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História Fragmento - Ato I - Decadência


Escrita por: desiqueira

Capítulo 1 - Ato I - Decadência


Os ventos uivantes que levavam as árvores a quase chão, elevados pela escuridão das nuvens negras que calavam o sol da tarde traziam o anunciar de mais um dia com forte tempestade. Entre as poças de água e sangue fundidos a lama barrenta, via-se corpos estirados ao chão. Alguns com armaduras completas do mais puro aço, outros com roupas maltrapilhas rasgadas pela pobreza. Alguns embaixo de escombros, outros pendurados em pontes, ainda outros largados em esquinas, mas em algo assemelhavam-se todos: seus membros estavam totalmente lavados pelo fogo. Seja lá qual fosse o motivo do massacre, a província de Hem estava prestes a ser extinta do mundo conhecido.


Pelas casas abandonadas e árvores feitas em carvão podre, era possível observar o que outrora fora uma grande cidade. Agora a destruição imperava com mão de ferro. Pelas escadarias da torre de vigia era visto a chuva lavar o sangue inocente derramado entre as rochas. Crateras eram visíveis no superior da torre. A ponte que ligava a torre à fortaleza agora jazia no salão principal. A fumaça da queima da cidade ainda era sentida pelo estalar de madeira. A qualquer momento alguma estrutura poderia desabar.


Já era escuro quando se ouviram passos curtos no silêncio mortal que cercava o Santuário da Colina. Uma criança arrastava seus pés até a estátua do santo local. De lá, era possível ter uma visão ampla de toda a província, pois se encontrava acima da cidade, onde os acólitos desfrutavam a paz do silêncio. A criança, uma menina de pele escura e cabelos manchados com a fuligem deixada pelo fogo, chorava com seus olhos voltados à cidade devastada.


Descendo vagarosamente, a criança espiou a entrada da cidade. A casa do ferreiro que tanto admirava jazia agora como uma cortina de poeira. O mercado de onde tantas vezes surrupiara os deliciosos pães de ló da famosa velha Surda estava arrasado pelo vento, com mercadorias espalhadas pelo chão e tecidos encharcados pela água da chuva. A placa da taverna da praça de onde costumava passar seu tempo livre agora estava fincada no lombo de um carneiro, que provavelmente desceu da carroça do açougueiro da esquina. Tudo friamente levantando um ar de horror na morta província de Hem.


Ao percorrer o berço de sua existência agora dizimado, a criança percebeu estar sozinha. Não mais a solidão da orfandade com quem conviveu por toda sua vida, mas agora, a solidão que lhe impulsionava para o mundo. O perigo de ser encontrada vagando pelo Vale Lo'thar sozinha lhe acelerava o coração. Aliás, ainda desconhecia o malfeito acontecido em sua província. Em sua memória pairava a aberração da morte assoladora. Imagens de criaturas sombrias e homens aterradores reinavam na cabeça da menina, pelos perigos que poderia encontrar e as respostas ainda desconhecidas. Ao menos algo lhe veio a mente: já não haviam motivos para estar ali. A criança ergueu os olhos à sua volta e seguiu caminho para o lugar mais seguro que conhecia até então. A Floresta da Lua.



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