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História Freak Out - Eu estou com você


Escrita por: sammye

Notas do Autor


I'm standing on the bridge 🎵

Hoy! Tudo bom? 💚 No capítulo anterior, Avril descobriu o envolvimento de Michelle no caso do pingente e que sua melhor amiga Louise havia a exposto, sendo assim ela estava em dúvida se iria atrás de sua irmã ou de Louise.
Desejo uma boa leitura!

*Rumor – nessa caso é sinônimo de ruído // Silver Tape é uma fita adesiva (aquela normalmente cinza).

Capítulo 39 - Eu estou com você


Fanfic / Fanfiction Freak Out - Eu estou com você

 

Desci do táxi na entrada do hotel onde minha irmã estava instalada, coloquei um pé de cada vez sobre a neve fofa e saí pegando a bagagem que o taxista havia retirado do porta-malas. Agradeci por sua gentileza dando uma boa gorjeta antes de puxar minha mala até o hall iluminado.

Passei pela porta da frente caminhando diretamente em direção à recepção trocando um breve diálogo com o recepcionista, informei que tinha vindo visitar minha irmã e ele pediu para que eu aguardasse conforme ligava para seu quarto. Batuquei os dedos impacientemente sobre a bancada até conseguir irritá-lo ao ponto de me enviar um olhar de reprovação, e enquanto isso nada de Michelle atender.

— Desculpe, senhora. Já passa das 2h45, ela deve estar descansando.

Cruzei os braços e o fitei irritada com a recusa, expliquei a ele que precisava encontrar minha irmã com certa urgência soltando também uma leve mentira de que ela havia desaparecido sem dar notícias e nesse caso a polícia viria buscá-la se ele não me deixasse subir. Dito e feito, o rapaz permitiu minha entrada argumentado que um tumulto poderia causar sua demissão.

Marchei até o elevador Com um riso triunfante estampado em minha face e escolhi o andar. Dentro da caixa metálica, afrouxei o cachecol e retirei o casaco pesado ficando apenas com a blusa de lã, pois o ambiente aqui dentro era mais agradável que lá fora. Saí pelo corredor olhando para os lados em busca pelo n° 218.  Parei em frente a porta dobrando meu casaco e o pondo sobre a mala antes de bater na porta.

Bati três vezes sem receber nenhuma resposta, então a chamei pelo nome e tentei contatar pelo celular, nada dela atender. Mas o que essa praga está aprontando dessa vez?! Decidi ser mais invasiva e arrisquei tentar arrombar a maçaneta, entretanto assim que ameacei tocar na fechadura a porta que simplesmente estava encostada rangeu ao abrir.

Desde quando Michelle deixa a porta aberta?!

Coloquei a cabeça pelo vão e chamei baixinho — Mich? – tomei um susto ao perceber o pandemônio que o cômodo se encontrava. Peças espalhadas, vasos quebrados, móveis caídos sobre o carpete e sinais visíveis de luta. Espera, volta a fita! Ainda um tanto afobada, repassei os olhos antes de constatar qualquer outra resposta chegando à conclusão que o quarto estava apenas bagunçado.

Encostei a porta com o pé evitando fazer barulho e deixei a mala debaixo do cabide onde coloquei meu cachecol, em seguida andei lentamente em direção ao quarto agradecendo pelas botas não fazerem rumor. Entrei nos aposentos buscando por algum sinal de minha irmã, notei a cama desarrumada e sua bagagem espalhada sobre o cobertor.

— Onde você se enfiou?!

Ralhei entre os dentes um palavrão retido anteriormente quando estava em viagem tentando compreender o porquê dela mentir dessa maneira. Perambulei pelo cômodo até ouvir um ruído, girei sobre os calcanhares e encarei a porta dupla do closet. Removi as luvas antes de por a mão no puxador e escancarar a porta.

Contive um grito ao vê-la agachada num cantinho perto dos sapatos com as mãos e pés amarrados — Meu Deus do céu, Michelle! – balbuciei atônita com a cena. Seus olhos mareados estavam arregalados de puro temor, ela balançou a cabeça negativamente murmurando algo que não pude ouvir. E, quando dei um passo para tentar socorrer, o som abafado de uma respiração próxima ao meu ouvido me fez petrificar por segundos suficientes a tempo de que um golpe forte fazer tudo escurecer.

Minha única visão fora a de minha irmãzinha protestando para que eu me levantasse.

 

...

 

Abri os olhos lentamente fechando-os logo em seguida, mais uma vez tentei fazer o mesmo piscando diversas vezes para mantê-los abertos. Minha cabeça latejava como se alguém a estivesse martelando. Olhei para frente onde no espelho meu reflexo era minha visão, contemplei minhas mãos atadas por uma corda e minha boca vendada por uma Silver Tape, algumas mechas caídas cobriam meu rosto pálido permitindo uma aparência ainda mais fantasmagórica.

Olhei para o lado e encontrei minha irmã no mesmo estado que antes, ela tinha a cabeça pendida para o lado conforme me observava. Arrastei-me até ela e apoiei minha testa na sua assim que consegui me aproximar, olhei em seus olhos sentindo o temor me apertar. Eu disse “Michelle o que você fez?”, mas ela não entendeu absolutamente nada devido aos murmúrios abafados.

Joguei meu corpo para trás e caída ao lado dela virando a cara perto de suas mãos que tatearam meu rosto até finalmente encontrar a fita e a retirar. Contive um grito ao sentir minha pele arder — Você está bem? – foi a primeira coisa que consegui falar, depois engoli a saliva em seco e ela fez o mesmo que eu para que arrancasse sua venda.

— Ai! – ralhou fazendo uma careta de dor — Avril, oh meu Deus! Ele te golpeou muito forte?

Fiz que sim — Ainda sinto um incômodo, mas não é nada tão aterrorizante quanto ver minha irmã trancafiada dentro de um closet! – exclamei abismada — Eu vim atrás de você já que não estava me atendendo desde a manhã.

— Vi as chamadas perdidas, no entanto eu estava atolada no trabalho e deixei para retornar de tarde. E quando terminei o jantar, ele chegou e... – cessou a fala e desviou o olhar para outro canto.

Ele? Quem é ele?!

— Eu não sei!

— Ele te fez alguma coisa?

Negou — Só me deu um empurrão, depois me nocauteou e quando acordei estava presa aqui.

Isso explicava os arranhões em seu rosto, talvez ela tivesse acertado na queda ou brigado com ele — O que foi que esse cara te disse? – não houve resposta — Ora essa, Michelle Lavigne! Eu sei que foi você quem arquitetou o roubo do pingente, ok? Não precisa mais tentar me fazer de idiota!

Esbugalhou os olhos — Quem te disse isso? Foi aquele infeliz do Kendrick, não foi?!

Bufei quase soltando um rosnado — Você não vai negar?

— Bem que eu queria...

Suspirei — Por que você fez isso?

— Aqui não é uma boa hora para falar sobre isso, Avril.

— Ah não? Tem um doido lá fora doido pra matar nós duas e você não acha uma boa hora? Quem garante que ele não está revirando o quarto em busca do pingente?

Agora ela reagiu — Mas eu não estou com aquela droga de pingente, você sabe muito bem disso! Eu nem sabia que era falso, só quis porque quis aquela porcaria pra poder ferrar com o Cord e funcionou, não da forma que eu queria mas... – confessou e isso me fez querer estar com a mão livre para lhe dar uns tapas, talvez deva chamar nosso raptor para me ajudar nisso — Eu não queria que ele morresse... Só queria que sofresse, que se desse mal por tudo o que me fez passar! Eu pedi algo impossível como garantia de que daria mais uma chance para aquele ordinário, mas não achei que ele fosse realmente tentar.

Queria tanto poder cruzar os braços agora — Ok. E por que você armou o plano?

— Eu só estava brincando.

— Brincando?!

Shiu! Fala mais baixo, ou você quer que ele nos escute? – repreendeu irritada — Talvez tenha passado um pouco dos limites, mas foi tão emocionante o que Cord fez por mim... Eu me senti amada, entende? Fomos apenas eloquentes, e depois que ele morreu eu entrei em pânico, sendo assim decidi guardar isso em segredo e estaria bem guardado se não fosse aquele linguarudo do Kendrick!

Fechei os olhos soltando outro suspiro, chateada — Você me decepcionou, estou frustrada com você. Essa não foi a educação que nossa mãe nos deu, não foi isso que te ensinamos, Michelle. – falei enraivecida de vergonha por sua atitude inconsequente — Tem noção do que fez? É cúmplice de um assalto, culpada indiretamente pelo assassinato de Cord e você ainda chama isso de brincadeira? Ora essa!

— Avril, calma! Respira fundo, conte até três – pediu calmamente e só então percebi que estava a beira de um ataque de nervos — Eu sei que fiz besteira, mas eu jamais quis ferir Cord dessa forma, eu o amava apesar de tudo!

— Vá se ferrar você e esse seu amor, quero mais é que se dane! – esbravejei de volta — O que eu quero saber é o que você realmente fez, pare de mentir pra mim! O que esse homem quer?

— Ei, ei! – protestou ofendida com meus xingamentos — Eu já lhe disse, eu apenas elaborei uma estratégia e quem agiu foi Cord e seu melhor amigo. Estou fora de qualquer outra coisa, está bem? – olhou-me nos olhos como se dissesse “eu juro” — Ele quer o pingente verdadeiro, disse que roubamos o original e devolvemos uma fraude.

Balancei a cabeça negativamente — Isso porque você recebeu uma cópia, Cord entregou o verdadeiro para que Kendrick vendesse com a finalidade de custear o tratamento de sua irmã.

Michelle ficou avermelhada de tamanha ira — Eles me enganaram?!

— Sim, o seu querido “ato de amor” fora mais um golpe que Cord lhe deu.

Disse essa frase com tanto goste que mal pude conter um riso satisfeito. Bem feito, trouxa!

— Eu vou matar o Cord!

— Pena que ele já está morto, né? E você é a próxima da lista se não me ajudar a encontrar uma maneira de sair daqui!

Ela olhou para os lados e tentou desamarrar o nó da minha corda, porém estava bem atado e o único resultado que obteve foi um corte em seu dedo. Pensei em arremessar alguma coisa no vidro para que os cacos pudessem servir como lâmina, contudo isso faria um estrondo e chamaria atenção. E mesmo que quisesse, percebi somente agora que meu celular não estava mais no bolso da calça onde tinha deixado.

— Eu tenho uma tesourinha dentro daquela pequena mala amarela que uso para cortar alguns fiapos de minhas roupas.

— As peças da Abbey Dawn não desfiam...

Fitou-me cética — Isso não é hora para fazer propaganda da tua marca!

Dei de ombros com o comentário e ergui a perna tentando puxar a bolsa com o pé, uma vez que ao contrário de Michelle, eu sempre fui mais atlética. Consegui derrubar a mala no carpete e abri o zíper com o dente, depois soltei a tesourinha no chão e peguei com um certo esforço para cortar a corda de minha irmã.

— Finalmente livre – exclamou alisando os punhos avermelhados — Agora é a sua vez. – retirou a corda de seus pés e veio em minha direção libertando-me daquela amarra.

Esfreguei meus pulsos e depois os tornozelos fazendo o mesmo que ela. Em seguida nos levantamos e aí sim foi uma provação, pois meus pés dormentes formigaram e eu me desequilibrei por alguns segundos. Precisamos de um plano, foi o que eu disse. Mas eis que no exato momento a porta abriu e o cara que nos prendeu ali surgiu diante de nós.

— Posso saber pra onde as senhoritas pensam que vão?

Ele usava uma roupa escura típica de um invasor e seu rosto era coberto por um capuz preto onde dava para ver seus olhos claros fuzilando-me por entre o buraco da máscara. Meu coração gelou ao revê-lo novamente depois de tanto tempo. Sim, sim. É ele! Por mais que não tenha visto sua face, ainda o revia regularmente em meus pesadelos ao repassar a noite de Halloween.

— Onde está?!

Questionou com sua voz habitual, ainda recordava até mesmo da entonação de seu timbre de voz. Michelle segurou minha mão — Eu já disse que não sei! – respondeu desesperada quase caindo no choro.

— Quem mais sabe que você está aqui? – direcionou a pergunta para que eu respondesse.

— Minha assessora.

— E ela está aqui com você?

— Sim.

— Onde?

— Na recepção me aguardando – menti descaradamente — Se eu não descer em dez minutos ela vai estranhar.

— Pois que suba aqui então.

— Ela vai chamar os seguranças.

Sorriu pelo canto dos olhos — Interessante. Além de bonita é bem inteligente.

Esse comentário irritou o fundo da minha alma, olhei pelo canto dos olhos para Michelle, que assentiu e correu juntamente comigo para o empurrar. Ela passou correndo por ele e me puxou para seguir seus passos, contudo assim que estava para sair, ele agarrou meu braço e me segurou com firmeza me apertando com força.

— Me solta – ordenei o estapeando, tentei até mesmo dar uns socos mas ele interviu acertando-me uma bofetada forte o suficiente para me derrubar no chão.

— AVRIL!

Michelle correu para me ajudar e ele a empurrou contra a mesinha de cabeceira — Deixe ela ir, sou eu quem você quer! – suplicou aos prantos.

Apoiei o peso do corpo sobre o antebraço e tentei levantar atordoada com a visão turva devido ao golpe que recebi — Esse discurso teatral é o melhor que consegue fazer? – zombou curvando o corpo de frente a ela.

— Não. – sorriu — Como diria minha irmã: eu posso fazer melhor – dito isso, Michelle fincou nele a tesourinha que ainda mantinha guardada e levantou correndo conforme o invasor grunhia. Ela estava vindo em minha direção quando ele a atropelou no meio do caminho e com hostilidade a arremessou contra a parede.

A essa altura eu já tinha finalmente conseguido ficar de pé, infelizmente ele veio atrás de mim — Sabe que eu acho admirável esse lance de irmãs se protegerem e tudo mais? Mas por quanto tempo isso dura? Até que uma tenha que lutar sozinha para sobreviver? – pegou-me pelo braço e me arrastou até o meio do quarto. Tentei esmurrar e lhe acertar um chute, porém meu braço imprensado para trás arrancou metade das minhas forças e quando ele grudou o cano de sua pistola debaixo do meu pescoço eu decidi parar — Você é encantadora, sabia?

Virou meu corpo de frente a ele num movimento brusco e passou a mão pelo meu rosto olhando-me nos olhos — Eu vou te amputar – ameacei entre os dentes. Eu só precisava de uma oportunidade para acertar um golpe bem dado, quantas vezes já não briguei com garotos mais fortes que eu? Qual é, Avril! Você é a única garota no time do Hockey!

Mas dessa vez era diferente, dele eu sentia medo. Nas minhas brigas habituais o sentimento de triunfo sempre me cegava, todavia olhando para esse estranho eu sentia minhas energias sendo sugadas.

Ele passou a mão no bolso da jaqueta e jogou um molho de chaves nos pés de Michelle — Vá, você está livre. Quero ver se teria coragem de deixar sua irmã aqui – pronunciou quase me devorando apenas com o olhar. Estremeci mais ainda, apavorada.

Michelle me olhou e eu sinalizei para que saísse. E obediente, ela deixou o cômodo com nós dois ali, apenas ouvi a porta da entrada bater quando ela passou — A segurança vai estar aqui em dois minutos. – tentei persuadir, contudo apenas recebi um riso como resposta.

— Sei que você está blefando. Além do mais, sua irmãzinha sabe que se tentar me dedurar eu vou atrás dela de novo – respondeu convicto de que conhecia minha irmã bem o suficiente para crer que ela me abandonaria assim nas mãos dele.

— Você pode puxar o gatilho. – desafiei.

— Você sabe lá no fundo que viva ou morta eu vou fazer o mesmo com você.

Vidrado, ele me empurrou na cama e subiu logo atrás num pulo ansioso. Fui recuando desesperada até chegar na beirada com ele tirando minhas peças só com a imaginação, fechei os olhos e fiz uma prece suplicando para que fosse socorrida naquele momento. E então como um foguete, Michelle retornou correndo em cima dele e o acertou com um aparelho de som.

Caiu no chão instantaneamente deixando sua pistola sobre os lençóis, arrebatei a arma sem muito pensar e subi em cima da cama mirando em sua direção. Michelle o golpeou mais três vezes para certificar seu abate enquanto minhas mãos tremiam envolta do gatilho.

Ele caiu tão depressa que chegava a assustar — De onde você tirou essa velharia? – fiz referência ao aparelho de som com a voz afoita.

— Sei lá, estava no apartamento! Encontrei isso no meio dos móveis e pensei que viria a calhar – comentou apressando os passos e imobilizando o cara com uma das cordas que ele tinha trazido.

— Precisamos chamar a polícia! – falei ainda mirando naquele estrume de gente.

Ergueu a cabeça espantada — Não! Se chamarmos a polícia eu serei presa por ter ajudado Cord!

— Mas não podemos deixar ele escapar!

Olhou para baixo e depois retornou a me encarar — O que vamos fazer?

— Não podemos deixar esse indivíduo livre, ele nos raptou e tentou me abusar! – contestei indignada com a possibilidade dele se safar dessa — Eu vim até aqui maquinando umas ideias durante o voo, já sei o que vamos fazer – anunciei determinada apontando o dedo — Você vai confessar sua parcela de culpa para o detetive Thomas.

— Eu o quê? Mas não vou mesmo!

— Ah, mas vai sim! – rebati irritada — Ele me disse que se eu te fizesse confessar seria mais fácil, talvez ele tenha algum acordo em mente. Eu sei lá, só sei que mesmo se deixarmos esse homem escapar, o detetive pode te prender a qualquer momento.

Cruzou os braços — Em base no quê?

— Ele sabe que você esconde algo, mais cedo ou mais tarde ele irá descobrir, é uma questão de tempo. Agora, pense comigo: podemos denunciar uma invasão por roubo, estamos em outra cidade, ele não será burro de contar que tem mais coisa nessa história, não acha? – recebi um “talvez” como resposta — Basta chamar a segurança, dizer que seu quarto foi invadido e manter essa história.

— E depois eu volto para casa e me entrego?

Soltei um suspiro — Vamos conversar com Thomas, ok? Eu o conheço há pouco tempo, mas sei que posso confiar nele, foi muito bem recomendado. E posso lhe contratar um ótimo advogado, dará tudo certo!

Riu — Sua esperança me surpreende. Eu não quero ser presa!

— E não vai ser se seguir o que estou falando. Tenha confiança, eu sou sua irmã mais velha, sei o que estou falando, ok?

Michelle relutou mais um pouco antes de aceitar minha proposta, por mais que detestasse admitir, no fundo ela sabia que eu tenho a voz da razão. Por mais quanto tempo ela vai ficar fugindo de criminosos e assassinos?!

Finalmente larguei a arma hesitando, a adrenalina ainda corria em minhas veias. Enquanto ela chamava a polícia eu liguei para a recepção e alertei a invasão, não deu dois minutos para que os seguranças brotassem na porta. Contamos que ficamos reféns dele e que sofremos em suas mãos, depois liguei para mamãe contando o acontecido antes de ir falar com a polícia.

Levaram o assaltante embora e pediram para que eu fizesse um exame com a finalidade de provar a agressão, depois nos mantiveram recolhendo depoimentos e questionando sobre a ocorrência. Omiti a parte em que aquele homem já havia me perseguido outrora vez e relatei sem mencionar a ligação com o pingente roubado.

Quando amanheceu e o sol despontava pela janela, levantei seguindo até o telefone realizando uma chamada para casa na esperança que Gianne atendesse e me informasse o número do detetive Thomas que estava na agenda de casa – visto que, o agressor estraçalhou nossos celulares para que não buscássemos ajuda – e em seguida liguei para ele.

— Detetive Thomas?

Ouvi murmúrios ao fundo — Sim?

— Aqui é Avril Lavigne, estou ligando da delegacia de Nova York.

— Você foi presa?!

— Não, não. – ri dessa hipótese agora mais aliviada — O quarto de minha irmã fora invadido. Podemos marcar uma reunião o mais depressa possível?

— Claro – disse quase num sussurro — Pra quando?

— Ainda hoje.

Hesitou — Ahn... Tudo bem. Ligue mais tarde para marcarmos um horário ou passe aqui no hospital que talvez dê para conversarmos já que irei passar a tarde aqui.

— Hospital?

Estranhou — Sim, você não ficou sabendo?

— Do quê?

Pigarreou antes de prosseguir — Damien e Samantha capotaram o carro e estão internados aqui no hospital onde Misty fora hospitalizada anteriormente.

Arregalei os olhos pasmada com a notícia — Vou passar aí assim que puder – disse, por fim. Eu o vi tem nem doze horas, como pode isso?! Encerrei a ligação e me deparei com minha irmã curiosa para descobrir o porquê da minha careta de espanto — Damien sofreu um acidente de carro – contei a ela e isso a fez reprimir um grito.

— Temos que ir lá ver ele!

Concordei — Aham, e daí aproveitamos para batemos um papo com o amigo dele: o detetive Thomas!

Michelle fez careta de desagrado retornando a se acomodar no banco da sala de espera. Sentei ao seu lado e me cobri com um cobertor parecido com o dela permitindo que apoiasse sua cabeça em meu ombro, ficamos ali juntinhas tentando superar o trauma conforme a hora passava, iríamos tentar retornar para o aconchego de nossas casas pegando o voo das 10h.

Uma voz muito familiar vindo do outro lado detrás das portas chamou nossos nomes e assim que identificamos a origem de seu chamado, saltamos da cadeira e corremos ansiosas até os braços de nossa mãe. Seu perfume acalmava a sensação angustiante que corria em minhas veias — Como que a senhora chegou aqui tão rápido? – indaguei atarracada a ela.

— Nada como ter um amigo rico para chantagear, não é mesmo? – ironizou brincando e eu a encarei desconfiada.

— Mãe?

Riu espirituosa — Venham cá, minhas meninas! – pediu para que apoiássemos a cabeça em seu colo e assim fizemos.

Mamãe passou a mão em minha cabeça afagando-me conforme questionava nossa segurança. Ela disse estar orgulhosa de nós duas por termos protegido uma a outra e com isso Michelle gabou-se de ter enganado o invasor ao fingir sair quando na verdade apenas bateu a porta e continuou ali dentro buscando algo para me defender. E foi só quando mamãe comentou do meu rosto inchado que eu me toquei da bofetada, meu rosto ardia onde o golpe estava marcado.

— Vou levar vocês de volta para casa. – determinou alisando nossos rostos.

Michelle se empolgou — Não, não! Temos que passar no hospital e resolver alguns assuntos pendentes – fitei-a de soslaio. Ela acha mesmo que vai escapar assim tão fácil?!

— Hospital? Vocês estão bem?

— Sim, mãe. Sabe aquele amigo da Avril que foi passar o Natal com a gente? Ele sofreu um acidente e por isso vamos fazer uma visita – ela explicou no meu lugar.

Dona Judy se prontificou em nos acompanhar porque se compadeceu ao lembrar de Noam e da família. Após resolvermos tudo na cidade, pegamos o voo de volta para casa um pouco mais tarde do que o planejado e desembarcamos horas depois. Fomos todas em minha casa, tomei um banho rápido e passei uma maquiagem para encobrir a marca que havia ficado para depois descer e encontrar minha família.

 

...

 

Chegando ao hospital encontrei Misty apoiada no vidro de uma sala olhando para o nada como se sua mente estivesse em outro lugar, chamei seu nome duas vezes até receber sua atenção. Ela estava abatida, assustada e um pouco desnorteada — Como ele está? – perguntei e a expressão pesarosa que fez em resposta me deixou triste.

Baixou os olhos — Samantha acordou agora de pouco e ele continua... – soltou um suspiro sem terminar a frase.

— Damien está fora de risco?

Fez uma careta preocupada, em sua expressão pude perceber que o estado era grave — Acho que sim.

— Ele vai ficar bem, vaso ruim não quebra fácil – tentei soar confiante arrancando um riso dela.

— Obrigada por ter vindo, eu sei que vocês não se dão muito bem, mas...

Sorri — Não é como se eu o odiasse, sabe?

Sorriu fraco esfregando os braços para espantar o frio e retornando a agir como uma robô petrificada em frente ao vidro. Perguntei por Noam e automaticamente respondeu que o menino tinha ficado com sua vó durante essa noite, estava para dizer alguma coisa quando o ruído de passos rápidos vindo do final do corredor chamou nossa atenção.

Era Benedict passando a passos pesados com uma expressão raivosa em seu rosto e logo atrás dele vinha aquele cara estranho que vi ontem conversando com Misty. Ele tinha um sorriso irônico no rosto como se tivesse acabado de tirar a sorte grande.

— O que ele faz aqui, Misty? – esbravejou entre os dentes lançando um olhar fulminante ao outro que se aproximava.

— Vim fazer uma visita ao irmão de vocês.

— Você veio para desligar os aparelhos, isso sim!

— É, mas com essa algazarra toda envolta dele vai ser difícil fazer isso, não é mesmo? – provocou sarcástico — Não querem fazer o favor de se retirar?

Benedict decidiu não responder optando por sair bufando para o mais longe possível — Seth, hoje não... – a consultora parecia enfraquecida pela exaustão, debaixo de seus olhos as olheiras estampavam seu rosto cansado.

— Precisamos conversar, Moxi.

Ele a encurralou quando se aproximou — Não está vendo que ela não está num bom momento? Respeite a dor dela, rapaz – mamãe brotou no meio dos dois e o afastou com um olhar bravo.

— Eu não iria nem lhe responder, minha senhora, mas já que estamos aqui eu preciso dizer que não falei com você.

— Não? Que pena, porque eu falei com você e se continuar atrapalhando eu vou chamar os seguranças. – ela retribuiu o olhar desafiador que ele lançara.

Seth riu irônico e escolheu se retirar sem mais alvoroço — Desculpe por isso, ele é meio indiferente – Misty pediu envergonhada com a cena cada vez mais murcha.

— Afinal, quem é esse cara? – perguntei cismada com aquela presença sombria.

— Ele é o filho de mãe Raziel – Benedict pronunciou ao retornar — O primogênito. Misty é a única que acredita nele não sei nem como...  E como diria meu irmão: “Não sei como duas pessoas tão amorosas conseguem por no mundo um ser tão repulsivo”.

Achei engraçada a careta que ele esboçou ao dizer isso, tentei conter o riso em respeito a sua dor. Em seguida, questionei se o detetive estava nos arredores do hospital e a consultora informou que se encontrava na cafeteria no andar debaixo. Peguei minha irmã pelo braço e a arrastei pelo corredor até conseguir o avistar pairado em frente à máquina de expresso.

Ela me encarou com um brilho malicioso — É ele o tal detetive?

— Uhum.

— Pensando bem acho que deixaria ele me prender.

Virei de frente a ela contemplando-a abismada — Michelle!

— O que foi? Eu ainda estou bem viva!

Balancei a cabeça rindo de seu comentário e continuando seguindo em direção a ele. O chamei de longe — Ah, oi! – acenou para nós duas.

Mich se empolgou ao acenar de volta.

— Olá detetive, tudo bem contigo?

— Eu vou indo, e vocês?

Passou a mão pelo cabelo desgrenhado — Eu vou bem.

Revirei os olhos intervindo o diálogo — Podemos ter uma conversa em particular?

— Claro. Tem uma salinha vaga logo ali, me acompanhem, por favor – pediu seguindo em nossa frente.

O acompanhei até uma sala de espera e aguardei que fechasse a porta para introduzir — Minha irmã precisa se confessar.

— Preciso?

Fulminei-a pelo canto dos olhos — Sim, precisa.

— Mas cadê o padre?

— Michelle!

Ergueu as mãos em sinal de rendição e o detetive fez uma careta sem compreender o que estávamos falando — Confessar o que exatamente? – encarei minha irmã para que ela iniciasse o discurso, no entanto apenas enrolou — Você matou alguém?

— Não!

— Foi cúmplice de um assassinato?

— Jamais!

— Então por que o receio?

— Porque você vai me prender!

Franziu o cenho — Depende do que você fez. Por que não começa me contando o que aconteceu e aí eu vejo o que posso fazer para te ajudar? – persuadiu olhando em seus olhos. Era intrigante a forma como ele transmitia confiança mesmo o conhecendo tão pouco, talvez fosse a forma como seus olhos brilhavam ou o sorriso amigável que estampava em seu rosto.

Mich soltou um longo suspiro deixando cair o peso de seus ombros — Tudo bem, eu sabia um pouco mais do que deveria saber – iniciou quase parando. Thomas disse que isso não era o suficiente — Eu ajudei meus amigos a planejarem um roubo, mas eu não roubei nada! – sentia-me culpada por ter sido desleixada e ter deixado a situação chegar a esse ponto. Agora estou aqui de frente com um homem da lei que pode prender minha irmã a qualquer momento.

— Certo, certo – meneou com a cabeça matutando alguma coisa em silêncio — Chame um advogado, nos vemos mais tarde na delegacia ainda hoje, ok? Iremos tentar um acordo se o que você relatar não for algo mais grave.

Ela sorriu quase dando pulinhos — Obrigada, detetive. – agradeci em seu lugar.

Sorriu — Deixe os agradecimentos para depois. Mas olha, é melhor você se apresentar ainda hoje que senão eu mesmo terei que bater na sua porta e daí não será muito agradável – adotou um tom de voz mais sério ao dizer isso. Agradeci mesmo assim afirmando que iríamos fazer isso — Agora se me permitem, tenho que ir. – avisou antes de sair da sala e nos deixando sozinhas.

Saímos logo atrás dele nos deparando com mamãe no corredor a nossa procura — Agora poderíamos ir para casa? – perguntou ansiosa com a possibilidade de cuidar de suas filhas após um trauma dessa magnitude.

— Infelizmente temos outro compromisso, mamãe. – informei chateada pela oportunidade perdida.

Colocou as mãos na cintura e enviou um olhar impaciente para nós duas — O que é que está acontecendo aqui, posso saber? – rosnou irritada.

Enviei um olhar cúmplice para minha irmã instruindo para que contasse o que realmente tinha acontecido. Mich hesitou antes de desabafar sua aventura com Cord no mundo do crime, mas optou por relevar a verdade antes que nossa mãe descobrisse de outra forma. Dona Judy cresceu os olhos de espanto conforme minha irmã contava a ela sobre suas escolhas e mentiras nos últimos meses, e no decorrer da conversa, mamãe a colocou de castigo por alguns longos meses.

Confesso que quis muito rir do sermão que Michelle estava levando, entretanto até eu acabei ouvindo bronca por ter encoberto as atitudes dela e não ter revelado isso antes. No final, fiquei sentada de braços cruzados balançando os pés no banco enquanto as duas discutiam sobre responsabilidade.

 


Notas Finais


It's a damn cold night 🎤

Alguém vai ficar de castigo por um bom tempo!
Eu estava para dar uma pausa na fic devido aos acontecimentos, mas continuo em dúvida. Talvez o próximo capítulo demore um pouco mais para sair, porém estou fazendo o meu melhor para deixar tudo em dia. Só que eu preciso de um tempo para organizar tudo certinho, afinal a reta final está logo ali e por isso ainda estou vendo como vai ser essa fase.

Espero que tenham gostado desse capítulo, obrigada a quem chegou até aqui e nos vemos no próximo, sim? *u* 💖


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