Iris
Scott e eu trocamos sorrisos por alguns segundos até a campainha tocar.
— Um segundo — peço.
Caminho até a porta e dou de cara com Barry ao abri-la. Cedo espaço para que ele adentre a sala.
— Ah, eu não sabia que você estava ocupada.
— Não, só estava lanchando com o Scott. Ele veio me dar uma força com as crianças — explico.
— Uau, bem generoso da parte dele.
Balanço a cabeça.
— Enfim, Barry, esse Scott é Evans. Scott, Barry...
— Allen, eu sei — Scott responde entusiasmado e estende a mão.
Barry me encara com um olhar confuso. Dou de ombros. Ele aceita o aperto.
— Grande fã.
Grande fã? Agora sou eu quem não está entendendo a situação.
— Quê? — Barry pergunta.
— Seus relatórios forenses. Eu já li todos. São ótimos, tão ricos em detalhes, me fazem sentir como uma testemunha de verdade.
— Ah, obrigado. Não pensei que alguém que não trabalhasse na mesma área fosse gostar deles.
— Bom, eu não os conhecia, mas meu namorado era um CSI e me apresentou a eles, daí eu comecei a acompanhar os seus textos. Você é incrível!
Barry e eu ficamos fazendo perguntas silenciosas um ao outro enquanto Scott tagarela fascinadamente sobre o seu trabalho.
— Bom, eu tenho que ir. Foi um prazer conhecê-lo, e Iris, obrigado pelo sanduíche.
Scott fala enquanto continua apertando a mão de Barry e depois se dirige a mim. Gesticulo com a cabeça para ele e caminho até a porta para me despedir.
Agradeço a Scott pela ajuda e combino de encontrá-lo novamente no trabalho. Ao fechar a porta, deparo-me com Barry, sua expressão ainda é desorientada.
— Ok, o que foi isso? Ele estava... Dando em cima de mim?
— Bem, eu não sei, mas posso colocá-lo na sua fita se quiser — ironizo.
— Não, obrigado.. Você sabia que ele era gay?
— Não. Não acho que seja muito educado sair perguntando a orientação sexual das pessoas por aí — respondo simplesmente.
— Você está bem? — Barry pergunta olhando nos meus olhos.
— Sim, — afirmo e faço uma pausa ao reparar o seu olhar insistente — por que você está fazendo esse questionário todo? — Indago.
— Nada... É que você fala tão bem do Scott que achei que talvez gostasse dele.
— Barry, gostar do meu chefe seria completamente inapropriado. Somos amigos. Isso é possível tanto para pessoas de sexos diferentes quanto para chefes e funcionários.
Barry continua me encarando como se quisesse analisar a veracidade de minhas palavras. Após alguns instantes, ele dá de ombros.
— Então, tudo bem com vocês aqui?
— Sim.
Barry balança a cabeça e me lança um olhar mais sério. Ele estufa o peito, receoso.
— Você acha que eu posso trocar uma palavra com a Frankie? — Ele pergunta.
Franzo o cenho.
— Por quê?
— Para ver se ela pode me dar alguma pista sobre a morte do Fitzgerald... Ou algo que me leve até a Cait.
Mordo o lábio e respiro fundo.
— Eu vou ver se ela concorda, ok?
Barry sorri de leve.
— Obrigado, Iris.
Assento e me dirijo até o meu quarto. Bato na porta.
— Oi, Frankie. Será que você vir comigo rapidinho?
A menina balança a cabeça e fecha a porta. Caminhamos até o sofá e vejo Frankie vacilar por um momento ao ver Barry. Ela logo se recupera, sem perceber que eu notei.
Sento do lado de Barry e gesticulo para que ela faça o mesmo. A garota morde o lábio e senta do outro lado dele.
— Oi, eu sou Barry.
Frankie me lança um olhar desorientado.
— Só escute o que ele tem para dizer, Frankie.
— Bem, eu trabalho para a polícia e estou investigando o caso do seu padrasto. — Barry explica e vejo Frankie inflar o peito. — A morte dele ainda está incerta para gente e eu estava pensando se poderia te fazer algumas perguntas.
A menina arregala os olhos.
— Eu já contei tudo o que eu sabia a polícia — ela responde nervosa.
Franzo o cenho diante da mudança de postura da garota.
— Eu sei, mas talvez você tenha esquecido de algo. Vocês ainda estavam em choque e eu sei que as salas da CCPD podem ser intimidadoras... Por favor, Frankie. Não vai demorar muito, prometo.
A menina suspira, porém permanece com um olhar preocupado.
— Tá bem.
— O que aconteceu naquele dia?
— Meu padrasto nos tratava mal. Ele batia em mim e me forçava a usar meus poderes para que ele assaltasse bancos. Eu posso me teletransportar e ele se aproveitava disso... — A garota começa. — Só assim que eu podia ir a rua. Ele nos mantinha numa cabana no meio de um bosque, porque eu só posso me teletransportar para lugares onde vejo.
Frankie enrosca os braços e olha para baixo.
— Eu nunca quis fazer isso, só que ele sempre ameaçava Sam para me forçar. Teve um dia que ele tirou uma arma do bolso e eu me desesperei. Peguei o Sam e tentei fugir, mas o lugar era cheio de árvores que bloqueavam a minha visão.
Frankie engole em seco.
— Mesmo assim, continuei em frente. E daí me encontrei com uma mulher. Ela falou para irmos embora e o matou.
— Você tem certeza disso?
— Sim.
Barry respira fundo.
— Frankie, não achamos as digitais de Caitlin no gatilho. Não foi ela quem matou Fitzgerald.
Frankie congela.
— Tem alguma possibilidade de que tenha sido outra pessoa? Você viu ou ouviu algo que fez parecer que mais alguém estivesse lá?
— Não — ela responde rapidamente. — Talvez meu padrasto tenha se matado por acidente.
— Pode ser, mas ele foi encontrado numa lixeira há quilômetros dali e sem roupa. A arma também estava em outro ponto distante da cidade. Frankie, você tem certeza que não se lembra de mais nada suspeito? — Barry insiste.
— Por que você está fazendo isso?
A garota eleva a voz e se levanta apressadamente.
— Eu já contei à polícia tudo o que eu sei, está bem?! Os últimos dias foram os piores da minha vida e mesmo assim eu passei horas na delegacia para tentar ajudar. Sam e eu estávamos aterrorizados, sujos, cansados e famintos e eu não me importei. Nós até tivemos cada pedaço dos nossos corpos examinados para cooperar com o caso. Você tem noção de como foi humilhante Sam e eu termos sido obrigados a nos expor daquele jeito?! — A menina dispara descontroladamente.
— Frankie...
Barry tenta acalmá-la, porém ela não lhe dá ouvidos.
— Só que os inquéritos já acabaram, ok?! Já fiz tudo o que pude para ajudar a descobrir o assassino, só que eu só vi os dois no bosque.
A voz de Frankie continua aumentando e a sua respiração se torna mais rápida.
— Se não foi nenhum deles, então eu não sei. Só que não fui eu e não foi o meu irmão de dois anos. Nós fomos as verdadeiras vítimas da história, o nosso padrasto nos maltratou por meses e tentou nos matar! E eu só quero esquecer isso tudo!
Frankie diz ofegante e sua voz falha. Ela começa a soltar lágrimas pelo rosto desesperadamente. Contudo, ela as seca e tenta se recompor.
— Olha, eu agradeço por me ajudarem, mas não quero ser obrigada a falar do meu padrasto só porque consegui um teto, está bem? Apenas... me deixem em paz, por favor.
Frankie termina e caminha ligeiramente até o quatro, batendo a porta atrás de si.
Solto um suspiro frustrado e fito Barry.
— O que foi isso, Barry? — Pergunto.
— Eu estava tentando conseguir alguma pista — ele explica.
— É, mas esse não era o jeito! Scott e eu acabamos de conseguir fazer a Frankie conversar conosco e todo o esforço desceu por água abaixo agora.
— Desculpe.
Suavizo minha expressão.
— Eu não estou te condenando, ok? Só que Frankie está assustada e precisamos conquistar a confiança dela — esclareço.
— Eu sei, mas...
Barry suspira.
— Você não acha que ela está escondendo algo?
Estico as costas e respiro fundo, hesitante.
— Sim — confesso. — Só que ela não vai nos contar se não se sentir segura, Bar.
— Só que e se for tarde demais? Talvez a morte do Fitzgerald esteja ligada a Caitlin. Eu não sei, mas sinto como se tivesse uma bomba relógio e eu precisasse correr contra o tempo. E pode ser que o responsável pelo crime também seja uma ameaça aos dois.
Mordo o lábio, preocupado. As palavras de Barry só afloravam o meu mau pressentimento. Respiro fundo outra vez.
— Bom, só uma coisa que talvez responda nossas perguntas.
— Do que você está falando?
— Nós precisamos averiguar o caso nós mesmos.
Barry une as sobrancelhas.
— Como assim?
— Você pega as provas no departamento de polícia e nos leva até a cabana para vermos se encontramos alguma coisa.
Barry assente e nós caminhamos para fora da casa. Tranco a porta atrás de mim e rezo para que aquilo dê certo. Sabia que Frankie me odiaria por isso, mas era melhor do correr o risco de deixar Sam e ela ameaçados de alguma forma
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— Encontrou alguma coisa? — Pergunto olhando o vulto se mexendo rapidamente na minha frente.
Barry para e eu agradeço mentalmente por ele finalmente parar de usar a sua supervelocidade comigo.
— Talvez.
— O que é? — Pergunto.
Barry se aproxima me mostrando uma página de um caderno de Fitzgerald.
— Fui encurralado mais uma vez e tive que derrubar os caras. Sam ainda não tem controle de seus poderes e preciso dar um jeito nisso para que as limitações de Frankie parem de me prejudicar. — Barry lê em voz alta e me observa. — O que você acha que isso significa?
Fico olhando a página confusa e pensando nas duas crianças, tentando pensar em algo que repara neles e pudesse iluminar a minha cabeça. De repente, um pensamento me acerta em cheio e arregalo os olhos.
Barry faz o mesmo.
— O que foi Iris? — Ele pergunta.
— E se foi o Sam quem matou o Fitzgerald? — Questiono.
— Como assim? — Barry pergunta com a testa enrugada.
— Telecinese, Barry. E se Sam consegue movimentar objetos com a mente? — Sugiro. — Sam ter poderes psicocinéticos explica tudo, Bar. Porque o padrasto conseguia usá-los em seus crimes, porque ele teve uma morte tão enigmática, porque a Frankie está agindo de maneira tão estranha e não me deixa ficar perto do irmão... Até explica a xícara de café caindo na minha blusa hoje de manhã! E se Sam é quem foi responsável por tudo isso?
Barry permanece estático e nós dois trocamos olhares, assustados com tamanha possibilidade.
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