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História Freak Out - Frenesim


Escrita por: sammye

Notas do Autor


Hey, hey you! 🎵
Capítulo fresquinho que acabou de sair do forno com muito carinho e entusiasmo! 💛

Ah, uma música eu eu ouvi e acho que até combina é "Drag Me Down - One Direction". Desejo uma boa leitura! ♡

*Frenesim – exaltação, estado de entusiasmo, inquietação de espírito. Sinônimo de arrebatado, sendo excesso em uma paixão (nesse caso também no contexto).
*Subsidiário – que dá apoio, ajuda, de importância menor (auxiliar no caso em questão).

Capítulo 38 - Frenesim


Fanfic / Fanfiction Freak Out - Frenesim

 

Ouvi o ruído que seu salto emitia ao caminhar pelo assoalho enquanto cada vez mais se aproximava, ajeitei o blazer e estiquei os braços sobre o encosto do banco pondo as pernas em cima da mesinha de centro ouvindo sua chegada. Samantha chegou empurrando a porta concentrada na leitura de um documento que estava em sua mão e somente depois ela me encarou — Damien, você invadiu minha sala?! – esbravejou batendo o pé no chão e abaixando a pasta que cobria seu rosto.

— Não, eu passei pela portaria e aquela moça lá da frente disse que eu podia esperar aqui.

Fuzilou-me com o olhar — Você enganou a Maureen? – dei de ombros. Ela franziu o cenho ao me observar — Aliás, o que faz aqui tão bem arrumado?

Sorri com o elogio e notei que ela estava de corte novo com as madeixas que antes iam até a cintura agora na altura dos ombros numa tonalidade revigorada. No entanto, seu cabelo estava desgrenhado, a roupa desajustada amassada e a pele que sempre fora bem cuidada encontrava-se lisa com a maquiagem desgastada. Estranhei, visto que Sam sempre fora muito vaidosa.

— Acabei de vir do trabalho e resolvi dar uma passadinha aqui antes de voltar para casa.

— A troco de quê?

— Bem, você ignorou minhas ligações, lembra? Noam está murcho num cantinho isolado de tristeza por você não ter aparecido sem nem sequer explicar o cancelamento do passeio de vocês – relembrei a fazendo esboçar uma careta descontente — Ele acha que você não gosta dele.

— Damien, eu estou trabalhando agora.

Às vezes essa mulher parecia mais insensível do que uma pedra com esse coração de gelo — E o seu filho é menos importante que o seu trabalho?

— Ok. – ralhou entre os dentes cruzando os braços — Se você não percebeu eu estou ocupada e Noam tem que saber que o mundo não gira em torno dele!

— Nem o da mãe dele?

— Caí fora daqui ou eu vou chamar os seguranças! – mirou para a saída.

Espreguicei tranquilamente retirando os pés da mesa — Você quer que eu pegue o telefone pra você?

Fitou-me cética — Damien...

Apenas sorri de volta. Ela encostou a porta com o pé para depois ir sentar em sua cadeira atrás da escrivaninha abarrotada de tralhas e papeladas, ficou ali girando a cadeira enquanto enviava um olhar impaciente em minha direção. Levantei indo me acomodar no assento em sua frente.

— O que é tão importante assim para você deixar de se cuidar? – perguntei intrigado por sua aparência desleixada.

Samantha ocupou-se em ler a pasta que tinha trazido — Você não tem nada mais importante para fazer não?

— Tenho que defender o meu filho das garras de uma mãe desalmada.

Riu — Noam é muito pequeno para agir dessa forma tão mesquinha.

— Egoísta é você que nem se importa com tua própria cria!

Jogou a pasta na mesa bufando irada — Damien olha só pra mim! – ordenou com um brilho raivoso nos olhos apontando o dedo para si mesma — Está vendo essas latinhas de energético e a garrafa vazia de café? Isso é porque eu dormi apenas quatro horas nas últimas trinta e seis horas! Já viu como meu cabelo está uma palha? – passou a mão pelas mechas ruivas e bagunçou mais ainda.

— Já que você perguntou...

— Olha esse monte de arquivos abarrotando minha mesa e pense, você acha mesmo que eu prefiro estar enfurnada aqui ao invés de curtir o dia de folga com meus filhos?!

Ponderei — Essa é uma boa pergunta!

— Não. – proclamou irritada — Por mais que você pense que eu sou uma máquina que só pensa em trabalho – argumentou exatamente o que eu acreditava — Eu fui ao cabelereiro, me produzi toda para levar Noam no playground como combinado, contudo meu chefe ligou de última hora exigindo minha presença e desde então não tive um descanso! Única coisa que conseguir no meio dessa correria – apontou para uma direção além das paredes — Foi tomar uma ducha no lavabo daqui e vestir algumas peças de reserva já que nem pude passar em casa – desabafou exaurida. Sam exibia uma expressão tristonha além das enormes olheiras debaixo de seus lindos olhos verdes — E agora você vem me cobrar responsabilidade?!

Soltei um suspiro pesaroso mantendo meus olhos nos seus — Eu entendo que não tenha tempo para se cuidar, mas Noam é seu filho e ele continua te aguardado. Assim como seu trabalho, ele também precisa de você! É apenas uma criança que está bem triste pela ausência da mãe.

— Eu também estou triste, Damien. Eu também estou! – repetiu após respirar fundo — Eu prometo que assim que estiver resolvido esse problema eu levo ele e Karen para um maravilhoso passeio.

— Tudo o que Noam menos precisa é de mais uma promessa sua – exclamei em resposta e isso a fez bufar.

Aproveitei de sua distração e puxei os documentos que ela estava lendo — Devolva isso agora!

Saltou da cadeira e deu a volta na mesa vindo apressada recuperar seu arquivo, levantei e escondi atrás de mim — O que tem aqui de tão valioso? – questionei tentando evitar que ela pegasse. Apesar dela ser um pouco mais alta, eu ainda tinha minhas manhas — Hein?

— Não é da tua conta! – murmurou esticando o braço quando ergui de novo.

Encostei na mesa e prendi a pasta para que não recuperasse. Samantha se aproximou feroz lançando-me um olhar de desafio, encarei-a olhando no fundo de seus olhos e por alguns segundos me distraí. Ela tinha as maçãs do rosto avermelhadas pela intensidade de sua ira, os lábios carnudos desprovidos de seu batom mais marcante estavam ressecados e por mais que sua pele estivesse marcada pelo recém descuido, ela ainda assim mantinha uma beleza estonteante.

— O que foi? – com as mãos postas sobre meu peito ela perguntou agora com um brilho fugaz em seus olhos cintilante.

— Você está tentando me larapiar? – balbuciei um tanto desnorteado sentindo sua respiração próxima a minha. O aroma de seu perfume era delirante.

— E está funcionando?

— Está sim – admiti deixando a pasta escorregar.

Agora seus lábios estavam quase colados aos meus — Sabe que você fica charmoso de blazer? – comentou com uma voz sedutora e eu fiz que sim, ela estava me provocando — Mas eu ainda prefiro seu traje habitual – jogou uma piscadela — Fica mais fácil de tirar.

Ela passou a mão por minha barriga puxando minha camisa e eu a envolvi em meus braços pegando-a pela cintura num beijo apaixonado. Meu coração em frenesim quase pulou do peito, desregulando e com os batimentos acelerados. Empurrei as tralhas da mesa enquanto nos beijávamos até que aquela sombra infeliz do Kaspar, subsidiário de Samantha, entrou na sala sem bater esboçando uma careta constrangida ao interromper nosso namoro.

— É-É... Me desculpe, já estou de saída – deu meia volta apressado vermelho feito um pimentão.

— Não, espere! – Sam gritou abaixando a blusa e ajeitando o cabelo — O que você tem em mãos? – indagou e só então percebi que essa peste trazia uma pasta consigo.

— O relatório ficou pronto e eu vim aqui te entregar.

Ela estendeu a mão para que lhe entregasse a papelada — Mais alguma coisa, Kaspar?

— Não, não... – o garoto lerdou um pouco até se tocar que estava atrapalhando — Ah! Bem, eu já vou indo.

Saiu rapidamente fechando a porta atrás de si. Observei que Samantha tinha um ar mais sério — Podemos continuar de onde paramos? – brinquei e ela me fulminou.

— Chega de brincadeiras. Eu estou trabalhando, Damien. Vá embora!

Deu a volta na mesa retornando ao seu assento, agachei para pegar a pasta e voltei ao meu lugar lendo o enunciado — Eu vou te ajudar. – anunciei convicto.

— Quê?!

— Isso mesmo, quanto mais depressa você terminar, mais rápido Noam a terá de volta!

— Esse é o meu trabalho e não vou deixar você se intrometer nisso!

Ri desdenhoso — Até parece que você não me conhece né? Eu já me intrometi!

Não deixei que sua cara brava me espantasse, e discordando de todas suas argumentações, continuei lendo o relatório do caso que estava investigando. “Isso é confidencial!”, praguejou. Pouco me importa, pois agora estou no caso de toda forma.

— Uma moto vem passando pelas ruas e agarrando crianças pequenas nos braços levando-as embora – explicou claramente revoltada após muito relutar — Uma delas tem a idade do Noam, eu prometi para a mãe dela que a traria de volta e vou fazer isso! – afirmou determinada — Noam pode me odiar, mas quero que ele saiba que estou fazendo o meu melhor para deixar sua cidade segura!

Não discordei de seu discurso, muito embora acredite que Noam não deseja uma heroína como figura materna, ele quer mesmo é uma mãe de verdade ao seu lado.

Continuei lendo alguns detalhes por cima, pois eram muitos papéis e a leitura tinha de ser rápida. Samantha disse ao nos despedirmos para que eu ficasse longe das missões de campo e isso fora exatamente o contrário do que eu fiz ao me oferecer para entregar um relatório nas mãos de seu assistente.

Parei em frente à sua mesa — Kas, Samantha pediu para que eu lhe entregasse isso – falei colocando o documento sobre suas coisas — E também para me manter informado caso tenha algum avanço significante.

— Você está no caso então?

— Sim. Sam precisa de minha consultoria, embora ela negue... – esbocei um sorriso simpático e o rapaz fez o mesmo. Dava até uma dó, ele queria tanto agradá-la — Por isso é bom evitar falar sobre mim. Ela anda ocupada, posso contar com você?

— Claro, senhor.

— Ótimo, até mais tarde então! – saí do departamento a passos vagarosos contendo um assovio triunfante.

 

xXx

 

Cheguei em casa logo após o horário de almoço trazendo algumas guloseimas que havia comprado no meio do caminho. Busquei por meu filho e o encontrei tocando o terror no quarto conforme atirava seus brinquedos no chão — Noam! – gritei o repreendendo depois de ter tentado conversar amigavelmente e ser completamente ignorado — Não pode ser assim, meu filho – pronunciei com a voz mais calma agachado em sua frente ajeitando a manga de sua blusa de frio. Ele estava com as bochechas vermelhas de tanta raiva — Vamos tomar um banho para ir passear? A nova babá vem te buscar daqui a pouco e o papai tem que trabalhar, está bem? – fiz um cafuné em seu cabelo desgrenhado.

Arregalou os olhos esperançosos com um sorriso de orelha a orelha — Mamãe?

Partiu meu coração na hora em que tive de explicar que sua mãe não iria vir. Ele tornou a chorar arremessando seus brinquedos longe. O acalmei com um forte abraço acompanhado por cócegas e muitos beijos, e depois lhe dei um doce antes do banho.

A babá veio busca-lo minutos depois e ele saiu de casa mais alegre. Em seguida me tranquei no escritório de mamãe ficando lá resolvendo algumas pendências até ouvir a voz alterada de Avril ultrapassar a porta entreaberta, tentei não ouvir a conversa, contudo não adiantou muito. Saí quando o demônio denominado Seth chegou.

Troquei uma breve conversa com ela que estava visivelmente abalada com suas novas descobertas, e quando Seth se aproximou, Avril evaporou de casa em instantes. Logo após sua saída, aquele estorvo foi embora dizendo para Sil que a conversa ainda não tinha acabado. Pelo visto ele continuava insistindo para que Misty vendesse sua parte da casa.

Saí para ir à padaria e quando retornei encontrei meu irmão cabisbaixo debruçado na mesa. Aproximei lentamente — O que aconteceu? – perguntei receoso embora soubesse que as chances de seu problema se chamar “Seth” fossem bem grandes — Você está bem?

Ergueu a cabeça com os olhos brilhando mareados — Nada não... – mentiu enfraquecido.

— Seth te disse alguma coisa?

— Ainda não o encontrei.

— Então o que foi? – insisti, notei sua bolsa jogada na cadeira ao lado — Brigou com a namorada?

Fez que não — Eu só quero ficar sozinho, por favor.

Puxei a cadeira sentando-me em sua frente — É uma pena que seu irmão mais velho não sabe respeitar espaço, não é mesmo? – ironizei conseguindo arrancar um sorriso fraco — E então, o que foi?

Bene abaixou mais ainda a cabeça enterrando o rosto na mesa — Eu sou um traidor – murmurou com a voz embargada. Juntei as sobrancelhas formando uma careta confusa na tentativa de compreender sobre o que estava falando — Sabe... Eu...

Revirei os olhos com sua enrolação — Você o que?

— Mamãe.

— Sim?

— Por mais que eu tenha tentado apagar as memórias de minha mãe biológica eu não consigo esquecer! Às vezes eu sonho com seus olhos cintilantes dizendo que tudo iria ficar bem, das noites recordo dela me empurrando no balanço do parquinho perto de casa, e em outras dela pedindo para que eu fosse paciente e aguardasse sua volta – desabafou ainda cabisbaixo — Eu não a esperei.

— Ela deixou um bilhete. Benedict, ela não iria voltar.

— Eu sei, mas mesmo assim eu não a obedeci. Será que eu era muito arteiro e ela cansou de mim?

Bufei — Você não tem culpa do que aconteceu, ela te deu um perdido duas vezes tentando se livrar de você! – proclamei tentando o fazer recuperar a razão. Não gosto de relembrar esse fato porque o deixa triste, entretanto com essa recaída era o melhor a fazer — Bene, não diga essas coisas, mamãe ficaria triste!

— Eu fui procurar ela, Damien.

Disse assim de supetão e eu me surpreendi. Queria gritar, mas no momento tenho que ser cauteloso, pois qualquer palavra má dita faria meu irmão piorar — E no que deu? Você a encontrou? – pronunciei com a voz limpa.

— Sim.

— E o que ela disse?

— Não me aproximei, apenas procurei saber sobre ela.

— Sua mãe mora na cidade?

— Não, eu passei em outro lugar antes de vir para casa.

Contive um suspiro — Certo, e o que você descobriu?

Ergueu a cabeça para finalmente me encarar — Você sabia que ela se chama Melinda agora?

O nome assinado na carta de abandono, o qual Bene também lembra, era Rachel — Não...

— Ela casou e adotou os enteados como se fossem filhos dela, dá pra acreditar? O mais novo tem a minha idade, a idade do filho que ela simplesmente deixou para trás!

— Bene, respire fundo!

Engoliu o choro — Eu já estava bem resolvido, satisfeito comigo mesmo. E daí mamãe se foi e eu me vi perdido, eu só queria entender o motivo pelo qual ela me deixou – balançou a cabeça negativamente numa tentativa falha de espantar a dor — O pior de tudo é que eu traí a minha mãe, a pessoa que mais me amava de verdade. Apunhalei nossa mãe no momento que ignorei seus cuidados e fui atrás de alguém que me odeia. E agora, será que agora ela também me detesta?

— E mamãe iria detestar o filho preferido dela?

— Eu ainda sou seu irmão?

Ele estava tão abatido e desnorteado pelo o que descobriu que a insegurança voltou a bater em sua porta — Você sempre será a praga do meu irmão caçula, assim como sempre será o amor da mamãe. Sabe... – hesitei um pouco no que ia falar remoendo se essa seria uma boa escolha — Mãe Raziel odiava Rachel, ou Melissa, seja lá como for. No começo ela até compreendeu sua atitude, mas com o passar do tempo foi sentindo raiva pelo dano que causou em você – desviei o rumo evitando contar a outra metade da verdade — Mas ela jamais te odiaria por ter escolhido buscar suas origens.

Arregalou os olhos esperançosos da mesma forma em que Noam reagiu ao chamar por sua mãe — Você acha?

Ri compadecido — Tenho certeza. Mamãe uma vez me disse que desejava que você um dia pudesse estar de frente a ela e resolvesse de uma vez por todas esse conflito mesmo que se por algum motivo você acabasse indo para o lado dela e a abandonasse.

— Nunca deixaria mamãe!

“Claro que não, você vivia atarracado na barra da saia dela!”, pensei antes de prosseguir — Mesmo que viesse a amar mais ela ou simplesmente desistisse dessa ideia, seja qual for sua escolha, mamãe sempre será sua mãe, assim como Benedict sempre será seu filho mais novo. Entendeu? – dei ênfase para que compreendesse o que quis dizer.

Sorriu mais aliviado — Ela te disse isso mesmo?

— Disse sim, mãe Raziel se preocupava com seu bem estar independente de onde quer que estivesse, ela sempre comentava comigo que desejava poder tomar tua dor para ela e espantar qualquer pesar que lhe cercasse.

Empurrei a cadeira ao me levantar e puxei meu irmão para que ficasse de pé também, em seguida o abracei carinhosamente dizendo que sempre poderia contar comigo e que ele jamais deixará de ser meu irmão. Dei soquinhos em seu braço quando me afastei como sempre fazia. Bene acalmou-se um pouco depois de conversarmos mais sobre essa história com mais tranquilidade, ele contou como foi o “encontro” com sua mãe e o fato estranho dela não o ter reconhecido, e mesmo assim Melinda ainda lhe disse que Benedict tinha olhos bonitos que a faziam recordar de um garotinho que conheceu anos atrás.

Por mais que minha língua estivesse coçando para contar a ele um segredo, contive a ansiedade e me contentei em fazê-lo sorrir novamente. E lá no fundo meu consciente fazia questão de recordar o triste fato de que eu já sabia de Melinda e sua família, e que mamãe também sabia. Foi ela quem me pediu ajuda para encontrar a mãe biológica de Bene e depois escolheu não manifestar a descoberta para não frustrar a vida dele.

“Não vou deixar uma bruaca dessas estragar a vida do meu menino mais uma vez, então contaremos a verdade quando Benny estiver realmente estabilizado ao ponto de não mais se abalar por causa dessa...”

Mas mamãe morreu pouco antes do noivado de Bene e eu preferi manter seu segredo guardado assim como era seu desejo. Agora ele sabia do paradeiro de sua progenitora, o que restava saber era se iria mesmo conseguir manter-se calmo e feliz. De toda forma, ao contrário daquela criança abandonada à mercê de alheios, agora Benedict tem uma família a quem recorrer sempre que precisar de amparo e eu estarei sempre aqui para recepcioná-lo.

Meu telefone tocou interrompendo nossa conversa. Atendi imediatamente assim que vi o remetente, era Kaspar informando que encontraram um abrigo de supostos criminosos e que no momento Samantha estava organizando uma equipe para ir averiguar — Estarei aí num pulo – avisei apressado desligando o aparelho e olhei bem para meu irmão — Você poderia ficar com Noam por alguns minutos? Obrigado! – antes que respondesse, decidi sair correndo porta a fora em busca do carro.

 

xXx

 

Avistei o carro escolhido por Samantha estacionado em frente ao pátio, caminhei sossegado com as mãos no bolso olhando para os lados em passos lentos. Ela ergueu a sobrancelha quando me viu próximo de sua equipe — O que faz aqui? – questionou terminando de fechar o zíper de uma mala deixada no chão.

Observei sua postura rígida agora com a roupa trocada usando uma jaqueta para proteger os braços contra o vento. Havia uma caminhonete preta do lado dela e uma picape prata logo atrás, ela entregou a mala para uma loira que jogou dentro do segundo veículo — Seu amigo não te contou? – disse, por fim. Enviou um olhar confuso ao garoto — Kaspar me avisou.

Samantha fulminou o pobre rapaz com o olhar — E-Ele disse que você tinha pedido a consultoria dele! – rebateu nervoso com minha mentira. Ela não respondeu, apenas disse “Vamos” e deu a volta na caminhonete.

Ele estava para entrar quando intervi segurando em seu ombro — Melhor você ir no outro carro, acho que ela está meio irritada com você – tentei não soar muito sarcástico, mas pelo visto não consegui.

— Esse é o meu lugar!

— Vai lá – o girei dando um empurrão em direção ao carro para em seguida puxar a porta e subir no banco do carona ao lado dela.

Rosnou — Cadê o Kas?

Sorri colocando o cinto de segurança — Ele foi dar uma volta com os amiguinhos do carro de trás.

— Qual o seu problema com ele?

— Fora o fato dele nem sequer bater numa porta antes de entrar? – dei de ombros — Nenhum!

Sam ligou o motor sorrindo de alguma coisa que não pude compreender — Isso ainda é pelo o que aconteceu de manhã?

— Não é a primeira vez que ele me irrita.

— Sou culpada por isso, pois disse a Kas para entrar sem bater quando for algo importante.

Tirou o carro da vaga girando o volante e pegando a estrada. Apoiei a cabeça no estofado enquanto batucava no porta-luvas — Esse garoto me irrita – comentei ao ligar o rádio.

Samantha puxou minha mão e desligou — Pega leve com o rapaz, ele é só um garoto ainda.

— Bene tem quase a mesma idade e ele não pega nem um copo d’água sem pedir “por favor, com licença”.

 — Benedict e Kaspar não tiveram a mesma educação.

— Isso eu percebi.

Virei o rosto olhando as construções passarem rápidas recordando de Benedict e sua possível recaída, era difícil para ele conviver com suas memórias o perseguindo a vida toda — O que houve? – ela interrompeu meus pensamentos ao questionar meu estado desconexo.

— Estou preocupado com meu irmão. Desde pequeno Benedict sempre fora mais carente e agora que nossa mãe morreu eu tenho medo que ele volte a se martirizar.

— Alguma atitude em específico?

— Eu não sei dizer – soltei um suspiro angustiado — Bene é todo educado porque tem medo que as pessoas o odeiem e o abandonem como sua progenitora fez, e por isso ele é tão “perfeitinho”. Ele demorou para ter confiança em si mesmo,  foi tão difícil desde o começo e agora que conseguiu sua independência a pessoa que era seu alicerce se foi...

— Ele ainda tem você, Silenna e a namorada dele para contar, é importante que ele saiba que não estará sozinho.

Concordei — Ainda assim é complicado com Seth nos rodeando como um abutre em cima da carne.

Owwn, não imaginei que você fosse tão apegado ao seu irmãozinho!

Fitei-a cético — Eu sou apenas um irmão dedicado que está tentando garantir uma vaga no céu.

Samantha caiu na gargalhada — E o que faz você, o bom samaritano, acreditar que terá uma vaguinha lá em cima? O que você vai fazer quando for barrado? Pular o muro? – ela continuou rindo e eu ainda não entendi a graça — Querido, eu e você já temos passe prioritário reservado lá embaixo.

— Fale por si mesma, eu ainda tenho salvação!

Riu mais alto ainda e por mais que eu não achasse graça nessa história, acabei sorrindo ao vê-la descontraída. Seu rosto estava corado com uma cor revigorada, os ombros menos tensos e a postura menos rígida. Era bom poder ouvir sua gargalhada uma vez ou outra, seu riso lhe dava um ar mais humano ao invés de agir como um robô padronizado para o trabalho.

Observou-me de soslaio — No que é que você tanto me olha?

— Você está linda hoje.

— Querido, linda eu sou de todo jeito.

— Mas hoje está ainda mais deslumbrante.

Ela virou o rosto sorrindo com o elogio e passou a mão em minha face — Você está muito bonzinho hoje, posso saber o que está aprontando?

Virei a cara tornando a contemplar a paisagem ignorando todas as provocações que ela fazia à medida que avançávamos o caminho desconhecido. Estacionou o carro em frente ao enorme galpão e ordenou para que eu a obedecesse — Sim, senhora. – emiti entre os dentes e isso a irritou um pouco.

“Eu tenho que assinar um relatório para cada disparo”, explicou olhando-me nos olhos. “Então não me irrite ou eu farei questão de preencher diversas páginas contando cada bala gasta em você, entendeu?” — Sim, senhora. – essa fora a resposta que quase a fez preencher algumas linhas ali mesmo.

Descemos do carro evitando causar qualquer ruído e seguimos para a entrada dos fundos. A porta estava entreaberta, então não fora uma invasão. Perguntei por onde estava o outro veículo e ela me explicou que eles iriam manter distância para não chamar muita atenção.

Corremos abaixados por detrás de algumas caixas fazendo-as de esconderijos enquanto tentávamos ouvir a conversa entre três homens lá na frente — Estão negociando algo – informou ela olhando pelo binóculo.

Pedi para que me passasse e averiguei a passagem de dinheiro entre eles — E você não pode fazer algo?

— Não posso prender alguém só porque estão movimentando grana.

— A não ser que seja roubada, falsificada, pagamento de sequestro...

— É – concordou com as mãos postas na cintura — E você tem alguma prova que confirme isso? – perguntou cochichando. Fiz que não — Foi o que imaginei!

Seu cabelo estava preso num rabo de cavalo e a franja caída no rosto, ela ficava linda quando estava brava. Eu já não conseguia mais parar de pensar nisso, era como se fosse uma doença ou espécie de virose — Acho que estou com febre – comentei aturdido e Sam realmente acreditou vindo me examinar.

Passou a mão delicada com sutileza em minha testa e depois pelo rosto todo até em minhas orelhas — Você realmente está com febre. – fiquei impressionado com a careta temerosa que formou em seu rosto — Eu disse que não era uma boa ideia você vir – murmurou tentando esconder sua preocupação.

Sem me importar e deixando isso para lá, passei apressado para a caixa do lado esquerdo numa tentativa de examinar a movimentação e consegui avistar mais dois caras armados parados num canto trocando conversa. Sam pediu para que eu lhe devolvesse o binóculo dizendo para que arremessasse em sua direção, hesitei antes de fazer isso ao pensar no problema que seria caso caísse no chão. Mesmo assim ela me apressou e eu joguei o objeto em suas mãos. Ágil como era de se esperar, Samantha o pegou sem qualquer problema. No entanto, com o movimento brusco a lanterna esbarrou e caiu no chão rodando no meio das caixas entre nós dois.

Imediatamente um disparo fora feito contra nós sem nem pensar duas vezes, o silêncio que reinava segundos atrás fora substituído pelo som de sapatos pesados pisando firme no chão. Samantha estava com a arma em punho pronta para atestar seu relatório. Ansioso, retirei a arma que também havia trazido escondido fazendo-a arregalar os olhos de espanto — Damien, de onde você tirou isso?!

— Eu vim com ela.

— E onde você a escondeu?

Sorri irônico — Não posso dizer.

— Desde quando você tem uma arma? Isso não estava no seu histórico!

Agora tive que rir ainda aos sussurros — Tem muita coisa minha que não está naqueles arquivos seus, querida.

— Diga que você ao menos sabe atirar?

— Eu fui muito bem no teste de aptidão!

— É legalizada?

Esse interrogatório estava me irritando — Sim, sim. Tudo legalizado, arma registrada, tudo certinho, mãe.

Bufou impaciente com minha impaciência e atravessou em minha direção correndo assim que um disparo fora feito, a madeira lascou alojando fragmentos em seu braço, perguntei desesperado se ela estava bem e a resposta fora “Melhor você se cuidar que eu cuido de mim”. Quanto estresse para uma pessoa só!

— Temos que sair daqui!

Em passos rápidos corremos com o corpo curvado arrastando uma caixa para usar como barricada enquanto seguíamos até a outra saída mais próxima. Empurramos a enorme porta com o ombro e caímos para fora do armazém de supetão, assim que Samantha destrancou o alarme do carro, corri em sua frente e segurei a porta do motorista.

— Saí daí, Damien! Não me atrapalha!

— Eu quem dirijo, ou você vai querer perder tempo discutindo?

Um tiro acertou a lataria respondendo minha pergunta. Ela deu a volta pelo capô e foi até o banco do passageiro, liguei a caminhonete cantando o pneu ao pisar no acelerador e saí dali o mais depressa possível passando feito foguete pela picape que estava estacionada numa vaga no meio do percurso. O farol iluminava o caminho, atrás de nós vinha um carro no nosso encalço atirando que nem uma metralhadora ambulante.

— Você podia ter pego um carro blindado né?

Uma batida na traseira do carro nos impulsionou para frente — Ah cala a boca e pisa nesse acelerador! – bradou furiosa pisando no meu pé para que eu dirigisse mais rápido.

O carro desgovernou — Para com isso, você está me atrapalhando – a empurrei de volta para o seu lugar.

— Você comprou sua carta foi?

— Comprei no mesmo lugar que você.

Dessa vez a batida fora do meu lado fazendo com que eu desviasse quase saindo da pista, estávamos subindo a estrada numa velocidade frenética. Mais uma batida fez com que eu acertasse a cabeça no canto da porta e perdesse por alguns segundos a direção.

Desnorteado, ouvi Samantha vociferar para que eu me abaixasse. Ergui os olhos pela janela a tempo de avistar um homem mirando um revólver em nossa direção, mal tive tempo de reagir, pois Sam me puxou para baixo no momento em que ele abriu fogo em nossa direção estilhaçando o vidro. Os pedaços dos cacos cortaram minha pele.

Girei o volante com a nova colisão do veículo ao lado, jogando o carro para a direita e estraçalhando o guard rail que protegia as margens da pista. Ouvi Samantha berrar quando o carro saiu do caminho e voou despenhadeiro abaixo como se fosse em câmera lenta. Na primeira queda, ela cessou os gritos, inconsciente. Na segunda volta, os estilhaços subiam e desciam em cada baque, minha cabeça latejava escorrendo o sangue por minha pele enquanto meu corpo espremia entre o pouco espaço. E no terceiro rodopio de um veículo capotando, eu já não conseguia mais descrever o que estava presenciando.

Apenas deixei a dor falar mais alto, fechei meus olhos pesados e entreguei-me a escuridão que cada vez mais me cercava.  

 


Notas Finais


Como diria Avril: Your time to fly 🎤

*Guard Rail – mureta, proteção metálica que geralmente aparece nas margens das pistas.

Obrigada a quem chegou até aqui, nos vemos no próximo, sim? 💖 *u*


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