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História Freeze You Out - 15. Nervosismo


Escrita por: PandoraCipriano

Notas do Autor


Olá leitoras, lamento pela demora. Eu pretendia finalizar o capitulo semana passada, mas semana passada não foi uma semana muito boa para mim então acabei me afastando do pc. Mas... Cá estou com um capitulo novo. Boa Leitura!

Capítulo 15 - 15. Nervosismo


Fanfic / Fanfiction Freeze You Out - 15. Nervosismo

Como Thranduil havia falado, eles não se viram muito no decorrer dos dias que se passaram. Apesar de ter sido apenas dois ou três, o palácio se tornou mais agitado que Rivendell para seu noivado. Pessoas da corte do rei de Mirkwood começavam a chegar, nem mesmo Tauriel ela havia visto nesses dias. O casamento seria amanhã e seus nervos estavam ainda mais afoitos e a flor da pele do que deveriam estar. Tanto que chegou a ter tonteiras noite passada e jantou em seus aposentos.

Seu treinamento com Malyr fora interrompido e ela intensificou o de línguas, pois não queria fazer o rei passar vergonha com uma rainha que não sabia falar a língua materna. Ensaiava todos os dias, a todo instante e praticava com Herea e Eirien também lhe dava ajuda. A sua serva particular já estava familiarizada com a língua, mais do que ela própria e novamente sentiu vergonha.

Naquele exato momento, enquanto novos elfos chegavam ao palácio e Tauriel corria feito uma louca para recebê-los, Nye se encontrava fazendo sua ultima prova do vestido de noiva. O tecido branco e com detalhes dourados caiu por sobre seu corpo e o modelou, as mangas eram longas e esvoaçante. Mal sentia o tecido em sua pele de tão macio e leve que era. Para não passar ainda mais vergonha, ela também passou a usar seu cabelo ao estilo élfico. Mesmo que seu povo não tivesse o costume de usá-lo, pois todos sabiam que os elfos de Vallarin usavam os cabelos da forma que queriam e até se assemelhavam aos dos homens.

Mas como estava ingressando em um novo reino e costumes diferentes, ela decidiu deixar o cabelo jogado para trás e assim também esconderia a mecha branca. Por sorte ela estava por baixa de todo aquele cabelo levemente ondulado dela, mesmo se estivesse solto e livre não seria possível vê-lo. Apenas quando o penteava.

- Ah, Nye. Está tão bonita! – Herea elogiou, sorria boba para a sobrinha – Galadriel ficará encantada quando a vir e... Mesmo ainda não gostando de você se casar com ele, creio que Thranduil irá gostar também – acrescentou.

Nye sorriu timidamente, nem ela mesma se reconhecia no espelho. Não estava produzida nem nada, apenas provava o vestido para finalizar os ajustes. Luriel parecia satisfeita com o trabalho e em seus olhos dava para ver o orgulho brilhando. As outras três elfas menores também pareciam contentes. Eirien passou a lhe fazer mais companhia, a ajudando também a lhe acalmar quando ela entrava em pânico pelo casamento que se aproximava.

- Bom, agora falta somente os últimos ajustes – Luriel falou, caminharam para um canto do cômodo e em uma mesa se encontrava varias tiaras élficas de todos os jeitos e com varias pedras incrustadas.

Nye ficou maravilhada com as tiaras, mas não soube qual escolher. Herea a ajudou e após experimentar inúmeras tiaras, ela finalmente escolheu uma. Em seguida trocou de roupa e vestiu novamente seu vestido azul marinho e com detalhes prateados, Luriel avisou que o vestido estaria pronto para o casamento e a ajudaria a se vestir.

 

***

 

Seguiam pelos corredores agora e já era possível ver inúmeros elfos andarem de um lado a outro, os convidados pareciam se sentir em casa, mas ainda sim não os impedia de fazer cochichos a respeito de Nye. A mesma se encolheu quando passaram por dois elfos – que ela não conhecia – e eles a olharam para logo depois conversarem algo. Não era tola, sabia que era a respeito dela, pois seus olhares ainda caiam em cima de si.

Nessas horas ela sentia raiva de ser “atrasada” como élfica e não poder usar seus “dons” élficos e assim escutar o que eles estão dizendo, se Thranduil estivesse com ela, perguntaria. Mesmo que ele não lhe respondesse. Herea a Eirien vinham mais atrás, conversando sobre o casamento dela. Só de ouvir a palavra ‘casamento’ ela já sentia seu estomago embrulhar e sua mente rodar.

Rezava para que na hora do casório ela não resolvesse desmaiar ou passar vexame. Não queria estragar a corte de Thranduil.

Continuaram a andar pelo palácio quando Tauriel interrompeu seus passos e ela possuía um sorriso no rosto.

- Deve me acompanhar, Nye! Alguém acaba de chegar e creio que ficará contente com isso – ela disse um tanto vaga e a mente da pobre elfa não compreendeu as palavras da chefe da guarda.

Sem nem esperar alguma resposta de Nye, Tauriel a puxou pela mão levando-a para o hall do palácio. Com o casamento praticamente batendo em sua porta, os convidados já começavam a lotar o palácio e com isso Thranduil ficava ainda mais impossível de ser achado. Devido a alguns elfos importantes, ele tinha que dar atenção a eles. A freqüência com que os criados eram vistos também aumentou, Nye não os via pelo palácio, mas sempre percebia o mesmo limpo e a sala de jantar sempre bem arrumada. Era quase que mágica a forma como elas/eles arrumavam tudo.

A euforia de Tauriel começou a dominá-la, sua cabeça tentava pensar em alguém que havia chegado, mas sua preocupação com o casório lhe tirava a concentração de qualquer coisa. E de repente já estava no hall, vendo o belo elfo de cabelos alourados escuro descer de um cavalo e em seguida ir ajudar uma elfa loira a descer do dela.

- Leony! – exclamou com felicidade, ao ouvir o seu nome ser gritado o elfo se virou vendo a irmã correr até ele.

Se abraçaram e ela começou a sentir-se mais aliviada, era bom ter a família por perto, ainda mais quando está quase tendo um ataque do coração. Com um sorriso nos lábios, Leony a rodopiou no ar e sorriu enquanto a olhava de cima abaixo.

- Fico contente por saber que está bem – sorriu – Se eu soubesse que Herea iria fugir de Lothlorien e vir para cá antes do dia combinado eu teria vindo com ela – brincou e acenou para a tia.

- Herea não é muito de ficar quieta e aguardar a hora certa – a voz suave de Galadriel surgiu mais atrás.

Nye se virou e avistou a elfa loira que parecia tão imaculada e sagrada. Era incrível como a aura da rainha de Lothlorien estava sempre iluminada e gentil, até duvidava que ela era capaz de sentir raiva ou ódio por alguém. Feliz por vê-la se aproximou até a mesma e a abraçou, Galadriel retribuiu, mas de uma forma contida. Elfos não tinham o costume de abraçar tão abertamente assim uns aos outros como os homens, mesmo sendo parentes. Eles faziam, mas eram mais discretos.

- Não agüentaria esperar nem um dia a mais – Herea se pronunciou, aproximando-se dos demais – Queria ver se minha sobrinha estava inteira – completou.

- E viu que não falta um pedaço – Galadriel acrescentou e alguns riram.

E foi nos sorrisos que Nye também reconheceu Elrond e Arwen logo atrás. A elfa correu para abraçar a sua professora élfica e claro rever os amigos que a acolheram quando precisou.

- Fico feliz que tenham vindo – disse.

- Não perderíamos o casamento por nada, mas é uma viajem longa desde Rivendell até Mirkwood – Elrond respondeu.

- E como. Fora quase uma semana para chegarmos – suspirou – Tiveram problemas para vir? – indagou olhando para todos.

- Se fala das aranhas, não vimos nenhuma – Leony respondeu, mantendo-se perto de sua esposa – Ao menos, não viva! – deu de ombros.

A feição de Nye se fechou, ainda não acreditava que havia aranhas andando por aí na floresta como se fossem suas donas. Felizmente, Tauriel possuía um grupo muito bem treinado para combatê-las e ficava feliz por ninguém ter tido o azar de encontrá-las ou lutar com elas.

Logo depois da recepção calorosa de Nye para com seus convidados, que era mais do que isso, eram seus amigos. Todos se recolheram para os quartos de hospedes do palácio, mas logo alguns foram andar pelo palácio ou foram falar com Thranduil, no caso de Galadriel e Elrond. Nye foi para a biblioteca com Arwen, ambas conversavam sobre variadas coisas, principalmente pelo fato da elfa querer saber como estavam as coisas em Rivendell depois da saída dela.

 

*

*

*

 

Enquanto as coisas se mantinham agitadas para o casamento, do lado de fora dele, tudo parecia calmo. Mesmo com a chegada de mais cavalos e carroças élficas – nas quais eram sempre bem enfeitadas com desenhos feitos a mão na madeira -, tudo se mostrava na mais calmaria. Mas o mesmo não se podia dizer de Elinor. Ela não compartilhava daquela festividade, pelo contrario, sua mente imaginava constantemente Nye desaparecendo do mapa para sempre.

Com uma prancheta na mão e papéis presos na mesma, ela avaliava a ração que era dada aos cavalos. Um trabalho que era feito constantemente, sem contar os cuidados pessoais dos animais. A cada verificação a elfa xingava mortalmente a sua nova rainha, ás vezes se controlava por causa dos criados, pois não queria que eles rissem dela como no outro dia. Enquanto dava chiliques os criados em volta riam de sua atitude um tanto infantil e humana. Como Thranduil costuma dizer: os elfos não fazem tal coisa.

Mas ela não ficaria quieta, não deixaria essa passar. Se não fosse por Nye, ela jamais seria rebaixada e muito menos teria o rancor e distanciamento de seu rei. Ela sempre dedicada para cuidar dele e até conquistá-lo, mesmo que sempre levasse um fora e palavras duras dele. Palavras nas quais machucavam, mas ela ainda permanecia em pé alegando que ele tem medo de se entregar e que se ele desse uma chance, poderia fazê-lo feliz e esquecer a dor da ex-esposa.

Mas não. Ele nunca lhe deu uma chance e parece dar todas para aquela elfa bastarda. Desde que fora para Rivendell em seu noivado, ela nota os olhares protetores e afeiçoados de Thranduil em cima de Nye. De inicio achou que o casamento ainda não estava confirmado, mas quando chegou, viu o contrario. Até se aproveitou das brigas que eles tinham, mas nada surtia efeito. Então sabia que teria que pegar pesado e não importa o quão sujo tenha que jogar, ela o faria.

E foi pensando em sua próxima cartada que ela – após terminar de revisar tudo do estábulo – rumou para seu quarto e ficou a andar de um lado a outro pensando no que fazer. E logo uma ideia lhe veio a mente.

- Já sei! – sorriu de canto, fitando-se no espelho – Não será nada muito efetivo, apenas uma arte, porém, talvez ajude a cancelar o casamento ou atrasá-lo – riu.

Nye não ficaria com Thranduil. Aquilo seria apenas o começo, enquanto ela pensava no restante de seu plano, pois este era somente a primeira parte dele.

 

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*

 

- Tem praticado. Sua pronuncia melhorou bastante, mas sabe que não pode se descuidar – Arwen comentou, ambas conversando e apreciando um momento a sós na biblioteca.

Eirien servia um chá a elas e fazia companhia. Após servi-las recuou alguns passos e ficou neutra diante das conversas de ambas.

- Com a chegada do casamento, me mantive mais empenhada. Não quero que a corte de Thranduil pense que sou uma elfa qualquer – respondeu, pegando sua xícara e dando um gole após soprar.

- Se mantiver esse ritmo, fará uma boa impressão na festa – sorriu – E quanto a convivência com o rei? Em Rivendell viviam brigando e mal conseguiam se encarar – relembrou.

Nye suspirou, relembrando de seus dias em Rivendell. Era gostoso as lembranças que tinham, porém, lembrar de lá a fazia recuar mais alguns dias e então se via de novo em Erenon. Onde uma vida amarga a acompanhava. Por um momento pensou que se não tivesse surtado e congelado tudo ao seu redor, ainda estaria morando naquele inferno e sofrendo como nunca. Ou talvez teria matado somente o rei Illis e então poderia viver com sua mãe Aren e em paz.

Mas elas teriam paz? Sua irmã se revelou uma pessoa maléfica, com uma aura flamejante e que gostava do sofrimento alheio. Se tivesse matado o rei Illis, teria ela vivido em paz? Ou Maere se revelaria algum dia e outro sofrimento aconteceria? E em todas as possibilidades, nenhuma delas parecia lhe levar até Thranduil. Apenas a dor.

Deu um gole grande em seu chá, ignorando o fato de estar quente e o liquido queimando sua garganta ao descer. E logo respondeu a pergunta de Arwen.

- Estamos nos dando bem, ainda acontecem algumas brigas, mas isso é porque Thranduil é muito teimoso e complexo. Aquele elfo não é fácil de lidar, mas estou aprendendo – contou.

- Entendo – a elfa deu um gole no chá também.

Continuaram conversando sobre outras coisas, como o vestido, quando a porta da biblioteca foi aberta e por ela Legolas adentrou o local. As garotas estavam mais afastadas da porta, em uma parte com algumas mesas arredondadas e pequenas contendo apenas duas cadeiras.  As estantes de madeira élfica guardavam livros e mais livros, era um local aconchegante, se recordava de passar a infância ali lendo livros.

Caminhou calmamente até encontrá-las apreciando um chá e Eirien lhes fazendo companhia. Logo a conversa foi interrompida por Nye que percebeu sua presença e lhe sorriu, assim como Arwen.

- Legolas! – Arwen se levantou e o cumprimentou.

- Me avisaram que havia chegado, mas não lhe encontrei em canto algum do palácio e sei que só podia estar aqui – comentou ele retribuindo o cumprimento – Espero não estar atrapalhando – olhou para as duas.

- De maneira nenhuma, não quer se juntar a nós? – Nye indagou, se levantando também.

- Adoraria, mas irei fazer uma ronda agora mesmo e irei acompanhar os convidados que chegarem pela tarde – contou – Vim apenas lhe trazer isso – esticou uma pequena urna adornada de ouro e pedras safiras.

- O que é isso? – a elfa indagou, pegando-a das mãos do príncipe e a colocando sobre a mesa.

- Meu presente de casamento para você – disse e havia um pequeno sorriso naqueles lábios, mas ainda sim, contido.

Confusa e até feliz, Nye abriu a pequena urna e teve uma surpresa ao ver o que continha ali dentro. Por dentro havia uma almofada pequena e aveludada guardando cuidadosamente uma adaga, a bainha da mesma era revestida de prata e com detalhes em ouro, tendo safiras adorando na ponta. Maravilhada com a beleza dela, Nye a pegou e a retirou de sua “capa” e viu a lamina bem afiada e reluzente, o cabo todo em prata e possuindo somente uma safira na ponta. Toda majestosa e esplendida.

- É linda! – disse ela.

- Tem progredido nas aulas e creio que merece. Se continuar assim posso lhe dar uma espada – comentou.

- Sério?! – exclamou contente – Obrigada, Legolas – sorriu.

Legolas apenas uma rápida mesura de respeito e ficou grato por ela ter gostado, comprou a adaga que mais parecia com ela e torcia para que tinha acertado. E pela feição de felicidade, viu que tinha feito a escolha certa.

- Tenho que ir agora, meu grupo me aguarda – disse ele – Com licença – pediu e em seguida saiu, dando um aceno breve para Eirien.

Após ele sair, Arwen se pronunciou.

- Ouvi dizer que o filho de Thranduil não estava contente com esta união, mas vendo-o agora percebo que é o contrario – alegou.

- Bom, isso é verdade. No inicio quando cheguei a Mirkwood, Legolas se mostrou bem frio e distante, mas aos poucos fomos nos aproximando – disse enquanto guardava a adaga – Não o julgo, ele não queria que ninguém tomasse o lugar da mãe e eu sou uma completa estranha para ele. É compreensível – emendou.

- Você é uma elfa compreensível, será uma boa rainha – sorriu.

- Acha mesmo? Alguns elfos de Mirkwood não concordam – comentou, sentando-se novamente na cadeira.

Arwen observou a feição de sua adorada aluna e amiga, era bem visível que a chegada do casamento e o titulo que viria consigo estava abalando a pobre elfa. Seus olhos estavam sempre focando o nada, parecia enxergar algo que os outros não conseguiam, mas ao mesmo tempo parecia não estar vendo nada. A expressão avoada dava a entender também que estava se perdia em pensamentos.

A elfa, filha de Elrond, ficou preocupada por Nye. Queria poder ajudar, porém, não sabia nada do que era ser uma rainha. Mesmo ela sendo uma princesa de Rivendell, suas responsabilidades eram diferentes da de uma rainha que sentava ao trono. Ela não poderia ajudar em nada, talvez até deixasse a coitada ainda mais aflita pelo que viria a frente. E não querendo piorar o estado de aflição da mesma, Arwen sugeriu algo para se distraírem.

- Por que não vamos até a cidade e andamos um pouco – sugeriu – Podemos convidar seu irmão e a esposa dele. Meu pai me disse que Thranduil não lhe deixou sair muito do reino – comentou.

Dando um sorriso um pouco mais positivo, Nye assentiu e deixaram os livros para trás. Logo após guardar o presente que ganhara de Legolas, elas foram atrás de Leony e sua esposa.

 

***

 

Nye ficou durante uma semana dentro do palácio, exatamente uma semana, e nunca chegara a ir até a cidade. Na verdade, nem sabia que existia uma. Por um momento pensou que o gigantesco palácio de Thranduil já fosse o reino, mas estava enganada. Saindo do paládio e seguindo uma trilha que dava até uma ponte cumprida, do outro lado dela ficava a cidade élfica de Mirkwood. Onde os cidadãos do reino viviam e até as famílias dos guardas e das servas. Quando você virava um guarda ou um servo do palácio, você praticamente tinha que morar lá dentro, mas claro que o rei permitia que você fosse visitar sua família.

A cidade não era muito grande, talvez fosse do tamanho ou menor que Dale. Cheia de casas rústicas e bem harmoniosas e decoradas com plantas, flores e raízes de árvores que saiam do solo. O chão formado de pedra ladrilhada deixava o caminhar tranqüilo. Ainda havia árvores cercando todo o local como se fosse um muro resistente e Nye se perguntou se não haveria algum risco de alguma aranha doida chegar a aqueles domínios.

Elfos elegantes – até aqueles de classe baixa – andavam pelas ruas e ao ver Nye andando por ali, se surpreenderam e logo fizeram uma mesura de respeito diante dela, mas claro que também não faltaram os cochichos e alguns até maldosos a respeito dela. Fora impossível não escutá-los, alguns faziam questão de cochichar alto. Mas a maioria dizia tudo tão baixo que ela duvidava que até mesmo o elfo ao lado da pessoa conseguisse escutar.

Ainda não tinha a capacidade deles de escutar tudo de longe e em níveis tão baixos.

Passaram por vários lugares ao longo da cidade, havia de tudo ali, desde floriculturas até ateliê de costura. Havia uma feira também, onde barracas com vários tipos de ervas eram vendidas, sementes e até livros antigos em élfico. Nye ficou encantada, mas como sempre, somente sua presença já era suficiente para causar alvoroço.

- Seja bem-vinda, minha rainha! – disse o vendedor, um elfo elegante e de cabelos castanhos. Usava trajes simples, mas ainda sim o deixava com uma postura galante.

Ele se curvou e Nye ficou sem jeito, ainda mais pelos outros elfos a olharem e mais uma vez cochicharem. Ela sorriu timidamente.

- O-Obrigada – agradeceu – Quais ervas possui?

- Tenho varias, minha senhora. Por qual procura exatamente? – indagou.

- Uma erva calmamente – disse, sabia que no estoque da cozinha havia acabado, mas as ervas élficas eram fortes demais e ela ainda não estava habituada – Não teria alguma erva cultivada por homens, não é? – tentou.

Porém, o elfo a sua frente arregalou os olhos, surpreso pelo pedido. Não só ele como os outros que estavam ali ao longo daquela pequena ruazinha. Os outros comerciantes estranharam o pedido, elfos não bebiam chás feitos por ervas dos homens, elas eram sem graça e não possuía gosto, ao menos na opinião deles. Mas para o paladar de Nye, eram agradáveis e a dos elfos era forte demais e amargo.

Que elfo pede ervas cultivadas pelos homens? Como alguém consegue beber aquilo?

Ouvi dizer que a nova rainha foi criada por homens, ela não sabe nada da sua própria raça, nem mesmo sabe falar Sindarin!

Como ela conversa com o rei?

Será que ela saberá cuidar dos deveres de uma rainha, se não sabe falar élfico?

A cada frase dita, Nye ia sentindo o embrulho no estomago aumentar. Suas mãos tremiam e ela temia que seu poder saísse do controle, Malyr a alertou sobre suas emoções e como ela lhe influencia facilmente. Deveria tomar cuidado com o que sentia até o casamento, já que por causa dele tem se sentindo estranha e nervosa demais. Não estava a fim de congelar o reino todo ou parte dele por causa de um nervosismo bobo.

Nye encarou os elfos que cochichavam, alguns viravam o rosto e outros continuavam como se ela não estivesse ali. Leony mostrou uma feição séria para eles e isso pareceu afugentá-los, já que logo foram embora, mas os comerciantes ainda a olhava com questionamentos silenciosos. E isso apenas piorava seu estado.

- Lamento, mas não cultivamos ervas dos homens. Sei de uma erva, camomila, ela é muito boa e é dos homens, porém, não a temos aqui – disse o comerciante, ele ao menos parecia compreensível com a elfa – Mas posso dar um jeito de conseguir, minha senhora – sorriu minimamente.

- Não precisa se incomodar – disse – Tem alguma erva para acalmar os nervos de uma noiva? – riu, apesar de seu riso não ser muito animado.

- Claro – respondeu.

Logo o elfo pegou um pequeno vidrinho com uma erva moída e esverdeada, deu as instruções a ela de como ferver com a água e então após agradecer, deixaram a feira. Mas o animo de Nye para continuar a conhecer a cidade foi embora, rapidamente pediu para voltar para o palácio. Entendo o que se passava com ela, Arwen e Leony e sua esposa, retornaram com Nye para o palácio de Mirkwood.

E assim que chegou, Nye correu para o quarto e se trancou lá dentro.

 

*

*

*

 

Ela avistara o dia passar através das janelas de seu quarto. A claridade que conseguia chegar até ali ia sumindo e dando lugar ao céu repleto de estrelas, se ocupou com alguma leitura durante o dia, no período da tarde deu uma cochilada e depois ficou sem nada para fazer, mas também não sentiu vontade de sair de seu refugio. Ninguém lhe importunou durante esse tempo, e Nye agradeceu por isso. Queria ficar sozinha, com seus pensamentos, com seus medos e tentar de alguma forma arrumar coragem.

Não sabia se possui alguma, mas talvez ela encontrasse se procurasse corretamente.

Enquanto ela se trancava em seu quarto, as coisas no palácio ia se agitando. Mais convidados iam chegando, Giel os recebia e Thranduil terminava de ver as decorações para o casamento. Soube através de Elrond que Nye se trancara no quarto, ouviu o elfo comentar que o pequeno passeio na cidade não rendera bons momentos e isso o preocupou, porém, não havia nada que ele podia fazer. Nye teria que aprender a lidar com as línguas soltas e afiadas do povo sozinha, por alguns momentos ao longo do dia ele se sentiu tentado a ir atrás dela. Mas se conteve.

Esperaria até o anoitecer para falar com ela. Ou talvez, o melhor seja deixá-la consigo mesma.

Com a mudança do céu, as luminárias foram sendo acesas por todo o palácio. As servas da cozinha de Rosetta já começavam a preparar o jantar, que seria servido dentro de instantes. O salão de jantar sempre solitário tendo somente Nye como ocupante, estaria agora repleto de pessoas, mas somente as mais próximas do rei e de sua rainha, como Galadriel, Elrond e sua filha, o mago Gandalf que chegara no final do entardecer. Herea e Leony também estariam presentes. Os outros convidados ficariam em uma área mais aberta e com mais mesas, apesar de que alguns preferiam comer em seus próprios aposentos.

As horas iam passando e logo o cômodo do salão de jantar ia ganhando companhia, Thranduil adentrou o recinto encontrando as servas já de prontidão e a mesa organizada para o jantar. Legolas já se encontrava ali aguardando o pai e os demais, logo cada um dos convidados reservados do rei se sentaram a mesa, porém, uma cadeira ficou vazia. O olhar do rei caiu sobre a outra ponta da mesa, onde Nye deveria se sentar ficando assim de frente a ele e próxima a sua família. Se aquilo o incomodou não deixou transparecer, continuou a conversar com Elrond tranquilamente.

- Onde está Nye? – Galadriel indagou, notando a ausência da sobrinha.

Percebeu as feições chateadas de Leony e sua esposa, sem contar a seriedade de Herea. Fitou de relance Thranduil, mas este apenas a ignorou e com um aceno discreto ordenou as servas que os servissem.

- Ela disse que irá comer no quarto – Herea respondeu.

Depois da frase dita por Herea, o jantar correu calmamente e a falta de Nye – apesar de ter sido sentida – foi momentaneamente esquecida. Mas claro que alguns, ainda olhavam para a cadeira vazia, o incomodo da não tê-la ali parecia afetar em uns mais do que em outros. Thranduil era um deles, constantemente seu olhar caia na cadeira. Chegava a se irritar por se ver tão desesperado que ela aparecesse de repente, afirmando que se sentiu melhor para saborear o jantar na companhia de todos. No entanto, se recusava a ir atrás dela ou obrigá-la a vir.

Legolas percebeu as constantes olhadas que o pai dava para o lugar vago, algumas vezes ele lançava um olhar para a porta. Depois de comerem, a sobremesa foi servida e esta fora mais silenciosa, apenas se ouvia a voz de Gandalf e Elrond e vez ou outra o rei ousava dizer alguma coisa. Mal tocara na sobremesa, mas isso se devia ao fato de Thranduil não gostar muito de doces. Preferia algo mais cítrico ou amargo. Não era a toa que seus chás eram bem amargos e sem açúcar algum.

A conversa permaneceu na mesa mesmo após todos terminarem de comer. Alguns foram se retirando calmamente e logo o recinto já estava todo vazio, Thranduil saiu após Galadriel e Elrond se retirarem – estes foram os primeiros – e rapidamente rumou para os aposentos de Nye. Parou diante da porta do quarto dela e bateu – batidas suaves e firmes -, aguardando pela mesma logo seguinte, porém, nenhum ruído viera de dentro e aquilo o preocupou. Rapidamente abriu a porta adentrando o cômodo, vagou o olhar a procura dela, mas não a encontrou.

A cama estava vazia e nem sinal de que ela estivera deitada ali, caminhou calmamente até o banheiro temendo pegá-la desprevenida durante o banho, mas também não ouvira barulho d’água e para confirmar entrou no mesmo. E como esperava, ela não estava ali. Olhou até mesmo em seu quarto antes de sair e ir atrás dela. Preferiu deixar a procura somente para si, não queria alarmar a todos pelo repentino sumiço dela. Mas internamente ele torcia para que ela não tivesse fugido de novo.

Procurou em lugares que ela costumava ficar – biblioteca, campo de treino, estábulo, cômodos para apreciar a paisagem -, mas ela não se encontrava em nenhum deles. Sua tensão já começava a aparecer, anda apressado e temia que tivesse saído do palácio sem o alce, já que ele se encontrava no estábulo. Pela feição do animal julgou que nada aconteceu a ela, caso contrario seu alce estaria histérico e agitado. Aqueles dois possuíam uma conexão estranha que ele nunca compreenderia.

Por fim decidiu parar de procurá-la, se não a estava encontrando era sinal de que ela queria ficar sozinha. Respeitaria sua decisão. Então rumou para o salão de trono, aguardaria ela ali e mandaria algum guarda esperar na entrada e saída no palácio, uma hora ela apareceria.

Mas somente pisar na trilha para o salão real que Thranduil interrompeu seus passos. Bem ali, diante do trono se encontrava Nye. Sua feição parecia a mais preocupada possível e a mais amedrontada também, suas mãos estava fechadas em punho e ela não parecia notar que amassava o vestido com o aperto. Os guardas continuavam imóveis diante da presença do rei e da rainha. E sorrateiramente, Thranduil se aproximou dela.

- O que faz aí? – sua voz ecoou pelo salão e Nye se virou rapidamente.

Ela o fitou, mas logo virou o rosto. Nem ela sabia o que fazia no salão do trono, acabara indo parar ali enquanto andava pelo palácio e encarar o trono a fazia entrar em pânico, mas também se questionava sobre seu futuro como rainha.

- Todos sentiram sua falta no jantar – comentou ele novamente, andando no espaço frente ao seu trono. Seus olhos a analisavam, mas esperava que ela contasse o que acontecia.

- Peço perdão por minha ausência, mas não estava com fome. Nem consegui comer um pouco sem que sentisse o estomago revirar – contou, fitando o chão.

Thranduil a olhou e depois fitou os guardas que ali se encontravam.

- Deixe-nos a sós! – ordenou e em seguida os guardas deixaram o local. Um silêncio se abateu ali antes que Thranduil voltasse a falar – Tudo isso é pavor diante do casamento? – indagou.

- Como não ficaria nervosa? Serei rainha, não me vejo reinando assim... Nem me vejo com uma coroa! – confessou – Pensei que fosse mais fácil ignorar aqueles que querem que eu falhe antes mesmo de tentar. Mas não é tão fácil – disse.

Nye possuía os brilhantes pelas lágrimas, encarava o trono com tanto pesar que doía vê-la daquela maneira. Thranduil mais do que ninguém sabia o que ela enfrentaria, sabia das palavras maldosas e de como o povo podia ser ríspido quando queria, mesmo sendo rei ainda sentia que parte de seu povo não concordava com ele no trono. Provavelmente iriam preferir que Giel assumisse o seu lugar. Mas ninguém sabia fazer o trabalho duro como ele, ninguém sabia carregar as dores do seu povo e a escuridão do luto como ele. Ninguém poderia governar como ele. E nisso, até mesmo Giel concordava.

- Quer cancelar o casamento? – questionou sério, sua postura ereta e imponente demonstrava contrariedade.

Nye engoliu em seco, mas negou.

- Não.

- Tem certeza? Ainda dá tempo, apesar de ser em cima da hora – falou – Mas não há problemas em adiarmos.

- Não! – disse mais firme, os olhos se tornaram mais brilhantes, algumas vezes as mãos dela tremiam de ansiedade – Seguiremos com... Com o casamento – assentiu.

O rei se aproximou mais e esticou a mão para ela, que o encarou confusa. Ele meneou a cabeça em um pedido mudo para que aceitasse. Aceitou a mão estendida e Thranduil a levou em direção ao seu trono, subiram os poucos degraus que rodeavam a lateral dele e calmamente ele a fez se sentar no trono. Cautelosa, Nye se sentou devagar, sentindo a respiração ficar mais densa e profunda. Thranduil ficou ao lado dela, ainda segurando sua mão. Com calma e suavidade.

- Pesado, não é? – comentou ele, vendo os ombros dela se encolherem e a postura ficar torta e o peito dela parecia buscar desesperadamente por ar – Eu já senti esse peso varias vezes. No inicio pesava tanto que mal conseguia relaxar durante a noite, mas depois aprendi a controlar esse peso.

Nye o escutava atentamente, mas não diminuía aquela sensação estranha. Parecia que o mundo havia sido colocado em seus ombros e ela tombou a cabeça para frente.

- Como fez para controlá-lo?

- Como rei você deve fazer o que é o certo, não importando as conseqüências. Como rainha você deverá estar ao meu lado e a confiar em mim, mesmo que tudo indique eu esteja contra você – respondeu – Confiança se conquista, Nye. Terá que conquistá-la do povo – disse – Mas talvez eu possa lhe ajudar a se sentir melhor...

Ela o encarou.

De repente, Thranduil a puxa pela mão – que ainda mantinha unida – e a faz se erguer-se. Em seguida, ele senta no trono e a encara.

- Sente-se – disse movendo a cabeça em direção ao seu colo.

- N-No seu colo? – indagou e ele assentiu.

Receosa, ela acatou o pedido dele e se sentou. Manteve suas mãos no colo e fitava os pés, completamente corada por sentar assim no colo dele. Era a primeira vez que fazia algo desse tipo. Sentia o calor do corpo dele, uma de suas mãos estava em suas costas e a outra pousada em suas mãos. Mas estranhamente se sentiu mais calma e relaxada. Parecia que nada poderia feri-la se continuasse nos braços do rei.

Sempre gostou da sensação de proteção que emanava dele, mesmo sendo todo frio, ele de alguma forma possuía um calor acolhedor.

- O peso diminuiu um pouco, não foi? – indagou, sua boca próximo ao ouvido dela.

Nye se arrepiou e o rei gostou dessa reação. A abraçou mais apertado, enquanto buscava a boca dela. A elfa foi virando aos poucos o rosto e ela mesma iniciou o beijo lascivo. Se beijavam com todo o fervor e paixão que possuíam, até que aos poucos foram diminuindo o ritmo e logo se afastaram. Encararam-se por alguns segundos e depois – totalmente envergonhada – Nye se levantou do colo do rei e ele fez o mesmo.

Desceram as escadas do altar do trono em completo silencio, logo se caminharam para algum lugar do palácio. Mas Nye ainda teve coragem de falar, quebrando aquele silencio, porém, não incomodo.

- Thranduil – o chamou, ele não respondeu, mas demonstrou que estava ouvindo – Tudo bem se eu passar a noite com você? – indagou e ele a olhou.

O rei parou de andar e a encarou.

- Se é o que deseja – disse e Nye pareceu ter visto um sorriso querendo brincar nos lábios dele.

Com um sorriso tímido, Nye deixou-se ser guiada pelas emoções e o abraçou. De inicio ficou surpreso, mas não deixou que a expressão viesse à tona, porém, rodeou seus braços em torno dela e depositou um beijo casto no topo de sua cabeça.

Em seguida seguiram para a biblioteca, ainda estava cedo para irem dormir. E as mãos ainda continuaram unidas, deixando Nye mais confiante de seu incerto casamento.

 


Notas Finais


Não sei o que dizer do capitulo, apesar de achar que ele não está bom (ou do jeito que eu queria), vejo que ele é essencial e não poderia pular logo para o casamento. E falando em casamento no próximo capitulo teremos a cerimônia... Teremos confusão, desentendimentos e um monte de coisas!
Espero que tenham gostado e até o próximo!


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