• JANE •
Estávamos no mês de maio e eu estava prestes a completar quatro meses de gestação. Eu já havia feito os exames necessários que o Dr. Wilkins pediu na última consulta e logo poderíamos saber o sexo do meu bebê.
Era a pura ansiedade.
À noite, quando eu não estava pensando nas preocupações do cotidiano, eu imaginava o meu bebê. Via uma linda menininha nos meus braços, sorridente e de bochechas rosadas. Quando eu não estava lúcida, o meu bebê também aparecia nos sonhos em forma de uma menina. Eram laços, babados, bonecas, vestidos rosas, berços e fraldas...
Porém, meu bebê chorava tanto no meu colo, que eu acabava acordando. Eu me assustava e me preocupava, então as minhas mãos iam direto ao meu ventre, acariciando o meu filho por cima da barreira de pele que nos separava, para buscar acalmá-lo.
Uma coisa bastante estranha e constrangedora que vinha acontecendo – além do fato de eu ficar plantada no quarto com os seios sob a luz do sol –, eram os meus pensamentos. Eu sempre acabava colocando a culpa nos hormônios, porque eram a respeito de Jack Mayson, quando este começava a suar junto comigo nas nossas caminhadas diárias.
Suar junto comigo...
Malditos hormônios!, eu pensava, evitando morder os meus próprios lábios enquanto olhava – discretamente – para aquele corpo.
Minha maneira de ver o mundo também tinha mudado – e eu não me referia ao corpo do Jack. O que eu queria dizer era que tudo poderia acontecer. O ser humano era falho, tinha maldade no coração, sim, mas a bondade também poderia ser vista de alguma forma, mesmo que ela fosse pequena ou quase imperceptível.
E um bom exemplo era Jack Mayson. Ele deixava transparecer que queria mudar e eu tinha mudado também. Consegui organizar as ideias e agir como eu agia antes. Portanto, voltei a ser como sempre fui e rapidamente as queridas Vogue e Cosmopolitan já se encontravam na minha escrivaninha, prontas para serem lidas.
Eu fiz uma geral no meu guarda-roupas, usei a pensão do meu pai para comprar novos sutiãs (porque os meus seios tinham crescido e estavam doloridos) e também comprei novos vestidos, macacões, meia-calças, hidratantes, sapatos, esmaltes e mais outros supérfluos, que eu achava muito importantes.
Gastar dinheiro foi até uma boa maneira de esquecer o episódio que ocorreu naquele sábado, há uma semana atrás na casa dos Hampton. Afinal, para o mundo as coisas pareciam normais, mas para mim estava tudo muito estranho. O fato de que eu não parecia ser mais a melhor amiga de Taylor Hampton me deixava triste e excluída, pois eu estive disponível para ela desde sempre, mas tudo o que eu recebi foi a distância.
Aquele fato anormal de sábado mostrou o quão mudada as coisas estavam e, para mim, Louis ignorava a maioria dos fatos apenas para evitar o estresse. Marly Cooper poderia ser mais do que uma garota sem amigos. Ela me intimidava e eu tinha quase certeza de que Taylor seguia um caminho errado atrás dela, com a sua sensibilidade sendo posta contra ela mesma, junto com o acidente que causou a morte de seu pai.
Ela não parecia mais estar na pior – pelo menos era aquilo o que nos mostrava – e o sorriso que todos nós amávamos estava de volta. O problema era que nada fazia sentido e eu não conseguia entender como Marly tinha feito tudo em apenas três dias. Louis e eu havíamos passado tanto tempo tentando ajudar Taylor, dizendo palavras de consolo e dando todos os abraços do mundo, só que não obtemos nada, somente um olhar desfocado. Era tudo muito injusto e eu não conseguia saber onde tínhamos errado.
No domingo pela manhã, Louis me ligou para que eu fosse até a casa dos Hampton. O seu tom não parecia transparecer uma boa notícia, na verdade, e eu não me demorei a tomar um banho, pôr uma leggin, um casaco e um tênis para caminhada.
Quando cheguei, eu já me encontrava tremendo, nervosa, achando que Taylor poderia ter tentado se machucar novamente.
Mas não era aquilo, não.
— Ela se embebedou noite passada — informou Louis, no sofá. Após as melhoras bruscas e ilimitadas da Taylor, ele também tinha melhorado, voltando a comer e a dormir direito. Ele esteve muito melhor, mas aquela expressão de preocupação tinha voltado. — Você acredita nisso?
— Se embebedou? — perguntei, incrédula. Marly veio na minha cabeça tão rápido como um tiro e eu logo me agitei. — Viu só?! — exclamei, alarmada. — Eu disse que aquela garota não é flor que se cheire, Louis, eu disse!
— Taylor não é nenhuma criança, Jan — reclamou ele, depois de revirar os olhos. — Ninguém pode forçá-la a nada, ela faz o que ela quiser.
Era uma novidade saber que Taylor tinha saído a fim de curtir a noite – sem a companhia de um de nós dois – e se embebedar. Eu estava completamente estupefata.
— Tiago me ligou pra dizer que ela não parava de me chamar, então eu vim o mais rápido que pude... Ela estava muito bêbada — Louis fitava as mãos como se visse o acontecimento ali, na palma de sua mão. — Eu deveria ter ido junto...
— A culpa não é sua, Louis — eu disse, sentando no outro sofá. — Foi como você disse: ela não é nenhuma criança. Ela sabe o que faz e foi uma decisão dela.
— Inferno!... — Ele levantou, pegou um travesseiro e o jogou na parede próximo da TV. — Ela sequer me disse como voltou pra casa, estava se culpando à todo momento, pedindo desculpas e depois… — Ele continuou falando e gesticulando e eu me vi imaginando a minha melhor amiga, bêbada e tropeçando nos próprios pés – provavelmente sozinha. Ela realmente tinha se equivocado. — Eu pensava que ela tinha voltado ao normal — Louis prosseguiu, muito inquieto —, que tinha voltado a ser a Taylor de antes.
— Lou, você não acha que está se iludindo?
— Me iludindo? — Ele me olhou, com muita irritação. — Porra!, você viu que ela estava melhor. Eu não 'tô louco, e não vem dizer que eu não estou querendo enxergar, porque isso não tem nada a ver.
— Certo... — Levantei os braços em forma de rendição e, na mesma hora em que falei, ouvimos passos na escada.
Era a Taylor.
Ela estava séria e descia os degraus lentamente. Quando me viu, abriu um sorriso enorme, como se nos víssemos pela primeira vez.
— Oi, Jan — disse ela, me dando um abraço de urso. — O que a traz aqui a essa hora? — Ela cerrou os olhos e tentou ver as horas no relógio em formato de unicórnio, que estava sobre as prateleiras. — São apenas oito horas, alguma novidade?
Taylor então percebeu o silêncio na sala de estar e cruzou os braços. Em seguida, os seus olhos correram para Louis e eu, confusos. Ela fixou o olhar no garoto e logo se aproximou dele, preocupada.
— Você nos deve explicações — avisei, séria. Os meus dois amigos ficaram se olhando, como se falassem um com o outro por telepatia, e então não demorou muito para que ela abraçasse Louis pela cintura. E ele estava tão rígido que parecia uma pedra.
— Ela não tem culpa de nada — disse Taylor, com a voz abafada.
— Está falando daquela garota que você diz ser a sua amiga? — eu perguntei, com sarcasmo. — Aquela chamada Marly Cooper?
— Eu bebi porque fiquei entediada.
— Eu não me importo que você saia para se divertir — disse Louis, se afastando dela como se precisasse de ar —, mas poderia pelo menos ter me ligado para que eu pudesse buscá-la. Você veio sozinha pra casa, e se alguma coisa tivesse acontecido? Você estava bêbada, então como diabos iria se defender?
— Mas eu não vim sozinha — ela falou, antes que ele a interrompesse. Senti um desconforto e uma vontade de ir ao banheiro, mas me segurei e continuei atenta na conversa que se seguia.
— Marly não tem carro — Louis a lembrou, muito óbvio. — Não dá para imaginá-la vindo deixar você e depois voltando sozinha pra casa.
— Nós... — Taylor demorou um pouco para falar e então cruzou os braços. Ficamos esperando impacientemente pela resposta e assim ela suspirou. — Não viemos de ônibus ou... sozinhas.
— O que quer dizer? — Louis se aproximou, cauteloso. — Quer dizer que vieram no carro de qualquer um?!
E ele parecia mais perplexo a cada minuto. Eu tinha certeza de que Louis estava se segurando para não gritar, talvez imaginando o pior.
— Eu conheci algumas pessoas.
— E desde quando você é social? — eu me meti na conversa, tentando captar algum sinal de “eu não sei o que dizer, me deixem em paz”.
— Eles eram legais e não me deixaram tão desconfortável — Taylor defendeu quem quer que seja, muito nervosa. E por que ela estava nervosa, afinal?
— Eles? — foi a vez do Louis perguntar, quase como um murmúrio. Ele quase a matou com o olhar, na verdade, buscando ler a sua mente de alguma forma. O fato de que Taylor estava falando de um grupo de garotos não ajudou no estado de espírito dele. E ele realmente estava tentando se controlar. — Me explica isso agora. Quem era?
— Ah, Louis, não impo...
Louis então se aproximou demais, muito intimidante, os olhos raivosos e já meio vermelho, para falar bem próximo do seu rosto:
— Quem era?!
Levantei, receosa e tensa com a situação.
— Eles eram... um grupo de amigos, entende? — Taylor tirou os olhos dele e fitou a sua camisa. — Mas não são agressivos, são pessoas boas. Eu até dei o meu número para…
Ela pareceu ter percebido a gravidade do problema e então fechou a boca. Depois olhou pra mim, pedindo socorro. Mas o que eu poderia fazer, afinal? Eu sequer sabia que ela havia saído.
— Você o quê? — Louis diminuiu o tom de voz e vi que o seu maxilar estava rígido. Eu estava tão tensa, que me perguntei várias vezes se não deveria interrompê-los. — Não, não…, você não fez. — Ele fechou os olhos e respirou fundo
— E qual é o problema? — perguntou ela, cautelosa.
— Está mesmo perguntando isso pra mim?! — Louis gesticulou, muito perplexo. — Você sai sem dizer pra onde vai, bebe como se não houvesse um amanhã, conhece esses caras e vem embora com eles? Porra!, você não consegue ver que o que fez foi errado?! — Naquele momento, o celular dele começou a tocar, mas foi apenas ignorado, é claro. — Como pôde ter sido tão ingênua e inconsequente?!
— Você está exagerando — murmurou Taylor, passando a mão pelos olhos. — Marly os conhecia e...
— Eu achei que Marly não tinha amigo nenhum em Londres — eu a interrompi, olhando para Louis. — Foi o que ela disse várias vezes, não foi?
— Marly os conhecia? — perguntou Louis, sem entender. Taylor então hesitou, mas depois assentiu e se afastou, como se estivesse com medo de alguma coisa.
— Olha só, que novidade… — eu ri internamente, feliz por estar certa e visto que a Marly tinha escondido alguma coisa.
Ela disse que não tinha amigos e agora Taylor tinha chegado com uma história como aquela. Era de se suspeitar. Ou eu estava certa sobre Marly Cooper ou era Taylor quem estava mentindo.
— Depois eu converso com ela — Louis pensou alto, mas a sua raiva não diminuiu.
— Eu tenho que... sair. — E é claro que eu tinha percebido aquilo. Taylor segurava uma sacolinha preta, mas eu não sabia dizer o que era. — Eu... — Ela coçou a cabeça e continuou: — Vou até a casa da Sra. Peterson.
— Eu levo você.
— Não precisa...
Mas Louis já pegava o casaco sobre o sofá.
— Por que não quer que eu vá, Taylor? — perguntou ele, analisando qualquer movimento dela. — O que você está escondendo de mim, afinal?
— Não tem nada a ver com você, Louis, é que...
— Ótimo. — Ele pegou a chave do carro e então foi em direção à porta. — Vamos, o que está esperando?
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