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História Freeze You Out - 16. Um Destino Traçado II


Escrita por: PandoraCipriano

Notas do Autor


Boa Leitura!

Capítulo 16 - 16. Um Destino Traçado II


Fanfic / Fanfiction Freeze You Out - 16. Um Destino Traçado II

 

O palácio estava a todo vapor. Servas limpavam o enorme salão de festas e que receberia elfos importantes. As decorações eram todas rústicas e as cores prata e creme dominava todo o recinto. Pilares adornavam as laterais do salão com seus arcos em cima e dando um vão para a varanda, para aqueles que queriam respirar um ar fresco. Havia bancos de mármore branco ali para se sentarem.

Enquanto tudo era organizado, Rosetta começava a organizar a comida. Além de cuidar do casamento ainda tinha que se manter atenta as necessidades do desjejum dos convidados no palácio e a de seu rei também. Sem falar na rainha. O casamento aconteceria ao entardecer, enquanto o sol se esconderia nas montanhas, Thranduil e Nye receberiam as bênçãos de Eru.

Nos casamentos dos homens, o noivo e a noiva não podiam se ver, por isso ficavam em cômodos separados até a hora do casório. Porém, com os elfos não havia essa superstição e devido a isso, os noivos – Thranduil e Nye – ainda se encontravam juntos. O quarto do casal estava silencioso, duas servas retiravam a mesa posta para seu desjejum. Nye mal comeu e o rei percebeu isso, mas não ousou insistir. Apenas rezava para que ela não desmaiasse no casamento por falta de alimento.

Nye vestia seu roupão por cima da camisola, se encontrava sentada na cama fitando os pés que balançava vez ou outra. Completamente alheia ao seu redor. Thranduil se encontrava em um canto da ante-sala de seu quarto lendo. Teriam horas antes do casamento, mas sabia que logo teriam que se arrumar.

A elfa deitou na cama, suspirando. Fitava o teto, as paredes e a cabeceira da cama bem feita com as raízes de uma árvore. Tentava não pensar que dentro de algumas horas iria se casar, mas era meio difícil. Notou Thranduil um tanto estranho, ao acordar não falara direito com ela e o rei parecia pensativo demais. Estaria ele nervoso pelo casamento também? Ela não sabia, mas também não tinha coragem de perguntar.

O observava de longe. O elfo imponente sentado em uma poltrona, mantinha um livro de capa dura em mãos. Seu olhar era fixo nas paginas que lia, uma perna sobre a outra. Thranduil era o rei perfeito e digno de ocupar o trono, porém, não sabia dizer o mesmo de si mesma. Mas era fato que se sentia melhor na companhia dele, só esperava que essa sensação não fosse sua ruína.

- Consigo ouvir sua respiração daqui! – a voz altiva dele a alcançou e ela se sobressaiu ao ser pega o olhando, isso se ele percebeu que ela fazia isso – Imagino que os outros também consigam ouvir sua respiração ruidosa – se levantou, andando até o quarto onde se encontrava a cama – Terá que se manter calma durante o casamento ou seus ruídos farão os convidados acharem que há ratos no palácio! – alegou, colocando o livro na cômoda pequena ao lado da cama.

E o velho Thranduil havia retornado. Nye quase rolou os olhos.

- Eu respiro como qualquer elfo normal – rebateu ela, se levantando da cama.

- Elfos não fazem ruídos ao respirar! – disse e agora ela revirou os olhos – Respiram tão suavemente que parecem não o fazer. Terá que se empenhar mais se quiser não transparecer sua aflição – argumentou.

- Você tem vantagem, já casou uma vez – cruzou os braços.

- De fato – concordou e retornou para a ante sala, onde pegou uma jarra e se serviu da água.

Nye o seguiu, sentou-se em um dos sofás macios e o encarou.

- Como é um casamento de elfos?

- Galadriel não lhe explicou? – questionou, a fitando.

- Ela apenas me explicou meus votos e a troca de alianças – disse mirado seu dedo onde uma aliança de prata jazia no dedo anelar de sua mão esquerda. Thranduil também possuía a sua.

Durante o noivado dos elfos, o casal trocava alianças de prata e aguardavam até o casamento onde as alianças seriam trocadas por um par de alianças de ouro. Um noivado normal na raça élfica dura em torno de um ano e após isso a cerimônia é oficializada. Mas devido a certas circunstancias, Nye e Thranduil não terão um ano para fazerem a corte e curtir o noivado e tiveram apenas uma semana para arrumar tudo e oficializar sua união.

Thranduil explicou isso tudo para ela e a garota ficou surpresa ao ver que elfos levavam um ano de noivado. O rei havia contado como fora seu noivado com a antiga rainha, mas não entrou em detalhes, apenas o período de duração. O rei elfo não falava da falecida esposa e nem nada relacionado a ela. Explicou também que o correto é os pais do noivo fazerem a benção do casamento, orando e pedindo aos deuses e Eru para unir aquele casal e diante disso nada os separaria.

No entanto, como os pais de Thranduil não estavam mais vivos, os encarregados de abençoar aquela união seria Galadriel e seu marido Celeborn. O noivo e a noiva não faziam votos, a menos que quisessem. Só pelo fato de estarem sendo abençoados e esse amor ser eternizado já era mais do que suficiente para ser um voto. Depois a festa ocorreria, normalmente e claro ao estilo élfico: comidas leves, doces na medida certa e bastante vinho, acompanhados de uma boa musica de flautas e harpas.

Nye ficou encantada, parecia um conto de romance que havia em livros velhos. Ou um conto de fadas. Porém, no caso dela estava bem diferente. Thranduil não era o príncipe que lhe salvaria do dragão, mas também não era do tipo que lhe jogaria pra cima da criatura – apesar de duvidar disso. Ele era um rei, mas não sabia se ele se encaixaria em algum conto de fadas. O rei elfo estava longe de ser... Como ela podia dizer? Alguém caracterizado. Nenhum personagem de livro poderia descrever Thranduil, ele era único, complexo e completamente diferente de qualquer homem ou elfo existente nessa Arda.

- E depois da cerimônia a festa ocorrera normalmente – disse ele por fim, após explicar tudo.

- É bem diferente dos casamentos dos homens – comentou.

- Não importa o que os homens façam, será tudo diferente de nós, elfos! – acrescentou – Somos de raças diferentes!

E ela sabia bem disso.

Havia tantas coisas diferentes entre essas duas raças. E Nye se questionou no que mais eles eram diferentes. Com isso acabou voltando ao assunto do casamento e como conseqüência no assunto principal que vem lhe arrancando o sono: a noite de núpcias. Ela soltou o ar, como se o estivesse prendendo por muito tempo. Fitou Thranduil, que andava pelo cômodo pensativo e não pode impedir seus pensamentos que lhe faziam imaginar aquele elfo sem todo aquele pano.

Corou imediatamente ao ver onde estava indo. Abaixou o olhar rapidamente e fitou as mãos em cima de seu colo. Será que os elfos também eram diferentes durante esse pequeno detalhe? O elfo amaria sua elfa com suavidade ou a faria gritar de dor e sofrimento sem se importar com ela? Era inevitável pensar nessas coisas. Mas as lembranças vinham como avalanches.

Ela era completamente leiga naquele quesito, porém, o que vira a fez temer que acontecesse com ela.

Nye possuía apenas catorze anos, apesar da idade humana (já que não sabia sua idade élfica) ela ainda sentia medo de trovões. Um medo bobo, porém, que sempre a fazia perder o sono durante as tempestades. E em uma daquelas noites tempestuosas, Nye não conseguia dormir, rolava na cama tentando pregar os olhos para era impossível para ela. Levantou-se então e foi até o quarto da irmã, mas ao chamá-la a mesma não ouviu, então foi atrás de sua mãe humana. Adentrou o quarto dela e de rei Illis, mas o mesmo estava vazio.

Ia sair do quarto quando no mesmo instante um trovão ecoou e ela gritou e correu para dentro de um guarda-roupa no canto do quarto. Os trovões aumentaram e ela se encolhia no pequeno espaço, foi quando ouviu a porta do quarto ser aberta com brutalidade, ela abriu um pouco a porta do guarda-roupa apenas para ver o que acontecia e seu coração acelerou ao ver que Illis estava mais uma vez machucando sua mãe. Mas daquela vez, parecia ser de outra maneira.

Observou Aren ser jogada na cama e Illis com brutalidade a segurava fortemente contra a mesma, ele dizia coisas ofensivas e gritava com ela, algumas vezes chegou a bater em seu rosto. A cenas seguinte causaram ainda mais repulsa nela quando Illis rasgou a roupa que Aren usava e os olhos da pequena garota presenciaram o abuso que sua mãe sofrera do próprio marido. Até que em um momento, Nye não agüentou ficar quieta e saiu do guarda-roupa e foi tentar salvar sua mãe. Foi naquela dia que seu poder falhou consigo e ela não conseguiu usá-lo.

Por causa da afronta, rei Illis a chicoteou no dia seguinte com pelo menos dezessete chibatadas. 

As imagens ficaram pregadas em sua mente, os gritos de sua mãe grudados em seus ouvidos. Suas costas latejavam quando se recordava o corrido, pois, as chibatadas ainda pareciam lhe pregar as costas. Ela possuía duas pequenas cicatrizes devido ao chicote.

Era por isso que ela não conseguia deixar que Thranduil se aproximasse tão perto dela, tinha medo do mesmo acontecer. Não sofrera nenhum tipo de abuso sexual quando morava em Erenon, mas vira Aren passar e isso ficou cravado na memória. Temia passar pela mesma coisa e jamais experimentou qualquer tipo de contato com o sexo oposto, era completamente leiga nos assuntos de união entre um homem e uma mulher, seja elfo ou não.

Se perdera tanto na sua própria mente que nem percebera Thranduil lhe chamar. Só quando ele a chamou mais forte foi que retornou a realidade.

- Se está a ponto de enlouquecer antes de nos casarmos, sugiro andar um pouco. Dê uma volta na varanda, vai lhe fazer bem – aconselhou.

Nye piscou algumas vezes e então pareceu ter voltado completamente. Respirou fundo antes de responder:

- Não acho que seja o caso – alegou – Mas... Falava comigo? – o encarou.

- Sim. Indaguei sua idade – disse – Conversei com seu irmão e ele me disse que você estava próxima de atingir a maior idade quando Vallarin fora atacada – contou.

- Não pode ser, eu era bem pequena – afirmou – Era uma criança ainda!

- Elfos possuem a estatura de uma criança até atingirem os cinqüenta anos – explicou – Aos cinqüenta é quando um elfo atinge sua maior idade – emendou.

- Pensei que eu tivesse vinte e quatro anos – confessou – Mas por que minha idade é importante?

- Depois de nos casarmos os cidadãos de Mirkwood vão querer saber tudo sobre a nova rainha. Levarei algumas características suas para o conselho e eles saberão o que deve ou não ser contado para o povo – contou.

- Entendo – suspirou.

- Se precisar podemos mentir, diremos que você tem mais de cento e cinqüenta. Uma idade boa para uma elfa se casar – avaliou – Pode ter vinte em idade humana, mas você é uma elfa... Pode ter mais – emendou.

- Confesso que fiquei curiosa agora – disse – Se eu estava perto de atingir a maior idade, provavelmente eu tinha apenas quarenta e oito ou quarenta e nove anos. Passei vinte e quatro anos em Erenon...

- Setenta e quatro anos – o rei respondeu por ela e Nye se surpreendeu – Muito nova ainda, até mesmo para se casar. Deveria esperar ao menos até os cem para casar-se – alegou – Entrou em sua fase adulta a pouco, não é a toa que é tão instável. Ainda se alterna com sua fase adulta e jovem – argumentou.

Nye não gostou dele falar que ela era instável, parecia que ele queria dizer que ela era desequilibrada, louca. Mas deixou quieto. No entanto, ficou abismada ao perceber que possuía setenta e quatro anos. E pensar em idade, Nye sentiu curiosidade na idade de Thranduil.

- Quantos anos têm? – ela o fitou.

- Sou mais velho do que essas árvores centenárias, estou neste mundo a mais de duas eras – comentou, não falando um numero exato, mas Nye sabia que duas eras significavam bastante tempo.

Logo em seguida retornaram para o silencio absoluto. Quase não se ouvia o cantar os pássaros, muito menos o soprar o vento. E foi minutos depois que uma aia de Thranduil apareceu e se surpreendeu ao encontrar Nye nos aposentos dele. Não errado o noivo e a noiva se verem no dia do casamento deles, mas ficarem dentro do quarto que dividiriam não era algo comum.

- Perdão, meu senhor – ela falou, ignorando o fato de Nye estar ali – Vim preparar seu banho, já está na hora de começarmos a lhe arrumar – contou.

- E quanto às aias de minha rainha? – o rei questionou.

- Preparando o banho dela também, meu rei – explicou – Nos aposentos dela – acrescentou.

O rei apenas meneou a cabeça em concordância e encarou Nye que entendeu que era hora de se separarem. A aia pessoal do rei caminhou-se para o banheiro e os deixou a sós novamente.

- Retorne para seu quarto, nos veremos dentro de algumas horas – disse ele.

- Certo – assentiu ela e rumou para a varanda, retornaria para seu quarto por lá.

- E Nye! – o chamou, quando ela chegou a porta e a mesma se virou – Lembre-se de respirar com mais calma. Não há motivo para tanto alarde – alegou e ela apenas assentiu.

Ao entrar em seu quarto, encontrou apenas uma aia que cuidava de seu banho.

Eirien adentrou seu quarto a encontrando sentada em sua cama, enquanto seu banho ainda era preparado. Do banheiro ouvia a aia lhe dizer que o banho para o dia do casamento de uma elfa era especial, tudo devia ser feito de acordo com o agrado de Eru e dos Valar. Nye percebeu que os elfos possuíam muito fé em seus deuses e principalmente em Valar, não era a toa que eles eram tão místicos e se sentia orgulhosa por fazer parte daquela raça.

- Seu vestido chegará dentro de alguns minutos – avisou Eirien.

- Luriel virá para o casamento? – ela quis saber.

- Provavelmente. Ouvi dizer que esteve presente no casamento da ex-esposa do rei, então creio que sim, ela estará no seu – avisou.

A porta do banheiro de Nye foi aberta e sua aia avisou que seu banho estava pronto. Eirien acompanhou Nye para dentro do banheiro, lhe ajudou a tirar o robe e a camisola e logo já se encontrava entrando na banheira. A mesma ficava no centro, o chão todo trabalhado em pedras amarronzadas. Nye cabia confortavelmente naquela banheira, podia deitar ali sem se preocupar.

A água morna arrepiou seu corpo, havia pétalas de rosas colhidas do jardim do rei. Um local proibido para qualquer sevo, porém, naquela ocasião ele permitiu que algumas rosas fossem colhidas e jogadas no banho de sua futura rainha. Eirien lhe contou sobre este fato e ela sentiu o peito aquecer. Logo a esponja fora pega por sua serva pessoal e então seu banho especial de iniciou.

 

***

 

As aias de Thranduil eram escolhidas a dedo por ele mesmo, elfos podiam ser requintados e elegantes, mas sabiam ser depravados quando querem. O rei não queria inconvenientes assim como seu pai teve, ele perdera a conta de quantas aias ele mandou embora, por elas não saberem seu lugar e que estavam cuidando de um rei e não de um objeto de desejo e cobiça delas. Diante disso, ele escolheu suas aias – quatro, para ser mais exata – para que elas cuidassem de seu banho e outras coisas.

Naquele momento, Thranduil se encontrava em sua banheira. Seus cabelos longos e platinados estavam sendo lavados por uma delas enquanto outra esfregava com graça e delicadeza seus braços. A terceira averiguava suas vestes para o casamento e a quarta aia mantinha a água em temperatura agradável para o rei. A face séria do rei não as incomodava, já estavam acostumadas a expressão costumeira dele. Porém, não imaginavam que por detrás daquela face dura e contida, sua mente trabalhava pensando em seu casamento.

Nunca imaginou casando-se novamente. E nem que sua nova noiva fosse lhe causando tantas sensações e deixá-lo confuso. Jamais imaginou que fosse se ver zelando pelo bem estar dela. Não que ele não tivesse cuidado da mãe de Legolas, ele cuidou, mas sabia que ela sabia se virar sozinha e que era forte. Mas com Nye se via se preocupando com a mesma. Sabia também que ela era forte, apesar de não aparentar, mas ainda sim se preocupava.

O zelo por ela era tanto que ele se recusava a consumir o casamento naquela noite. Não por desejar tocá-la, mas sim por saber que ela ainda não estava pronta para ele. O melhor seria esperar ela estar mais acostumada com aquele casamento e ir se preparando. Afinal, ele não tinha pressa, teriam a eternidade para consumarem aquele casamento. Ele sabia ser paciente e elfos não eram tão necessitados em termos sexuais do que os homens.

Depois de seu banho, o rei se retirou da banheira. A água escorria por seu corpo magro e com músculos bem distribuídos ao longo do corpo, o cabelo escorria nas costas e pingava também. Sentou-se em uma cadeira no banheiro e deixou que as aias o secassem, depois vestiu seu roupão e agora seu cabelo era secado.

Nye e Thranduil ficaram separados, cada um em seu quarto. As horas pareciam voar naquele dia, para o rei não era nada demais, no entanto, para Nye era quase como se fosse para uma guerra. Sentia o pobre coração bater acelerado e o estomago embrulhar, temia até desmaiar. As vestes de ambos já se encontravam em seus quartos, e até que chegasse a hora de se arrumarem teriam que achar algo para se ocuparem. O rei ficou lendo, mas era impossível se concentrar sendo que sua noiva estava tão agitada.

Tentou ignorá-la e funcionou bem até à hora do almoço, quando o mesmo fora trazido para si. Depois as horas passaram de novo e novamente escutou Nye andando, mas agora pela varanda. A cortina grossa de sua porta estava fechada, mas ele a puxou um pouco apenas para ter visão de sua noiva. Avistou a mesma andando de um lado a outro, respirava fundo. Eirien estava com ela e tentava acalmá-la. Apesar de não conseguir muito. Logo ele desistiu de vê-la e retornou para o sofá e voltou a ler.

E as horas foram passando.

 

***

 

Batidas na porta soaram no meio da tarde, Thranduil apreciava um chá. Logo suas aias estavam de volta e desta vez acompanhados de Lorde Giel. O mesmo parecia radiante e contente demais, parecia até que ele era o noivo, ao contrario de Thranduil que estava com a mesma expressão de sempre. O que não fora surpresa para Giel.

O rei se encaminhou para detrás do biombo e retirou o roupão em seguida. Uma das aias o pegou e entregou sua roupa para o casório. O próprio Thranduil se vestiu, preferia fazê-lo ele mesmo. Nessa parte não gostava muito de ajuda.

- Legolas já estava pronto, o aguarda na entrada do salão – Giel comentou – Não parece nervoso – avaliou, andando pelo quarto enquanto o rei se trocava.

- Assim como meu primeiro casamento, não há motivos para tanto alarde. Nos casaremos por conveniência – disse – Nye precisa continuar sua linhagem e eu também, uma vez que Legolas não quer o trono – argumentou, de forma amarga.

- Explicou isso a Nye?

- Por que deveria? Ela é esperta, vai entender logo – rebateu.

- Terão a vida toda para se entenderem. Essa relação pode crescer e se tornar algo maior, Thranduil – Giel alegou.

- Disse a mesma coisa quando me casei pela primeira vez! – disse saindo do biombo - Não foi isso que aconteceu – emendou.

- Creio que esse caso seja diferente – o rei o olhou confuso – A mãe Legolas não era apaixonada por você, pois ela tinha outro elfo em vista. Mas sempre fora fiel a você e o mesmo acontecia com ela, jamais a traiu ou ousou olhar para outra elfa – contou – No entanto, agora, vejo que as coisas são diferentes, Nye talvez já esteja se apaixonando por você!

A frase fez Thranduil parar no lugar, estacou e seus olhos se arregalaram levemente. Mas fora tão imperceptível que fora como se nem tivesse ocorrido.

- Está delirando. O que aquela menina sabe sobre amor? – questionou, encarnado Giel de forma séria.

- Por que seria errado isso acontecer? Tem medo dela se apaixonar por você ou é você que teme amá-la? – riu de canto.

- Nem mesmo hoje vai me deixar em paz com suas tolices, não é?

- Obvio que não! – riu – Agora vamos, deve esperar Nye na entrada do salão – avisou e rumou para a porta do quarto.

Thranduil o acompanhou após colocar a coroa. Sua roupa era fácil de se vestir e já estava limpa e passada.

Chegaram ao corredor que dava ao salão e logo entraram em um espaço que antecede o mesmo. Legolas o aguardava, a porta dupla e em cor marfim estava fechada, mas era possível ouvir a suave melodia que saia do salão. O filho trajava uma roupa prateada, uma blusa de mangas longas e que ia até abaixo de seu quadril, na cintura um cinto élfico. Uma calça escura, botas e sua tiara de príncipe. Estava bem elegante.

Logo ficaram a espera de Nye.

 

*

*

*

 

As horas foram passando, de inicio o rei achou normal. Uma vez que Nye estaria bem nervosa e talvez fosse precisar de um pouco mais de tempo para se acalmar e então poder descer. Mas aquela demora já estava passando do aceitável e até mesmo Legolas e Giel estavam com semblantes preocupados. Uma demora dessas não era normal.

- Legolas, vá atrás de Nye e veja o motivo de seu atraso – Thranduil ordenou.

O príncipe prontamente assentiu, não entendia muito sobre casamentos, mas na raça dos elfos não era comum a noiva se atrasar. Normalmente ela ficava pronta junto do noivo. Logo após o filho sair, Thranduil se pronunciou.

- Espero que ela não tenha fugido de novo – disse com certo receio e seriedade.

- Acha que ela o faria novamente? – Giel o fitou.

- Sempre que fica nervosa Nye age por impulso e a única solução que encontra é fugir – alegou – Sem contar que o conselho não está muito contente com seu ultimo ato de loucura! Se ela fugir novamente irão questionar se ela é apta a ocupar a coroa – acrescentou.

- Não se esqueça de que faço parte deste conselho. Os outros podem achá-la despreparada, mas confio nela para enfrentar as dificuldades – comentou Giel – Além do mais...

- Ada! – a voz de Legolas cortou a fala do Lorde e de repente o príncipe já estava de volta, andando de uma forma apressada demais – Temos problemas!

- Não me diga que ela fugiu? – Thranduil se preparou para a resposta.

- Antes tivesse. Melhor me acompanhar – pediu.

Thranduil sentiu o peito se apertar, apesar de já estar preparado para algum imprevisto ocorrer antes do casamento. Giel lhe olhou com os mesmos pensamentos e seguiram o príncipe para os aposentos de Nye.

- Ela está bem, Legolas? – fora Giel quem perguntou.

- Está, mas não posso dizer o mesmo do vestido – respondeu.

Eles se olharam e continuaram a seguir em direção ao quarto, ao chegarem Thranduil fora o primeiro a entrar de forma brusca e a primeira coisa que vira fora o que outrora fora o vestido de noiva de Nye. O tecido estava todo rasgado, as jóias que enfeitavam o mesmo arrebentado e faltavam algumas, sem contar o estado todo sujo do vestido. Era como se ele tivesse sido esfregado na terra da floresta e depois sido trago para cá.

Luriel andava de um lado a outro completamente desolada e angustiada que sua obra prima estava perdida, suas ajudantes lamentavam o ocorrido e tentavam acalmar a costureira. Giel adentrou o quarto logo depois do rei e Legolas fitava com pesar os restos do tecido.

- Onde ela está? – o rei indagou.

- Na varanda, Eirien está tentado acalmá-la – Luriel respondeu.

O rei nem mesmo esperou a costureira terminar e já havia saído do quarto rumo a varanda, andou pelo mesmo e logo avistou Nye sentada em uma cadeira. Ela mantinha a cabeça baixa, abraçava o próprio corpo e suas unhas fincavam no pano do roupão, dava para ver uma fina camada de gelo se formando no chão e cristais ao redor da cadeira que já estava completamente congelada. Eirien conversava com ela e usava palavras gentis para acalmá-la, o que parecia estar dando certo. Apesar da elfa ainda se recusar a erguer a cabeça.

Logo a aia pessoal de sua noiva parou de falar ao lhe ver, Thranduil a encarou e com pedido mudo ordenou que se retirasse. Se aproximou lentamente dela e só depois de alguns minutos é que Nye resolveu encará-lo. Os olhos vermelhos por causa do choro.

- Eu vi o estrago que fizeram – comentou – Mas não lamente, eu já previa isto, apesar de torcer para que não ocorresse – emendou e Nye o olhou surpresa.

Mas logo abaixou a cabeça, ressentida, magoada e raivosa. Nem mesmo em um dia como aquele, que deveria ser visto como algo que se assemelhava a felicidade ela teria paz. Sentiu o peito doer ao ver o vestido se desfazendo quando Luriel o ergueu e tanto o sorriso da costureira quanto o dela foram morrendo à medida que os fiapos iam caindo no chão.

- Você sabia que isso aconteceria? – indagou, chorosa.

- Sim. Mas não lhe direi quem fez isso, ficará ainda mais alarmada – disse – Não é hora de sair por aí e caçar o responsável por isso. Deve se recompor, o casamento ainda está de pé! – alegou.

Nye enxugou as lágrimas, sentia as mãos trêmulas e o corpo sacudir de raiva e chateação. Porém, não conseguia compreender aquela calma toda do rei. Ele esperava que ela pegasse qualquer vestido e casasse com ele com um trapo qualquer? Ele só poderia estar louco.

- Legolas! – o rei chamou o filho, que logo apareceu na varanda e fitou com pesar a noiva de seu pai – Aquele embrulho que lhe entreguei, onde o guardou? – perguntou.

- No lugar que me pediu, Ada! Em meus aposentos – afirmou.

- Traga-o.

Legolas acatou a ordem e rumou para seu quarto.

- Foi por isso que me pediu para fazer outro vestido a ela, meu rei? – a voz de Luriel soou próxima e logo avistaram a figura da elfa.

Nye encarou o rei com confusão no olhar.

- Do que ela está falando?

- Como eu disse, eu sabia que alguém rasgaria seu vestido. Então pedi a Luriel que fizesse um segundo vestido de casamento para você, pois assim o casamento não seria interrompido e não haveria problema algum – explicou – Para que ficasse seguro, mandei Legolas guardar no quarto dele. Ninguém entraria lá a não ser Eirien e ele próprio – acrescentou.

Se antes ela estava surpresa, agora ela estava sem palavras. Encarava o rei estupefata com a ação dele. No entanto, o mesmo a encarava com sua expressão costumeira na face e parecia até mesmo não ligar para o vestido que fora rasgado. Às vezes aquela calma dele a tirava do sério. Mas não podia ficar brava com o rei, ele havia a ajudado e agora teria um belo vestido para usar.

Se olharam rapidamente e Nye sentiu o peito se aquecer de tal forma, que pensou que o mesmo explodiria.

- Obrigada, Thranduil – ela disse, em meio a um sussurro. Estava envergonhada.

Segundos depois Legolas retornou com um embrulho grande em mãos e sorria minimamente.

- Vista-se. A estarei aguardando na entrada do salão – avisou e saiu do recinto acompanhado de Giel e seu filho.

 

***

 

Ela não demorou para se arrumar, já estava praticamente pronta e faltava apenas o vestido. Seu cabelo estava todo escorrido em suas costas, a tiara élfica que usava emoldurava sua cabeça e o tecido fino e gracioso do novo vestido de noiva lhe agradava. Nye se sentia aquelas garotas dos livros de historias que lia quando morava em Erenon, lia em seu quarto no meio da noite, pois Illis quase não lhe permitia ler.

Historias de princesas e príncipes, que se casavam em castelos e havia nas escritas aquele encantamento deixando tudo mágico. O vestido normalmente era bem detalhado e algumas vezes, Nye imaginava como eles eram e até fingia vestir um, quando na verdade usava trapos e roupas de segunda mão.

Andava pelos corredores sentindo o vestido acompanhar sua graciosidade, se via curiosa em como Thranduil estava. Apesar de tê-lo visto em seu quarto quando aquele pequeno incidente aconteceu, ela não reparou em suas vestes e nem se já se encontrava apresentável para a cerimônia deles. Se perguntou se usariam as mesmas cores nas roupas, pois assim aconteceu durante o noivado deles. O tom azul marinho misturado ao celeste estava presente, mas agora o branco e dourado compunham sua roupa.

Não segurava buque ou nada parecido. Elfas não usavam isso no seu casamento, apenas caminharia pelo salão junto de seu rei até o altar erguido para eles.

Quando alcançou a entrada do salão, Nye avistou do alto da escada Thranduil parado a porta e a visão que teve dele lhe arrancou mais do que uma suspirada longa. O rei usava vestes elaboradas, um casaco que ia até metade de sua canela, um cinto élfico na cintura, calça justa e botas. Havia um tecido por cima de seus ombros parecendo uma capa, tudo na cor branca e os detalhes que havia na roupa eram douradas. A coroa dele se encontrava em sua cabeça, deixando o rei ainda mais imponente e glorioso.

Nye desceu as escadas calmamente, tendo Eirien lhe ajudando com a barra do vestido. Nenhum dos três elfos ali parados conseguiu deixar de fitar Nye, ela estava encantadora. Os cabelos castanhos bem alinhados e suas leves ondas caindo como cascatas pelas costas, a tiara prateada e emoldurada com diamantes enfeitava sua cabeça e algumas peças caiam atrás de sua cabeça. O vestido lhe caiu super bem e Thranduil ficou ainda mais extasiado e encantado ao vê-la pessoalmente do que em sua mente, ao imaginá-la usando aquela roupa.

O vestido era longo, sua saia de tamanho moderado – já que elfas não usavam saias arredondadas de forma exagerada -, o corpete lhe modelava a cintura fina e havia detalhes em dourado ao longo do tronco até o pescoço, havia um espaço entre a fivela do mesmo e o busto onde um pingente de diamante se encontrava enfeitando aquela área. Nos ombros um leve tecido transparente se assemelhava a uma capa leve e esvoaçante.

- Está magnífica, minha senhora – Giel tomou a frente, ao ver a cara de hipnotizado que Thranduil fazia ao olhar para ela. Beijou-lhe a mão delicadamente e não perdeu a face dura que seu amigo fez diante do cortejo – Mas devemos seguir, todos já estão esperando – avisou e então abriu os portões do salão.

Legolas se portou detrás do casal, ele entraria depois. Normalmente quando um casal de elfos se uniam, não havia filhos – uma vez que eles se casavam somente uma vez em toda sua vida -, mas naquela ocasião os costumes corretos da união de um elfo e uma elfa já não faziam mais sentido. A união de Nye e Thranduil estava longe de ser algo sentimental. Pelo menos aos olhos do povo. Por isso Legolas iria logo depois deles.

- Apenas respire e tudo ficará bem – Thranduil alegou, estendendo a mão para ela.

Nye assentiu e pegou em sua mão suspensa no ar e em seguida a voz de Lorde Giel foi ouvida anunciando a entrada deles e então adentraram o grande salão.

O espaço imenso abrigava confortavelmente todos os elfos presentes ali. As mesas estavam forradas por toalhas de mesa nas cores brancas e detalhes em creme. Enfeites adornavam o centro da mesa com flores de tons claros e caules finos. Havia velas nas mesas. O chão de granito claro pegou Nye de surpresa, pois todo o palácio era revestido de um solo arenoso e algumas partes possuíam carpetes. Havia um lustre enorme no centro do salão, suas velas acesas prontos para iluminarem a noite que logo chegaria. Panos eram presos no teto e iam de um canto a outro.

A decoração estava estonteante e novamente Nye pode observar – discretamente, pois tinha que manter sua atenção a sua frente – a mistura de características dela e de Thranduil. O creme parecia representá-la, suave e singelo, o branco, rústico e gélido, representava o rei. Era incrível como eles sabiam combinar as cores para demonstrar como era o casal. E ela se questionou se eles eram assim, uma mescla de duas tonalidades, duas personalidades distintas que eram tão diferentes, mas que ao mesmo tempo conseguiam se completar.

O altar feito para eles estava perto, nele Galadriel e Celaborn se encontravam aguardando o casal. No casamento somente as duas casas faziam participação, ou seja, somente a família de Thranduil e Nye estaria presente. De um lado estava a dela e pode avistar seu irmão com a esposa, sua tia Herea e alguns elfos de Lothlorien. Do outro estava a casa de Thranduil, composta por Giel, Elrond e sua filha Arwen e os outros filhos dele. Avistou o conselho de Mirkwood e seu sangue esfriou de repente ao ver a face furiosa de Elinor a encarando.

Ela não parecia só irritada pelo casamento estar acontecendo, Nye teve a leve impressão de que a elfa não esperava vê-la ali ao lado do rei. Era como se ela não esperasse que o casamento fosse ocorrer.

Ignorando-a completamente, Nye prestou atenção enquanto continuava a andar até o altar. Ao parar diante dele, Galadriel recebeu os dois com um sorriso angelical e calmamente pegou uma mão do casal e os trouxe para cima do altar. Um tapete de tom claro se encontrava forrando o chão, um arco se formava acima de suas cabeças e o amplo espaço a sua frente – da varanda onde o altar fora feito – a paisagem da floresta era possível ser vista.

Thranduil e Nye ficaram de pé, virados um para o outro enquanto Galadriel tomava a frente. O certo seria que a mãe da noiva e o pai do noivo fizessem os votos e desse as bênçãos ao casamento, mas devido aos fatos e a situação de ambos, a rainha e o rei de Lothlorien iriam assumir aquele compromisso. E quem melhor para dar as bênçãos a aquele casamento do que Galadriel? Nye a achava uma deusa e possuía toda aquela aura angelical, ela era perfeita para comandar seu casamento.

As mãos do casal foram entrelaçadas por Galadriel, a voz meiga e suave como uma brisa ecoava no salão. Suas palavras pareciam um canto élfico ou palavras sagradas que nenhum mortal poderia pronunciar. Uma rajada aconchegante soprou e Nye arfou sentindo seu corpo se arrepiar e o aperto de Thranduil se tornou mais forte, ou teria ela imaginado isso? Os olhos de seu noivo estavam o tempo todo em cima de si e era impossível para ela não sentir as bochechas arderem. Respirar também se tornou árduo.

Celeborn então deu continuidade as palavras de sua esposa, novamente outra onda percorreu o corpo de Nye. Era como se pudesse sentir os espíritos de Arda celebrando também aquele casamento, sentia que Varda e Eru também abençoavam aquela união. Depois das belas palavras, ao anéis de prata que habitavam o dedo anelar dos noivos foram retirados por eles mesmos e anéis de ouro foram colocados no lugar. E ao contrario do que Nye imaginou, os anéis de ouro foram colocados nos dedos indicadores e não no anelar.

Os anéis eram lindos e Nye ficou encantada com os mesmos. Thranduil ao colocar o anel em seu dedo depositou um rápido beijo casto nos dedos e ela se arrepiou. E ao colocar o anel no dedo dele sentiu o corpo se arrepiar. Logo depois Galadriel disse palavras breves e abençoou aquele casamento, tornando-os assim marido e mulher.

E mais uma vez, o destino de Nye estava sendo traçado.

Logo depois a festa deu-se inicio.

 

*

*

*

 

A festa iniciou-se. A música melodiosa de antes se encontrava um pouco mais agitada, mas ainda sim, dentro do gosto dos elfos. A comida era servida conforme o ordenado, o cheiro diferente dos aperitivos faziam Nye encher-se de fome, mal comera algo durante o dia de tanto que seu estomago estava embrulhado. Ela e Thranduil estavam sentados no altar, duas cadeiras majestosas e semelhantes a um trono se encontravam ali agora para eles. O assento era confortável e o encosto também, tanto que Nye relaxou após sentar-se e passou a respirar mais calmamente.

Mirava constantemente o anel dourado em seu dedo indicador. Se sentia estranha usando-o naquele dedo, imaginava que a aliança fosse ficar no dedo anelar como era no costume dos homens. Mas mais estranho do que usar o anel era a sensação que ainda sentia, ela estava casada com Thranduil agora. Um casamento abençoado pelos Valar e por Eru, ninguém naquela Terra-Média iria separá-los.

Será?

Olhou de soslaio para o rei e o mesmo se encontrava sério e fitava todo o salão. Bebericava um vinho em sua taça. Tornou a abaixar a cabeça fitando as mãos pousadas no colo, o tecido leve do vestido fazia cócegas em si. Sua taça de vinho estava largada ao lado de sua cadeira no chão, escondida para que ninguém visse que ela não estava a fim de beber, não queria ofender nenhum dos elfos ali, uma vez que ela pensou que havia alguma tradição com o vinho. Sua fome começava a apertar e ela não sabia se poderia se levantar para comer ou teria que esperar Thranduil ou se alguém iria servi-los, mas diante da ausência de servas observou que teria que se levantar e ir pegar alguma coisa.

E tinha coragem para fazer tal coisa? Não.

De repente Legolas apareceu, curvou-se diante deles e desejou as felicidades assim como os outros elfos. Porém, o olhar dele caiu em cima de Nye e ela ficou surpresa com o pedido dele.

- Ada, se importa de eu tomar Nye para uma dança? – indagou.

Thranduil para o filho e em seguida Nye, logo depois moveu a mão em um sinal de consentimento. Legolas meneou a cabeça e esticou a mão para agora sua madrasta, que incerta aceitou a mão oferecida e logo se via sendo levada para o meio do salão. Outros elfos já dançavam também e pareciam mais ligados em aproveitar a festividade do que reparar nela.

- Tem certeza de que deseja ter os pés amassados por mim, meu príncipe? – Nye brincou, quando parou no meio do salão e Legolas se posicionou para dançar com ela.

- Duvido que seja pior do que é com as adagas – devolveu a brincadeira.

Nye sabia dançar, perdera a conta de quantas vezes dançara sozinha nos corredores abandonados do castelo de Erenon enquanto no salão principal uma grande festa acontecia. O som das musicas chegavam até certa parte do palácio e por ser diferente ela tinha que ficar escondida, mas acabava escapulindo e dançava sozinha ao som da música, imaginando que um dia dançaria com seu marido. No entanto, a realidade se mostrou bem diferente do que ela esperava.

Seu atual marido se encontrava distante, sério e sentado na cadeira apenas observando tudo ao seu redor, mas conseguia sentir também os olhares dele em cima de si vez ou outra.

O casal de elfos recém-casados raramente dançavam, a menos que o quisessem fazer. Mas Nye percebeu que o rei não era chegado a uma dança e também teve receio de tentar propor a ele que o fizessem.

Dançaram por alguns minutos, mas logo outros elfos tiveram a mesma ideia que Legolas e um deles fora seu irmão, Leony. Ele estava dançando antes com sua esposa, a princesa Amille, também uma elfa de Vallarin. O que a deixou surpresa quando descobriu, conversavam sobre lembranças de Vallarin – nas quais ela não podia compartilhar – e foi então que Amille confidenciou que era do antigo reino dos elfos elementar.

- Está linda – Leony a elogiou e ela sorriu – Seu marido parece sério demais para alguém que acabou de se casar – comentou, enquanto a girava pelo salão em um ritmo bem lento.

- E quando ele não está sério? – alegou suspirando – Além do mais, esse casamento não é algo para se alegrar. Nos casamos apensa por causa de minha linhagem – disse.

- Parece triste com o fato – a avaliou.

- E devia estar feliz? Tudo isso é por causa do nosso sangue – respondeu.

- Queria que tivesse a sorte de ter se casado por amor como foi comigo e com ___ - disse – Nenhum de nós dois tivemos isso em mente, quando me casei com ela nem tínhamos um paradeiro seu.

- Não se culpe por isso, você está feliz e me sinto feliz com isso também.

Eles sorriam um para o outro e continuaram a dançar, até que Nye pediu para parar. Porém, ao invés de voltar para seu assento ela rumou com o irmão para a mesa onde sua família estava e decidiu comer alguma coisa. Avistou que Thranduil havia se levantado e conversava agora com Giel e outros elfos que ela não conhecia.

Depois de comer e conversar um pouco com sua família, ela andou pelo salão. Apreciava a decoração bem feita, os arranjos, o lustre e tudo mais que adornava aquele salão. Observou os convidados e em como pareciam contentes pela união, ali se encontravam somente parentes das duas casas. Não era uma festa para o povo de Mirkwood. E por um lado agradeceu, pois não queria ouvir cochichos e olhares indiscretos até mesmo naquele momento.

E falando em povo, ela observou os elfos da casa de Thranduil. Elfos de Mirkwood. Eles eram tão elegantes, esguios e perfeitos que ela se sentia totalmente desconfortável. Parecia deslocada, olhava as diferenças entre eles e ela. Se questionava se aquilo era pelo fato dela ter sido criada entre os homens ou se era de sua raça única. Olhando para seu irmão, sua tia e Malyr, ela via que eles possuíam aparências de um mortal, mas a elegância e características de um elfo puro.

Caminhou para fora do salão, saindo pela varanda e observando a noite que já caia por sobre Arda e no reino também. Sua fome fora saciada, mas seu estomago ainda continuava a doer e embrulhar-se. Sentia as mãos suarem e só então as notou trêmulas. Abriu e fechou as mãos varias vezes tentando afastar aquela sensação.

Mas no fundo sabia o que era.

Estava nervosa e ansiosa para o que aconteceria dentro de alguns instantes e para ser honesta não sabia se estava pronta para aquilo. Antes havia conseguido se acalmar, mas agora sentia a adrenalina lhe consumir, o medo lhe dominar e se segurava para não sair correndo dali e se esconder em algum canto do palácio onde Thranduil não a encontraria.

Não queria passar pela mesma coisa que a rainha Aren, mas também tentava confiar em Thranduil. Seu medo e a razão travavam uma batalha e ela esperava que o medo não ganhasse.

 

***

 

Thranduil conversava com todos à medida que andava pelo salão, precisava esticar as pernas ou não as sentiria mais tarde. Mas seus olhos sempre atentos em Nye, porém, de repente não a encontrou mais. Varreu o salão todo e nada de seu paradeiro. E quando se moveu para ir atrás dela, viu alguém bloquear sua passagem.

O sorriso sínico de Elinor estava ali, emoldurando seus lábios. A conselheira rebaixada usava um vestido élfico preto e o rei sabia que era para simbolizar seu desprezo por aquele casamento. Ela segurava uma taça de vinho e deu um gole, após isso se pronunciou.

- Não acha estranho sua noiva desaparecer assim? – insinuou e Thranduil estreitou os olhos.

- Não perca seu tempo jogando seu veneno – respondeu ele – Eu sei onde minha esposa está e não preciso que tomem conta dela – emendou – Deveria é se preocupar com você – avisou e Elinor sentiu o corpo tremer.

- C-Comigo? – chegou a gaguejar.

- Não pense que sua pequena arte ficará impune. Cuidarei de você depois, mas agora, tenho uma esposa para cuidar e amar até o raiar do sol – disse passando por ela.

Elinor sentiu cada célula de seu sangue esquentar com a frase do rei, largou a taça em uma mesa qualquer antes que acabasse quebrando o cristal em que fora feito. Logo depois saiu do salão a passos apertados, a barra de suas vestes se agitavam a medida que ela andava. Subiu os degraus que davam rumo ao corredor de seu quarto, entrou nele feito um furacão e a primeira coisa que fez ao entrar fora derrubar os objetos em cima de sua penteadeira.

Inúmeros cacos se formaram no chão ao cair, ainda irritada ela arremessou coisas e uma delas acertou o espelho de sua penteadeira. O espelho rachado mostrava varias imagens dela e de sua face enfurecida.

- Ah, Nye... Pode ir contando vitoria agora, mas logo não irá mais ter esse troféu em mãos – disse para si mesma, enquanto se fitava pelo espelho trincado – Aproveite enquanto ainda pode, sua elfa nojenta! – rosnou.

 

*

*

*

 

As horas foram passando. E Nye ia piorando, suas mãos suaram ainda mais e se tornaram frias. Andava de um lado a outro na varanda que agora tinha alguns convidados que também queriam aproveitar a noite e o ar fresco. Por sorte não deram atenção ao seu nervosismo evidente. Até que por fim, ela resolveu sentar-se em um dos bancos de mármore que havia ali. Mas sentar-se pareceu piorar seu estado, sentiu a cabeça rodar e agora era suas pernas que se agitavam.

Resolveu se levantar novamente e se concentrar em algo. Mas em quê? Não havia nada ali para aliviar sua tensão e ela já estava surtando. Foi então que avistou uma serva aparecer, não a conhecia – não fazia diferença, uma vez que não conhecia todos os servos do palácio. Esperou ela se aproximar e forçou um sorriso para espantar sua ansiedade.

- Minha senhora, o rei pediu que a levássemos para seus aposentos – avisou e Nye sentiu o sangue gelar – Está na hora – emendou e forçando novamente um sorriso singelo ela assentiu.

O caminho até o quarto de Thranduil, que de agora em diante seria seu também, foi seguido por rezas e orações para os Valar. Nye sentia o corpo ficar tenso, duro e quase estático a cada passo em direção ao quarto. Respirava com dificuldade e o embrulho no estomago apenas piorava. Quando a porta do quarto foi aberta, Nye encontrou três aias ali dentro e percebeu que eram as aias pessoais de Thranduil.

A porta fora fechada e ali ela viu que não teria escapatória.

Sua roupa fora retirada com calmaria e cuidado pelas aias, seu cabelo fora devidamente escovado e seu corpo recebeu uma pequena massagem de um óleo élfico com cheiro parecido ao de lavanda. Ela já não trajava mais o vestido de noiva e sim um robe longo e transparente na cor branca. Suas mangas eram longas e largas, se encontrava fechado somente um broche élfico e que pertencia ao seu rei e agora marido. Por baixo daquele tecido não havia roupa alguma lhe tampando, Thranduil a veria nua no instante em que pisasse naquele quarto.

Pensar nisso a fez corar fortemente e quase desmaiar.

Depois de devidamente arrumada, as aias saíram do quarto e a deixaram só. Nye estava sentada na cama, aguardando por Thranduil, mas seus nervos a estavam deixando pior a cada instante. As paredes do quarto de repente pareciam rodar e mais intimidantes, a cama que antes era macia se mostrou duro feito uma pedra, e o quarto lhe sufocava a ponto dela puxar o ar com força. Tanto que de re pente ela sentiu algo subir por sua garganta e alarmada levantou-se correndo e foi ao banheiro. Nele encontrou uma bacia vazia e se debruçou-se ali colocando o que comera na festa para fora.

Quando ergueu a cabeça pareceu respirar com mais alivio e controle. Retornou para o quarto e sentou-se novamente na ponta da cama, a divisa entre a ante-sala e o quarto possuía uma cortina de cor bege e Nye tratou de fechá-la. Não queria ver Thranduil se aproximar dela e a olhando de forma analisadora ou maliciosa. 

E ali ficou a esperar por ele.

Ele que por sinal estava demorando, mas talvez o rei estivesse tentando se despedir dos elfos ali do salão. Observou ele conversar com vários e sempre bebia vinho, não chegou a vê-lo comer algo e esperasse que ele não estivesse com fome. Não seria certo ele passar fome no dia do seu casamento. Enquanto esperava sua mente entrava em contradição, não sabia se temia a vinda de Thranduil ou se preferia que ele não viesse. Ele ficaria bravo se ela pedisse para não... Bom, para não terem a noite de núpcias deles? Afinal, ela não sabia ao certo o que fazer, como fazer e o que aconteceria. Ainda sentia seu corpo tremulo de ansiedade e medo e sentia que o melhor era não entrar naquela parte do casamento ainda.

Quanto mais pensava, mas confusa ficava. As imagens da violação de Aren diante de seus olhos vinham constantemente em sua cabeça e novas ondas de nervosismo se apossavam dela. Fazendo-a crer que o melhor mesmo era não fazer aquilo, ao menos por enquanto.

Ao sentir dores nas costas percebeu que passara tempo demais, sua coluna já reclamava por ficar somente sentada e na mesma posição. E nem sinal de Thranduil. Se levantou esticando-se e sentindo as costas estralarem, caminhou até a cortina e a abriu vendo se o rei não estava ali apenas esperando seu consentimento para adentrar o quarto. Mas ele não estava ali, caminhou pela ante-sala com o peito apertado.

Tinha medo de ser tocada, isso era fato, mas sabia que se conversasse com o rei ele acataria seu pedido. Thranduil fora bom consigo durante a semana de seu noivado e na noite anterior a acalentou, fazendo-a se acalmar e permitiu que ficasse com ele durante a noite. Então, que motivos teria ele para não aparecer? Tudo aquilo fora mentira? O beijo trocado após a visita a Erebor, os afagos e as palavras de conforto... Tudo mentira? A dor da duvida lhe arrebentou, Nye respirou com dificuldade sentindo o ar rarefeito.

O quarto se tornou frio, mas não havia gelo. Apenas a temperatura do ambiente é que fora esfriando.

Não quis chorar. Não queria parecer boba, pois sabia que o casamento não havia nenhum lado emocional vinculado. Era apenas um casamento de benefícios. Sua linhagem seguiria e Thranduil... O que ele ganhava casando-se com ela? Ponderou. Nada. Ele não ganharia nada, estava ali apenas para garantir que o sangue dos Vallarin não se perdesse como o reino. Ela não era nada para ele.

Com a magoa lhe corroendo a alma, os fatos lhe acertando a face como um tapa, Nye retornou para a cama e ali se deitou. Quando deitou a cabeça no travesseiro macio, sentiu lágrimas escorrendo pelo rosto e ressentida acabou pegando no sono.  

 

 

 

 


Notas Finais


Gente, não sabe o quão ansiosa eu estava para postar esse capitulo. Mas também estou receosa, pois ele me deu trabalho para escrever. Eu não tinha ideia de como era um casamento elfico então eu tive que pesquisar bastante e por isso demorei um pouco com o capitulo. Espero que tenha ficado claro alguns costumes como a troca de alianças de prata para as de ouro e o fato deles usarem no dedo indicador. Porém, me sinto receosa, pois fiquei com medo de ter deixado as coisas um pouco chatas e longas… Eu não sabia o que colocar na hora da festa então incrementei e coloquei o ponto de vista da Nye a respeito de tudo e de sua ansiedade para a noite de nupcias…

E falando nela, peço a todas as leitoras que não ataquem, não estrangulem ou pulem no pescoço do Thranduil… Ao menos, não ainda ¬¬ Eu sei que várias devem estar tirando conclusões, mas garanto que eu tenho os motivos (talvez não tão bons) para ele não ter aparecido.

Sobre Elinor, creio que já devem saber quem rasgou o vestido de noiva de Nye, né? Ela terá a punição dela no próximo capitulo! Espero que tenham gostado de verdade, tentei meu melhor e ainda acho que me perdi em algumas partes e estraguei o capitulo, mas prometo caprichar no próximo! Até lá!

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Vestido de Nye (o que fora rasgado): https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/94/4d/c1/944dc1510dae452d25913fa26b270581.jpg

Vestido de Nye (o novo): https://i.pinimg.com/originals/e3/54/8d/e3548d7287ae1619b8943edf9594fb86.jpg

Tiara de Nye: https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/originals/e3/04/b8/e304b889d355919ceb36ba772b8a8d9c.jpg

Roupa de Thranduil (não encontrei outra roupa melhor ou em cor diferente, mas vamos fingir que a roupa é branca e os detalhes nela são dourados): https://i.pinimg.com/originals/a1/95/ce/a195ce7f2974bff9699ab7e5a093e2f4.jpg

Aneis de prata: https://i.pinimg.com/originals/06/ed/ea/06edea7a5b6c76af16a805fb9577c268.jpg

Aneis de ouro: https://i.pinimg.com/originals/d1/7c/2b/d17c2b87b1fc7b49369780ec80cfb70c.jpg

Achei isso no Pinterest e adorei, como são os garfos e facas do casamento: https://i.pinimg.com/originals/25/b9/fa/25b9fa5aff1334859086664e4df4324c.jpg


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