1. Spirit Fanfics >
  2. Friends - Louis Tomlinson >
  3. 066. Disposição

História Friends - Louis Tomlinson - 066. Disposição


Escrita por: sunzjm

Capítulo 66 - 066. Disposição


Fanfic / Fanfiction Friends - Louis Tomlinson - 066. Disposição

TAYLOR

Era uma situação complicada a que eu estava. Há um tempo atrás eu nunca me imaginaria mentindo para as pessoas mais importantes da minha vida – pelo menos não uma mentira grande, das que você mente uma vez e não consegue mais parar, porque sabe que, se contar a verdade, vai acabar se dando mal. 

Era uma questão difícil de se entender, mas ao mesmo tempo muito simples. Eu já tinha mentido para Louis algumas vezes, mas eram coisas inocentes como o fato de eu não ter me entupido de doces ou então de ter mandado mensagens no celular dele fingindo que era ele.

A pior mentira de todas desde a primeira vez que tínhamos nos conhecido – exceto a da heroína – foi aquela em que eu disse que iria dar uma passada na casa do papai com Tiago, mas que na verdade seria um encontro com Adrian. 

Esconder sobre a heroína estava sendo a segunda pior mentira. A diferença era que eu não me sentia culpada de jeito nenhum; tinha a consciência de que continuaria mentindo e omitindo pra ele – e para os outros – pelo maior tempo que eu conseguisse, temendo não ser compreendida e, principalmente, ser barrada daquilo que estava me ajudando a viver no dia-a-dia. 

Louis não me entenderia e não me aceitaria vivendo daquele jeito. Ele era certo demais para me ver consumindo coisas ilegais. Primeiro diria tudo para mamãe, depois imploraria para que eu parasse. Além do mais, eu corria o risco de perdê-lo de vez, porque tinha a probabilidade de ele não tolerar aquilo de maneira alguma – muito menos eu em pessoa. E aquele era um dos pesadelos que mais me atormentavam.

Um dos meus objetivos era ser como Marly. Ela se drogava e era maravilhosa; linda e com um brilho que me fazia encolher – ainda dava a impressão de que conseguia tudo o que queria em qualquer momento. Eu achava aquilo incrível. 

Ela era o oposto de mim, decidida e sem medo de nada. Eu também aceitei a sua ajuda para deixar tudo como era antes e, mesmo que eu não estivesse tão bem naquele momento, ou eu ainda não soubesse lidar com a falta da heroína como Marly sabia, eu estava disposta a continuar tentando. 

O problema era que parecia impossível, principalmente depois que percebi que eu tinha deixado o passeio com Louis porque não conseguia tirar o saquinho de pó branco da minha cabeça, pois sentia os primeiros (e desagradáveis) sintomas da crise de privação. Como eu faria para que aquele problema sumisse, afinal?

Eu não tinha ideia.

Eu mal lembrava de como era estar limpa, sem nada de químico no corpo, apenas sendo um ser com o organismo funcionando normalmente. Eu não gostava de lembrar do vazio que esteve em mim com o luto, e era um dos motivos que me fazia não ter esforço para viver um dia sequer sem as picadas, como Marly fazia. 

Eu pensei em pesquisar na internet, ou então ler sobre o assunto na biblioteca local de Greenwich, mas acabava lembrando de que mamãe estava com as minhas coisas e que eu estava de castigo. 

Naquele dia, quando entrei no quarto em plena crise, fui direto na minha gaveta de roupas íntimas e tirei de lá os meus utensílios. Eu estava desesperada pela dose, era horrível ficar daquela forma – algo incontrolável e bem louco. Eu já tinha percebido depois da quarta ou quinta crise que, se eu não tivesse a heroína dentro de mim rapidamente, nada mais entraria na minha cabeça.

E aquele pensamento ficaria se repetindo até o momento em que eu injetasse a agulha nas partes onde as veias ainda não haviam entupido – porque sim, elas entupiam. Se contrário, eu estaria próxima da morte, porque não seria capaz de passar mais de uma hora sentindo aquelas dores. 

No entanto, quando eu me olhava no espelho, não entendia o porquê de estar daquela maneira, pois eu estava bem internamente, só que externamente… Eu me perguntava por que era diferente comigo. Eu procurava aquele brilho que Marly tinha e não o encontrava em mim. Eu olhava o meu corpo, aquela coisa seca, pálida e sem graça, e então me questionava quanto tempo iria demorar até que eu chegasse ao nível de Marly Cooper; até que eu fosse como ela.

Meu olhar percorria a minha pele à procura de algo sedoso como a sua e encontrava apenas pedaços secos, porque eu tinha ganhado uma casca dura no braço, que não era grande mas que era feia, e não me permitia aparecer em qualquer lugar sem estar com blusas de mangas longas. Marly não tinha aquela casca no braço como eu, os seus braços eram macios, lisos e normais. E, mais uma vez, eu me perguntava como ela conseguia se drogar e continuar daquela maneira.

Eu não sabia se Brad, Guto, Dylan e John tinham os braços como o meu, mas, quando eu permanecia me observando no espelho do banheiro, via todos eles em mim. E aquilo não era agradável. Eles não aparentavam saúde e eu entendia bem o porquê de Louis clicar tanto na mesma tecla quando achava que eu estava doente. 

Ele tinha razão em achar que eu precisava ir ao Dr. Jimm. Como os meninos da casa do Brad, eu estava horrível. Agora, por que diabos estava demorando tanto para que eu parecesse maravilhosa como Marly?

O efeito da droga apenas me fazia dar de ombros e me dava forças para continuar tendo esperanças e paciência. A heroína era a minha amiga, me ajudava a esquecer a dor de ter perdido o meu pai, me fazia esquecer por um tempo do quão ridícula eu estava e me deixava segura em relação a tudo, principalmente quando se tratava do Louis. E aquilo era o que importava, mesmo que eu necessitasse de doses maiores.

Quando ouvi Louis batendo mais uma vez na porta, exigindo que eu a abrisse, decidi tomar alguma atitude. Pus de volta no lugar o saquinho plástico, minha seringa, a colher e o isqueiro, e por fim escondi debaixo do colchão a mangueirinha de borracha que eu usava para fazer o torniquete. 

Após me recompor e abaixar a manga da minha blusa, fui até a porta para abri-la e esperei Louis vir com o seu interrogatório.     

— Qual é o seu problema, Taylor? — jogou ele, com uma mistura de irritação, confusão e preocupação. — Por que trancou a porta? Aliás, você pediu pra que eu trouxesse água e foi só para que eu não entrasse junto!   

— Mas o que está acontecendo aqui? — uma voz rígida soou ali perto. Era a mamãe que tinha acabado de chegar do trabalho, junto do Arthur.  

— Eu... só quero entender o que se passa na cabeça dela — explicou Louis, se acalmando do nada depois do susto que a mamãe nos deu. — Acho que não vou ser capaz, na verdade.     

— O que houve? — insistiu mamãe, me olhando com um ar de desgosto. E aquilo nem me afetou, mas talvez afetaria caso eu não tivesse acabado de me drogar.      

— É briga de casal, Tânia — Arthur se intrometeu, depois de ver a tensão começar a brotar. — Vamos deixar os dois conversarem, tenho certeza de que não é nada de mais. 

Então ele foi se afastando enquanto puxava mamãe, que me olhava com tanta desconfiança que eu tive de desviar o olhar. Louis então passou por mim como um furacão, assim que ficamos sozinhos na entrada do meu quarto.     

— Me responde, o que foi aquilo? — perguntou ele, ainda com o copo de água na mão. — Eu quero que me explique isso agora.     

— Eu precisava mesmo beber água — menti, pegando o copo da mão dele —, mas tive um pequeno problema, então precisei de privacidade.     

— Poderia ser mais clara?

Pensei em algo enquanto ganhava tempo ao beber três goles de água.     

— O meu período começou hoje — respondi, contente em encontrar algo indiscutível. Seu desconcertamento logo surgiu, para o meu alívio, e depois percebi que ele estava sem graça. — Sujei a roupa e eu tive que me trocar — continuei, aproveitando a sua baixa guarda.     

— Você ainda está com a mesma roupa.     

— Hã..., tive problemas apenas com a calcinha — quase atropelei as palavras, mas Louis aliviou a expressão e pareceu acreditar em mim. Fiquei nervosa, afinal de contas, o que ele imaginava? — O que pensa que estou escondendo?     

— Foi estranho, apenas isso — ele se defendeu, dando de ombros. — E lembro muito bem que você estava passando muito mal.     

— Acho que foi devido ao frio. — É claro que aquilo não tinha nada a ver, mas Louis apenas assentiu, como se não procurasse problemas. — E obrigada pelo moletom. — Deixei o copo sobre a mesa de cabeceira e tirei o casaco a fim de entregá-lo.     

— Você 'tá melhor mesmo? — perguntou Louis, me analisando. — Não quer nada? Algum remédio? Comida? Ou qualquer outra coisa?     

— Não. — Sorri e me aproximei dele para lhe dar um abraço. — Eu gostei do que fizemos hoje, mesmo depois de passar mal. 

O passeio realmente foi fundamental, uma coisa que precisávamos para a nossa relação. Por isso, Louis suspirou, me olhou por alguns segundos e depois envolveu o meu rosto, a fim de me beijar. 

Depois de ficar satisfeita com a dose, aquilo era uma das minhas necessidades. O beijo dele, suas mãos acariciando o meu cabelo e o meu corpo, todos os arrepios... Eu também precisava muito daquilo e era como se fosse um bônus.    

Eu desejei dormir com ele naquela noite, mas tive a consciência de que estaria pondo eu mesma em risco porque, depois de acordar, eu precisaria me drogar o mais rápido possível, e Louis não precisaria ver aquilo novamente.     

Depois de alguns minutos de mais beijos e sorrisos, ouvimos uma batida na porta. Olhamos pra direção do barulho e Tiago já colocava a sua cabeça para dentro do quarto.     

— Eu não queria interromper e tudo o mais — disse ele, como se apenas Louis estivesse ali —, mas mamãe tem algo importante pra falar, e ela quer todos lá embaixo agora.

Então ele saiu, deixando a porta aberta. Louis e eu nos entreolhamos, devidamente confusos, mas nos apressamos para logo estarmos na cozinha da minha casa. Claire estava ali àquela hora e tinha uma mala nas mãos. Ela e mamãe estavam abraçadas de lado, falando coisas uma para a outra.     

— Mas o que é isso? — eu perguntei, confusa.     

— Ah, querida… — Claire me olhou e veio me abraçar, quase chorando —, sentirei a sua falta.     

— Você vai embora?     

— Não posso continuar aqui, e por isso vim buscar as minhas coisas — respondeu ela, acariciando o meu rosto gentilmente.     

— Você não precisa agir como se não fosse mais nos ver na vida — reclamou Louis, depois de bufar. — Não moramos tão longe uns dos outros. Nós podemos visitar você e a Sra. Cold.     

— É, ele tem razão — disse Tiago, encostado no armário e de braços cruzados. — Essa aqui não vai ser a última vez que vamos nos ver, Flor do Dia.     

— Eu sei, mas não será a mesma coisa — choramingou Claire, entristecida. — Vocês são jovens, não gostam de rotina e eu...     

— Para com isso, Claire — mamãe reclamou, mas depois acariciou os ombros dela. — A única diferença é que você não vai mais trabalhar aqui. Vamos continuar sendo amigas e você sabe que pode pedir a minha ajuda caso precise.     

— Eu sei, sim — Claire sorriu e então suspirou.     

— Sinto muito, Claire — sussurrei, agarrando a mão do Louis —, também vou sentir muito a sua falta.     

— Vocês estão exagerando muito — disse Louis, sem evitar um riso. — Vamos continuar falando com você, entendeu? Portanto, não se preocupe, porque a nossa geração permite o contato com pessoas a quilômetros de distância. — Ele sacudiu o celular na frente do rosto dela, fazendo todos rirem ali, inclusive eu.  

— Enfim — mamãe se entusiasmou do nada e foi para perto do seu companheiro, a fim de abraçá-lo —, eu quero a sua presença aqui pra dar a notícia, minha amiga, já que não tivemos tempo pra conversar.     

— E então, qual é a novidade? — perguntou Tiago, entediado. — Espero que me surpreenda. 

Mamãe logo abriu um sorriso e exibiu a sua mão direita para que todos nós víssemos. Algo brilhou em seu dedo devido à iluminação da cozinha e logo percebi o anel bonito que ela mostrava.     

— Estive furiosa com o que a adulta vulgo Taylor Hampton tinha aprontado — ela cerrou os olhos na minha direção, muito séria —, por isso não me senti disposta a contar a vocês antes. Ainda estou com raiva, na verdade, mas isso não vai adiantar em nada, então...     

— Meu Deus, é o que eu estou pensando? — perguntou Claire, eufórica. — Eu não acredito!     

— Acho que sim — Arthur respondeu no lugar da mamãe e depois suspirou, calmo como uma tartaruga. — É isso…, eu pedi a mãe de vocês em casamento — ele olhou para Tiago e eu com um sorriso que quase cegou a minha visão — e ela aceitou. Iremos nos casar!

Era uma paz ver que mamãe e Arthur estavam apaixonados um pelo outro. Ela nunca me contou muitos detalhes sobre o seu casamento com papai, mas eu sabia que tinha sido algo bastante simples, apenas para familiares. Provavelmente naquele dia estavam felizes juntos, prontos para uma vida ao lado do outro e para se dedicarem e formarem uma família unida. 

Papai possivelmente estava feliz pela felicidade da mamãe, pelo fato de que ela já tinha encontrado um outro alguém, e que aquele outro alguém agora seria algo que ele nunca foi.

Louis foi embora, mas prometeu que voltaria para me ver no outro dia, e eu fiquei ansiosa com aquilo. Na manhã seguinte, acordei com o mal-estar matinal que eu passei a ter com o consumo da heroína, então fiz o que eu tinha que fazer e tomei um banho demorado, daqueles de meia hora. 

Não era tarde e o sol lá fora brilhava como nunca. O dia estava lindo, tudo parecia em paz – inclusive a expressão da mamãe, que estava na cozinha olhando pro nada enquanto bebia café.     

— Bom dia... — eu disse, meio hesitante, e isto porque era aquela sensação estranha de que eu poderia ter ficado calada ao invés de ter dito alguma coisa.     

— Bom dia, querida — foi o que disse, com uma voz familiar e até me surpreendendo. Era a voz de uma mãe que amava o seu filho; a voz que eu senti tanta falta. Fiquei sem jeito devido a surpresa, mas um sorriso involuntário e tímido foi surgindo nos meus lábios, lentamente.  — Estou com algo tão ruim aqui dentro — comentou, pressionando a mão sobre o peito.     

— Teve um pesadelo? — eu perguntei, sentando à mesa. Era algo instantâneo, como se eu já soubesse o que aconteceria. 

Logo, como eu esperava, mamãe deixou a sua xícara sobre a pia e buscou no armário uma caixa de cereal, uma tigela e uma colher. Assim que as encontrou, as colocou sobre a mesa e buscou o leite dentro da geladeira.     

— Sim, foi horrível — murmurou ela, com a testa franzida, e então sentou ao meu lado. — Sabe, geralmente eu não tenho sonhos ruins e, quando os tenho, isso me preocupa muito.     

— Seja o que for, vai ficar tudo bem.      

— Pedi para que Arthur conversasse com a Sra. Palmer — ela falou de repente, enquanto eu comia o meu café da manhã, distraída. — Preciso saber se há alguma chance de que ele consiga uma nova vaga pra você. Eu sei que há uma pequena probabilidade, mas não custa nada tentar.     

— Olha, eu vou fazer de tudo para ser a melhor aluna da escola no próximo ano — prometi, muito sincera. Era ruim saber que uma das preocupações que estavam em sua cabeça se destinava a mim. — Eu juro.     

— Tudo bem… — Ela deu de ombros, impassível, mas depois pareceu aliviada, porque tinha acreditado em mim. Fiquei feliz por ver aquilo, afinal, era um sinal de que ela estava me dando uma nova chance. E eu queria ganhar a sua confiança novamente. — Eu vou subir, ou então me atraso pro trabalho.

Comecei a pensar que as coisas finalmente estavam andando no rumo certo e que tinha poucas coisas para que eu resolvesse. Assim, devido ao meu bem-estar, me senti disposta a ir em uma floricultura para comprar um círculo de flores brancas – tendo o consentimento da mamãe. Eu iria ao Greenwich Cemetery visitar o túmulo do papai, pois tinha passado tempo demais na minha cabeça desde a última visita, quando houve o funeral. 

Achei que fosse ficar mal ao chegar na frente de seu túmulo e ver a data da sua morte registrada naquela lápide. Só que eu não senti como se o meu mundo estivesse morto e a aceitação foi mais fácil.

George Paul Wells.

Vou vê-lo no paraíso” era a frase que tinha embaixo das datas de seu nascimento e de morte. E eu até levei o caderno que ele tanto tinha usado, que ele tanto gostara. Eram os seus poemas preferidos do Edgar Allan Poe, o caderno que me fez companhia durante os dias em que o vazio preencheu o meu corpo.  

Papai sentado em sua poltrona, sozinho, com uma caneta nas mãos e o caderno sobre a perna, após reescrever mais um poema que ele tanto leu e releu. Poesias românticas. Poesias tristes. Poesias medonhas. 

Foram elas que fizeram companhia a ele durante os dias em que eu simplesmente dava de ombros e falava: "Vou um outro dia". Eu encurtei o tempo em que poderíamos nos ver, pois eu poderia ter feito parte de sua vida mais cedo. Eu poderia ter deixado as lembranças de lado e lhe dado uma chance sem pensar duas vezes. Eu poderia ter dito a ele que eu ainda o amava e que eu o perdoaria; que eu estaria ao seu lado para que ele superasse o alcoolismo.

Mas eu não estive lá.

Ninguém esteve lá.

[...]

Depois daquele momento aéreo que tive no cemitério, estando completamente neutra, fiquei vagando pelas ruas até que chegasse a hora do almoço. Pedi pizza, porque estava sem concentração para cozinhar. Acabei lembrando que estava sem Valium e que precisaria pedir para que Marly trouxesse mais uma cartela pra mim. 

Tiago e eu não conversamos de jeito nenhum após a chegada dele da escola e era como se eu fizesse parte da mobília. Porém, mais uma vez, me vi ignorando a situação. Ele também estava decepcionado comigo, mas a heroína me dava esperanças e me fazia acreditar que, uma hora ou outra, ele iria esquecer tudo e voltaria a encher o meu saco.

Era só uma questão de tempo.

Às três da tarde, eu estava sozinha em casa, apenas apreciando o meu relaxamento enquanto ouvia Desplat. Me assustei quando senti uma dor no ouvido, pois alguém simplesmente tinha puxado o fone sem a menor delicadeza.

Era a Marly.     

— Olá — falei, sorrindo —, é bom vê-la.     

— Sinto muito por ter que acabar com o seu bem-estar — disse ela, ignorando a minha simpatia —, mas temos algo pra falar. Algo de importante. 

De primeira, não me preocupei, apenas me senti curiosa para saber o que ela tinha pra me dizer – talvez eu também estivesse desconfiada. Sua expressão não era uma das melhores, na verdade, e ela se mostrava muito formal, como se estivesse ali à mandado de uma missão.     

— Qual é o problema? — eu quis saber, sentando. — É algo com a viagem da sua irmã? — Marly tinha me contado que Carly, a sua irmãzinha de coração, iria embora na quinta-feira, porque precisava voltar para as aulas na Irlanda. Ela viajaria com a Sra. Williams, portanto Marly ficaria cuidando daquela casa enquanto a sua tia estivesse fora.     

— Espera um pouco — pediu ela, parando de respirar por um instante —, estamos sozinhas, não estamos? O seu irmão, onde está?     

— Acho que na casa dos amigos.     

— E Louis, não está aqui por quê?     

— Ele disse que viria apenas à noite — respondi, sem tirar os olhos dela. Assim, esperei que Marly continuasse, mas não ouvi mais nada dela, apenas o bom e velho som do silêncio. — E então?...      

— Está tudo certo com a viagem da Carly — ela respondeu, muito indiferente. — O que temos a falar não tem nada a ver comigo ou com ela. Tem a ver com Louis e com você.

Minha atenção logo se intensificou e um frio na barriga apareceu subitamente. Temi uma notícia ruim. O que diabos ela queria falar sobre ele…, sobre nós dois?   

— Louis? — perguntei, nervosa. — O que aconteceu? Ele descobriu alguma coisa?... — Marly rapidamente me deu um sorriso que não chegou aos seus olhos e veio até a cama, a fim de se sentar à minha frente.     

— Relaxa, ele ainda não descobriu nada.     

— Como assim? — perguntei, sem compreender aquele seu tom. — O que quer dizer com “ainda não descobriu”?     

— Você sabe que Louis e eu somos bons amigos, não sabe? — perguntou ela, como se falasse com um demente. Não me importei com aquilo, na verdade, só esperei o resto da história. — Não sei se ele falou pra você, mas vou ter aulas de violão e ele será o meu professor.     

— Ele falou, mas o que tem a...     

— Shhh... — Ela pôs o dedo indicador sobre os meus lábios e eu logo me calei, preocupada com todo o suspense. — Tenho muita admiração por ele, eu faria de tudo para ajudá-lo em qualquer coisa que me pedisse ou não, porque quero a felicidade dele. E acho que você já sabe disso, certo? — Dei de ombros e ela continuou: — Portanto, é o meu dever livrá-lo de certos... hã, eu não tenho uma palavra adequada, talvez pesos?     

— Quer a minha ajuda? — perguntei, com a mesma confusão de sempre. — Precisa de alguma coisa?     

— Na verdade, eu preciso sim — respondeu Marly, ficando séria novamente e sem tirar os olhos de mim. — Você tem que terminar tudo o que tem com ele, Taylor. Tudo mesmo.

E talvez ela até tivesse dito algo diferente. Ou talvez a minha audição estivesse ruim, assim como a minha percepção. Portanto, continuei quieta e calada.   

— Há quanto tempo se drogou, garota? — jogou ela, impaciente. — Acho que está em condições de conversar, sim, então diz alguma coisa!     

Levantei e fui pro meio do quarto, procurando um espaço para respirar melhor. O perfume dela provavelmente tinha confundido a minha cabeça. Ou talvez ela tivesse sugado todo o oxigênio do quarto sem querer e o meu cérebro agora necessitava de uma boa parte dele.      

— Eu acho que não ouvi direito o que você disse — voltei a falar, e então percebi a minha voz trêmula.     

— Ah, não tem problema — Marly também fez o mesmo movimento que eu e logo estava na minha frente, com o olhar de quem compreendia o que eu sentia —, eu posso repetir, querida: falei que você não pode mais continuar com o Louis.     

— Eu não entendo. — Sorri, me fazendo de desentendida. Qual era o objetivo dela com aquilo, afinal? E por que eu me sentia presa e pressionada, como se ela tivesse o controle das minhas pernas e das minhas mãos? — Por que está dizendo isso?     

— Ele não está feliz, Taylor, está frustrado e preocupado por sua causa — respondeu ela, muito óbvia —, e é ruim pra mim ter que ver tudo isso acontecer com um amigo.     

— Ele disse isso? — eu quis saber, amedrontada.   

— Ele não precisa me dizer — falou ela, impaciente —, qualquer um é capaz de perceber porque é muito óbvio.

Comecei a tremer devido ao medo.    

— Louis e eu estamos bem — eu disse, lembrando daquele dia e do passeio no Greenwich Park. — Estamos conseguindo continuar juntos, mesmo com as brigas..., mesmo que ele não saiba o que está acontecendo. — E eu estava tentando convencer a mim mesma de que eu estava certa, na verdade. Falar aquilo em voz alta aumentava – mesmo que um pouco – a minha confiança.     

— Taylor — Marly se aproximou mais ainda e mudou totalmente o tom de sua voz para algo mais rígido —, eu acho que você não está entendendo. Não estou pedindo, entende? Isso não é um pedido, é algo que você vai ter que fazer, independente de qualquer coisa.  



Notas Finais


Digam o que acham, é importante ❤🎈


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...