LIVRO UM
• TAYLOR •
E lá estava ele, o olhar meio distante – porque ele era um ser distante. Christian estava quase brilhando, parecendo uma réplica mais nova de Edward Cullen. Apostei um centavo até que ele jazia ali porque esperava a namorada.
É..., a sua linda (e sem sal) namorada.
Se fosse há alguns meses atrás e aquela mesma cena estivesse acontecendo, eu iria até lá conversar com ele, fazê-lo falar um pouco – porque ele era movido à perguntas – e dizer como eu me sentia naquele dia. Eu lhe contaria sobre os meus sonhos e da vontade insana de experimentar a lucidez enquanto dormia.
E não seria problema nenhum se eu fosse naquele momento, a não ser por um pequeno detalhe, é claro: o detalhe de que havia me apaixonado por ele. Era exatamente esse o motivo pelo qual eu havia ficado lá, perto daquela árvore gigante apreciando Christian Menson, o meu melhor amigo (ou ex melhor amigo).
Mas fiquei pensando se seria uma má ideia ignorar a mim mesma e ir até lá onde ele estava, a fim de tentar trazer de volta a amizade que eu estraguei, durante as nossas férias de fim de ano. Por isso, quando me dei conta, as minhas pernas me levaram até ele e os seus olhos já estavam em mim, confusos e surpresos.
— Taylor? — disse ele, e então se levantou rapidamente, como se evitasse aquela minha aproximação. — Mas o que você está fazendo aqui?
— Eu estava passando por ali e vi você — respondi, incomodada com aquele seu tom. — Achei que poderíamos conversar sobre aquilo.
— Sobre aquilo? — jogou ele, todo impaciente. — Nós já conversamos sobre aquilo, não lembra?
Me surpreendi com toda aquela pressa para que eu sumisse logo dali, porque Christian agia como se eu fosse agarrá-lo e forçá-lo a fazer algo contra a sua vontade. Afinal, tudo isso só me mostrava que, além da amizade estragada, de bônus eu havia ganhado um Christian Menson cheio de repulsa e de coisas que eu sequer pensava que ele sabia que existiam (como ser um grosso e um mal-educado).
— Eu já disse que eu não tenho culpa!
— É claro que tem — Christian me olhou, muito frustrado. — Você sabia o que nós dois tínhamos e o que eu sentia; entendia bem o papel de cada um... só que, então, do nada, você vem com esse papo de que está apaixonada por mim. O que deu em você, Taylor? Isso é idiotice...
Eu tinha culpa mesmo?
— Você gostando ou não, Christian, é a verdade..., sei o que eu sinto e não é idiotice — murmurei, me sentindo um tanto humilhada.
— Não, você não sabe — discordou ele, muito convicto. — Isso é coisa da sua cabeça, está confusa com os seus sentimentos.
— Você sempre acreditou em mim — insisti, buscando ir por outro rumo —, então por que logo agora resolveu não acreditar?
Christian Menson era uma boa pessoa e sempre foi um anjo, me ouvindo, me aconselhando, fazendo o que deduzia ser o melhor para mim, sendo gentil…, então por que ele estava tão surpreso com os meus sentimentos? Por que era algo tão inesperado pra ele?
— Porque eu sei que não é verdade — respondeu, crente do que estava falando. — Estou com outra pessoa e você sabe o quanto eu a amo. Alice e eu estamos juntos há quatro anos e, por mim, vamos continuar assim pra sempre. Isso o que você quer não vai existir, Taylor...
— Mas o que você 'tá pensando? — bufei, perplexa. — Eu não vim até aqui para obrigá-lo a me amar ou terminar o seu relacionamento com a Alice. Só o que eu quero é a nossa amizade de volta.
— Não vou conseguir agir como antes.
— Podemos tentar…
— Não vai dar certo — Christian negou, sequer pensando na possibilidade. — Só esqueça isso e vamos seguir como estamos agora. — Ele pôs as mãos nos bolsos do casaco e abaixou a cabeça.
Senti o meu celular vibrando e o ignorei. Os momentos que tive com Christian flutuavam na minha cabeça e eu já sentia os olhos arderem.
— Tudo bem — sussurrei, depois de longos segundos.
— É melhor você ir — aconselhou, sem me olhar. Não esperei para receber mais coices, apenas dei meia-volta e abracei o próprio corpo, a fim de seguir até a casa dos Tomlinson.
Percebi os meus olhos lacrimejando e rapidamente me pus a limpar aquilo, tão brusca que me machuquei com as minhas próprias unhas. As pessoas já me olhavam torto, provavelmente se perguntando qual era o meu problema. Abaixei a cabeça e finalmente resolvi parar de ignorar as chamadas de Jane Collin, atendendo um dos seus vários toques.
Eu já estava bem atrasada, aliás, havíamos combinado de ir até a casa do Sr. Roberts, o nosso professor de Física. Ele estava bem interessado na minha mãe e queria a nossa ajuda, porque mamãe não conseguia perceber sozinha que aquele homem geralmente a chamava para reuniões apenas com o objetivo de vê-la.
O Sr. Roberts adorava pegar no meu pé na London Greenwich, cheguei a imaginar até que era alguém destituída de inteligência, mas Jane me garantiu que aquilo com certeza tinha a ver com a paixão dele com a minha mãe. É claro que tive as minhas dúvidas, afinal, Física era uma das matérias que eu mais odiava e me dava mal.
— Oi — falei, sem a menor vontade.
— Taylor, onde você está? — perguntou ela, ansiosa por causa de todo aquele plano cupido. Jane era a única que estava empolgada com toda a história do Sr. Roberts e simplesmente conseguiu convencer Louis e eu a participarmos também. — Estamos atrasados, mocinha.
— Certo — falei, buscando deixar o tom da voz mais claro, que já se encontrava meio anasalado. Aquilo levantaria suspeitas de Jane Collin, algo que eu queria evitar. — Eu já estou indo.
— Você estava chorando? — questionou, preocupada. Eu quis mesmo enganar a minha melhor amiga? Nem tive tempo de responder, na verdade, porque Louis entrou na linha. Apenas consegui imaginá-lo andando de um lado pro outro, de mãos dadas com a sua amiga Impaciência. — O que aconteceu para estar demorando tanto assim? — ele perguntou, já meio irritado.
— Eu… estive fazendo umas coisas.
— Que coisas?
Não adiantaria esconder, porque no fim das contas eu acabaria falando. Era uma das nossas regras entre amigos: falar o que estava nos afligindo.
— Falei com Christian Menson — respondi de uma vez, apressando os passos ao sentir o frio aumentando. — Eu o vi no caminho e resolvi conversar sobre aquilo…
— Como é? — arquejou Louis, apenas se irritando ainda mais. — Por favor, diz que você 'tá brincando comigo.
— Olha, eu estou bem!
— É lógico que não! — exclamou, me deixando menos interessada ainda em ter aquela conversa com ele estando a poucos passos de mim. Ser sincero demais era o jeito dele, algo que nem sempre me ajudava, apenas me deixava irritada e nos fazia discutir. — Escuta, é melhor chegar aqui mais rápido do que a velocidade da luz, entendeu?
Depois disso ele desligou a chamada.
Com o objetivo de não irritar Louis Tomlinson ainda mais, dei algumas corridinhas pela calçada. Por isso, após alguns minutos, eu já estava na casa dele.
Johannah estava sentada no sofá assistindo um programa de talentos. Quando me viu, deu aquele sorrisinho acolhedor e me cumprimentou. Ela não percebeu o meu estado, algo que eu desejei mentalmente, e então não me demorei ao subir aqueles degraus em espiral.
Abri a porta do quarto do Louis e, antes mesmo que eu percebesse como estava a atmosfera ali, Jane se aproximou rapidamente. Ela estava mesmo aflita e segurava os meus ombros, como se buscasse ao máximo ler a minha mente.
— Quer conversar sobre o que aconteceu?
— Melhor não — respondi, dando de ombros. — Vamos logo, já estamos mais do que atrasados.
Dei meia-volta e ignorei o olhar dos dois.
[...]
— As luzes estão apagadas — comentei, quando finalmente chegamos no bairro vizinho e ficamos observando a casa do Sr. Roberts. — Será se ele desistiu?
— Olhem só quem está vindo ali — cantarolou Jane, quando saímos do carro e nos aproximamos mais da residência. Era o Sr. Roberts vestido em um terno – percebi também que o frio não era uma de suas preocupações. O professor então se aproximou com um sorriso contagiante e cumprimentou a todos com um aperto de mão.
— Fui entregar um depósito no vizinho — disse ele, todo educado. — Vocês demoraram e eu quase desisti, mas então pensei melhor antes de devolver o terno ao armário.
— Desculpa, tivemos alguns contratempos — falou Jane, me lançando um rápido olhar e fazendo questão de me deixar envergonhada. — Sabe como é…
— Tudo bem — o Sr. Roberts balançou as mãos, ignorando a demora. — Conversou com a sua mãe, Srta. Hampton?
— Sim — respondi, enquanto cruzava os braços —, mamãe está agora mesmo esperando pelo senhor.
— Tem certeza de que não vai avisar que o senhor é o senhor antes de aparecer? — perguntou Louis, como se imaginasse algo de ruim. — Acho que isso vai deixá-la sem palavras.
— Talvez ela fique mesmo surpresa, mas estou preparado para o que vier, Sr. Tomlinson — respondeu o professor, com um sorriso enorme acompanhado de um brilho no olhar. — Não se preocupem.
Eu só conseguia pensar no meu irmão, que era meio ciumento e sempre fazia questão de ser desagradável com qualquer homem que se aproximasse da mamãe. Ele não era uma pessoa fácil.
[…]
Minutos depois, já estávamos próximos da minha casa observando o Sr. Roberts se aproximando da porta, todo elegante e confiante.
— Eu não deveria ter concordado com isso — falei, mexendo no cabelo devido ao nervosismo. — Minha mãe vai me matar!
— Ela vai nos agradecer depois, acredite — garantiu Jane, com um sorriso de satisfação. — O Sr. Roberts sabe do que ela gosta.
— Não sei se devo falar o mesmo — murmurou Louis, atento ao que se passava lá fora. O Sr. Roberts já tinha entrado em casa e demorava mais do que o necessário para sair.
Bufei com aquilo e dei uma olhada para a porta da minha casa. Foi o momento em que os dois apareceram, mamãe tinha um ar de estranheza no rosto, mas consegui ver um sorriso oculto em algum lugar ali. Era como se ela tivesse gostado da surpresa, mas que não esperava muito do encontro.
— Olhem aquilo! — exclamou Jane, dando pulinhos de alegria no banco do passageiro. — Eles são lindos juntos…
— Estão vendo algum vestígio de fumaça saindo do nariz dela? — perguntei, me inclinando mais para frente a fim de enxergar melhor.
— Com certeza não — respondeu Louis, pausadamente. — E então, vamos ficar aqui? — quis saber ele, ao avistarmos o casal seguindo o seu caminho em direção ao restaurante.
— Não, vamos entrar — respondi, passando a ficar receosa novamente. Louis estava com aquele seu ar de que queria dizer alguma coisa, e eu sabia que tinha a ver com todo o papo sobre Christian Menson. Eu apenas queria adiar aquela conversa a fim de não precisar tê-la nunca mais. — Se vocês quiserem, é claro.
— Tudo bem, eu vou entrar. — Então saímos do carro, eu já imaginando como terminaria tudo. — Precisamos mesmo conversar.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.