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História Friends - Louis Tomlinson - 074. Tarde...


Escrita por: sunzjm

Capítulo 74 - 074. Tarde...


Fanfic / Fanfiction Friends - Louis Tomlinson - 074. Tarde...

LOUIS

Eu pensei muito no que falar. Eu tinha passado quase a noite inteira remoendo coisas que já haviam se passado; pensei na depressão que Taylor teve, nas tentativas de suicídio, na sua mudança de aparência, na sua mudança de personalidade e nas suas saídas repentinas. 

Eu pensei até mesmo nas coisas que Marly falou para mim. Refiz a linha de raciocínio várias vezes para encontrar um buraco pelo qual eu conseguiria passar, e tudo porque eu não estava com confiança o suficiente, afinal, tinha uma grande probabilidade da Taylor não mudar de ideia e preferir continuar com aquela tolice.

E eu pensei tanto, mais tanto, que já tinha tudo decorado. Tudo pra não deixar nada passar. Eram respostas estratégicas para qualquer coisa que ela pudesse pensar em dizer. 

Contudo, eu não esperava que a Sra. Hampton levasse uma visita importante para ela exatamente naquele dia: no dia em que eu precisava muito conversar com Taylor, quando eu tinha que levá-la para algum lugar que não fosse o seu quarto.     

— É bom vê-los — disse ela, ao estarmos na sala de estar —, menos você. — Ela olhou com desprezo para Jack.     

— Não seja rude — Jane a repreendeu, irritada com a sua atitude. — Se conversasse mais comigo, saberia o que mudou na minha vida.     

— Enfim — Taylor suspirou, como se não tivesse ouvido as palavras da Jan —, eu já não aguentava mais continuar sentada naquela cadeira, estou exausta.     

— Você quer dizer drogada, certo? — murmurei, sem conseguir evitar. Senti Jack ficar desconfortável e Taylor me lançou um olhar impassível, talvez meio desconfiado?     

— Você está bem? — perguntou ela, fingindo que não tinha me ouvido e vindo me abraçar. Eu retribui, é claro, mas acabei me sentindo como se estivesse errando. Se Jack não tivesse falado aquilo noite passada, a minha cabeça não estaria tão embaralhada daquele jeito.

Eu me perguntava se seria mesmo necessário tanta rigidez assim ou que eu mostrasse a minha total discordância, porque uma leve impressão me incomodava: a de que Taylor simplesmente se acomodaria ou que não me levaria tanto à sério. Minha falta de confiança colaborava com a confusão, portanto eu sabia que sozinho eu não conseguiria nada. Jane iria me ajudar com aquilo e ela sabia que tinha que se controlar.

Era algo que nós dois precisaríamos fazer.     

— A sua mãe vai se irritar se levarmos você para sair um pouco? — eu perguntei, buscando focar no problema.     

— Sair? — jogou Taylor de volta, cautelosa. — Pra onde?     

— Vamos conversar.     

— E por que temos que sair pra conversar se podemos fazer isso aqui mesmo? — questionou ela, e então o seu olhar cauteloso saiu de mim para Jane e Jack.     

— Quer mesmo conversar sobre aquilo aqui?       

— Hã, eu... — Taylor pareceu pensar um pouco e depois negou com a cabeça. — Mas acho que a mamãe não vai me deixar sair.     

— Pergunte a ela — eu pedi, com um pequeno sorriso. — Eu estou aqui e tenho certeza que ela vai considerar isso. 

Dava para ver que Taylor não queria ter aquele tipo de conversa, mas eu estava disposto a insistir com ela.   

— Vamos — Jane se aproximou dela e colocou o braço sobre o seu ombro —, eu vou com você, Taylor. 

E então a levou de volta para a cozinha.     

— Tudo bem? — falou Jack, depois de segundos.  

— Não, estou nervoso.     

— Mas você já falou tantas vezes com ela...     

— Dessa vez é diferente — tentei explicar, confuso. — É como se eu já soubesse o que vai acontecer. 

Pra mim aquilo tudo não daria em nada. Taylor estava diferente, cautelosa demais, desconfiada e alarmada. Era como se estivesse com medo de Jan e eu. Agia como se fôssemos os vilões da história, como se estivéssemos ali para fazer o seu mal, de todo o jeito. 

E aquilo não era nada normal. Algo de outro mundo, na verdade, porque era suposto que ela entendesse o nosso apoio, que ela entendesse que a amávamos e que queríamos o seu bem. Por algum motivo, contudo, ela tinha mudado aquela ideia.     

— Ela deixou — informou Jane, assim que voltou. A rápida viagem até o Greenwich Park foi a mais tensa, estranha e apreensiva de toda a minha vida. Tudo porque Taylor agia como se fosse sair correndo do carro do Jack. Ela estava drogada, mas dava pra perceber a sua ansiedade pelo balançar das pernas – que durou a viagem inteira, por acaso.  

Eu não tinha pensado na possibilidade da Taylor achar que Jane e eu estávamos tentando fazê-la sofrer, então eu também fiquei ansioso. A verdade era que parecia que eu estava enfraquecendo e aquilo só serviu pra me deprimir. 

Após descermos do carro, precisei enrolar o seu braço com o meu ou então ficaríamos parados ali pra sempre.     

— Pra onde vão me levar? — perguntou ela, nervosa.     

— Taylor, o que está se passando pela sua cabeça? — questionou Jane, perplexa. Fui rápido ao lhe mandar um alarme via olhar, afinal de contas, não poderíamos soltar bomba nenhuma antes mesmo de começar a guerra.— Não vamos sequestrá-la — brincou, a fim de quebrar a tensão na atmosfera de Greenwich. — Essa é a nossa última opção.     

— O quê? — a voz da Taylor saiu trêmula, a sua respiração começou a acelerar e ela quase parou no meio do caminho. — Como assim?     

— Jan está brincando com você — tentei confortá-la, lhe puxando na direção de um carvalho. Era domingo, portanto estava cheio por ali, em todas as direções se encontravam pessoas, variando em gênero e tamanho, mas o carvalho para onde íamos parecia um bom lugar para se ter privacidade.     

— E por que está me puxando assim?    

— Porque eu quero estar perto de você. — Não era mentira, mas o meu motivo real não era aquele. — Eu não tenho mais o direito?

Ao ficarmos sob o carvalho, soltei Taylor e lhe dei algum espaço. Jane, Jack e eu ficamos de frente pra ela e eu desejei que aquilo não a intimidasse – ou que ela achasse que fosse uma espécie de muro a impedindo de correr. 

Pro meu alívio, ela apenas nos encarou de volta e cruzou os braços, esperando que nos pronunciássemos.  

— Você andou nos evitando, não foi? — mandei de uma vez, calmo. Não mostrei irritação nem nada, apenas continuei sério. — Por que não queria conversar?     

— Não é isso — murmurou ela, desviando o olhar. — Não posso continuar me picando em casa como fazia antes. Era mais fácil porque a Claire não estava em casa, mas agora mamãe contratou outra pessoa e eu não posso correr o risco.     

— Se você tem tanta certeza de que faz bem para si mesma — começou Jane, ao meu lado esquerdo —, então por que esconde isso das pessoas?     

— Isso é muito óbvio — respondeu Taylor e depois pareceu frustrada. — As pessoas não me entenderiam e me julgariam.     

— Como pode ter certeza? — insistiu Jane, e vi que começava a se irritar. — Se um grupo grande de gente está contra as drogas é porque algo está errado.     

— Vai com calma — sussurrei, para depois observá-la. Jane me olhou e depois assentiu, buscando se acalmar. Respirei fundo e me voltei para Taylor novamente. — Pode nos dizer quantos você conhece?   

— Quantos o quê?      

— Pessoas como você, é claro, os viciados — esclareceu Jane, e aquilo soou tão pesado que eu precisei fitá-la de novo, assustado. — Eu peguei pesado?  

— Muito pesado — respondi, e então olhei pro Jack. Foi ele quem aconselhou aquilo e Jane só estava seguindo o seu conselho. — Eu disse que partiríamos para esse lado somente depois que tentássemos o outro.     

— Eu sei, é que também estou irritada.

Depois daquilo, voltei a me acalmar e fitei Taylor de novo.      

— Conheço vários — respondeu ela, na defensiva. 

— São eles que dizem que as pessoas não passam de um bando de gente estúpida, ignorantes e acéfalas?     

— Hã... — Ela hesitou e eu tentei prestar o máximo de atenção nela, em qualquer expressão ou movimento que me mostrasse alguma coisa suspeita. — Na verdade, só uma pessoa me disse isso.     

— É uma mulher? — eu quis saber, rapidamente.   

— Não.     

— Certo. — Suspirei novamente, tentando lembrar das coisas que eu diria a ela. — Olha, eu disse que me informaria sobre esse assunto e estou... estou assustado com as coisas que li. Acho que você deveria nos ouvir primeiro.     

— Eu sei bem o que vocês querem — disse ela, meio ríspida, e parecia sequer ter me ouvido. — Só que isso não vai rolar de maneira alguma.

Àquele momento eu já estava quase explodindo, me fazendo mil perguntas de como Taylor poderia ser tão tola e ingênua.     

— Não seria mais inteligente se você sentasse na frente de um computador e fizesse uma pesquisa por si própria sobre o que você está consumindo? — eu joguei, mais alto do que eu pretendia. — Você não pode simplesmente acreditar nas palavras de qualquer um. Essa pessoa, seja lá quem for, quer apenas lucrar com você, só quer tirar o seu dinheiro e levá-la para uma estrada sem fim. Isso não faz sentido pra você?     

— Ela não quer lucrar, Louis! — exclamou a Taylor, nervosa. — Eu sequer toquei no meu dinheiro.     

— Então é uma mulher? — disse Jane, com uma falsa surpresa. — Estou imaginando aqui, mas vou ficar calada.     

— Não tocou no seu dinheiro? — perguntei, em alerta. — E como você está… — A minha cabeça se encheu de pensamentos indevidos e de coisas muito mais do que impuras. Quase congelei ali ao perceber que havia aquela possibilidade, sim, principalmente porque a garota à minha frente agora era uma dependente química. O meu cérebro rapidamente necessitou das verdades, assim como Taylor necessitava das doses.     

— Tenho os meus jeitos — murmurou ela, sem me olhar. 

Mas aquilo foi demais pra mim.     

— Pelo amor que você sente por mim, pela Jan ou por qualquer outra pessoa, Taylor Hampton — eu implorei, sendo indelicado ao ir até ela e segurar os seus braços —, você não anda por aí fazendo o que eu acho que anda fazendo, não é?!     

Ela franziu o cenho em confusão, mas depois suavizou a sua expressão ao compreender as minhas palavras. E foi o bastante para que abrisse a boca, incrédula e ofendida.    

— Eu não acredito que você pensou nisso... Me solta agora, Louis! — mandou ela, tentando se livrar do meu aperto.           

— Espera... — Eu estava desesperado, por isso acabei segurando forte demais o braço onde ela se injetava, mesmo sem querer.      

— Ai!, você me machucou. — Para piorar, ela começou a chorar. Eu estava tão atordoado que acabei esquecendo que não estávamos sozinhos ali.     

— Me desculpa — sussurrei, angustiado. Olhei para Jane a fim de pedir socorro, mas ela parecia mais atordoada do que eu.     

— O que você acha que eu sou, afinal? — perguntou Taylor, aos prantos. — Pensou mesmo que eu estivesse me prostituindo?     

— É você quem está fazendo tudo parecer bem pior — eu disse, me sentindo tão culpado que achei que merecia tortura. — Foi uma coisa involuntária, Taylor. Você não me fala a verdade e dá nisso, o que eu posso fazer?     

— Vamos voltar ao outro assunto, Taylor — sugeriu Jane, e então ficou do meu lado a fim de me dar apoio. — Você disse que não usou seu dinheiro pra comprar as drogas..., então o que foi que você fez?     

— Eu... — ela parou de falar e olhou em volta. Estava pensando no que nos dizer, é claro. E mais uma vez fiquei em dúvida sobre se ela hesitava falar a verdade ou se pensava em alguma mentira. — Ele viu como eu estava e... quis ajudar — começou, quase atropelando as palavras —, então disse que o meu preço seria apenas trabalhar, ajudando a separar as..  as drogas.     

— Minha nossa... — ouvi Jack murmurar, atrás de nós dois. Pra mim aquilo não parecia verdade e de novo o pensamento de que ela estivesse usando o próprio corpo para ganhar as doses encheu a minha cabeça. 

Lutei contra aquilo, mas foi mais forte do que eu. Era demais pra mim. Ela iria se irritar comigo, mas era o que eu deveria fazer pra saber a verdade.      

— Por que você está mentindo? — perguntei, sentindo os meus olhos arderem.     

— Mas eu não estou! — gritou ela, chorando ainda mais. E não me olhou de maneira alguma, o que foi me destruindo, afinal de contas, era um sinal muito óbvio de que ela continuava mentindo.— Para com isso, por favor...     

— Você não está me dando escolhas — expliquei, desesperado. — Me diz a verdade. É impossível acreditar que um traficante está trocando a droga dele por uma ajuda sem valor, ainda mais que você está péssima fisicamente, quase como se fosse cair a qualquer momento. A única coisa que me vem à cabeça é que ele...    

— Eu juro que não é isso, Louis! 

Ela finalmente olhou nos meus olhos ao dizer aquilo, também desesperada e magoada com as minhas palavras. Um alívio me preencheu, afinal, prostituição pra mim era até mesmo pior do que a própria heroína em si, ainda mais quando a pessoa que fazia aquilo era alguém que eu amava, que era minha. Eu com certeza entraria em colapso.      

— Eu nunca faria isso, conheço os meus limites — continuou ela, sem parar de chorar. Então os seus olhos correram por nós três, desamparados. — Eu vou aprender a controlar, 'tá bem?     

— É impossível de controlar, Taylor — disse Jack, e não fiquei surpreendido. Não era anormal que ele sentisse pena do estado dela. — Ou você para com as drogas e vive..., ou continua com ela e se mata aos poucos.     

— O que vocês leram não pode ser verdade — exclamou ela, só que pareceu confusa. — Eu conheço alguém que...     

— Que? — insistiu Jane, devagar.     

— Não pode ser — Taylor pôs as mãos na cabeça e então passou a andar de um lado pro outro. — Não..., eu devo estar louca — murmurou ela e estava claro que falava sozinha. — Vocês é que estão errados.     

— Você não está colaborando — eu disse, abatido. Reparei no calor que estava fazendo ali e desejei me refrescar, pois senti como se os meus neurônios estivessem cozinhando. — Está nos deixando confusos.

Então ela parou de andar.     

— Eu tenho que me acalmar — disse, com aquela coceira nos braços. — Já faz algumas horas que eu não... — Não precisei de tempo nenhum para entender o que ela queria dizer. Ela estava prestes a ter uma crise de privação.

Resolvi levá-la para casa. As suas crises agora eram uma das piores coisas que eu poderia ver. Era um sentimento que eu não poderia explicar ou expressar direito. Vê-la sofrendo pela falta das drogas; vê-la se sentir mal porque o seu cérebro havia interpretado que a heroína agora fazia parte do seu corpo; vê-la com mal-estar pela dependência química...

Era doloroso.

A nossa conversa sequer tinha terminado, porque eu fiquei com mais dúvidas ainda. À noite, durante os meus pensamentos, o fato de que ela poderia me induzir a pensar que havia prostituição no meio, não me passou pela cabeça. Era algo tão sem nexo, que o meu cérebro tinha descartado totalmente. 

E eu disse para mim mesmo que não perderia o controle mental, que conversaria numa boa. Contudo, depois da sua confissão de que sequer tocara no seu dinheiro, meus pensamentos foram completamente desconectados uns dos outros, como se o meu corpo estivesse desabando. 

E o alívio ao saber que não era aquilo o que estava acontecendo foi tão grande que eu esqueci até das outras coisas que pensei em tratar com ela.     

— Oh..., achei que fossem demorar — comentou a Sra. Hampton, quando nos viu passar pela porta principal. Taylor não estava bem, é claro, então apenas correu para a escada a fim de se drogar logo. — O que houve?     

— Hã... — Eu não sabia o que dizer como mentira, estava atordoado demais e perdido na confusão de ideias que flutuavam na minha cabeça.    

— Taylor discutiu com o Louis — disse Jane, após um pigarro. Tânia olhou pra mim e vi nos seus olhos várias perguntas.     

— Fiquei com ciúmes e acabei falando bobagem — resolvi dizer, a fim de fortalecer a mentira. — Eu ainda não tenho controle sobre isso. 

Então a senhora que eu conheci há pouco tempo apareceu com o Sr. Roberts. Eles vinham da parte de trás da casa dos Hampton e provavelmente estiveram dando uma olhada nas flores que haviam brotado lá. A conversa animada deles parou assim que nos viram ali.     

— Tudo bem? — perguntou o Sr. Roberts, fitando nós quatro. Percebi que olhava mais para mim do que para outra pessoa. E desejei ver em um espelho se havia algo de errado comigo.     

— Claro, está tudo ótimo.

Tânia sorriu, muito alegre.     

— Taylor vai também? — ele perguntou, apontando pro topo da escada.     

— Vai, eu vou lá chamá-la — disse a Sra. Hampton, distraída. — Eu pensei que ela não chegaria agora. 

Pro meu desespero, ela já seguia para a escada a fim de chamar Taylor.     

— Não, espera! — exclamei sem querer. Ouvi Jane murmurando algo e procurei me recompor quando senti o olhar de todos em mim. — Hã…, eu mesmo faço isso.    

— Tudo bem… — disse a Sra. Hampton, confusa com a minha reação. — Pode apressar o Tiago também?  

— Não precisa, eu já estou pronto — Tiago apareceu ali, vestindo bermuda e camiseta. Me aliviei por ninguém desconfiar de nada, então me apressei em subir para o segundo andar, evitando parar pra bater com a cabeça na parede por aquele dia estar saindo do meu controle. 

Bati na porta e chamei pela Taylor rapidamente. Por instinto, tentei entrar no quarto e, por um segundo, percebi que o correto seria a porta estar trancada. Quando entrei, Taylor já estava encostada na cama, quase dormindo; a seringa no chão, o isqueiro, o saquinho plástico já seco, a fina mangueira de borracha...  

Se Tânia tivesse entrado ali e visto aquela cena, ela iria pirar. Rapidamente me coloquei a trancar a porta e me aproximei da Taylor, irritado com a sua falta de atenção.     

— Ei! — Balancei os seus braços e ela logo abriu os olhos, atônita. Quando me viu, deu um sorriso e tentou acariciar o meu rosto. — Você deixou a porta destrancada, quer ser pega no flagra?    

— Deixei? Ah... — Ela parou de sorrir mas não pareceu aflita. — É que eu estava me sentindo tão mal que...     

— Shhhhh. — Levantei a mão para indicar que ela ficasse calada, então passei a pegar aqueles objetos do chão e os guardei dentro do seu guarda-roupas, me certificando de que estavam bem escondidos. — A sua mãe vai achar que você está doente, não está frio pra usar esse tipo de roupa  — observei, pegando uma outra blusa de mangas longas.     

— O quê? 

Taylor se levantou devagar e quis se deitar na cama.     

— Não — eu disse, caminhando até ela e a forçando a ficar sentada. — Sua mãe vai sair e quer que você vá junto.     

— Sair pra onde? — perguntou ela, pegando a blusa das minhas mãos.     

— Eu não sei, mas a sogra dela vai com vocês — avisei, dando de ombros. — Tânia não sugeriu ainda que você fosse ao Dr. Jimm? — eu quis saber, do nada. A Sra. Hampton não sabia que Taylor estava usando drogas, obviamente, mas ela não era cega, portanto podia ter notado a mudança na aparência da filha, porque já fazia mais de uma semana que ela tinha voltado do Canadá.   

— Na verdade, não — respondeu Taylor, após trocar a blusa. — Ela acha que estou assim porque não me alimento bem.

Taylor levantou e foi até a sua penteadeira; pegou de lá um prendedor e amarrou o cabelo, tão lentamente que era quase hipnotizante. Senti vontade de comentar sobre o quão péssima ela estava, mas me contive. Eu tinha consciência das suas fraquezas em relação a achar que não era boa o suficiente pra mim e ela já parecia mal demais para dar um passeio com a sua família.      

— Está pronta? — perguntei, ansioso. — Tem certeza que vai usar essa blusa? Você vai acabar desmaiando de tanto calor.     

— Não exagera — pediu ela, impassível —, eu estou bem. — Após aquilo, seguimos para a sala de estar. Tânia esperava Taylor lá fora junto do Tiago, do Sr. Roberts e da Sofiya.     

— Podem vir conosco, se quiserem — sugeriu Arthur, abrindo a porta do carro para a sua mãe entrar.     

— Vamos ficar bem, Sr. Roberts — disse Jane, sorrindo gentilmente. — Também estaremos ocupados em casa, não é, Louis?     

— Sim — concordei, sem tirar os olhos da Taylor, que esperava pacientemente para que a senhora sentasse no banco traseiro. — Eu apareço aqui amanhã — avisei, após lhe dar um beijo.    

— Tudo bem — disse Taylor, com um pequeno sorriso, e então entrou, seguida do Tiago. Eu estava preocupado, é claro, e também me senti mal por não ter continuado a conversa com ela. Fiquei muito desconfortável ao saber que ela não usava o seu dinheiro para comprar as drogas e também porque ela não tinha me contado toda a verdade.     

— O que a gente vai fazer? — perguntou Jane, depois que o carro seguiu pelas ruas de Greenwich.     

— Sinceramente, eu não sei. 

Falar para a Sra. Hampton era a única opção que tínhamos, porque Taylor estava disposta a continuar nos escondendo a verdade. E eu não poderia deixar que ela persistisse em continuar se drogando – era algo que eu não poderia mais aceitar. Mas precisávamos de uma outra solução, porque eu tinha a certeza absoluta que a sugestão do Jack não funcionaria.     

— Eu não sabia que ela estava tão alienada assim — foi o que ele disse, com as mãos apoiadas nos ombros da Jane. — O cara que está dando as drogas pra ela realmente fez um bom trabalho.     

— Não dá pra acreditar que ela esteja recebendo drogas em troca de apenas uma ajuda — comentei, apreensivo. — Ela estava falando a verdade quando disse que não está se prostituindo, mas não quer dizer o que realmente está acontecendo.     

Desejei que a Sra. Hampton não demorasse muito no passeio que faria para agradar a sua sogra, porque agora eu sabia que Taylor não poderia passar tanto tempo assim longe de casa. No máximo quatro horas, até que começasse a ter a crise, pelo que eu havia lido, e poderia ficar pior caso o tempo aumentasse.     

— Pode me dar uma carona? — perguntei ao Jack, inquieto. Fui para casa e o casal seguiu o seu caminho. Tomei um banho demorado e procurei pensar em alguma solução que não fosse contar a verdade para a Sra. Hampton. 

Deixar que Taylor continuasse era burrice. Eu não aguentaria vê-la se injetando por tanto tempo – não depois de saber que ela poderia morrer a qualquer dose que ingerisse; ou que se encrencaria com algum traficante por causa de confusões.

Depois de se passarem mais de duas horas, onde precisei aturar Michael Ruley e a minha mãe juntos, liguei pros Hampton, especificamente para o telefone fixo que ficava na sala de estar. 

Mas demorou tanto que a ligação caiu. Eles não estavam em casa ou então estavam e não tinham ouvido o telefone. Mas não era tarde para que todos estivessem em seus quartos, portanto não poderiam ter chegado ainda. Logo, fiquei preocupado e quase não consegui ficar quieto no sofá.    

— Louis, querido, há formigas aí? — ouvi mamãe perguntar, preocupada. Eu sequer tinha percebido que ela estava parada perto do sofá, me observando.    

— Não...    

— Certo. — Mamãe me analisou e demorou alguns segundos para falar de novo: — Mike quer saber se você não quer jogar xadrez com ele. Eu não sou muito boa naquilo, sabe?     

— Diga que eu não quero.     

— É só uma partida — insistiu ela, hesitante.     

— Não.      

— Por favor...     

— Mãe — deixei transparecer a minha irritação —, eu já disse que não quero. — Ela então suspirou e me olhou entristecida. — Não me olha assim, como se eu estivesse tentando andar sem ter pernas.     

— Só estou preocupada — confessou, depois pousou a sua xícara sobre a mesinha de centro e se sentou ao meu lado. — Você voltou a ficar daquele jeito de novo.     

— Estou me comportando na escola — retruquei, passando a clicar no botão do controle da TV sem parar em canal algum. — Pode perguntar aos professores, se quiser.     

— Ah, querido — ela suspirou, decepcionada —, não aja como se eu não me importasse com os seus sentimentos. Estou melhor por não receber mais telefonemas da diretoria, e isto é porque quero o melhor para o seu futuro, mas eu não quero que você esteja bem em apenas uma parte das coisas que faz.     

— Eu vou resolver.    

— Você é tão teimoso...     

— E não é você quem diz pra se ter esperança? — eu disse, lembrando das palavras dela quando eu era mais novo. — É o que eu faço sempre. Estou me esforçando e acreditando que tudo vai melhorar.     

— Seja o que for, não basta apenas acreditar.     

— Estou fazendo de tudo pra não ficar parado, mãe — falei, depois senti uma intensa vontade de desabafar com ela. — Eu… 

Mas talvez não fosse uma boa ideia. Ela e a mãe da Taylor eram amigas, portanto uma contava tudo a outra. Eu não poderia arriscar.     

— É a Taylor novamente, não é? — deduziu mamãe, acariciando a parte de trás da minha cabeça.     

— Sim — respondi, só que foi automaticamente. Eu sabia que, se ela insistisse e continuasse me fazendo aquele carinho como fazia quando eu era criança, eu acabaria contando tudo.     

— O que aconteceu?     

— Jay? — uma voz grave soou do outro cômodo e, pela primeira vez na vida, agradeci por Michael estar ali, porque mamãe logo se assustou, como se lembrasse da presença dele, e saiu após me dar um beijo na bochecha. 

Passou-se mais uma hora, o sol se pôs e Michael Ruley foi embora. Estranhei receber mensagens apenas do Daniel e dos outros caras, mas foi uma estranheza que durou apenas alguns minutos pois, enquanto eu cochilava, meu celular começou a tocar.

Era Marly Cooper.  




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