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História Friends - Louis Tomlinson - 051. Corte


Escrita por: sunzjm

Notas do Autor


⚠ AVISO DE GATILHO ⚠

Capítulo 51 - 051. Corte


Fanfic / Fanfiction Friends - Louis Tomlinson - 051. Corte

LOUIS

As experiências de Oersted pareciam bem mais fáceis de se resolver do que a situação que ocorreu naquela casa, nas três semanas que se seguiram depois da tragédia que mudou o modo de pensar da garota que eu amava.

Era muito difícil manter a calma e a paciência, como o Dr. Jimm tinha sugerido. Ver Taylor angustiada e desesperançosa era pior do que qualquer coisa. Ela estava pensando em suicídio e aquilo agora era muito claro. Assim, a tortura sentida por mim em vê-la se dissolvendo com os próprios pensamentos não era algo comum e agradável, e isto porque eu passava a maior parte da minha vida próximo dela.

Dormir estava sendo extremamente difícil e, somente quando Jane me forçava a tomar algum calmante, se tornava possível fechar os olhos e conseguir sonhar com o nada. Às vezes eu cochilava ao lado da Taylor e, quando acordava, sentia medo de que encontrasse um corpo morto dentro do banheiro. Eu não duvidava de mais nada, por isso não deixava de me preocupar. 

No entanto, mesmo sentindo medo de que ela fizesse alguma bobagem, continuei tendo esperanças de que iria ter melhoras com o tempo, principalmente depois que começasse a tratar da depressão com o Rivotril.    

— Vamos, você ouviu o que o médico disse — falei, tirando o comprimido da cartela e pegando o copo com água sobre a mesa de cabeceira. Era uma manhã de sábado e, antes mesmo de comer alguma coisa, eu já estava parado em frente a farmácia mais próxima. — O antidepressivo vai ajudá-la.     

— Tudo bem — sua voz saiu como um murmúrio e segurei a vontade de soltar um suspiro de alívio pela sua facilidade ao fazer o que eu pedia.     

— Você vai precisar dos comprimidos todos os dias depois de acordar pela manhã — expliquei, sendo o mais claro possível. — Não esquece, Taylor, por favor.   

— Tudo bem...

Tiago começava a ser uma preocupação também, porque Isabela voltaria para os Estados Unidos naquele dia. Pensei até em me despedir dela no aeroporto junto com Jane e Taylor, mas Tiago resolveu não ir, e eu não me senti no direito de abandoná-lo naquele momento.   

— Quer dizer que vocês acabaram tudo? — eu quis saber, quando ele desceu para se juntar ao café da manhã com Jane e eu.    

— É, e acho até melhor.

Um dos motivos de alívio que eu também sentia era sobre o fato de Marly Cooper não ter aparecido na casa da Taylor ou na minha casa naqueles dias. No entanto – porque tudo sempre pode piorar –, acabei a encontrando no supermercado, enquanto dava um jeito de abastecer a despensa da Sra. Hampton com a lista que Jane fez na manhã do dia anterior.     

— Dessa vez você não conseguiu se esconder — disse, dando uma risada sarcástica. Marly estava sozinha com uma cesta de compras e me senti constrangido de tê-la encontrado, na verdade, porque eu continuava ignorando os seus telefonemas.      

— Não estou me escondendo de você, Marly.     

— Mas não aceita sair um pouco...     

— É só que eu não ando muito… muito a fim, entende? — tentei explicar, sem conseguir me imaginar curtindo a vida em um outro lugar que não fosse em casa. — Não sinto vontade de fazer nada, na verdade. Você sabe, Taylor está deprimida por causa de tudo aquilo.     

— É verdade. — Senti os seus olhos em mim durante alguns segundos e então comecei a andar pelo supermercado, sendo seguido. — Então não vamos mais dar um passeio tão cedo? — perguntou ela e eu não deixei de me sentir desconfortável. 

Marly Cooper parecia culpar Taylor.     

— Não...      

— É ruim passar esses dias em Londres sem um amigo. Não vejo a hora de Taylor Hampton melhorar — disse ela, e busquei dar o melhor de um sorriso. — Logo a veremos correndo por aí, acredite.     

— Então... — parei de andar e olhei para o meu carrinho cheio de compras —, eu realmente tenho que ir agora, acho que já terminei o que eu deveria fazer. Nos vemos por aí.    

— Certo, até mais.

Só que, pela primeira vez desde que tínhamos nos conhecido, consegui ver uma sombra escura e um ar de irritação pelos seus olhos azuis.

[…]

Na manhã seguinte, resolvi passar na minha casa a fim de saber se mamãe ainda estava irritada comigo, devido a minha ausência naqueles dias. Acabei tomando um susto ao passar pela porta.

Havia um homem no sofá, que se levantou logo em seguida para me receber. Ele tinha um sorriso no rosto acompanhado de um ar confiante. Parecia ter mais ou menos quarenta anos e a pele era tão branca que eu quase fiquei cego. Ele lembrava o último dia em que fui ao dentista.     

— Eu estava ansioso para conhecê-lo — disse o homem, depois que eu me aproximei, totalmente cauteloso. Logo, o mesmo homem ergueu a mão para mim e eu hesitei segundos antes de apertá-la.     

— Liguei pra você esta manhã para que almoçasse conosco — mamãe interveio, nos observando —, por que não me atendeu?     

— Desculpa, eu... 

Eu não sabia o que dizer, afinal, não era apenas Marly quem eu andava ignorando. Contudo, mamãe e os meus colegas não tinham desistido de tentar chamar a minha atenção.     

— Esse é Michael Ruley — ela me apresentou ao homem, que não tirava o sorriso do rosto — e estamos namorando faz duas semanas.     

— Namorando, é? — Eu também já começava a ficar irritado e arrependido de visitá-la. Uma outra presença além de pessoas que eu já convivia não era o que eu esperava naquele dia.     

— Não se assuste, eu sei o que deve estar pensando — o homem disse, muito descontraído e nada intimidado. — Já passei por isso na minha juventude. 

Então ele abraçou mamãe pelos ombros. Rapidamente me mexi com um certo desconforto e pensei em fazer qualquer coisa que me tirasse daquela situação.     

— Onde está Maggie e Neil? — eu quis saber, dando uma volta de trezentos e sessenta graus em torno de mim mesmo enquanto procurava os dois com os olhos.      

— Hoje é domingo, esqueceu? — Mamãe deu um beijo no rosto do homem e logo foi para a cozinha, com o som de seus saltos ecoando pelo ar. Aproveitei para segui-la e deixei o cara feliz consigo mesmo na sala de estar.     

— Por que 'tá fazendo isso? — perguntei, deixando transparecer a minha raiva. — Que história é essa de namoro?     

— Eu não sei do que você está falando.     

— Como pôde trazê-lo pra cá? — Eu estava perplexo com tudo aquilo, afinal de contas, eu me senti desrespeitado na minha própria casa. — Eu sequer o conhecia antes!     

— E qual é o problema disso?     

— O problema é que eu não quero vê-lo aqui — falei, muito óbvio, enquanto apontava pra parede, na direção onde o tal Michael Ruley poderia estar. — Somente isso, é muito simples.     

— Não seja ciumento, por favor — ela reclamou, depois de revirar os olhos. — Aliás, o que isso importa? Você está quase se mudando de casa, não é mesmo, Louis? Não dorme aqui, não come aqui, sequer tocou mais nos seus instrumentos no porão... Maggie teve que limpar todos eles por causa do excesso de poeira, aliás. Não faz a menor diferença quem eu trago ou deixo de trazer pra minha casa.     

— Você sabe que Taylor está doente!     

— Sim, eu sei —, ela olhou para mim e pôs as mãos na cintura —, mas tenho medo do que isso pode se transformar. Você não é Deus, Louis, não pode fazer tudo melhorar apenas porque você quer.     

— Estou lá para ajudá-la.     

— Taylor é muito nova, o pai dela acabou de morrer, Tania está longe demais e Tiago provavelmente está mais preocupado consigo mesmo — disse a minha mãe, com um ar de quem sabe das coisas —, então acha mesmo que você e Jan, dois jovens inexperientes com a vida, vão conseguir mudar isso? A mudança tem que partir dela e não de vocês, Louis. E, pela sua ausência em casa, posso apostar que não está havendo mudança alguma.     

— Você não entende…     

— É claro que eu entendo, meu querido — ela pareceu triste, e por minha causa. — Eu adoro a Taylor, gosto muito daquela garota, só que…, olha só o que ela está fazendo vocês passarem. A única vez em que foi preciso a minha ida à escola por conta da sua falta de esforço, foi quando o seu irmão morreu. 

Eram verdades, sim, mas eu me recusava a pensar daquela maneira. Taylor não tinha culpa de estar daquela forma e também não tinha culpa pelo meu comportamento.

Ela estava doente.     

— Estou preocupada com todos vocês, meu filho — mamãe voltou a falar, depois de um longo suspiro. — Jane está grávida em plena juventude, Taylor está com depressão e… e você está sumindo do mapa.     

— Jane está ótima e eu também. Já você..., não precisa se preocupar comigo — retruquei, irritado. — Jane e eu estamos adiantando os assuntos da escola, você não vai precisar mais perder o seu tempo indo falar com a Sra. Palmer.     

— Louis…     

— Está tudo muito bem.

Então saí dali sem me despedir de ninguém. Na verdade, para ser sincero, antes de passar pela porta da frente, olhei para Michael Ruley sentado no sofá, apontei o indicador na direção dele e disse:     

— Faça qualquer coisa que a deixe triste e eu prometo perseguir você pelo resto de sua vida.

Em seguida, fui embora. 

Quando cheguei na minha outra casa, encontrei Jane na cozinha, comendo e com um ar preocupado.     

— O que foi agora? — joguei, ainda irritado pela conversa e pelo encontro com o namorado da mamãe. — Ela chorou mais uma vez?     

— Você não sabe quem veio aqui de novo...     

— Não me diz que foi aquele desgra…     

— Não — negou Jan, me interrompendo —, foi muito pior, Louis!      

— Quem pode ser pior do que ele? 

Talvez Christian Menson?      

— Marly Cooper — respondeu ela, batendo na mesa a mão que antes estava em sua testa. — Sim, ela veio aqui enquanto você esteve fora. E não demorou tanto tempo, mas…     

— Ela veio atrás de mim?      

— É claro que sim, só que você não estava — disse Jane, passando a comer novamente. — Depois ela perguntou se poderia ver a Taylor. Eu não deixei, é claro, mas ela achou que eu estava apenas brincando e então subiu a escada.    

— Isso é mesmo sério?     

— É sério, sim! — Jane bateu na mesa novamente —, e eu não gostei nem um pouco dessa atitude, muito menos dela. Ela não é flor que se cheire, eu sei disso.     

— E o que ela queria com a Taylor?      

— Eu não sei — exclamou Jane, muito incomodada —, mas não tive coragem de ir atrás dela. Simplesmente não tive...

Pensei por alguns segundos, um tanto preocupado, e resolvi ver Taylor a fim de que conversássemos. Contudo, quando entrei em seu quarto, a encontrei dormindo. Me certifiquei de que não tivesse desmaiado novamente, balançando um pouco o seu corpo e recebendo um murmúrio baixo de seus lábios. 

O alívio me preencheu, mas não me senti tão calmo. Taylor estava deitada de lado e o caderno do seu pai estava entre as suas mãos. Vulnerável e inocente ela se perdia em seu mundo de sonhos – se é que sonhava. A respiração lenta, o ar exausto e os lábios pálidos. Não evitei em acariciar o seu rosto, aproveitando o vestígio que eu ainda tinha de uma Taylor antiga enquanto dormia. Ela era a mesma Taylor de sempre, só que era somente quando estava dormindo.

Me abaixei o suficiente e selei os seus lábios, sentindo tanta falta de tudo nela que quase caí na tentação de acordá-la para pedir um beijo. Eu me sentia carente ao lembrar das noites em que passamos juntos, da sua confiança em mim, da reciprocidade e do amor. 

Logo, deitei ao seu lado, observando o rosto adormecido e imaginando um futuro feliz para nós dois. E foi difícil, porque a preocupação não se afastava de mim. Foi difícil, porque as lembranças dos seus olhos vermelhos eram fortes demais... Eu não conseguia imaginar o quão ruim ela estava.

Era tudo muito complicado, na verdade, e eu não me sentia o cara certo para ajudá-la. Logo pensei nas palavras da mamãe, afinal, ela tinha razão, porque eu não tinha a capacidade de mudar nada e não teríamos progresso algum; eu era inexperiente demais naquilo e não sabia o que fazer. 

Não adiantava mudar, não adiantava ir ali e dizer o quanto a apoiávamos; não fazia diferença fazermos companhia a ela porque ela se sentia só psicologicamente. E não adiantava mudar..., mas eu também não queria desistir. 

Como eu poderia cruzar os braços e esperar o tempo resolver, se corria o risco de perdê-la? Como eu poderia vê-la triste daquela forma e desamparada, se eu a amava?     

[…]

Tivemos mais uma folga na segunda-feira e aproveitei para dar um jeito na casa. Jane ajudou pondo pra lavar todas as nossas roupas, incluindo as do Tiago e Taylor. 

Não me senti bem depois de acordar, na verdade. Primeiro porque tive um pesadelo. Ele era muito nítido na minha cabeça, mesmo após minutos ao acordar. Sonhei com o acidente de George Wells, mas, ao invés do corpo dele sob o carro, o que eu via era o corpo da Taylor coberto de sangue. Não consegui dormir depois daquilo e precisei ficar olhando para ela durante algum tempo, até que tivesse certeza de que estava tudo bem.

Em segundo, não me senti bem porque acabei me queimando enquanto fazia o café da manhã. Minha mão ardia e, na maior parte do tempo, eu precisei ficar com ela dentro de um copo grande com água fria, a fim de não sentir dor. Depois daquilo, foi difícil limpar o chão com a mão vermelha e ardendo.     

— Já pus todas as roupas na secadora — ouvi a voz da Jane vindo da cozinha, apressada. — Agora vou dar uma caminhada, 'tá bem?     

— Toma cuidado — gritei de volta.

Continuei limpando a cerâmica do banheiro de visitas e demorei um bom tempo ali, tentando me manter ocupado. Assim que terminei, ouvi o barulho da porta da frente se fechando. Fiquei confuso, é claro, pensando se Jane já poderia ter voltado.    

Chamei por ela e caminhei até a sala de estar, não encontrando ninguém ali. Olhei pela janela e vi apenas as flores balançando na direção do vento. Olhei para a escada e pensei na Marly, achando que ela poderia ter entrado em casa sem avisar. Mas então achei melhor não tirar conclusões precipitadas e corri em direção ao quarto da Taylor. Não a encontrei em sua posição habitual e rapidamente fiquei em alarme.

Não era um bom sinal e eu não consegui evitar os pensamentos negativos. Ela tinha mesmo saído? Desci a escada, passei pela porta da frente e pelo jardim até chegar à rua, desejando que Taylor já não estivesse longe. Olhei para a esquerda e vi apenas a rua deserta e silenciosa. Olhei para a direita e a silhueta da pessoa que eu queria encontrar se afastava rapidamente, de pijama.

— Ei! — gritei e corri atrás dela. Obviamente, eu não imaginei coisas boas por Taylor finalmente ter saído de casa sem o esforço de outra pessoa. — Taylor!

Me aproximei mais, mas ela dobrou na esquina. Parecia sem direção.     

— Espera — mandei e finalmente consegui chegar perto o suficiente para segurar o seu braço —, pra onde você vai, pelo amor de Zeus?     

— Me solta, Louis!      

— Qual é o problema?           

— Não consigo mais ficar sentada naquela cama — reclamou ela, então se soltou e começou a andar novamente. Porém, parou subitamente e se segurou em uma caixinha de correios que havia ali. Fui até ela rapidamente e segurei o seu corpo, antes que este batesse com o chão.      

— Por que não? — eu quis saber, envolvendo a sua cintura.      

— Tenho vontade de vomitar — disse ela, se apoiando com os braços envolta do meu pescoço —, mesmo sem ter comido quase nada.     

— Vem, vamos voltar.  

E aquilo com certeza era por conta dos efeitos do Rivotril. Tive medo de que ela passasse a sair sem que eu soubesse por causa do mal-estar e da ansiedade.      

— Não, Louis — Taylor se manteve rígida no lugar e não quis andar —, eu não quero voltar pro quarto, preciso respirar um pouco.  

Fiquei surpreendido com o seu desejo e tive esperanças em relação ao remédio, mesmo que o Dr. Jimm tivesse me informado que começaria a fazer o efeito certo apenas após dez ou quinze dias.     

— Ótimo, você precisa mesmo de um ar fresco — concordei, contente. — Vou levá-la pra sair um pouco. — Então ela deixou que eu a puxasse pela cintura. 

Taylor estava mole e parecia que desmaiaria a qualquer momento, mas conseguimos chegar sem problemas. Voltamos pra casa e a fiz tomar um banho, pôr um casaco e o seu All Star. Ela não estava entusiasmada e muito menos relaxada. Na verdade, era como se estivéssemos em guerra e ela estivesse atenta a qualquer coisa perigosa, como uma granada que pudesse ser jogada por ali mesmo.       

— Quero ir a um lugar... — comentou ela, quando saímos e eu enviava uma mensagem pro celular da Jan.

— Sim, nós vamos a um lugar — eu disse, abrindo a porta do carro para que ela entrasse.     

— Não, você não entendeu — falou Taylor, atordoada, e então ficou de pé me olhando. — Quero ir onde o papai tinha nos levado.     

— Como é?     

— Por favor…     

— Está falando do lago? — eu quis saber, ainda sem acreditar nos meus sentidos. — Mas isso fica a quilômetros daqui, Taylor.

Ela assentiu lentamente e eu continuei a observando. Era uma má ideia levá-la até lá, mas o que eu diria? Ela estava implorando e eu simplesmente não consegui dizer não. 

[…]

Usei o GPS do carro e demorou quase meia hora para que eu encontrasse o lugar exato. Saí do carro e observei a trilha entre as árvores. Quando chegamos ao lago, vi que era magnífico, e a estação do ano apenas deu um toque extra. Respirei o ar fresco e puxei Taylor para que nos aproximássemos.

Estávamos sozinhos, exceto pelas trutas que, às vezes, davam saltos no lago. Me senti incrivelmente relaxado e em paz. Olhei para Taylor e ela parecia sentir totalmente o contrário. 

Imaginei o que aquele lugar poderia significar para ela e lembrei das fotos que ela mesma tinha enviado para Jane e eu. Taylor estava tão feliz com o pai e o irmão, dava para ver nas fotos o brilho enorme dos seus olhos; dava para perceber a sensação de liberdade que ela deveria ter sentido naquele dia, a felicidade ao estar com as pessoas que amava.

Mas era como se aquilo tivesse feito parte de outra vida.

Logo eu a senti soltar a minha mão e a vi se aproximando mais do lago, para depois colocar as mãos sobre a boca e chorar.

Chorar muito.

Era contraditório estar em um lugar lindo como aquele e se sentir desabando de um precipício, como ela poderia estar se sentindo. A minha sensação de paz logo foi embora e eu me juntei à garota. Sentamos no chão e eu simplesmente não soube o que dizer, apenas a abracei de lado, enquanto os minutos passavam e os seus soluços se misturavam com o canto ridiculamente bonito dos pássaros.

Havia dois barcos ali e eles balançavam no ritmo lento da água, que era clareada pela luz do sol – algo que poderia ser até bonito.     

— Não faz... sentido nenhum — ela soluçou, observando o lago à nossa frente. — Ele não poderia ter me deixado. Não poderia! Eu voltei pra ele, Louis… — Acariciei o seu ombro e apenas ouvi com atenção as suas palavras. Era bom que ela estivesse desabafando. — Ele estava tão feliz conosco... e eu tinha prometido que iria visitá-lo todos os finais de semana. Eu faria isso!

Então ela abraçou os joelhos e deixou se levar pelas lágrimas. Comecei a me sentir pior a cada instante. Era a Impotência flutuando sobre a água e acenando para mim. Ela também segurava uma placa escrito “Inútil” e com letras em neon.           

— Estou aqui pra você — eu disse, desejando que aquela maldita dor sumisse de dentro dela. Taylor apenas continuou chorando e a Sra. Impotência riu de mim, muito debochada.     

— Você não merece nada disso, Louis — disse Taylor, se afastando aos poucos de mim. — Eu o amo e você não merece nada disso.      

— Do que está falando? — perguntei, receoso com os seus pensamentos.      

— Você não merece passar por essa situação comigo — explicou ela, entristecida. — Estou sendo um peso enorme e eu vejo o quanto estou o preocupando, assim como Jan e os outros.     

— Mas... — Naquele momento eu já estava apavorado. Assim, forcei o seu olhar para mim. — Que história é essa, afinal?     

— Você não... não pode perder o seu tempo, eu não quero isso. — Então Taylor tirou as minhas mãos do seu rosto e se levantou, quase caindo.      

— Seja o que for que estiver pensando, eu não ligo — falei, também me levantando. — Não vem dizer que é perda de tempo. Se eu estou aqui, é porque você é importante pra mim, porque eu sei que vai melhorar. 

Voltei a forçar a sua atenção em mim, porque era extremamente importante que Taylor ouvisse e entendesse aquilo.      

— Me desculpe se não estou sendo o que você precisa — falou ela, e parecia com medo de tocar o meu corpo. Tive pavor daquilo, na verdade, e a sensação foi a pior de todas durante todo aquele tempo.     

— Meu amor... — Fiquei desconcertado e perplexo com o seu modo de pensar, afinal, o que eu faria para que ela acreditasse em mim? — Taylor, você é tudo o que eu preciso, e eu não quero mais nada que não seja você.

Mas apenas a vi abaixar a cabeça, negando. Abracei o seu corpo como se nunca mais fosse soltá-la na vida. O desespero no meu peito começava a me envolver totalmente.    

— Acredite em tudo o que eu digo, por favor...

Então ela se soltou de mim e pôs uma das mãos na cabeça. Fui rápido ao segurá-la de novo. Taylor tinha desmaiado mais uma vez.    

— É difícil não se preocupar com você. — Rapidamente a peguei no colo e voltei pro carro. Não tínhamos ficado um tempo muito longo ali e dirigi o mais rápido possível até a sua casa. Ela acordou depois de dois minutos, não disse nada e ficou quieta no banco do carro, voltando ao seu estado desfocado. 

Tive vontade de mudar o assunto para algo menos importante, talvez sobre Marly. Só que eu pensei duas vezes porque, se tivesse sido algo sério, Taylor já teria me contado.

Antes de entrarmos, ouvi o som de risadas dentro de casa. Assim que passamos pela porta e demos dois passos, vi uma quantidade de garotos nos sofás.

Eram Josh e Will, os amigos do Tiago, e – eu estava surpreso demais para acreditar – Jack Mayson também estava ali, rindo como se sempre jogasse videogame com eles. Taylor, no entanto, não deu as caras para nem um deles e apenas seguiu o seu caminho pro quarto no segundo andar. Acabou deixando um dos garotos que estava ali sem respostas para o cumprimento.      

— Ela não está se sentindo bem — expliquei para Josh, apenas gesticulando com a boca —, entende?     

— Porra, olha só aquilo! — Tiago berrou, sem tirar os olhos da TV. Eles jogavam um dos jogos que eu tinha comprado de presente no décimo sétimo aniversário do Tiago. Os outros soltaram algumas exclamações e eu me senti confuso com o estado do irmão da Taylor. O fato da Bela ter ido embora não pareceu afetá-lo tanto. Não entendi nada, na verdade, porque ele usava a camisa que Jane lhe deu no aniversário, escrito “Ela”.     

— Você supera tudo muito rápido, hein? — eu disse, observando os outros garotos matarem centenas de soldados com tiros de metralhadora. Tiago logo me mandou um olhar rápido e voltou a sua atenção pro jogo, enquanto coçava o braço sob o gesso.      

— 'Tá falando comigo?           

— Estou.     

— Bom, não sei ao que você está se referindo.     

— E você? — Dei um pequeno empurrão em Jack Mayson, o garoto que antes a Jane mais odiou no mundo inteiro. — O que faz aqui?      

— Vim falar com a Jane — respondeu, cauteloso.   

— Estou vendo o seu interesse.     

— Ela estava ocupada, então eu resolvi esper... Ei! Para onde diabos você está indo?     

— A missão é ir até a ponte — falou Tiago, como se estivesse jogando com os outros —, não 'tá vendo? 

Acabei revirando os olhos e fui para a cozinha.    

— Quer ajuda? — perguntei, assim que vi Jan picando verduras.     

— Não precisa — ela me deu um sorriso sincero. — E então, como foi o passeio-mais-rápido-que-já-vi com a Taylor?      

— Adivinha.        

— Ela finalmente melhorou, começou a sorrir e percebeu que estamos do lado dela? — perguntou Jane, com uma esperança tão grande nos olhos, que simplesmente me senti incomodado ao negar tudo.     

— Foi o de sempre.    

Jane me olhou, triste      

— Pelo menos ela resolveu sair um pouco, né?...     

— É, acho que sim.     

— Hã… — Jane resolveu mudar de assunto e se esforçou para dar um outro sorriso —, por que não derrota o Jack naquele jogo idiota?       

— O jogo é em grupo.     

— Mate-o mesmo assim. 

Rapidamente retribuí o sorriso e demos um toque com as mãos. Voltei para a sala de estar, entrando na densa camada de testosterona que se concentrava nos sofás, e tentei esquecer um pouco a minha vida. 

Por incrível que pareça, consegui o que eu procurava: ri muito e relaxei de novo. Como era de se esperar, após o término da bagunça, me senti culpado por estar me sentindo bem e acabei voltando ao meu estado deplorável.

[…]

Todos almoçariam ali, inclusive Jack Mayson, e não me surpreendi com a quantidade de comida excessiva que Jane tinha conseguido fazer sozinha.  

Avisei que buscaria Taylor, enquanto todos se sentavam em volta da mesa cheia de comida. Logo, subi os degraus e abri a porta do quarto. Daquela vez, Taylor não estava sentada em sua posição habitual. Fiquei até surpreso com aquilo, na verdade, mas não deixei de achar ruim. Ela observava o lado de fora de casa, perto da janela. 

E, pelo menos, deixou a luz do sol entrar.     

— Taylor? — eu a chamei e caminhei até onde ela estava. — Vamos descer, Jan já terminou o almoço e todos estão esperando por nós.     

— Não quero comer.       

— Vai acabar desmaiando de novo...     

— Tenho náuseas e dor de cabeça.      

— Eu sei, meu amor, mas isso é por causa do remédio. — Respirei fundo, ignorando a minha barriga roncando. Taylor provavelmente estava se sentindo pior do que antes e eu não me surpreenderia caso ela simplesmente parasse de tomar os comprimidos. — Só que você não pode ficar sem comer alguma coisa. 

Ela, no entanto, pareceu não ter me ouvido, então precisei chamá-la novamente.     

— Tudo bem — cedeu, finalmente, e deixou que eu a puxasse pela mão. Quando chegamos na cozinha, o silêncio reinou. 

E os repreendi com os olhos por causa daquilo. Era quase como se eles não tivessem coragem de rir na frente da Taylor. Só que eu achei aquilo errado, já que eles simplesmente não poderiam deixar de agir da maneira como queriam somente por causa da presença dela.     

— Continuem conversando — pedi, sentando ao lado dela. — Não se incomodem. 

Então Josh voltou a tagarelar, sendo obediente. Tentei não transparecer o quanto estava atento com qualquer atitude que viesse da Taylor e, ao mesmo tempo, fiquei prestando atenção ao que todos diziam. Até Jane parecia mais relaxada e conversava com simplicidade. 

Não consegui evitar dar risadas em algumas partes das histórias que Will contava sobre os colegas da escola e sobre Tiago – ele era bom em ser descontraído. Jack sentava do lado oposto, entre Jan e Will, e jurei tê-lo visto dando alguns olhares para Jan, algo que me fez estranhar.     

— Preciso que vá até a minha casa no sábado — disse ele, depois que todos já tínhamos terminado tudo e nos enchíamos com sorvete.     

— Por quê? — perguntei, antes que Jane dissesse alguma coisa.     

— Os meus pais querem conhecê-la — respondeu ele, sendo cauteloso. Vi Jane corando, quase se engasgando com o sorvete, e estranhei mais ainda aquilo.     

— Por quê?           

— Ah, não sei — respondeu Jack, na defensiva. — Acho que pelo fato de ela estar grávida de mim? — E todos pareceram engasgar na mesa, menos o próprio Jack, Tiago, Taylor e eu.      

— Você está grávida?! — perguntou Josh, perplexo. Jane corou ainda mais e quase foi para debaixo da mesa.      

— Você está meio atrasado, não acha? — disse Jack, irritado com o exagero de todos.     

— Não sabíamos — interveio Will, envergonhado.   

— Pois agora já sabem.     

— E vão ficar calados — entrei na conversa, olhando para os dois amigos do Tiago. — Nada de falar sobre isso por aí.             

— E por que todo esse sigilo? — Jack quis saber, ainda irritado.     

— Não é você quem vai ser o alvo dos outros, não é mesmo? — eu disse, sarcástico —, sendo tachado de irresponsável ou vagabundo.     

— Não entendo.       

— É muito simples, seu idiota...     

— Louis, não fala nisso agora, por favor — Jan me interrompeu, muito tensa.      

— É — concordou Tiago, se levantando —, vamos matar os alemães. — Will e Josh também concordaram e seguiram Tiago para a sala de estar. Jack levantou, deu uma olhada em Jane e depois em mim. Logo, não evitei em tentar matá-lo com os olhos.

Então ele saiu dali, murmurando coisas que eu não fui capaz de entender – não consegui ter a certeza se ele tinha ido embora ou se tinha apenas se juntado aos garotos no jogo.      

— Vou lavar isso — falou Jan, pegando as louças sujas.   

— Hã..., deixa que eu faço — ouvi a voz da Taylor ao meu lado e rapidamente fiquei tenso. — Não tem problema mesmo, sou eu quem devo fazer.      

— Bom, você pode... hã, pode me ajudar — disse Jane, também com a mesma tensão. Taylor não percebeu o nosso compartilhar de tensões e se levantou, indo para perto da pia a fim de esperar Jan lavar as louças para que ela as secasse.     

— Tudo bem.

Resolvi fingir que estava mexendo no meu celular e fiquei de olho nela, pronto para salvá-la de qualquer objeto ameaçador. Quase li os pensamentos da Jan, de que não passaria facas nem nada que fosse capaz de machucar. 

E é claro que o que eu temia acabou acontecendo. Taylor mal tinha terminado de secar o copo e já o tinha estraçalhado no chão, sem querer. Jane então deu um gritinho devido ao susto e eu me levantei da cadeira.      

— Tudo bem, deixa que... — Antes que eu terminasse de falar, Taylor já tinha se agachado e tentado pegar os cacos de vidro, se desculpando o tempo inteiro. Obviamente, ela acabou se cortando. Suspirei, decepcionado, e a puxei para perto da pia, a fim de lavar o sangue que já começava a sair da palma de sua mão.    

— Eu dou conta de tudo sozinha — Jane tentou falar com descontração, mas a sua voz saiu trêmula. — 'Tá tudo certo, estou mesmo precisando me mexer.     

— Olha só como ficou isso — reclamei, observando o corte. Peguei lenços de papel no armário e pressionei o lugar na palma de sua mão. — Vamos, vou fazer um curativo. 

Rapidamente passamos pelos garotos sorridentes e alegres, e então seguimos para o banheiro de visitas.   

— Vocês estão irritados comigo? — perguntou Taylor, e quase não a ouvi. Logo, procurei pelo gaze e por uma pomada no pequeno armário na parede.     

— É claro que não — respondi, sincero.

Passei a limpar o corte com algodão, pus a pomada e o envolvi com o gaze. Fiquei com medo de que não cicatrizasse rápido pelo fato de ela estar doente, mas resolvi não me preocupar e não deixei de perceber o quão paranóico eu estava ficando. O medo de tudo fazia parte de mim agora. Eu sempre reclamei daquilo com Taylor, porque era ela quem se enchia de paranóias. Mas ali estava eu, sendo algo que eu não conseguia tolerar facilmente. 

Assim, lhe fitei por alguns segundos e, de alguma maneira, consegui barrar os pensamentos obscuros que surgiram.      

— Eu amo você, Taylor, não esquece disso — falei e dei um beijo em sua bochecha. Depois a acompanhei até o quarto no segundo andar, em silêncio. Não fiquei com ela, porque eu sabia que o que ela queria era aquilo: ficar sozinha, remoendo o passado.   



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