História Fria Transcursão - Desavença

Barry

Fico andando continuamente em círculos enquanto aguardo Joe e Patty. Não estava ali há muito tempo, mas cada segundo de espera me corroía por dentro. Ainda conseguia ouvir as palavras de Joe em minha mente. Caitlin acaba de se tornar suspeita de assassinato. Achara que toda a situação não pudesse ficar pior, mas aquelas palavras acabaram de me provar do contrário. E todos nós nos encontrávamos mais perturbados ainda.

Giro-me de encontro à porta e avisto meus amigos. Joe me estende um pedaço de papel, mostrando os dados da vítima, crime e uma foto do corpo. Carla e Cisco se aproximam e o observam.

— O nome dele é Fitzgerald Cowill. Ele morreu há pouco mais de um dia. A causa da morte foi traumatismo craniano, proveniente de uma bala na cabeça. O corpo foi encontrado despido, dentro de um saco e uma lata de lixo — Joe informa.

— E o que a minha filha tem a ver com isso?

— Encontramos sinais de confronto nas análises e três digitais. Uma delas é a de Caitlin. As outras são de duas crianças. Esse homem é uma doppelganger da Terra-2, pois o daqui morreu há alguns meses. No entanto, acreditamos que as crianças sejam enteados dele. Fizemos uma pesquisa e encontramos a mãe, e ela possui o mesmo sobrenome de Fitzgerald.

Aceno com a cabeça. Carla me encara com confusão.

— Doppelganger da Terra-2? — Ela pergunta.

— Eu te explico depois. — Respondo.

Em seguida, Cisco se manifesta.

— Bom, mas se havia sinais de confronto, deve ter sido legítima defesa — defende.

— Talvez. No entanto, você mesmo disse ter visões de Caitlin matando um homem. E temos o incidente do hotel. Sinto muito, mas não podemos descartar a possibilidade de que ela tenha feito tudo isso de livre e espontânea vontade.

Joe tinha razão. Por mais que confiasse em Caitlin, o quadro no qual nos encontrávamos era péssimo. E, por mais que acreditasse plenamente em Caitlin, não sabia por quanto tempo conseguiria continuar convencendo a Joe de burlar a lei ao seu favor. Era como tentar desarmar uma bomba relógio a instantes de sua explosão. Passo a mão pelos cabelos, tentando pensar objetivamente.

— Vocês encontraram as digitais dela no gatilho? — Pergunto.

— Não achamos a arma ainda — Joe responde.

— Bom, devido a circunstâncias nas quais o encontramos, ainda não conseguimos a arma. Nem as crianças. Estamos a procura de mais pistas, mas estamos trabalhando com o temos por enquanto — Patty se manifesta com a voz baixa e preocupada.

— Barry, esse homem é da Terra-2. Ainda podemos segurar as pontas e te dar um tempo para encontrá-la, porém, se Caitlin atacar um cidadão daqui, teremos que agir.

— Obrigado.

Respiro fundo e tento ficar tranquilo. Aquilo era o melhor que poderia conseguir. Tinha de me manter-me focado e aproveitar a oportunidade. Eu precisava achar Caitlin antes que fosse tarde demais.

+++

Eu não sabia mais o que fazer. Havia visitado cada locadora de veículos de Central City a procura de Caitlin, porém não obtivera uma pista sequer.

Eu já estava familiarizado com a sensação de tudo apontando contra si. Eu passara anos acreditando no meu pai e tentando inocentá-lo e tirá-lo da prisão, mesmo quando não tinha a menor chance e a maioria das pessoas não acreditava em mim. Só que dessa vez eu estava numa corrida contra o tempo. E além de Caitlin não deixar nenhum rastro, Cisco a via matando pessoas. Eu não sabia mais o que fazer.

Olho meu relógio e adentro o prédio do Central City Picture News. Precisava desabafar com Iris. Imediatamente, vejo Linda deixando o prédio. Ela para ao me ver.

— Ei, Barry. Tudo bem? — Linda me cumprimenta com um sorriso.

— Mais ou menos. Você viu a Iris? — Pergunto.

— A última vez que eu a vi já tem um tempo, ela estava fazendo os últimos ajustes a uma matéria. Ela conseguiu a primeira página de novo.

— Uau, isso é ótimo para ela. Fico feliz por isso.

— É, Iris me faz querer abandonar o esporte e me tornar uma repórter investigativa. — Linda completa. — Eu fico impressionada com os casos loucos que ela encontra. Dessa vez ela achou um cara nu numa lata de lixo, dá para acreditar? — Ela me pergunta rindo.

Paraliso ao ouvir tal frase. Eu não conseguia acreditar naquilo. Engulo em seco quando vejo Iris sorrindo ao acenar para alguém. Ela logo se aproxima e se depara comigo. Seu rosto congela. Linda continua ali por alguns instantes até se dar conta da tensão entre nós.

— Bem, de qualquer jeito, eu tenho que ir. Até mais, vocês dois. — Linda se despede com uma expressão constrangida.

Iris e eu nos encaramos em silêncio. Ela logo fica desconfortável e desvia o olhar. Em seguida, coloca as mãos nos bolsos e encolhe os ombros.

— Como você pôde fazer isso, Iris? — Pergunto.

— Barry, antes de mais nada, só me escute, tá? — Iris pede. — Eu sei que você provavelmente está irritado, mas era o que precisávamos fazer. Caitlin sumiu já faz semanas e não conseguimos encontrá-la até agora. Essa é a única alternativa que nos restou.

— O quê? — pergunto em voz alta — você está prestando atenção no que diz?

— Talvez dessa forma alguém a encontre e entre em contato. — Iris tenta me convencer.

— Iris, você não entende. A cidade a verá como uma assassina.

Iris respira fundo.

— Barry, às vezes precisamos correr riscos para conseguirmos o que queremos. — Defende.

Não acredito que tais palavras realmente tivessem saído de sua boca e rio com descrença.

— Sério? Por que parece que o que você realmente quis foi a primeira página. Mesmo que isso significasse prejudicar alguém importante para mim. — Acuso.

A expressão de Iris muda e ela passa a me encarar com olhos furiosos.

— Eu não acredito nisso que você disse isso... — Ela fala sacudindo a cabeça irritadamente — Quer saber, Barry? Que seja! Eu posso ter levado a primeira página com isso e ter feito ao expor a Caitlin, mas isso não ocorreria se a Caitlin não tivesse matado aquele homem.

Engulo em seco. Iris se aproxima de mim.

— Porque é isso que Caitlin fez, Barry. Eu sei que você se importa com ela, mas quem está prejudicando Caitlin é ela mesma. Ela se tornou uma assassina. O fato de você não aceitar isso não muda a realidade na qual nos encontramos.

— Isso não é verdade... Não encontramos a arma ainda. — Eu insisto.

— Cisco também a viu matando aquele homem — Iris argumenta.

— Aquele futuro não se concretizou ainda!

— E daí? Está tudo muito claro, Barry! Não foram duas crianças que mataram aquele homem. Foi ela. E eu não vou esperar que achem a droga daquela arma para confirmar aquilo. Caitlin se tornou uma criminosa. Eu não ficarei de braços cruzados até que ela mate alguém dessa Terra. E os cidadãos daqui merecem serem alertados de tal risco.

Mordo o lábio apreensivamente e sinto o olhar de Iris me encarando com intensidade.

— Eu sei que você convenceu o meu pai a protegê-la. Isso está afetando o seu julgamento e você está corrompendo as pessoas. A polícia tem que fazer o seu dever. VOCÊ tem que fazer o seu dever, Barry. Isso significa proteger a maior parte das pessoas, não uma só. E saber quando é preciso deter alguém de quem gosta — Ela insiste.

— Eu quero proteger a todos, Iris. Inclusive Caitlin. As coisas ainda estão confusas e não queria acabar com a sua imagem antes de ter certeza dos fatos. E também não pensei que você pudesse fazer isso com ela ou comigo, mesmo que vocês não fossem tão próximas.  — Defendo. — Você ainda é amiga dela. E você passou pela mesma situação com Eddie.

Iris engole em seco e me encara com uma expressão cortante.

— Como você ousa usar o meu noivo falecido contra mim, Barry? — Ela me pergunta com o olhar ardente e marejado.

— Eu ouso usar a verdade, Iris. Quando tudo incriminava o Eddie, você acreditou nele e eu te apoiei.

— Isso é golpe baixo, Barry — Iris responde com a voz baixa.

— Não é. Eu só acredito nela da mesma forma. E o fato de que você está se sentindo mal só prova que se sente culpada também.

Suspiro.

— Olha, parte de você pode até acreditar que essa era a única opção, mas outra parte ainda sabia que isso era errado. Por isso que você não se preocupou em falar comigo antes de apunhá-la pelas costas.

Iris comprime os lábios e desvia o olhar. Olho ao redor e vejo todos seus colegas encarando a cena. Scott se aproxima e para ao seu lado, me lançando um olhar intimidante.

— O que está acontecendo aqui?

— Não se preocupe, já terminou. Não me resta nada a fazer por aqui.

Respondo, lançando aos dois um último olhar antes de me retirar do prédio.