• JANE •
— Vamos, acorda... — Senti alguém balançando o meu braço, não tão delicado assim. Era Louis do lado de fora, com a porta do carro aberta.
— O quê? — Fiquei confusa e, por um momento, estranhei o lugar onde estávamos. Como um balde de água fria, tudo logo surgiu na minha cabeça e lembrei de onde vínhamos. — Cadê todo mundo?
— Deixei todos em casa — respondeu Louis, impaciente. — Pensei que não acordaria — ele comentou, depois de um suspiro.
— Ah... — Me coloquei a sair do carro e fechei a porta. — O banco do seu carro estava confortável demais pro meu cansaço.
— Eu também estou exausto — disse ele, passando a mão sobre o rosto. — 'Tá tudo bem, não 'tá?
— Na verdade, não, mas agora só quero dormir.
— Vai pra escola amanhã?
— Acho que sim.
— Ótimo, dá um beijo na Sra. Rose por mim — pediu ele e assim me beijou na testa. — Boa noite, Jan, descansa o máximo que puder.
— Certo, boa noite.
Assim, ele entrou no carro e eu corri para dentro de casa, a fim de me aquecer. Vovó estava na sala, esperando por mim pacientemente. Ela usava o seu vestido de pijama e uma touca de plástico na cabeça. Parecia cansada, mas não estava irritada por precisar me esperar.
— Oi, querida — ela me deu um pequeno sorriso.
— Oi, vovó.
Logo me encarreguei de dar um beijo em seu rosto.
— Como está a mãe dele, do garoto que se foi? — perguntou vovó, preocupada. É claro que ela não conhecia a Sra. Peterson, mas a sua bondade era grande demais para que apenas a ignorasse.
— Péssima.
— Oh...
— Acho que vou dormir — avisei, soltando o cabelo.
— Mas não vai comer nada, querida?
— Não tenho fome. — Na verdade, eu sentia vontade de vomitar somente ao pensar em comida. O que eu precisava mesmo era de uma cama e de lençóis quentinhos. — Obrigada, mas eu quero apenas dormir.
Ela assentiu e me beijou na testa. É claro que eu não diria a ela que, na verdade, eu estava enjoada demais porque estava grávida – pelo menos não naquela noite.
A nossa relação era algo muito simples e quase nunca brigávamos. Eu só me estressava quando Leandra, a minha tia, nos visitava para tentar me convencer a fazer algo que eu não queria. Em uma das três vezes que aconteceu, ela trouxe a minha mãe, Marian, o que foi péssimo para mim. Eu não detestava as duas, mas também não sentia carinho nenhum por elas. A única pessoa que eu considerava na família era a minha avó. Ela me deu amor, educação e muito carinho naqueles meus dezessete anos. Eu nunca precisei de mais nada além daquilo.
Eu não via o meu pai desde aquele tempo inteiro, mas não era algo importante. Ele pagava a Pensão de Alimentos e aquilo já era o bastante, porque eu conseguia ajudar vovó com as economias. O que eu queria e o que realmente me importava era terminar os meus estudos, cursar uma faculdade e trabalhar para ajudar no nosso sustento, que agora incluía a presença de um bebê. A gravidez atrasaria aquilo, é claro, mas eu já conseguia lidar um pouco mais com a notícia.
Ainda me fazia chorar, obviamente, mas eu sabia que não adiantaria em nada; eu sabia que o certo seria aceitar toda a situação. Jack Mayson estava entre as pessoas que eu mais desprezava e eu realmente nunca mais queria vê-lo. Se eu conseguia lidar com o fato de que os meus pais haviam me abandonado, então por que o meu filho também não conseguiria?
[...]
O dia na London Greenwich foi algo totalmente entediante. A escola inteira comentava sobre a morte de Henrik Peterson; fofocavam sobre as roupas dos que haviam ido e cochichavam sobre o fato de que a Sra. Peterson e Gregory lidariam com aquilo mais cedo ou mais tarde.
“Pelo menos o cara foi preso, não foi?” falava um deles, muito discreto. “E encontram os outros três também” a outra pessoa respondia, satisfeita. Deduzi que falavam de Preston Jordan, o irmão da Rutty. Mas eu não me surpreendi com os comentários, afinal, o encontrariam de qualquer forma. Preston foi inconsequente por fazer o que havia feito. O que adiantou ter espancado o garoto que acabou com a reputação de sua irmã? Ele agora estava preso.
Na hora do intervalo, a direção da escola se colocou em respeito ao que havia acontecido e prestou uma homenagem ao Henrik.
— Vamos, Sr. Tomlinson, você não vai dizer alguma coisa? — a Sra. Palmer, que era a diretora da escola, cochichou próximo do Louis. Estávamos os três, Taylor, ele e eu, sentados nas últimas cadeiras que haviam posto horas atrás no ginásio, enquanto tínhamos aula. — Pode dizer apenas o necessário.
— Eu acho melhor não — disse Louis, muito educado. — Não estou confortável. — Depois deu um sorriso meio triste a ela, que assentiu com a cabeça, toda compreensiva.
— Tudo bem, querido.
E então ela saiu, batucando com os seus saltos. Serj Martins, um colega do Henrik, falava algo no microfone, enquanto se seguiam algumas gargalhadas dos momentos que ele havia tido com o amigo.
— É uma pena que coisas assim aconteçam, não é? — disse alguém, ao lado esquerdo da Taylor. E quem poderia ser? Sim, era Adrian Carrington. Ele tinha feito questão de sentar ao lado dela, apenas conduzindo Louis a matá-lo com os olhos.
Adrian era um garoto legal, mas eu sabia que estava fazendo aquilo apenas para provocar. Toda aquela briga aos socos fizeram os dois se odiarem ainda mais e eu tinha toda a certeza de que Adrian não havia gostado do novo modo como Louis e Taylor estavam se tratando. Desde então, era o que andava fazendo: provocando sempre que podia.
— É verdade — concordou a pobre Taylor, que estava sentada entre os dois, muito tensa e encolhida.
— Por que você não fecha a boca? — perguntou Louis pro Adrian, como se apenas a voz dele o incomodasse. — Ninguém aqui quer saber o que você pensa.
— Não sei por que a irritação, Louis — disse Adrian, com o ar irônico. — Infelizmente o seu amigo não teve tanta sorte. — O deboche estava explícito, é claro, e acabei não entendendo o porquê das suas implicações em um momento como aquele.
— É melhor não se meter nisso…
— E vai fazer o quê? — perguntou o garoto, sem se intimidar. — Me espancar também, até que eu morra que nem o seu amigo?
— Talvez não seja uma má ideia. — E então os dois ficaram de pé de repente e quase se pegaram nos socos, caso Taylor não tivesse se colocado no meio e puxasse Louis para que ele se sentasse. — Você é ridículo.
— O que deu em você? — perguntei ao Adrian, lançando um olhar de desaprovação e o puxando para a cadeira. — Qual a necessidade disso?
— Desculpa — murmurou ele, se recompondo —, foi só um deslize. — Percebi alguns olhares em volta e apenas dei um aceno com a cabeça, mostrando que estava tudo certo. Todos estávamos de saco cheio naquela segunda-feira. Além do mais, a semana estava apenas começando e os professores pegavam pesado no mês de março. Aquilo era estressante.
Depois que a homenagem chegou ao fim, fomos todos pro refeitório. Eu estava faminta e sentia como se não comesse há séculos, portanto logo segui para a fila, acompanhada de um casal em discussão.
— Não sei o que vou fazer se ele não se afastar de você — Louis havia dito pra Taylor, enquanto pegávamos o nosso lanche. — Ele está passando dos limites.
— É você quem tem um problema com ele — revidou Taylor, impaciente. Parecia que naquela manhã ela não estava conseguindo tolerar nada, até mesmo a própria respiração. — Sempre teve, na verdade.
— Eu? — perguntou ele, perplexo. — E o que você queria que eu fizesse? Ele está sempre comendo você com os olhos.
— Claro que não — disse ela, ofendida —, Adrian é apenas gentil. — E então fomos nos sentar, com o clima de aborrecimento já predominando a nossa atmosfera.
— Taylor, por favor — precisei me meter na conversa, devido a uma pequena discordância —, até o Papa sabe o porquê de ele ser tão gentil, mesmo sabendo que Louis já está com você.
— Obrigado — retrucou o garoto.
— E o que vocês queriam? — ela perguntou, nos olhando. — Deve ser a forma que ele tem de agir, Adrian pode ter nascido assim. Mesmo que Louis e eu estejamos…, você sabe, Adrian quer continuar sendo o meu amigo, o que eu posso fazer?
— Então fica com ele — disse Louis, enquanto a fitava.
— Para com isso!
— É você quem precisa ter mais consideração por mim, Taylor — falou ele, sem se importar com o tom. — Eu estou com você, e não ele.
— E o que mais você quer? — revidou Taylor, afastando a comida. — Eu sequer falo mais com ele direito, e isso é por sua causa. Eu não posso simplesmente virar as costas, estudamos todos na mesma escola!
Bufei com tudo aquilo. Já era a centésima vez que eles brigavam por causa do Adrian e aquilo já começava a irritar.
— Se esse é o problema, então a gente estuda em outro lugar.
— Você ficou louco?
— É claro que não — Louis deu de ombros, como se realmente falasse sério. — Mas, se preferir, eu mesmo obrigo aquele cara a cair fora.
— Você é um tolo, é mesmo um tolo!
— Tem razão, Taylor — ele disse e afastou a sua bandeja, com muita grosseria. — Sou mesmo um idiota por estar com você.
E então saiu, furioso.
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