História Freak Show - Freak Show

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A semana estava sendo estressante. Há muito tempo eu não me via daquele jeito. Eu era capaz de bater em alguém se me dissessem "bom dia".
Vou explicar o motivo: sou estudante de moda na FIT (Fashion Institute of Technology), em Nova Iorque, e nos últimos dois meses especificamente, estava há milhão naquele lugar. Era o seguinte: foi proposto pra turma criar uma coleção (desenhar e costurar) inspirada em circo de horrores, e o melhor aluno ganharia uma surpresa.
Eu estava completamente em apuros, por vários motivos. Eu estou nos EUA há três anos, fazendo faculdade há dois, e infelizmente o meu inglês é péssimo. Sou alemã, e meu pai é do exército e foi transferido pra cá. E no meio de faculdade, aulas de inglês e a dificuldade de entender certas coisas nas aulas, eu estava perdida. Amanhã era a entrega do trabalho, completamente finalizado, e por sorte não tínhamos que levar modelos, pois eu não teria ninguém pra levar.
Acordei cedo no outro dia, mais que o que havia planejado. Estava muito nervosa. Eu havia me esforçado muito, pois era um tema que particularmente me agradava.
Já que era cedo, decidi passar as roupas e arrumar elas no guarda-roupas móvel.
Naquele dia fui de carro pra faculdade. A bagunça lotou o carro e não cabia mais nem pensamento lá dentro. Foram três viagens para o quarto andar até finalizar as bagagens, e era hora de montar. Não conseguia deixar de pensar em qual seria a surpresa.
Apesar de ter me esforçado muito pra esse trabalho, eu tinha certeza que não seria escolhida. Havia pessoas incríveis, com pais estilistas e tudo mais, que com certeza fariam trabalhos extraordinários.
Mas o tempo passou e estava na hora. Levei todos os meus cinco manequins montados pela sala, e desabei a esperar na mesa. Alguns minutos passaram até que nossa professora e um homem entraram na sala.
-Queridas, bom dia. Esse aqui é o Robert Freg e ele será um jurado na hora de avaliar seus trabalhos. Ele faz parte da surpresa, façam-o gostar de você. Então, sem mais delongas, por ordem. Por favor, Anne Schwammbach. - disse a professora Rose Mille, me chamando com um sinal de cabeça.
Minhas mãos tremiam. Levantei e puxei meus cinco manequins até a frente da sala, e então respirei fundo.
-Bom, o trabalho era pra ser feito inspirado em um circo de horrores, portanto, tomei a liberdade de criar um tema próprio, porém famoso dos circos de horrores, que são as partes das pessoas anormais, ou "bizarras". Tendo isso como ponto, aqui vamos nós.
1- Um vestido muito, muito grande em questões de comprimento para a mulher gigante.
2- Um maiô muito, muito pequeno em questões de comprimento, para o homem anão.
3- Uma regata para três seios.
4- Um terno com luvas, com atenção especial para as luvas de apenas três dedos.
5- E um vestido muito largo para a mulher gorda.
Terminei a apresentação suando frio. Acho que gaguejei na hora de falar e provavelmente foi um desastre.
-Obrigado pela apresentação, Anne. -disse Rose enquanto soltava um olhar pare Robert. -Agora, Belatrice, por favor.
E assim seguiu, calmamente, vinte e duas pessoas. Infelizmente eu não prestei atenção em nenhum trabalho pois estava preocupada demais comigo mesma por ter feito uma apresentação horrível e insegura, e por ter a certeza que nem em décimo lugar eu ficaria, se houvesse um ranking. Fiquei também preocupada por ninguém ter entendido nada nesse meu inglês péssimo com sotaque alemão carregado. Meus pensamentos estavam me deixando louca quando finalmente ouvi um "atenção", vindo lá da frente. Me endireitei na cadeira e olhei atentamente para Robert que, estranhamente me encarava.
Ele com certeza estava rindo por dentro e pensando "como um lixo desse ainda continua nesse curso?", mas desviei o olhar e me atentei á Rose.
-Pessoal, eu e Robert conversamos e chegamos em um acordo, para escolher quem irá ganhar essa surpresa, e, caso o vencedor não o queira, então passaremos para o segundo melhor. -ela disse e encarou a sala.
Meus pêlos se arrepiaram inteiros, e eu não parava de balançar as pernas.
-Anne Schwammbach! -ela falou alto e empolgada, e eu me assustei.
-Oi? -falei sem entender.
-Você minha flor, você foi escolhida a melhor.
-Que? Sério? Nossa...Eu nem...
-Venha aqui, querida. -Pediu Robert, e eu andei lentamente para a frente da sala.
Fiquei quieta olhando a cara de todo mundo, que era um misto de tristeza, ódio, indignação e curiosidade, e esse até eu tava, porque apesar de ter ganhado, ainda não sabia qual era a surpresa.
-Bom... -iniciou Robert. - Eu sou um dos produtores da série "American Horror Story" e, como uma série de temática forte, precisamos de alguém que tome conta dos figurinos e entenda disso. Nossa antiga produtora acabou não dando certo, e eu tive a ideia, que todos da produção gostaram, pois além de conseguirmos alguém, ajudaríamos na carreira dessa pessoa. Conversei com a diretoria e professores que adoraram a ideia de fazer essa "competição" entre vocês, e cá estamos nós. - ele parecia bem animado, me olhando.
A minha voz nem saía. Eu tremia e suava e tinha certeza que todo mundo percebeu isso. Me esforcei muito e tufo que consegui foi fazer um "sim" com a cabeça. Robert então estendeu a mão, e eu a apertei. E então ele e Rose começaram a bater palma e a sala acompanhou.
O murmúrio começou pela sala e eu fui arrumar minhas coisas para ir embora. Robert veio atrás.
-Anne.
-Oi. -eu disse nervosa e ele me entregou um papel.
-Se você se interessar pela proposta, peço que apareça amanhã, nesse endereço, ás 14h.
-Obrigada. -peguei o papel, e ele foi embora.