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História Friends - Louis Tomlinson - 100. Celebração


Escrita por: sunzjm

Capítulo 100 - 100. Celebração


Fanfic / Fanfiction Friends - Louis Tomlinson - 100. Celebração

LOUIS

Pensei que eu não conseguiria.

Mas eu consegui.

Tudo bem, tudo bem, não foi nada fácil, eu admito, mas bastava aquela coisa importante que eu não conhecia muito bem. Aquela coisa chamada paciência.

Quem diria...

Ser paciente me trouxe mais do que eu esperava. Na verdade, não tinha me dado tudo, mas me deu o bastante para que eu seguisse com a onda do mar ao qual eu pertencia. 

Estudar e ter dedicação no que eu não tinha me dedicado há algum tempo, quando tudo aquilo aconteceu comigo, foi uma das minhas distrações rotineiras. Minhas notas melhoraram mais e eu fiquei tão orgulhoso de mim mesmo, que aceitei o privilégio de fazer parte do comitê de formatura novamente, algo que eu tinha deixado de lado por conta da desmotivação.

Era como se eu quisesse surpreender a mim mesmo com a minha capacidade. Alguma coisa tinha mudado e eu me sentia pronto para qualquer situação; eu sentia como se um determinado ciclo da minha vida já tivesse se evaporado. 

É claro que nem sempre tudo ficava em seu determinado lugar. Havia vezes em que eu simplesmente saía de casa, enjoado demais com os pedidos de perdão, e ia pro Green's D., a fim de beber e fumar com Daniel, Steve e os outros. 

Mas era uma saída de controle limitada e, no outro dia, lá estava eu de novo, na ativa. Marly Cooper era quem me trazia o tal descontrole, aliás, ela puxou um ponto tão forte de ódio e nojo em mim, que eu sequer suportava olhar pro seu rosto, porque me trazia a ideia de que eu já tinha lhe beijado e que já havia feito coisas que não deveria.

Era uma sensação horrível.

Ela já não me surpreendia quando batia na minha porta. Eu já tinha pedido diversas vezes para que Maggie não a deixasse entrar, mas Marly insistia tanto que acabava conseguindo. E eu já estava cansado de tudo aquilo. 

Houve um dia, no entanto, que eu senti que aquelas visitas finalmente cessariam. Vi na forma como Marly me olhou, ela finalmente tinha desistido e criou uma raiva de mim por ter se humilhado durante todos aqueles dias.     

— Tudo o que eu fiz por você... — ela dizia, chorando. — Eu quase não ligava pra minha vida por sua causa.     

— Ah, não coloque a culpa em mim — pedi, encostado no meu carro enquanto fumava um cigarro. — E você não fez porra nenhuma. Talvez tenham sido coisas boas aos seus olhos, mas qualquer pessoa que ouça as merdas que você fez... Eu já cansei de repetir isso, na verdade. Você precisa procurar um psiquiatra.   

— Eu não consigo entender — murmurou ela, e realmente vi que estava confusa, como se não tivesse me ouvido. — Não sei por que…     

— É claro — revirei os olhos, exausto de tudo aquilo na minha vida —, o problema está dentro da sua cabeça, camuflado anti Marly Cooper.     

— Você está falando como se eu não tivesse noção de nada — disse ela, ofendida. — Eu sei o que eu fiz e não estou arrependida. Ela mereceu aquilo…     

— É melhor calar a boca, Marly — lhe interrompi, me alterando e finalmente olhando pra ela. — Taylor nunca fez nada a você…     

— Mas fez com você.    

— Ela não fez nada comigo — eu disse, óbvio. Marly parecia desolada e cheia de rancor. — Tudo o que aconteceu foram as circunstâncias. O pai dela morreu, o que diabos você esperava que ela sentisse?     

— Ela é fraca e tola.    

— Para de ser tão insensível assim! — exclamei, me aproximando dela. — Quem você acha que é? Você não é nada além de alguém procurando por atenção.     

— Não!...     

— Você se sente insegura consigo mesma e tem inveja do que os outros têm, afinal, você não tem nada, não é mesmo? E é tão destituída de sentimentos que nada do que você faz tem a mínima importância — joguei, sem ligar para o que ela pudesse estar sentindo. 

Marly precisava ouvir aquilo, precisava se sentir mal, assim como eu tinha me sentido; assim como Taylor tinha se sentido e também como todas as pessoas que entraram em sua vida, até mesmo Adrian Carrington.      

— Você mente para os outros sobre tudo e sobre si mesma para conseguir coisas que lhe dão prazer — continuei, bem perto dela. — E nada mais do que isso. Sua autoestima é tão baixa…, a sua falta de amor próprio é tão grande, que você simplesmente engana a si mesma. Você acha que é tudo, mas na verdade não é nada. Engana todos, achando que tem coisas boas, que faz coisas boas, que ama alguém... Mas não! Se você acha que a Taylor é fraca, Marly, se você acha que eu ou qualquer outra pessoa somos fracos, então é melhor calar a boca, entendeu? — apontei o indicador pra ela —, porque você é tão fraca quanto todos nós juntos.

Ela ficou olhando pra mim e, de alguma forma – que surpreendeu até eu mesmo –, percebi que eu tinha conseguido mexer em alguma ferida que estava escondida dentro dela. Uma sombra passou pelos seus olhos, vi a tristeza tomar conta dela, vi a raiva aparecer, deixando os seus olhos vermelhos...

E então ela ficou impassível.

Segundos depois, saiu dali e foi embora.

E eu não soube mais dela. Algo bom, porque era o que eu estava esperando para que as coisas voltassem ao normal e se resolvessem. 

E estavam se resolvendo, sim. 

Mamãe também iria se casar e aquilo me deixou fora de mim. Mas foram apenas durante horas, porque eu tinha que aceitar que Michael não era como o meu pai. Eu precisava deixar a minha mãe seguir com a vida dela, que usasse aquele acontecimento ruim com a nossa família se tornar uma base de sustentação para coisas que pudessem nos deixar tristes.

Experiências ruins poderiam servir para nos deixar fortes e agora aquela tragédia era isso. Eu lembrava do Austin morrendo na minha frente, mas a imagem se ia, como se fosse a tela de uma TV cheia de faíscas. 

No decorrer do tempo, aquilo ficava mais e mais embaçado, e só o que eu conseguia ver com clareza em relação ao Austin era o seu sorriso durante os nossos passeios, as suas risadas quando eu lhe fazia cócegas e as suas brincadeiras quando ele tentava chamar a minha atenção. 

E então eu me via sorrindo, sentindo saudades dele, pensando no que Taylor tinha falado quando aquilo aconteceu comigo, “que ele estava em um lugar melhor, que ficaria feliz se me visse feliz, mas que choraria se me visse chorar”. Aquilo não era nem um pouco racional, mas comecei a acreditar de alguma forma. 

Austin não tinha me abandonado, não. Ninguém o levou, ele estava apenas separado de mim por algo que o deixou invisível, e estava tão feliz brincando com outras crianças, que eu me sentia em paz e leve.

Talvez eu pudesse vê-lo de novo algum dia?

Talvez...

Eu não deixava de visitá-lo no lugar onde tinham o deixado. Sua casa continuava sendo a minha casa, mas aquela lápide trazia algo pra mim. Era lá o ponto onde nos encontrávamos e Austin trazia consigo o nosso pai, que estava bem ao seu lado.

Eu o olhava, ainda decepcionado, mas com algo dentro de mim, que me fazia olhá-lo e também sentir a sua falta. Sentir falta de uma coisa boa que o meu pai já havia me dado algum dia. Provavelmente aquela coisa era o amor fraterno que eu parei de sentir durante algum tempo. 

E eu ouvia os seus sussurros dentro da minha cabeça, me pedindo desculpas, me pedindo perdão, dizendo que me amava..., e então eu me agachava no chão daquele cemitério, segurando dois arcos de flores, um pra ele e outro pro Austin, e assim abaixava a cabeça para chorar, buscando liberar aquele rancor pesado que eu ainda sentia.

E, sempre que eu repetia aquilo, uma parte daquele pesar sumia na atmosfera. Até que não existiu mais, e eu me via lembrando do meu pai, sorrindo pra mim quando eu era apenas uma criança.     

— Eu te perdoo — um dia eu falei, sentindo a sinceridade tanto nas palavras quanto dentro do meu peito. — Me perdoe também. 

Tínhamos nos resolvido?

Sim, tínhamos nos resolvido. 

Eu sentia que tinha ganhado o meu perdão e aquilo era bom. Era muito bom mesmo. E eu me esforçava para não julgar Michael pelos atos do meu pai. Ele não era daquela maneira e eu fiz questão de demonstrar aquilo.    

— Eu não vou mais implicar com você, cara — falei do nada, e foi em uma sexta-feira, onde mamãe tinha o convidado para jantar conosco (aquilo foi depois de me informar que estava noiva). 

Mamãe e Michael não demoraram ao colocar os olhos em mim, surpresos com a minha interrupção no que eles conversavam durante o jantar.      

Segurei a risada e voltei a mexer na minha comida. Tentei não rir, na verdade, mas quando olhei pra eles novamente, foi um fracasso. Eles estavam congelados, me fitando como se eu tivesse criado chifres. E aquilo realmente era muito engraçado.      

— Mas por que estão me olhando assim?    

— Será que poderia me passar a água? Senti sede de repente, não sei o que foi isso — disse mamãe, e Michael logo lhe passou uma jarra. — O que foi mesmo que você disse, querido? — perguntou ela pra mim, ansiosa.     

— Eu disse que não vou mais implicar com o meu futuro padrasto — repeti, um pouco mais alto, deixando transparecer a minha sinceridade. — Estou falando sério.

Ela olhou para ele e ele fez o mesmo. Depois Michael deu de ombros, também passando a rir.     

— Eu tenho uma dúvida... — disse mamãe, ainda me olhando como se eu tivesse criado chifres. Mexi a mão para que ela continuasse e mutilei o meu pedaço de bife. — Como chegou nessa decisão?

Como eu tinha chegado naquela decisão?     

— Eu não sei — respondi, sincero. — Talvez eu sempre tivesse a certeza, mas não quis ver que estava sendo injusto. Fui infantil e ciumento.   

— Louis — mamãe me olhou, quase chocada e emocionada —, não diga isso, meu querido. Você tinha razão em ficar daquela maneira.     

— Eu discordo — dei de ombros, sem me importar tanto com o assunto. — Eu não conhecia você e simplesmente achei que fosse como o meu pai — falei, dando uma olhada no Michael.    

— Está tudo certo — ele me confortou, e estava sério. Deduzi que ainda estivesse absorvendo as minhas confissões. — Fico contente que tenha nos dito isso. Queríamos ter a certeza de qual era a fonte do problema, e agora sabemos.     

— Por que não conversou comigo? — minha mãe perguntou, tão baixo que eu quase não a ouvi.     

— Eu achei que não iria resolver em nada — falei, lhe observando. — Vocês eram namorados, a minha opinião sobre ele não iria afastá-lo de você, mesmo que isso não seja o que eu quero agora.    

— A sua opinião importava sim — ela pôs a mão sobre a minha, muito séria. Pedi para que não chorasse e ela começou a sorrir pra mim e a beijar o meu rosto. 

Tentei me afastar depois de uns cinco beijos, mas depois começamos a rir. Foi o primeiro jantar em família pra mim, e um jantar feliz, desde a morte do Austin e do meu pai.

Além de tudo, da minha família, dos meus estudos, do que eu faria no meu futuro e mais e mais e mais, algo ainda precisava ser resolvido, e eu só estava a esperando para que resolvéssemos juntos.

Taylor Hampton...

Eu nunca mais a vi depois da noite horrível em que ela foi até a minha casa, chorando e pedindo desculpas, tentando se explicar. Eu nunca mais tinha sentido o seu cheiro, aquele de flores brancas, transparecendo um pouco da sua ousadia. Não olhei mais aqueles olhos escuros, que traziam luz para a minha vida. Não ouvi mais a sua voz, talvez me chamando de amor, ou me xingando, talvez gritando comigo ou rindo de mim. Eu nunca mais a toquei, senti a pele que eu tanto tive nas minhas mãos e que mais desejava tocar.

Ninguém era tão interessante quanto Taylor Hampton e eu estava esperando por ela. Ela estava melhorando e trazendo à tona o desejo que eu tinha de tê-la de volta, para que seguíssemos juntos novamente, sem a interferência de ninguém. 

E eu conseguia observá-la, imaginando-a na minha mente, dentro do seu quarto na clínica – talvez com alguma acompanhante –, deitada olhando pro teto, sob as estrelas que nos cobriam e o céu infinito que nos pertencia.

Eu conseguia imaginá-la em volta de outras pessoas que eu não conhecia e que já tinham feito o que ela tinha feito; pessoas com outros problemas. E, talvez, aquelas mesmas pessoas estivessem trazendo uma felicidade que eu não estava podendo dar naquele momento. Talvez aquelas pessoas pudessem lhe dar palavras de apoio, algo que eu também não poderia lhe dar naquele momento.

Eu estava sentindo a sua falta e estava esperando por ela. Eu queria abraçá-la, beijá-la, que fizéssemos amor, eu queria protegê-la e ser mais do que eu já tinha sido um dia. Eu poderia fazer tudo diferente, caso ela ainda sentisse dores por conta da morte do seu pai. Eu daria tudo o que ela quisesse para vê-la sorrindo.

E, quando voltasse, eu esperava que tivesse me perdoado pelas coisas que eu tinha dito e feito. Eu esperava que ela ainda me amasse, que ainda sentisse o mesmo que eu sentia. Eu esperava que me aceitasse de volta e que tentasse comigo de novo, que me desse uma chance, porque eu prometeria afastar qualquer ser humano que lhe trouxesse a maldade.

Bastava ela me permitir fazer...

Mas ainda estávamos em novembro e faltavam dois meses enormes para que ela voltasse pra casa.

Paciência...

Era noite e eu já tinha voltado da casa dos Mayson e da comemoração do aniversário da Jane. Antes, passei na casa da Sra. Rose para deixá-la sã e salva. Após aquilo, segui pro meu lugar, tomei uma ducha e me joguei na cama, cansado e meio tonto por causa da bebida.

Não sei quando, mas acabei pegando no sono. Acordei com RHCP tocando, que mostrava a foto do Jack no ecrã.     

— O que foi? — resmunguei, levantando e caminhando até o banheiro. — Está tarde pra me atormentar, você não acha?     

— Está na hora, cara…     

— Eu estava dormindo!     

— Não, está na hora, a minha filha vai nascer!... — explicou ele, atordoado. — Jane está chamando por você e quer que você esteja aqui em três minutos. Já estamos na maternidade, vem logo, Louis! Você ainda não 'tá aqui? Puta merda, eu 'tô falando sério!...

E então ele desligou. 

Fiquei confuso e parado na frente do vaso sanitário, com o meu amigo do lado de fora das calças. Geralmente eu não era lerdo daquele jeito, mas o álcool de horas atrás trouxe a lentidão na minha mente.     

Acabei xingando depois que entendi toda a situação. Jane estava dando a luz! Logo tomei o banho mais rápido da minha vida e escovei os dentes, tentando tirar aquele cheiro de bebida que eu tinha certeza que estava impregnado em mim.

Dar as boas-vindas à pequena Elisa com aquele cheiro não era o que eu queria e eu também queria causar uma boa impressão, mesmo que aquilo não fizesse tanto sentido para as pessoas. 

[…]

Olhei no relógio e percebi que tive um recorde de tempo. Cheguei em dez minutos (o trânsito ajudou) e, merda..., eu nunca tinha visto tantos bebês e mulheres grávidas na minha vida. Havia choro de crianças pra todo lado e, por um segundo, fiquei perdido, sem saber para onde ir. 

Algumas mulheres me olhavam, curiosas.

E tive até receio.     

— Louis — alguém veio até mim rapidamente e era Stella Mayson —, vem, todos estamos na sala de espera.

Fomos para a sala de espera e vi quase toda a árvore genealógica dos Mayson, sentados e ansiosos. Havia uma outra família também, num outro sofá rosa. Todos eles eram loiros e de olhos azuis. Acabei lembrando de quando eu tinha ido para a Irlanda.     

— Jan já entrou? — eu perguntei, nervoso, enquanto beijava algumas pessoas e apertava a mão de outras. — Eu demorei?     

— Na verdade, não — respondeu Wandy, afastando para que eu me sentasse ao seu lado. Todos concordaram com ela. — Achamos que iria demorar mais.     

— Ela começou a sentir dores algumas horas depois que vocês foram embora — informou Sue, dando uma olhada em uma revista de móveis para bebês.

Olhei para o Sr. Mayson e ele conversava alguma coisa com Alex. À todo momento os dois davam uma olhada para a família vizinha, que parecia tão agitada quanto todos nós, e eu desejei que ele não visse Sue acariciando a própria barriga enquanto olhava a tal revista.

Ele se assustaria.     

— Eu até imagino o porquê — Stella começou a rir e eu não entendi aquilo. — Estava o maior barulho.   

— Ste! — Wandy a repreendeu, corando. — Não diz isso…     

Eu não sabia o que falar, porque aquilo tinha me deixado meio atordoado e confuso, afinal, eu não tinha tanta certeza se uma grávida poderia fazer...     

— Nas vezes em que você teve os meninos, não demorou tanto assim — o Sr. Mayson barrou os meus pensamentos, impaciente. — Já são quase quatro horas da manhã!     

— Demorou, sim, mas você não estava sentado da forma como está hoje e, por isso, vai demorar mais do que você deseja. E hoje ainda é domingo — disse Sue, deixando a revista sobre a mesa e cruzando os braços, voltando a arrumar a postura, como uma mulher exageradamente elegante, as pernas cruzadas e as costas eretas. — Só tenha paciência, querido.

Não era fácil ter paciência em um lugar como aquele. Mesmo sendo uma maternidade, dava pra sentir que lá era um dos lugares mais agitados do mundo. Sempre havia alguém caminhando, segurando alguma coisa, berrando alguma coisa ou chutando alguma coisa.     

— Ela está tendo o bebê ou ainda vai ter? — eu quis saber, tentando me informar.     

— Eles a levaram para a sala de toque fazem uns dez minutos — respondeu Sue, naturalmente. — Jack já recebeu as instruções e está com ela.

Sem querer, acabei imaginando Jack desmaiando devido a emoção.

E comecei a rir.     

— O que foi? — perguntou Wandy, olhando para as unhas.     

— Nada de mais.     

— Provavelmente, já devem ter dado a anestesia nela e... — Sue olhou pro seu relógio, cheio de pedrinhas de diamante e brilho — ... a essa hora ela já deve estar colocando força para que o bebê saia.     

— Meu Deus… — murmurei, começando a ficar meio tenso. Não demorei a levantar, a fim de me mexer.  

— Quanta ironia — riram o Sr. Mayson e o Alex, achando graça de mim. — Você dizendo isso, ora essa!   

— Estou nervoso — reclamei, mexendo nas mãos e passando a suar. — Meu Deus, eu espero que ela esteja bem…     

— Louis, relaxa — disse Sue, também rindo —, Jane já é uma mulher. O parto é natural e ela está tendo a ajuda de vários especialistas. Jack também está lá lhe dando apoio.     

— É, tem razão — concordei e então sentei novamente. Passamos a esperar, enquanto conversávamos sobre a vida futura de Elisa Mayson. 

Amanheceu e estávamos ali, já calmos, como se aquilo acontecesse todo o dia. Na verdade, eu já começava a sentir fome. Assim que pensei em falar alguma coisa, contudo, ouvi o meu nome ser chamado. Era um médico com uma touca cirúrgica e tudo o mais.   

— Boa noite — eu falei, enquanto me levantava e sentia o olhar de todos em mim e no médico. — Quero dizer, bom dia, porque já amanheceu.     

— Bom dia — ele sorriu pra mim e fiquei mais aliviado. — É melhor vir comigo, Sr. Tomlinson, tem uma mãe chamando por você e ela pode me matar caso eu não a obedeça.

Jane me chamou “porque queria que eu estivesse com ela naquele momento importante", segundo as palavras de um Jack meio enciumado horas depois, e também porque queria que eu fosse uma das primeiras pessoas a conhecer a sua filha, a pequena Elisa. 

Me senti muito grato, portanto não me demorei ao seguir com as recomendações do médico na hora de entrar lá, já vestido de azul e higienizado. Eu já estava ansioso de novo e tinha esquecido da fome que começara a me encher minutos atrás.

Quando entrei na sala de partos, vi Jane deitada sobre a maca, sorrindo para uma coisinha bem pequenininha em seus braços. Havia apenas uma enfermeira e Jack lá dentro, todos atentos a qualquer coisa. 

Me aproximei lentamente, com medo de fazer qualquer coisa errada e buscando passar segurança para uma das pessoas mais importantes da minha vida, lá sobre aquela cama.    

— Olha só quem está aqui — lhe ouvi sussurrando próximo da Elisa, que estava embalada dentro de um lençol de cirurgia. 

Era uma cena muito bonita, na verdade, e eu não me admirei ao ver os olhos do Jack cheios de água. Ele estava emocionado e não parava de paparicar a pequena Elisa nos braços da Jane.      

— Olá, pequeno pônei — sussurrei, próximo dela enquanto segurava a sua mãozinha. Era algo que não dava pra explicar e eu simplesmente não conseguia parar de sorrir pra ela. — Espero que você não fique parecida com esse cara feio aqui.     

— Você tem sorte de estarmos todos felizes, senão... — Jack me deu um pequeno empurrão, o que me fez rir. — É claro que a Elisa vai ser parecida com a Jan, e será tão linda quanto ela. Eu estou ferrado.     

— Não seja bobo — Jane riu, também emocionada. — Lou, eu não incomodei você pedindo para que o Jack o chamasse, não é?      

— O quê? — Fiquei confuso com a pergunta desnecessária, mas relevei, afinal, eram só os hormônios. — É claro que não, fico feliz em estar aqui, Jan.

Ela sorriu e ficamos sentindo aquela sensação boa de paz durante alguns minutos. Todos não tiramos os olhos da Elisa e jurei vê-la sorrindo algumas vezes.   

— Eu não queria interrompê-los — disse a enfermeira, depois de ter conversado um bom papo com o médico responsável pelo parto —, mas está na hora de darmos um banho nesse bebê. Quem vai me acompanhar? — Ela ficou mandando olhares para Jack e eu, ansiosa. O que ela estava pensando? Mandei um olhar para Jack e ele me lançou um olhar de quem dizia "nem ouse".     

— Hã — fitei Jane, que estava entretida com a pequena Elisa —, já estava na hora de eu ir mesmo. Ele é o pai, sabe? Eu sou só o melhor amigo dela.     

— Sei — disse a mulher, mas eu não a culpei, afinal, não era todo dia que aquilo acontecia. — Então vamos lá, papai — a enfermeira sorriu pro Jack, que dizia alguma coisa para Jane. 

Dei um beijo nela e na Elisa, e depois apertei a mão do Jack, ele com aquele ar de "sou eu que estou no comando" que me fez revirar os olhos e lhe dar um tapa na cabeça.

Bati um papo rápido com o médico também, perguntando sobre o parto, e depois deixei a sala. Todos estavam de pé e a família vizinha também estava toda posta de pé, falando alguma coisa entre si. 

Não percebi que estava sorrindo quando todos retribuíram o gesto, me fazendo várias perguntas. Respondi todas, é claro, e depois perguntei quem iria me acompanhar para um café da manhã – oferta que Sue e Joel recusaram.

[...]

Os dias que se passaram foram ótimos e cheios de coisas fofas, tudo por conta da Elisa, que deixou tudo mais cheio de brilho. Na maioria das vezes, quando eu a via (geralmente nos finais de semanas por conta das reuniões do comitê), eu a via sorrindo. Ela era simplesmente uma graça.  

Jack também estava apaixonado por ela e eu não me surpreendia quando o via com cara de bobo, falando ridiculamente, assim como eu falava porque era algo inevitável.

Eu via a exaustão estampada no rosto da Jane. Ela parecia tão estressada quanto antes, mas deduzi que fosse normal, já que agora ela tinha duas vidas para cuidar. Jack, no entanto, parecia ter mais jeito com a situação e era ele quem a ajudava sempre.     

— Acalme-se — eu pedi, quando Jane se desmanchou em lágrimas na segunda vez em que me viu após o parto, duas semanas depois. Elisa dormia nos meus braços e Jack se encontrava na Kars (com K), trabalhando pro seu pai. — É normal que ele se dê melhor com a Elisa, ele é tio de mais de cinco crianças, então tem experiência. Você está lidando com isso pela primeira vez na vida e logo vai estar tão experiente quanto ele, Jan.     

— Estou me sentindo um trapo — comentou ela, enxugando o rosto com lenços de papel enquanto observava lá fora, através da janela do quarto da Elisa. — Eu sequer consigo amamentar direito.     

— Sue está lhe orientando quanto a isso, não está? — falei, me balançando de um lado pro outro enquanto fitava a Elisa dormindo em um sono profundo.  

— É — choramingou Jane, um tanto chateada —, mas não achei que fosse tão difícil assim. Ela é pequenina, Louis, mas já conseguiu me tirar do sério várias vezes.     

— É mesmo? — fiquei surpreso enquanto olhava da Elisa para Jane. Como assim? — Nossa, você está estressada mesmo...     

— Você vai entender quando a Taylor tiver um bebê e encher o seu saco por conta de dores — falou ela, fungando. — Ou então quando acordar à noite, todo assustado, achando que alguém morreu, mas sendo somente o choro do seu bebê.

Eu apenas ri daquilo.     

— Você está exagerando — falei, gostando de ouvi-la falar em uma possível gravidez que a Taylor pudesse ter comigo. — Ah, olha só pra ela — me aproximei da Jane, a fim de mostrar a pequena Elisa —, estou começando a acreditar que anjos existem, sabia? Ela é muito linda.     

— Ela não está berrando no seu ouvido...     

— Você está chorando agora, Jane Collin — falei, lhe repreendendo. — Tenho certeza que já trocou a fralda dela com o Jack várias vezes, chorando no ouvido dos dois.

Então Jane ficou calada e eu ri de novo.     

— Como eu vou receber o meu diploma nesse estado? — ela mudou de assunto, olhando pro próprio corpo. — Está tudo muito ruim!     

— Pra mim, você está ótima — eu disse, sincero. Jane não estava como antes, é claro, mas não estava feia.     

— Droga, você não entende! — berrou, irritada. — Eu estou horrível.     

— Ei, você vai acordá-la assim — lhe repreendi novamente, olhando para Elisa se remexendo. Estávamos a apenas um dia da formatura e tudo já estava resolvido, só faltava o dia amanhecer para tudo estar completo. — Você não precisa ir, teve um bebê há duas semanas. Eles vão dar o seu diploma, não precisa se preocupar.     

— Mas eu queria participar da cerimônia — ela chorou ainda mais e eu me surpreendi com a minha paciência. — Imaginei isso por tanto tempo…     

— A Sra. Rose adora a Elisa, ela pode cuidar dela junto com o Jack enquanto você sobe no palco. Todos vão estar lá, acalme-se.

Jane suspirou.     

— Ai meu Deus — ela pôs a mão no rosto.     

— O que foi? — perguntei, preocupado.     

— Eu sou uma péssima mãe — disse ela, triste. Acabei revirando os olhos. — Elisa não tem culpa de eu ser uma desleixada e incompetente.     

— É claro que você não é uma péssima mãe, Jane — falei, chateado com as suas palavras. Depois deixei que ela pegasse a sua filha. — É inexperiente, só isso.     

— Sabe me dizer se a Wandy está aqui? — perguntou ela, enquanto arrumava a Elisa em seu berço.

— Acho que não, por quê?     

— Tenho que encontrar uma roupa legal pra amanhã — disse, limpando o rosto com as mãos e me lembrando a Jane que eu conhecia, ignorando as dificuldades e seguindo em frente. — Vou ser a formanda mais bonita da London Greenwich, e a Elisa vai ser o bebê mais invejado da Inglaterra.

E provavelmente foi. 

No dia que se seguiu, estava todo mundo muito ansioso, e mamãe tinha me tratado tão bem que eu fiquei comovido. Comprei até roupas novas, tudo por causa da ocasião que eu mais tinha esperado durante o ano inteiro. 

Resolvi o meu problema com Neil, coloquei comida e água pra ele e arrumei a sua caixinha de areia, para que não fizesse estrago na casa. Dei mais algumas olhadas no espelho e, logo, eu já estava pronto.     

— Mãe, temos que ir — eu falei pra ela, que estava no quarto pondo brincos. Ela estava linda, é claro, usando uma blusa de moletom, uma calça social e saltos fechados. — Olha só, me lembre de tirar uma foto com você e com o cara que está lá embaixo.     

— Mike já está lá embaixo? — perguntou ela, congelando por um instante. — Há quanto tempo?     

— Fazem uns dez minutos — respondi, dando de ombros. — Não queríamos apressá-la, mas já passam das sete e meia e eu não posso chegar atrasado. Faço parte da Comissão, você sabe, eu tenho deveres. — Eu só estava brincando com ela sendo formal daquele jeito, mas ela apenas assentiu, passou um perfume e foi até a cama, a fim de pegar as minhas coisas da formatura. — Obrigado — falei, depois segurei a sua mão para descermos juntos.     

— Deveria ter subido pra me dizer um oi — ela disse para Michael, que sorria pra ela com os olhos brilhando. Os dois logo se aproximaram e trocaram beijos discretos.     

— Eu não queria atrapalhar — disse ele, mandando um olhar rápido pra mim. Ele era um péssimo ator, aliás. — Hã..., é melhor irmos.

[...]

Recebi várias mensagens dos outros membros da Comissão de Formatura, estava faltando apenas eu e precisávamos organizar os assentos onde os pais ficariam. Aquele era o primeiro dever.

Fomos todos no carro do Michael e eu fui o caminho inteiro pedindo para que Karla Mitchell, uma colega de turma (e a minha acompanhante no baile de formatura), ficasse calma, porque tudo daria certo. 

Ela também fazia parte da Comissão, devido a sua mudança brusca de aluna preguiçosa para aluna comportada. Por conta de sua calmaria aparentemente ativa – ela era muito modesta –, achei que não havia um par melhor do que ela. Tudo o que eu queria era alguém que ficasse quieto e que não chamasse a atenção.

Então, quando chegamos, os pais já estavam sendo orientados por alguns dos membros, tudo muito bem organizado como eu desejava.     

— Oi, bom dia — eu disse, ao interromper a conversa entre Daniel e uma senhora que aparentava ter uns setenta anos.   

— E aí, irmão? — ele me cumprimentou, feliz.   

— Tudo certo? — perguntei, olhando em volta. Tudo parecia em seu devido lugar. Até mesmo os professores já tinham chegado, junto com os diretores e alguns secretários.     

— Sim, os alunos já estão postos no lugar que marcamos, estão experimentando as becas — informou ele, olhando as horas em seu relógio de pulso. — Você tem que estar lá pra ensaiar a entrada de novo.     

— Tudo bem. — Voltei para a minha mãe e Michael, que estavam entretidos em uma conversa com os pais de alguns alunos, e avisei a ela que já entraria. — Daniel vai informá-los sobre os lugares. 

Então eu saí dali, indo para dentro da escola. Lá estava cheio também, mas não encontrei quem eu queria encontrar.     

— Ah, Louis, você está aí! — o Sr. Roberts, que estava responsável pelos ensaios, exclamou, muito aliviado. — Você está bem?     

— Estou — eu respondi, mas ainda olhava envolta, à procura da Jane. — Onde está a Jane?    

— Ela disse que se atrasaria um pouco por causa da Elisa, mas logo vai chegar — respondeu ele, olhando uma ficha. — Assine aqui, por gentileza.

Fiz o que ele pediu e logo me organizei na fila, lendo o discurso que eu tinha feito mentalmente, por ser o orador da turma. Cumprimentei a todos ali e depois vi Jane aparecer, tão calma que eu me assustei.     

— Por que demorou? — eu tinha perguntado, a analisando. — Está tudo bem com a Elisa, certo?     

— Ela sentiu fome e eu tive que amamentá-la — respondeu Jane, dando acenos para as pessoas que lhe sorriam. — Mas está tudo bem, sim. E aí, preparado?     

— Sempre.

Sorrimos e logo a celebração não demorou para começar.



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