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História Friends - Louis Tomlinson - 065. Aulas


Escrita por: sunzjm

Capítulo 65 - 065. Aulas


Fanfic / Fanfiction Friends - Louis Tomlinson - 065. Aulas

LOUIS

O mês de junho permitia que os dias fossem mais longos, portanto o sol nos dava adeus apenas às nove da noite. E aquilo era uma das coisas que eu mais detestava. 

O clima, contudo, era bem mais agradável, sem o excesso do frio, o que me fazia tolerar tudo sem reclamar. Aliás, caminhar seria o modo como eu me locomoveria naqueles dias, porque meu carro teve um estrago horrível após a batida, e um clima capaz de me congelar não seria uma boa companhia. 

É claro que não foi fácil contar para mamãe sobre o ocorrido. Ela simplesmente chegou do trabalho estranhando o fato de que a BMW não estava no seu lugar habitual. A expressão de choque e perplexidade assim que soube do que aconteceu foi o que marcou a nossa discussão.     

— Você bateu com o carro? — ela tinha perguntado, incrédula. Me coloquei a contar tudo do começo, porque os machucados no meu rosto não me permitiam esconder nada – e também pela falta de cooperação do lado da Maggie.      

— Eu vou... — Vamos lá, Louis, não seja covarde!, me repreendi rapidamente. — Eu vou precisar que você me empreste uma grana.     

— É CLARO QUE EU VOU TER QUE DAR DINHEIRO A VOCÊ, VOCÊ DESTRUIU O CARRO DO HOMEM! — gritou ela, olhando pra mim como se ainda analisasse o alarme invisível para saber se eu estava mentindo. — Quantas vezes eu vou ter que lembrar que não se deve dirigir de cabeça quente?!     

— Desculpa. 

Eu queria me defender, mas estava sem palavras. Eu sabia que estava errado, é claro, e tinha sido burro não prestando atenção no trânsito.    

— Pobre Jan — murmurou mamãe, mais para si mesma do que pra mim. — Você colocou a vida dela em risco. A vida dela e a do bebê, Louis! — Abaixei a cabeça para fitar as uvas sobre a mesa e resolvi não falar nada, envergonhado com aqueles sermões e me sentindo como se eu ainda tivesse quinze anos de idade. — E esses machucados? — perguntou, mudando de assunto tão rápido que fiquei destorneado.     

— Hã... o qu-que tem eles? — gaguejei, nervoso.    

— Isso tudo foi a batida ou você está deixando passar mais alguma coisa aqui? Espera... — ela se aproximou, cautelosa —, você não quebrou mais nada, não é? — Então pegou o meu rosto, a fim de olhar o machucado embaixo do meu olho.     

— Não, Jan e eu estamos bem.     

— Isso está ficando sério, Louis — falou ela, suavizando a expressão de fúria e deixando transparecer por completo a sua preocupação.     

— Você está falando de quê? — eu perguntei, me fazendo de desentendido. — Maggie já cuidou dos ferimentos, fique calma. — Então eu dei as costas pra ela, tentando me esconder de alguma forma.     

— Estou falando da Taylor e não dos machucados — explicou a minha mãe, séria. — Ela está mexendo com a sua cabeça, mesmo que sem querer.

Eu estava tentando não discutir com a minha mãe. A sua opinião sobre Taylor tinha mudado e não era nada boa. Ela passou a achar que eu estava me comprometendo por causa da Taylor, que todos os problemas da minha vida eram por causa dela, que eu não conseguia focar em mais nada por causa dela e que aquela batida, onde eu tive toda a desatenção, tinha a ver com ela, com Taylor.

E mamãe tinha razão em determinadas coisas, mas Taylor não tinha culpa se eu não sabia me dividir. Era eu quem estava tendo o descontrole. Era eu quem estava deixando o estresse me dominar. Eu era o culpado ali.   

— Tânia andou conversando comigo — comentou mamãe, me fitando. Então ela se aproximou mais e logo estávamos um de frente para o outro. — Taylor está fora de controle — ela me olhou durante alguns segundos, bem séria —, e eu não quero ver você metido nisso, entendeu?     

— Como é?     

— Foi isso mesmo o que você ouviu. — Ela pôs aquele ar autoritário e as mãos na cintura. — Se ela quer fazer coisas erradas, então deixe que as faça sozinha. Se ela não está ouvindo os conselhos que eu sei que você e Jan estão dando, então deixe que ela siga do jeito que quer. Só assim ela vai perceber o que está fazendo. 

Fiquei processando aquilo durante alguns segundos e então tive dúvidas. Afinal, o que ela queria dizer com tudo aquilo? Estava dizendo para eu esquecer Taylor e ignorar o que estava acontecendo?     

— Não posso deixá-la — falei, saindo de perto dela e deixando claro o quanto eu estava decidido —, se é isso o que está dizendo.     

— Eu sei que gosta dela, Louis, mas você não deve deixar que ela interfira em você desse jeito — disse mamãe, meio desesperada. — Olha pra você, filho: brigou com um aluno por causa dela, quase correu o risco de ser expulso e acabou tendo um acidente de trânsito, que com certeza também teve a ver com ela.     

— Eu… vou fazer o que for preciso pra melhorar, 'tá bem? — eu disse, e depois suspirei —, mas não vou ignorar o que está se passando, e muito menos ela... 

Taylor estava pisando na bola, mas eu continuava tentando me aliviar, imaginando que aquilo tudo não passava de uma fase; que logo acabaria, que ela perceberia as coisas que fez consigo mesma e com os outros; e que, principalmente, pararia de pedir desculpas e mudaria de atitude.     

— Não quero ir trabalhar sabendo que o meu filho está com a cabeça nos ares enquanto conduz — falou mamãe, acariciando o meu rosto.     

— Não vai mais acontecer, eu prometo.

E então a campainha tocou. Alguns segundos se passaram e ouvi a voz da Maggie avisando que tinha uma garota me procurando. Dei uma rápida olhada na minha mãe e fui para a sala de estar, já imaginando quem poderia ser.     

— Oi, Marly — lhe cumprimentei, com um pequeno sorriso. Seus olhos azuis foram direto no roxo que estava no meu rosto e logo se mostraram aflitos.     

— O que foi isso? — Marly veio até mim e tocou no machucado, delicadamente. Acabei lembrando das palavras da Jan sobre a Marly e discretamente me afastei, pigarreando e buscando não ser rude. Eu não precisava de tanta atenção de sua parte. — 'Tá tudo bem?     

— Eu tive uma briga — respondi, dando de ombros —, mas já está tudo muito certo. — Logo desejei mentalmente que Adrian Carrington tivesse quebrado o osso do nariz – e talvez alguns dentes. Mamãe acabou resolvendo aparecer na sala de estar e eu aproveitei para tirar o foco de mim, porque Marly ainda me olhava com a mão sobre a boca. — Marly, essa é a minha mãe, Johannah, e, mamãe, essa é Marly Cooper, uma amiga. 

Mamãe rapidamente se aproximou dela com um sorriso exagerado e pegou na sua mão, claramente entusiasmada.     

— Quer tomar alguma coisa, querida?     

— Obrigada — Marly retribuiu o sorriso com um outro ainda maior —, mas não precisa, Sra. Tomlinson, eu estou bem.     

— Só Jay, por favor… 

Se mamãe não fosse tão educada como sempre foi, eu deduziria que ela estivesse agindo como se gritasse “eu quero ser a sua sogra”. No entanto, optei por continuar sendo bonzinho com ela. Ela só estava sendo gentil, não estava?     

— Como quiser, Jay.     

— Bom — mamãe me lançou um olhar que eu não fui capaz de compreender e suspirou —, vou subir e deixar vocês com mais privacidade.     

— Certo. — Assenti, sentando no sofá e apontando para que Marly fizesse o mesmo. — E então, Marly, está tudo bem com você? — perguntei, depois que a minha mãe nos deixou sozinhos.     

— Não fiquei tão bem depois que vi o seu rosto nesse estado — respondeu ela, meio séria. — Isso tem a ver com o garoto que foi até a casa da Taylor naquele dia?     

— Infelizmente, sim — respondi, sem evitar ser ríspido por ter que confirmar aquilo. — Ele não vai deixar a gente em paz, tenho quase certeza disso. — Deitei no sofá e cruzei os braços, pronto para desabafar. — Aquele infeliz diz que não vai desistir dela, que ela vai me esquecer e que vai correr pros braços dele. Não entendo como ele tem tanta confiança ao dizer isso. Ele está vendo que ela está comigo, que prefere a mim do que ele, mas como ele tem tanta certeza de que um dia vai conseguir algo?     

— E como você tem tanta certeza de que ela não vai trocar você por ele? — perguntou Marly, de repente. Logo parei de pensar e então o medo começou a surgir bem devagar. 

Taylor realmente não tinha obrigação nenhuma de continuar comigo. E, mesmo que tivéssemos tido muitas coisas juntos, eu não poderia prever o que aconteceria nos dias que viriam. Eu não sabia de nada.     

— Não tenho certeza, na verdade — confessei, muito abatido. — Eu finjo que tenho, pra diminuir o medo.  

— Medo?

Fitei Marly, ainda deitado.

Ela me entenderia?     

— Taylor é muito importante pra mim  Marly, e eu a amo muito — eu disse, bem claro. — É uma coisa que eu não sei explicar. Não gosto de me ver sem ela, sou capaz de fazer qualquer coisa pelo seu bem-estar. É como se fosse natural, ou talvez como se fosse uma regra na minha vida, mesmo depois disso tudo estar acontecendo. — E Marly apenas me fitou de volta, bem séria e ereta no sofá. — Se ela me deixasse, eu... eu não sei exatamente como seria, ou o que eu faria. 

E então voltei a fitar o teto, tendo a imagem do rosto da Taylor na minha cabeça – a que eu conhecia, não a que estava presente naqueles dias.     

— Você não merecia nada disso. Eu sou amiga dela e não acho que ela esteja agindo da maneira correta com você — disse Marly, após alguns segundos. — Mas, ouça, o motivo real pra eu ter vindo aqui não foi para falar da Taylor, e sim porque eu preciso da sua ajuda.     

— Ah, é? — Olhei pra ela, que estava com uma expressão gentil e os olhos brilhando. — O que eu tenho pra que você viesse socorrer a mim?     

— Habilidade e talento.     

— Em quê? — perguntei, rindo.     

— Hoje mais cedo minha tia levou Carly e eu na escola primária que fica próxima ao Island Gardens. Ela trabalha lá, sabe? A diretora da escola, a Sra. Martin, estava à procura de alguém que completasse a banda e...     

— E então você achou legal aceitar o convite pra tocar com o pessoal? — completei a história dela, também achando legal tudo aquilo. Acabei pensando que tocar ou cantar seria uma boa distração, e distração era tudo o que eu necessitava naqueles dias.    

— Às vezes eu fico sozinha demais — comentou ela, deixando os ombros caírem. — Aquela casa não tem muita coisa pra se fazer e geralmente fico entediada.     

— E a Carly? — perguntei, lembrando da garotinha de cabelos loiros e laço na cabeça. Ela era incrivelmente adorável e vê-la novamente poderia até me fazer bem.    

— Tenho certeza que você percebeu que a Carly só vive no mundinho dela. Às vezes ela está em um mesmo cômodo que a gente, mas não parece, de tão aérea que é — disse Marly, e então suspirou. Acabei discordando daquilo devido à minha falta de compreensão, porque não fazia sentido alguém esquecer (ou não ver) que aquela linda garotinha estava por perto. — Ela é diferente das outras crianças.     

— Então já que está tentando se distrair... — Dei de ombros, fugindo da pergunta principal. — É bom que tenha aceitado isso.     

— E você vai poder me ajudar? — perguntou ela, com uma leve ansiedade na voz. — São algumas aulinhas de violão, eu juro que vou me esforçar ao máximo.     

— Como sabe que eu toco violão?     

— Ah…, Taylor e eu andamos conversando.

Jane com certeza não iria gostar de saber daquilo e eu podia apostar que o devido fato a faria acreditar ainda mais na tal teoria que ela mesma tinha criado – e que eu preferia não levar à sério.      

— Marly, você sabe que o que eu sinto por você é apenas aquela boa e velha amizade, não sabe? — E não era a minha intenção constrangê-la, mas tive que olhá-la nos olhos enquanto clareava aquilo. — Eu só não quero que se confunda, porque geralmente...     

— Não se preocupe, Louis.     

— Tudo bem então, eu ajudo.     

— Obrigada — ela sorriu, contente. — Nossa, eu... — Sua voz foi interrompida quando um som discreto ecoou pela sala de estar. Alguém tinha chegado ali, e me surpreendi ao vê-la.

Fiquei de pé no mesmo instante ao ver Taylor. Eu nem soube o que fazer, apenas a olhei. Eu estava surpreso, na verdade, porque não esperava por aquilo. No entanto, logo me bateu um receio ao lembrar daquela pergunta medonha da Marly, que também se levantou, a fim de olhar para a garota pálida parada perto da porta.    

— Meu Deus — sussurrou Taylor, pondo as mãos na boca. — Seu olho está roxo, Louis... — Então veio até mim e acariciou o meu rosto, analisando toda a extensão dele. Me senti mais aliviado porque, se ela fosse acabar tudo comigo, então não agiria tão íntima daquele jeito, ou agiria? — 'Tá tudo bem? — perguntou, pondo toda a atenção em mim. — Fiquei preocupada. Depois de saber o que tinha acontecido na escola, eu…     

— Estou bem. 

E contente. Aquele turbilhão de carinho e atenção era o que eu queria, sim. Ela realmente estava aflita e triste. Por um momento achei que a minha Taylor finalmente tinha voltado.     

— Bom..., eu já falei o que eu queria falar — ouvi uma voz bem distante e depois de alguns segundos percebi que era a Marly falando. — Acho que vou indo.    

— Falo com você depois — eu disse, gostando de sentir Taylor me abraçando —, para acertamos o horário das aulas.      

— É claro. — Ela sorriu e mandou um olhar para a Taylor. — Depois eu vou à sua casa, Taylor. Nos vemos lá.  

— Certo — respondeu a garota nos meus braços, muito lenta. Então Marly se despediu de nós dois e rapidamente saiu dali.      

— O que a trouxe aqui? — eu perguntei, me fazendo de desentendido. Estava claro que Taylor não poderia estar se sentindo bem. E parecia doente.     

— Louis... — E ela estava tão mole que eu fiquei com medo de soltá-la e vê-la caindo no chão. — Eu tenho olhos só pra você, saiba disso — disse, bem devagar enquanto me analisava. Resolvi sentar no sofá e colocá-la no meu colo, a fim de evitar qualquer acidente.     

— Tem?

Deduzi que Jane tivesse dito alguma coisa relacionada à briga com Adrian Carrington, e também com as coisas que ele havia dito, mas eu não me importei. Só aproveitei que Taylor estava ali agindo como ela era de verdade.     

— É claro que sim. — Então ela se aconchegou em mim como se fosse dormir. Eu não sentia mais receio com a sua presença ali. Ela foi até mim não porque queria terminar o que tínhamos, e sim porque queria mostrar que se importava com o que eu pensava ou achava. — Eu quero apenas você.   

— É bom que esteja aqui — eu disse, tentando afastar qualquer dúvida que me atormentasse. — Ainda estou surpreso, na verdade.     

— Eu não sei por que ele disse aquelas coisas — falou Taylor, acariciando o meu cabelo. — Eu não dou ideia alguma pra ele, Louis, não entendendo por que ele persiste tanto.     

— Acredito em você — eu disse, conseguindo sentir o desespero dela ao falar aquilo. — Mas só o que podemos fazer é esperar, talvez uma hora ele desista e nos deixe em paz. 

Então ela me olhou durante alguns segundos e me beijou. Foi lento e eu senti várias coisas, principalmente um desejo que esteve apagado durante aqueles dias. No entanto, assim que pensei em dar um segundo passo – como levá-la pro meu quarto –, ouvi alguém pigarrear. 

Não tirei Taylor do meu colo, apenas olhei pra minha mãe parada ali, olhando para Taylor como se ela fosse uma ameaça para a minha vida. Maggie também estava por perto, bem atrás dela, e me irritei pela falta de privacidade.

— Olá — disse Taylor, enquanto levantava.     

— Olá... — as duas disseram em uníssono, um tanto cautelosas. — Você está se sentindo bem, querida? — E foi Maggie quem perguntou aquilo.     

— Estou — respondeu ela, com um sorriso.           

— Achei que estivesse de castigo, Taylor— comentou mamãe, fazendo questão de ser indesejável.   

— Não força a barra, mãe..., por favor — interrompi Taylor, envergonhado com a atitude da mamãe. Uma tensão logo subiu no ar e eu me vi desconfortável.     

— Você não deveria desobedecer as ordens da sua mãe — continuou a minha mãe, me ignorando completamente. — Está de castigo e deveria estar em casa.     

— Não vou demorar muito — respondeu Taylor, e então abaixou a cabeça. Lancei um olhar de morte para mamãe e fui até Taylor, tentando mostrar que eu estava do seu lado, com mamãe gostando ou não.     

— Já terminou ou tem mais? — perguntei, irônico. Era claro que não importasse o que eu dissesse, mamãe continuaria ali sendo grossa. Mas o que diabos ela mudaria agindo daquela forma?         

— Me avise se for sair — mandou ela, e em seguida nos deu as costas, indo pra cozinha acompanhada da Maggie, que continuava olhando para Taylor com aquele ar de piedade.     

— Agora ela me odeia — murmurou Taylor, entristecida.     

— Ela não odeia você — lhe confortei, segurando os seus ombros —, só está chateada com as coisas que você anda fazendo. 

Chateada, decepcionada, frustrada e irritada também, só que eu não a informei sobre aquilo, buscando o equilíbrio.     

— E ela tem razão.    

— Só esqueça isso, vamos subir.

Taylor não deixou que eu a puxasse e logo estranhei.     

— O que foi?     

— É que eu estava pensando em uma coisa.     

— Pensando em?... — Obviamente, eu estava curioso, em principal porque ela parecia tímida – como se fosse falar malícias –, mas eu continuei pensando em puxá-la para o meu quarto. Estava tudo muito complicado porque as coisas não estavam bem em nossas vidas, mas com certeza não iríamos conseguir nada se continuássemos brigando ou ignorando um ao outro, e eu sabia que ela sabia daquilo.     

— Eu queria levar você pra dar um passeio — murmurou Taylor, com uma vergonha que eu não consegui compreender. Fiquei surpreso mais uma vez, mas não deixei de dar um sorriso. Um sorriso provocador que eu não fui capaz de evitar. — Andar um pouco pelo parque de Greenwich, sabe?      

— Ah, não estou a fim — brinquei, dando de ombros. Eu era um ótimo ator quando queria. — Minha agenda está cheia.          

— Tudo bem. — Taylor pareceu ser pega de surpresa e franziu o cenho. Depois, passou mais alguns segundos olhando para um ponto fixo na parede, como se estivesse pensando em algo para falar. — Então... eu posso levar você pra jantar ou sair um outro dia?      

— Você? — eu perguntei, achando tudo muito divertido e interessante. Eu não esperava por aquilo. — Me levar pra jantar?         

— Isso mesmo...     

— Meu amor, eu estava brincando com você.

Sorri e então eu a beijei. O fato de que ela já estava ali – mesmo com uma cara de quem deveria estar na cama –, sendo quem eu conhecia e quem eu amava, era o bastante. Talvez ela estivesse tentando melhorar as coisas entre nós dois, mostrando que me amava assim como eu a amava, e eu não ignorei aquilo, afinal de contas, era importante.     

— Quer dizer que você vem?      

— É claro, vamos sair um pouco..., ao Greenwich Park  — enfatizei, ainda sorrindo. — Mas podemos marcar um outro dia para que você me leve pra jantar. 

Assim, lhe puxei para subirmos a escada. Não me demorei a tomar um banho e vestir uma roupa quente – por causa do clima. Às vezes eu esquecia que poderia ser pego de surpresa vivendo ali, porque estava claro que choveria, mesmo estando no verão.      

— Não quer um casaco? — eu perguntei, a vendo abraçar o próprio corpo. Taylor usava um jeans, uma blusa de mangas longas e o seu All Star. — Esqueceu que mora em Londres?      

— Estava ensolarado, então achei que hoje não seria diferente. — Fui direto ao meu guarda-roupas e apanhei um dos meus moletons. — Mas parece que eu me precipitei…     

— Tem certeza de que está se sentindo bem, Taylor? — eu quis saber, enquanto a observava se vestir.   

— Acho que já perdi a conta de quantas vezes vocês já me perguntaram isso — comentou ela, então espirrou algumas vezes. — Talvez tenham sido mais de dez?     

— Estou tendo um conflito interno agora — pensei alto, aflito com a situação. Ela queria sair, mas iria chover, e consequentemente ela poderia piorar devido a umidade. Talvez já estivesse gripada ou resfriada. Eu não queria ser desagradável e fazê-la voltar pra casa. Na verdade, eu queria o nosso tempo, algo para nós dois. Mas o problema era que eu também não queria vê-la de cama ou qualquer outra coisa parecida. — Você já se alimentou hoje?    

— Ah, Louis!... — Por um momento ela finalmente pareceu expulsar aquela tranquilidade e deixou transparecer uma leve irritação.     

— Então quer dizer que não se alimentou hoje?    

— É claro que sim.     

— E o quê?      

— Por que isso é importante? — ela quis saber, exausta. — Qual a diferença se você souber ou não? O que importa? Quase me esqueci do quão chato você pode ser.     

— Você vai comer alguma coisa — eu falei, autoritário.     

— Certo, certo, certo… — Taylor cedeu, impaciente. — Podemos comer fora então? Eu não quero deixar a sua mãe mais irritada com a minha presença.     

Analisei a situação e depois dei de ombros.     

— Se acha que é melhor...

Peguei a minha carteira e saí com Taylor, avisando para mamãe que eu poderia demorar. É claro que ela fez questão de falar um de seus discursos, dizendo que não era uma boa ideia que eu saísse com Taylor enquanto a sua mãe lhe pusera de castigo, porque de alguma forma eu estava concordando com aquilo etc., etc., etc. 

Ela tinha razão, é claro, mas eu realmente necessitava daquele tempo com Taylor. Ela estava ali. Eu estava ali. Não fazíamos mal a ninguém e eu tinha certeza de que Tânia não me detestaria caso soubesse daquilo. Ela sabia que eu teria o controle da situação caso Taylor resolvesse fazer alguma idiotice.

Logo, peguei o carro da mamãe emprestado – por precaução também um guarda-chuva – e, após poucos minutos e depois de ter comprado qualquer coisa de comer em uma lanchonete, Taylor e eu já estávamos no parque de Greenwich.     

— O que a Marly queria com você? — ela perguntou, comendo suas batatinhas ao andarmos sob o guarda-chuva. Estava somente chuviscando e a corrente de ar era fraca, mas mesmo assim aquilo não deixava de ser uma boa desculpa para que eu não andasse ao seu lado, a envolvendo com o braço livre. — Que história era aquela de marcar horário?     

— Ela pediu a minha ajuda pra aprender a tocar violão — respondi, analisando o seu rosto. Busquei um sinal de incômodo, mas ela parecia impassível. — Eu não achei nada de mais em aceitar, o que você acha disso? 

Pensando melhor, aceitar o pedido da Marly já não parecia uma boa ideia, mesmo que eu tivesse deixado claro para ela qual era a minha posição ali, que as coisas não poderiam ser confundidas e que eu estava agindo apenas como um amigo, buscando ajudá-la. 

Nada a mais e nem a menos.     

— Você é quem sabe.     

— Certeza? — perguntei, em dúvida. Geralmente Taylor não era muito compreensível. — Se quiser, eu posso ligar pra ela e dizer que mudei de ideia. Aliás — parei de andar, peguei o meu celular decididamente e fui direto nos contatos —, vou fazer isso agora mesmo. 

Fui interrompido pela própria Taylor, que pegou o celular da minha mão e o guardou no bolso do moletom, muito calmamente.    

— Não há nada de mais em ajudá-la — disse ela, com um ar gentil muito anormal. Fiquei receoso, me perguntando se aquilo era mesmo verdade ou se ela estava agindo como aquelas mulheres que falavam algo totalmente contrário ao que queriam dizer de verdade. — Sério, Louis — ela sorriu, percebendo a minha falta de crença —, Marly agora é uma amiga, não vou ter ciúmes dela.

Não levei aquilo à sério, é claro, mas também não pensei sobre. Afinal, poderia ser um sinal de que ela confiava em mim e eu fiquei contente com aquilo.

Após voltarmos a andar, com aquele bom e velho silêncio confortável, presenciei mais reações da Taylor durante o tempo em que se seguiu – além dos espirros – que fortificaram ainda mais a ideia de que ela deveria estar em casa.      

— Já está cansada? — eu perguntei, quando a vi bocejando pela quinta vez na nossa caminhada. Eram somente seis e meia da tarde e as gotas de chuva ainda persistiam, o que me deixava mais indeciso ainda sobre dar a volta ou continuar.    

— Não sei o que é isso — respondeu ela, sem me olhar. Ela estava inquieta, tinha um tique nervoso (e que eu nunca vi antes) que a fazia coçar os braços uma vez ou outra; o seu olhar corria pelos lados como se procurasse por alguém, depois Taylor limpava os olhos constantemente e então voltava a espirrar, alternadamente e sem um padrão.  Era tudo muito preocupante. 

Logo, resolvi levá-la para debaixo de uma grande árvore – onde não chuviscava por conta das folhas –, e sentei na grama, lhe puxando pro meu colo e recebendo um par de braços envolta do meu pescoço, como se fossem ímãs.

     — Sabe o que eu acho? — falei, tentando aquecê-la enquanto afagava o seu braço. Estava bom ali, mesmo que a temperatura tivesse caído. Taylor estava comigo e estávamos bem um com o outro. Me senti sem o tal peso nas costas. Feliz até. Na verdade, ficaria bem mais caso ela estivesse bem de saúde. — Acho que deveríamos ir ao Dr. Jimm, talvez seja uma virose.     

— Pode ser — disse Taylor, após me olhar com alarme. — Mas eu não quero ir lá, Louis. Você sabe que eu não me sinto bem em hospitais. E também não quero que o Dr. Jimm me veja.     

— Provavelmente ele vai receitar algum remédio, Taylor. Isso pode ser sério..., ou pode ficar sério — insisti, sem deixar de estranhar a sua reação. Era como se eu sugerisse que ela parasse de respirar. — Olha — pensei um pouco — , Tânia pode ligar pra ele e pedir para que...   

— Não, eu disse que não, 'tá bem? — ela me interrompeu novamente, mas daquela vez parecia bem mais nervosa, e não demorou para que saísse do meu colo e começasse a andar de um lado pro outro. — Não quero médico nenhum.     

— Mas o que diabos você tem no braço? — Levantei e fiquei analisando aquilo, incapaz de continuar ignorando o tal tique nervoso. — Aliás, por que se estressar tanto com esse assunto? É só uma precaução.  

— Você está se preocupando à toa, é isso — falou ela, continuando com a série de movimentos entre andar e ficar mexendo nos braços. — Vai fazê-lo perder tempo. Tem pessoas que realmente precisam de ajuda e eu não estou incluída neste grupo.     

— Ele não vai fazer isso de graça.     

— Por que você tem que persistir nisso? — perguntou Taylor, parando bruscamente e me fitando. — Nós não podemos ficar bem um dia sequer?     

— Você é que não está bem — repeti pela milésima vez, aflito. — Não de saúde, pelo menos. Eu não posso deixar isso pra lá, como se fosse nada de mais.      

— Eu só quero um tempo pra nós dois, Louis — disse ela, depois de alguns minutos calada e me olhando. — Não quero discutir.     

— Mas nós não estamos discutindo — esclareci, me aproximando dela. — Estamos conversando civilizadamente.     

— Sobre um assunto que me irrita.

Parti para o lado “você tem razão” e ignorei o assunto, evitando irritá-la por cerca de uma hora. E por cerca de uma hora porque ela simplesmente parou um dos beijos que estávamos tendo sob aquela árvore, como se tivesse chegado a um limite invisível. Ela parecia pior porque, além de sua inquietude, também suava frio e tremia. 

Então, primeiramente, pensei em levá-la à emergência, mas, devido ao seu estado de  irritação, achei melhor fazer somente o que ela pedia, então a levei para casa.

É claro que eu exigi entrar junto, porque era difícil ficar calmo a vendo chorar desesperadamente. Contudo, antes mesmo que entrássemos em seu quarto, ela me barrou e perguntou:     

— Será que poderia me trazer água, por favor?

Não pensei duas vezes em obedecer. Mas me arrependi de ter feito aquilo quando voltei com o copo na mão, porque, no fim das contas, percebi que ela queria apenas um tempo para me afastar, e depois trancar a porta.



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