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História Friends - Louis Tomlinson - 071. Espantoso


Escrita por: sunzjm

Capítulo 71 - 071. Espantoso


Fanfic / Fanfiction Friends - Louis Tomlinson - 071. Espantoso

— Vadia desgraçada! — alguém exclamou atrás de mim, extremamente irritado. — Eu mato você!... — Quando percebi, Jane saiu de onde estava e pisou forte até Marly. Se não fosse pelo Jack, aliás, alguns tapas seriam trocados ali mesmo.    

— Lembre-se de que você está grávida — ele a repreendeu, ficando entre as duas. — Pelo amor de Deus, acalme-se!...     

— Eu sei que você tem a ver com toda essa história, entendeu? — berrou Jane, ignorando as palavras do Jack. — Você pode enganar todo mundo, menos a mim!

Logo, ouvimos mais alguém descer a escada.

Era Tiago, que parecia assustado com a gritaria.    

— Eu não sei do que você está falando! — Marly chorou ainda mais, desesperada. — Nunca fiz nada a você, por que me odeia tanto?     

— Eu conheço o seu tipo, Marly Cooper — acusou Jane, apontando o indicador. — Uns dos piores que existem na face da Terra!     

— Mas que merda está acontecendo aqui? — ouvi Tiago murmurar, inquieto. Me apressei em fazer alguma coisa, já que eu ainda estava perdido com o modo como tudo estava acontecendo.     

— Jane, controle-se, por favor — eu mandei, entredentes. Era uma confusão grande demais pra resolver, então busquei adiar aquilo. — Depois eu quero conversar com você, ouviu? — eu disse para Marly, muito sério. 

Então me desviei de quem estivesse na minha frente e me coloquei a subir a escada, porque só o que eu queria naquele momento era falar com a Taylor.     

— Louis, espera! — pediu Marly, mas eu a ignorei e continuei subindo. No corredor de cima, contudo, acabei encontrando uma estranha, que usava um vestido todo florido e um avental com babados.     

— Ah, olá — ela nos disse, assustada com a quantidade de gente que havia ali, porque os outros tinham me seguido.     

— Desculpa, quem é você? — eu resolvi perguntar, depois que decidi agir com educação. Ela não era tão jovem assim e parecia ter mais de trinta e cinco anos; a sua pele era morena, ela tinha os olhos castanhos e os cabelos escuros – quase tão escuros como os da Taylor.     

— Hoje é o primeiro dia dela — a voz do Tiago soou atrás de mim, agitada. Logo, ele já estava próximo dela, com uma mão em seu ombro como se fossem íntimos. — Mamãe colocou um anúncio de emprego na internet, então ontem bem cedo a Nai foi entrevistada e agora trabalha no lugar da Claire. Isso não é o máximo?   

— Prazer, o meu nome é Naiara — a mulher disse, nos dando um sorriso largo e um ar confiante. — Naiara Souza.     

— Nai o quê? — perguntou Jack, confuso.         

— Naiara — respondeu ela, porque o nome realmente era difícil de se pronunciar. — Eu sou brasileira — explicou, como se visse a engrenagem do cérebro de cada um ali querer parar.     

— É bom conhecê-la, Naiara Souza — lhe cumprimentei, com a língua meio presa ao tentar falar o seu nome. — Eu sou Louis Tomlinson, o namorado da Taylor, que é a filha da dona da casa..., mas eu tenho que resolver um problema agora, então com licença. 

Dei as costas pra ela após um aceno com a cabeça e fui direto pro quarto da Taylor, me esquivando dos outros corpos atrás de mim. E é claro que dei de cara com uma porta trancada. Revirei os olhos e passei a bater freneticamente.      

— Taylor, abre a porta — mandei, impaciente.   

— Louis, desculpe não ter dito nada antes… — Alguém segurou o meu braço e então Marly se colocou à minha frente, muito nervosa – até me surpreendi ao vê-la sem tanto controle, na verdade. — Ela não queria que eu falasse e eu achei que seria bom se a acompanhasse, já que eu não poderia impedir. Eu não queria que ela saísse por aí sozinha.     

— Você é mesmo uma cara-de-pau, não é? — Jane berrou, em algum lugar ali perto. — Todo mundo aqui sabe que você é uma mentirosa! 

Continuei batendo na porta e ignorei todos.

Para a felicidade da minha paciência, a porta foi aberta e eu entrei com tudo. Todos vieram junto comigo, inclusive Naiara, que estava na porta observando tudo com uma ruga entre as sobrancelhas. Bufei com aquilo, afinal de contas, eu precisaria de privacidade.     

— Jane, será que poderia me ajudar, por favor?  

— Entendi — disse ela, assentindo com a cabeça. — Todo mundo saindo agora! — mandou, e então empurrou consigo Tiago e Jack.     

— Eu entendo que...    

— Eu já disse que converso com você depois — interrompi Marly, que finalmente parecia mais recomposta. — Se está tudo certo, então por que está tão nervosa assim?     

— Só não quero que ouça as coisas que ela está jogando injustamente contra mim, pra depois tirar conclusões precipitadas — explicou, falando da Jane. — Seria errado...     

— Tudo bem — eu prometi, sem muita convicção enquanto levantava as mãos —, não vou tirar conclusão nenhuma.     

— Obrigada.

Então ela olhou Taylor por alguns segundos, depois pra mim e, finalmente, seguiu com o resto do pessoal, fechando a porta em seguida.

Taylor, que esteve aquele tempo inteiro encostada na parede com a cabeça baixa, continuou quieta e na mesma posição.     

— Me explica tudo sem hesitar — mandei, sendo bem direto. Tentei me controlar e não gritar, exigindo que parasse logo com aquilo e deixasse de ser infantil. Mas eu precisava entender o seu ponto de vista, saber como ela tinha chegado naquilo, quem a ajudou e todo o resto ao qual eu tinha o direito de saber. 

Havia tantas perguntas que eu sequer sabia por onde começar e a raiva nem era a sensação maior ali. Na verdade, ela se dissolveu completamente assim que Taylor olhou pra mim.

Eu não queria, mas acabei sentindo dó, junto com um misto de decepção, porque percebi que ela estava exatamente como os usuários de drogas que viviam vagando pelas ruas pobres de Londres, com aquela mesma aparência, como se fosse desabar no chão. E eu os desprezava tanto…, que sequer enxerguei antes que Taylor estava da mesma maneira.     

— Eu não tenho que explicar o que fiz — disse ela, desviando os olhos de mim. — Não temos mais nada, o que eu faço não importa.     

— Ah, me poupe — joguei, me aproximando e puxando o seu braço para que ela me olhasse —, você me deve explicações, sim!     

— Explicar por quê? — rebateu ela, tentando me empurrar. — O que adianta? Você não vai me entender,  de qualquer forma. Vai achar que eu estou louca, que eu não tenho jeito...     

— De onde diabos você tirou isso? — revidei, perplexo. — Acha que eu sou o quê, Taylor? Uma pedra cercada de espinhos? Que eu sou incapaz de entender alguma coisa?     

— Não!     

— Jane me disse que você está usando drogas — eu a soltei, mas não me afastei um centímetro sequer —, e que é injetável. Com certeza é heroína, não é? Quando você começou a usar essa coisa?!    

— Vocês dois não deveriam ter descoberto!...   

— É, eu já sei que você queria esconder tudo pelo resto da vida — assenti com a cabeça, meio sarcástico —, mas você não tinha o direito de querer apagar de repente o que nós dois vivemos esse tempo todo, não depois de tudo o que tivemos juntos, desde o dia em que nos conhecemos. E também não tinha o direito de terminar comigo tendo a preocupação como motivo principal, até porque isso não faz a porra de sentido nenhum, se quer saber!     

— Eu fiz você se estressar tanto esses dias, Louis…, estou fazendo isso agora, não é mesmo? — sussurrou ela, enquanto observava o meu rosto. — Eu vi que você nem estava mais dormindo direito, que estava perdendo as aulas, perdendo o foco na escola, recebendo detenções e...     

— É isso aí. — Eu dei de ombros, lhe interrompendo. — Estava ruim pra mim mesmo, mas e daí?     

— E daí que eu não quero mais prejudicar a sua vida — disse Taylor, cabisbaixa. — É ruim ter que terminar tudo, mas eu vou ficar feliz quando souber que você está bem.     

— Vai ficar feliz quando eu ficar bem? Quando eu ficar bem?! — exclamei, ficando mais pasmo a cada palavra. — Você não pediu para que eu fizesse alguma coisa ou para que eu me sentisse mal. Jane também não, nem a minha mãe, nem mais ninguém, porra! Eu tinha a consciência de que estava fazendo as coisas da forma errada, sim, de que nada estava bom pra nenhum de nós dois, mas eu também sabia que iria encontrar uma forma de resolver tudo. Acreditei que você criaria um pouco mais de responsabilidade sozinha, que teria mais confiança em si mesma. Tudo estava uma merda e eu sei disso perfeitamente — passei a mão pelo cabelo, desamparado. — Eu me irritei, gritei com você, eu me frustrei, tive vontade de jogar tudo pra cima..., só que eu não fiz isso. Eu não dei um ponto final em nada.

Ela suspirou com o meu pequeno discurso.

Parecia derrotada com os meus argumentos.     

— Você... você é perfeito pra mim, Louis, mas me escuta..., eu não mereço nada disso, você não entende? Você nem deveria estar aqui dando toda essa atenção pra mim.     

— Por que acha isso?      

— Eu... tenho um problema — disse ela, meio hesitante. — Conheci algumas pessoas e não dá certo com todo o mundo. Fui uma das que não teve sorte. Não acho que o tempo vai resolver, mas uma hora ou outra eu vou conseguir ignorar esse detalhe e seguir com a minha vida.     

— Do que está falando?      

— Olha só pra mim — ela se afastou, respirou fundo e então tirou o seu moletom e o short, ficando apenas de calcinha e sutiã —, eu estou horrível — disse Taylor e assim começou a chorar. — Eu já não me dava tão bem em ter que me aceitar do jeito que eu era e agora está pior. — Ela tentou limpar o rosto e tirou os olhos de mim. 

Suspirei, exausto. Era um assunto tão delicado e nós dois já tínhamos falado tanto sobre ele, que eu comecei a achar que nunca conseguiria fazê-la enxergar o que eu enxergava. Durou até os dias em que passamos a fazer amor, onde eu achei que ela finalmente iria ultrapassar aquilo. O problema foi que, depois do acidente e do luto, eu mal toquei nela e algo sempre me tirava do sério.      

— Eu não tenho mais o que dizer sobre isso agora — continuei, desolado. — Tudo o que eu posso pensar em falar, eu já disse algum dia. Eu não sei mais o que fazer..., porque é difícil resolver esse problema se você só escuta a si mesma. — Me aproximei e tentei acariciar o seu rosto, mas ela não deixou e se afastou.   

— Eu não acredito que você continua achando a mesma coisa. Não está vendo, Louis? — insistiu Taylor, e então abriu os braços para que eu pudesse ver melhor. — Você não pode continuar pensando da mesma forma depois de me ver desse jeito! 

Eu a observei durante alguns segundos. Os ossos abaixo de seus seios estavam bem salientes, sim. Os ombros, seus braços, pernas e até mesmo o rosto já estavam magros demais. O corpo que ela tinha antes tinha sumido completamente. Ela poderia até perder mais peso se continuasse vivendo do jeito que estava, mas aquilo não mudava o que eu sentia.     

— Eu entendo o que quer dizer — falei, muito aflito — e antes achei que você precisava mesmo ir ao hospital — olhei para o seu antebraço esquerdo e me assustei ao vê-lo —, porque consigo enxergar o quanto está mal. Qualquer um consegue, mas isso é porque você começou a usar aquela coisa, Taylor.

Tive que fazer as contas mentalmente.

Ela passou quase um mês inteiro em depressão e… Aquelas lembranças eram muito ruins e trágicas. Fiquei bastante desconfortável relembrando daquilo, mas precisei organizar as ideias. Houve a morte do Sr. Wells e a depressão aconteceu por causa daquilo; Marly conheceu Taylor e então ela melhorou…

Parei de respirar por uns segundos. Marly tinha mesmo a ver com aquilo e por isso ficou nervosa quando viu que eu já sabia de tudo?     

— Então por que ela é linda e eu não?     

— Estaria falando da Marly?     

— Não! — respondeu Taylor rapidamente, e então abraçou o próprio corpo. — Eu estou falando das garotas que conheço, mais especificamente de uma.     

— Por isso começou a se drogar?      

— Eu fiquei muito mal com a morte do papai, Louis — ela me lembrou após um suspiro, e então a minha cabeça ficou mais leve quando as coisas começaram a se organizar. — E eu melhorei quando..., você sabe.     

— Eu fiz tanto — murmurei, mais pra mim do que pra ela, e me senti um tolo ao lembrar dos dias péssimos que foram aqueles.

Eu me preocupei tanto com ela, principalmente quando começou com a história do suicídio. E também havia a escola; a distância que se criou entre nós três. Eram tantas as coisas, que eu realmente me aliviei quando Taylor deu o seu primeiro sinal de melhora. Eu nunca poderia imaginar, no entanto, que aquela melhora era somente uma enganação. Uma enganação dela mesma.     

— Sei que não parece mas, quando faço isso, eu me sinto bem comigo mesma. Muito bem mesmo — ela disse, na defensiva. — Tive que terminar o nosso relacionamento porque eu achei que você me deixaria quando descobrisse tudo. Eu não sei se aguentaria caso acontecesse. Seria mais doloroso do que foi quando eu deixei você.     

— Você está pensando da maneira errada — eu disse, indo até as suas roupas para pegá-las do chão. 

Não adiantaria em nada, infelizmente, porque eu continuaria sem saber o que fazer. O que eu tinha certeza era que deixá-la, como ela achava que eu a deixaria, não era algo que se passava pela minha cabeça, mesmo que ela achasse que a nossa relação já tinha terminado.      

— Eu não sou louco, entendeu? Tudo bem que eu não concordo com o que você está fazendo, mas isso não significa que eu vou abandoná-la ou deixar que se dane — falei por fim, entregando as suas roupas para que ela se vestisse. E Taylor parecia confusa com as minhas palavras, como se duvidasse, ou até mesmo desconfiasse.     

— Eu...     

— Você não acredita em mim?  — Era importante que ela visse que eu a amava, independente de qualquer coisa.      

— É que eu ainda acho que você vai estar perdendo o seu tempo — falou ela, abraçando o próprio corpo novamente. — Tem coisa muito melhor pra você.   

— Taylor, para com isso — pedi, frustrado. — Não é o que eu mereço, é o que eu preciso. E eu...  preciso de você — enfatizei, tentando ser bem claro.     

— Você é louco — reclamou, mas eu acabei sorrindo sem querer. Era mais fácil entender as coisas agora, portanto me senti mais leve e as ideias já estavam se encaixando aos poucos. 

No entanto, aquela leveza não durou por muito tempo, afinal de contas, lembrei que ela ainda era uma viciada. Fiquei sério novamente e logo comecei a perder o controle aos poucos...

O que eu faria?!

Parecia que, só depois de todo aquele papo, do desenrolar da confusão e da compreensão sobre o que realmente estava acontecendo, eu fui enxergar o quão complicada era a situação em que todos nós estávamos metidos.      

— Você… você é uma viciada em drogas — murmurei, atordoado. Comecei a surtar, assim como quando Jane falou aquilo. As minhas mãos suaram e o meu coração passou a acelerar.     

— Como é? — perguntou ela, nervosa.     

— Que parte você não entendeu? — perguntei, confuso. — Até mesmo uma criança entenderia caso eu afirmasse que ela está dependendo de doces.     

— Não, você está errado — ela falou, como se me confortasse. — Eu não tenho vício em nada, posso parar quando eu quiser. — E fiquei sem saber se tinha ouvido mesmo aquilo. Ela com certeza estava brincando. — A única coisa que precisamos nos preocupar agora é em esconder isso.     

— O quê? Não, Taylor, me escuta...     

— Você quer que eu seja presa?     

— Não é isso o que estou dizendo — esclareci, inquieto —, me refiro ao fato de que você é uma dependente química.     

— Para com isso — mandou ela, um tanto brava —, eu já disse que posso parar. Eu só não quero. Não vejo por que parar, não tenho um porquê pra parar.     

— Isso está fazendo mal... — Eu estava desesperado pra tentar enfiar aquilo na cabeça dela. — Heroína é uma das piores drogas que existem, você não sabia? Eu lembro que falaram isso nos trabalhos da escola naquela época.     

— Será que você poderia parar? — Taylor logo ficou agitada. — É por isso que eu não queria contar nada a você. Eu sabia que não entenderia.

Fechei os olhos e respirei fundo, muito pensativo. Eu precisaria tentar uma outra forma de lidar com aquilo, senão ela se afastaria de mim, como quis quando tentou terminar.     

— Tudo bem, vamos pensar sobre isso depois.  

— Nós não temos nada pra pensar, entenda isso — disse ela, dando de ombros. — Eu não vou deixar algo que está me fazendo bem.     

— Mas isso é uma coisa limitada, Taylor, como um remédio, só que um remédio maligno, que não serve pra merda nenhuma — tentei explicar, pelas coisas que eu lembrava dos projetos escolares. — É algo ilusório, você acha que está bem, mas na verdade não está!     

— Então eu não vejo problema em continuar usando, afinal de contas, essa tal ilusão me ajuda a continuar firme — argumentou ela, calma demais. — Sei que tudo parece ficar pior quando o efeito acaba, mas ela..., eles me disseram que é temporário. 

Me alertei ao lembrar de algo importante.     

— Afinal, como foi que você chegou até essa coisa? — questionei, tentando não soar como se estivesse a acusando. — Quem deu isso pra você?    

— Eu... — Ela parou do nada e olhou para as próprias mãos. Demorou alguns segundos para que, enfim, prosseguisse: — Eu fui atrás sozinha, com a minha própria ajuda.     

— Você está mentindo — observei, porque era óbvio que não era verdade. — Foi Marly quem indicou? Ela sabia de tudo e não me falou nada, e você só “melhorou” depois que ela apareceu.     

— Ela não falou nada a ninguém e eu fico feliz com isso, se quer saber. Marly não tinha o direito de tomar decisões no meu lugar e, se eu quisesse que você soubesse, já teria falado — ralhou Taylor, sem me olhar. — Ela me entende e não me força a fazer nada. Pare de culpá-la, ela só quer o melhor pra todos nós.

Levantei as mãos em rendição e desejei que eu não estivesse mesmo me precipitando. Eu não queria julgar Marly Cooper, mas tudo parecia se encaixar tão bem que eu sequer conseguia ignorar.     

— Nós não terminamos, só quero deixar claro.   

— Louis...     

— Taylor — me aproximei dela e segurei o seu rosto —, eu já descobri tudo e eu realmente não entendi até agora o porquê de você querer fazer isso comigo. Você já sabe o que eu penso e o que eu não vou fazer. Pra mim não faz sentido o que você acha — insisti, atordoado. — Eu amo você, não importa o que esteja passando     

— Só que vai ser ruim ficar com você e saber que vai tentar me impedir de fazer o que eu faço porque acha que é o certo — desabafou ela, e então começou a coçar o braço, me deixando mais aflito ainda.     

— Eu vou me informar melhor sobre isso — prometi, me referindo às drogas. Eu não sabia nada sobre a heroína, apenas que fazia mal de alguma forma. — E, se eu ver que é o melhor que se tem a fazer, vou tentar impedi-la, sim.     

— Não! — Taylor ficou tão nervosa que se afastou com grosseria. — Você não precisa se preocupar com nada, Louis, eu não preciso de ajuda, entendeu? Não tenho motivos para recebê-la.     

— Tudo bem, tudo bem… — eu disse, me aproximando mais uma vez. — Não vamos mais conversar sobre isso hoje.     

— O que vai fazer? — perguntou ela, tensa.     

— Eu não vou fazer nada — menti, desviando os olhos dela. — E você vai me fazer mal se me deixar, é isso o que você quer?      

— Não, é claro que não — disse Taylor, e então me abraçou, tão delicada que eu achei que fosse quebrar. — Eu nunca faria mal a você.     

— Então não termine o que temos, por favor.E

Ela me fitou por alguns segundos e, lentamente, assentiu. Me senti mais leve com aquilo, eu sabia o motivo dela para querer terminar, mas eu não entendia. E, depois que descobri tudo, me senti na obrigação de fazer alguma coisa. 

Fazê-la mudar de ideia seria uma delas, porque nós dois não sabíamos com o que ela estava lidando. Ela achava que sabia, mas estava na cara a sua ingenuidade. Provavelmente o babaca que queria apenas o seu dinheiro lhe encheu mentiras, quando percebeu que ela estava atordoada demais para pensar em algo melhor.

Não evitei em beijá-la.

Eu senti a falta dela, a experiência de passar um dia inteiro longe da Taylor, achando que tudo estava prestes a virar um nada, era agoniante. Se não fosse pelos conselhos da Jan, pelo broto de esperança que ela tinha colocado dentro de mim, eu com certeza teria pressionado Taylor até que ela explodisse, e então pioraria ainda mais as coisas.      

— Você está suando frio — sussurrei, enquanto acariciava os seus cabelos. Olhei para os seus olhos e vi que as suas pupilas estavam mais grandes do que o normal, o que com certeza não era um bom sinal. — O que está...     

— Eu preciso de... — ela me interrompeu e não continuou a frase. Logo entendi qual era o problema ali. — Eu ainda não aprendi a controlar isso. — Então saiu de perto de mim e foi até o seu armário. De lá, tirou o que eu nunca imaginaria chegar perto, como aquele saquinho cheio de pó.

Fiquei sem reação, afinal, eu não poderia tirar aquilo das suas mãos e sair correndo, pois acabaria perdendo a sua confiança. 

Taylor se movimentou de uma forma que eu nunca sonhara. Era como se fizesse aquilo desde sempre, como se fosse algo natural. E ela não se acanhou ao esquentar aquele pó junto de um líquido meio verde, para depois injetar tudo no braço esquerdo. Após aquilo, o ar calmo que ela apresentou pra mim durante todos aqueles dias apareceu. E era mais o prazer puro, na verdade. 

Aquele assunto não tinha terminado. Ela achava que eu iria ignorar e deixar tudo por encerrado; achava que eu iria aceitar a sua decisão. Mas eu não estava nada conformado, porque eu tinha certeza de que o que ela fazia era errado. Logo, voltei ao meu normal e me aproximei da Taylor, que estava encostada na cama.     

— Olha o seu braço, Taylor, ele está... assustador — comentei, me ajoelhando e observando aquilo. Parecia eczema, mas não era, porque Taylor não sofria de coceiras noturnas. E, quando ela tinha aquele tipo de tique nervoso, não era exatamente no lugar onde se picava. 

Eu já tinha visto várias coisas desagradáveis, mas também interessantes em livros de medicina para universitários – geralmente quando estava entediado o bastante para ir até a biblioteca local –, e eu me recordava muito bem do que era aquilo que Taylor tinha no braço. Não tinha a ver com a droga, mas sim com a maneira como ela estava a administrando.     

— Não sei por que ficou assim — murmurou ela, mas afastou o seu braço de mim e o cobriu. — Talvez seja alergia, não sei.     

— Não é alergia, isso se chama trombose — afirmei, preocupado. — E você deveria se consultar com o Dr. Jimm. Você está injetando a agulha sempre no mesmo lugar e isso está entupindo a veia do seu braço. É mais um motivo relevante pra você parar com isso. Os coágulos podem se soltar e parar no seu coração, Taylor, e então você verá o quanto ficará pior.     

— Sem problemas — disse ela, e então levantou e começou a pegar os objetos que estavam ali. — Tudo vai dar certo.     

— Você ficou louca? — perguntei, também levantando. — Vai ficar muito perigoso se você continuar entupindo as suas veias.     

— Eu posso me picar em outro lugar… — falou Taylor, guardando as coisas que tinha na mão.     

— E quanto ao coágulo que você criou? — persisti, indignado com o seu desinteresse. — Você vai precisar de medicamentos ou então isso pode causar uma parada cardíaca. Aliás — acrescentei, mais agitado que o normal —, mesmo que você use a seringa em outros lugares, o que vai ser das suas outras veias? Vai foder com o resto delas?      

— Eu vejo isso depois, 'tá bem? — ela tentou me confortar, muito calma. — Vou pensar sobre, não se preocupe. 

Tentei não mostrar a minha indignação e resolvi calar a minha boca pra deixar que ela achasse que estava tudo certo. Eu pensaria em uma solução logo e tinha esperanças de que pudesse encontrar algo que pudesse ajudar.     

— Acho que Tiago também já sabe o que está acontecendo — mudei de assunto, depois de bufar. — E, se ele souber mesmo, tenho certeza que vai contar tudo pra sua mãe.     

— O quê? — Ela me olhou, meio devagar. — Como assim ele sabe?     

— Ele está aqui, Taylor, e viu quando a Jan quis quebrar a cara da sua amiga — expliquei, tentando não julgar Marly novamente —, mas eu não afirmei nada, é só uma ideia.     

— Ele não pode saber — disse ela, e então coçou os olhos. — Se a mamãe souber, não sei o que ela pode fazer comigo.     

— Talvez expulsá-la de casa?      

— Eu...     

— Era uma brincadeira — falei, sem muita convicção. A mãe da Taylor, aquela mulher chamada Tânia Hampton, era alguém que me surpreendia muito. E, por isso, era difícil ter certeza do que ela faria caso descobrisse. — Jan pode ter dito algo que justificasse a confusão.     

— Tem certeza?     

— Esqueceu que a sua melhor amiga tem o dom de mexer com os pensamentos das pessoas? — eu disse, tentando confortá-la. — Mas... eu vou ter que conversar com uma outra pessoa agora — completei, bem exausto. 

Eu precisava saber o que Marly diria, porque o meu nível de desconfiança tinha ultrapassado um limite invisível (invisível mas importante).     

— Você vai voltar? — perguntou ela, com os olhos quase fechados. E, mais uma vez (talvez a milésima?), fiquei revoltado comigo mesmo por não ter percebido logo o que poderia estar acontecendo.     

— Você quer que eu volte?      

— Eu senti a sua falta quando foi embora — sussurrou ela, me fitando. — É claro que eu quero que você volte. 

Suspirei meio frustrado, afinal de contas, ela realmente não queria ter feito aquilo. E vê-la triste e chorando por minha causa era um pesadelo.     

— Vai ser difícil se livrar de mim — brinquei, e então a beijei durante algum tempo. — Eu volto depois… T

Taylor então assentiu e eu saí dali, apreensivo porém mais aliviado, porque eu finalmente sabia o ponto pelo qual eu deveria começar. Tentar resolver algo sem saber qual era o problema com certeza era impossível, mas já não era mais o meu caso. 




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