástico e me deixarem sentada lá enquanto Soo sumiu.

— Gente, o que aconteceu? – desentedida e curiosa, eu fitava os cinco garotos a minha frente com um sorriso exagerado, o que chegava a ser estranho, na face.

Levante-me para me pronunciar sobre o ato estranho que estavam executando quando braços rodearam minha cintura seguida de um corpo colado ao meu. Nem precisei ver seu rosto para saber que era ele, desabei-me na hora em lágrimas. Sentia que podia afogar-me no meio de tanto aguaceiro que saia de mim e da Soo ao meu lado que parecia tocada com a cena por todos os outros garotos, já que nenhum deles demonstrava emoção alguma. Minto, porque Ho Seok começou a desesperar quando Yoon Gi me virou e beijou-me, teria sido um beijo mais longo, mas como o doido gritou tanto que chamou atenção de muitos em volta incluindo de meus pais.

 Para não causar um rebuliço desnecessário, os meninos escoltaram Yoon Gi às escondidas até o banheiro e essa foi a ultima vez que o vi antes de entrar no avião. Lágrimas e fungadas eram as únicas coisas que saiam de mim. Demorou um bom tempo até eu cair no sono, mas minha mente não me deixou descansar, pois sonhei com todos os momentos que passei durante a curta estadia que tive na capital daquele pequeno e charmoso país. A certeza de que chorei, mesmo estando dormindo, me veio quando acordei e senti o rosto molhado.

 Voltamos pra casa, intacta, em perfeito estado, da maneira que estava quando fomos embora. Meu quarto com as paredes lotadas de fotos dos amigos que tinha quando morávamos ali, amigos que nem me contataram ou responderam as minhas mensagens. Não me incomodei em fazer nada, simplesmente me joguei na cama e planos do que faria lotaram minha cabeça. Meu celular? Só recuperei quando passei no vestibular para uma faculdade, mas não o meu antigo, ganhei um aparelho novo junto de um número novo. Meus contatos deles? Não tinha mais, nem no Kakao, muito menos no LINE. Passei a usar o Whatsapp para me comunicar com os novos amigos e colegas universitários, então nem fiz questão de instalar outro aplicativo de comunicação, mas não deixei meu coreano morrer.

 Fazia aulas na intenção de aperfeiçoar o pouco que sabia, queria ser fluente, tinha planos para voltar e foi isso que fiz. Se você está a ler esse diário online ou a ouvir meu diário gravado nesse gravador – significa que você fuçou minhas coisas até encontra-lo dentro da minha gaveta de sutiãs – é bem provável que eu já esteja dentro do avião ou até mesmo aterrissando em Seul.