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História Friends - Louis Tomlinson - 080. Quebra


Escrita por: sunzjm

Capítulo 80 - 080. Quebra


Fanfic / Fanfiction Friends - Louis Tomlinson - 080. Quebra

𝗟𝗜𝗩𝗥𝗢 𝗧𝗥Ê𝗦

TAYLOR

Eu estive tão mortificada durante aqueles dias que mal consegui me manter de pé. Foi a pior coisa que eu já passei em toda a minha vida e tudo o que fazia eram promessas para Deus desejando sumir dali de alguma forma.

O meu corpo inteiro ficava em chamas mas, ao mesmo tempo, era como se eu estivesse em exílio no Polo Norte, em cima de um iceberg, sem abrigo e sem nada que pudesse me ajudar a sobreviver, prestes a morrer congelada.

Eu achei que morreria a qualquer momento, de alguma forma. Às vezes, eu não tinha ideia do que acontecia ao meu redor, devido a imensidão das dores pelo meu corpo. Eu só vomitava mais e mais, o meu estômago se revirava e parecia que até mesmo a saliva me provocava ânsia. Era uma confusão de sensações. 

Em um momento eu salivava muito, mas, em outro instante, lá estava eu com a boca seca e áspera como se não bebesse há séculos. Havia dores nos olhos, no peito, nos dentes, na cabeça… Tudo aquilo só me dava mais confiança ainda para bater com a cabeça na parede.

O problema era que eu não conseguia me manter de pé. Eu sequer tinha noção do tempo e a tortura pareceu durar por uma eternidade. Os movimentos involuntários nas pernas não me permitiam ficar equilibrada no chão, o meu corpo tremia e era como se eu tivesse tendo convulsões.

Eu parecia estar tão mal que geralmente não tinha ideia se estava adormecida ou acordada. Os corpos andando ao meu redor, me tocando, falando comigo, pareciam ser apenas vestígios de sonhos. A parte inconsciente do meu cérebro tomava conta de mim na maior parte do tempo e eu delirava. Eu não tinha consciência do que fazia, eu não sabia se a dor na garganta era devido aos gritos que eu mesma provocava sem perceber ou se aquilo tinha a ver com o fato de que o tempo sem beber água se prolongou e eu não havia visto.

Aquilo não demorou para se intensificar, é claro, portanto logo eu já estava alucinando. Eu via coisas horríveis, via o meu pai me olhando com sangue nos olhos. 

E ele brigava comigo.     

— Você é uma maldita inútil — era o que papai gritava, se aproximando mais e mais — e merece morrer, é isso. Você é um lixo, Taylor Hampton. É um lixo, entendeu? É o que não deveria existir. Todo o mundo odeia você. Você não vale nada. Por que simplesmente não morre de uma vez?

E então ele se jogava em cima de mim e eu começava a gritar, me encolhendo debaixo dos lençóis da minha cama. E eu chorava tanto, mais tanto... Os meus medos se tornavam reais e eu começava a aceitar que eu não passava do resto de alguma coisa.

Durante o primeiro dia em que passei por aquele tormento, vi a minha cama coberta de sangue seco. Aquilo era por causa dos machucados que haviam nos meus braços e nas minhas mãos, que, um tempo depois, eu percebi que foram causados pelas minhas próprias unhas. Aquele dia em que Louis me trancou no quarto sem o meu consenso pareceu ter durado um ano inteiro para acabar. Todas aquelas dores, os desconfortos e os gritos de mim mesma – que eu ainda poderia controlar – tinham se passado naquele dia em específico.

Pensar naquilo era algo como dizer para mim mesma que não poderia piorar. Só que piorou, é claro, porque o segundo dia – provavelmente o segundo dia – foi pior do que o anterior, onde as alucinações me atormentaram várias vezes; onde eu não sabia se estava gritando, se estava calada, se estava dormindo, morta ou viva.

Várias vezes naquele dia em questão eu achei que já tivesse morrido e ido pro inferno. Eu nem podia contar as vezes em que caí da cama, devido aos espasmos. E eu sequer sabia como ainda conseguia pensar, a minha respiração brincava comigo e geralmente eu me sentia sufocada.

Não tive tanta consciência do que eu pedia – ou se eu pedia –, mas de alguma forma eu sabia que iria me humilhar caso alguém aparecesse ali. Eu faria de tudo para que me deixassem sair, apenas porque eu sabia o que poderia tirar todo aquele sofrimento, algo que foi tirado de mim por Louis, que simplesmente decidiu fazer tudo sem levar em consideração o que eu sentia, como se mandasse em mim. 

A minha raiva com todos aqueles que estavam ao seu lado apenas aumentou. Houve um dia que eu não sabia o que era, se era manhã ou se era noite, em que alguém entrou no meu quarto. A pessoa havia entrado no quarto no momento em que os espasmos finalmente haviam parado, onde as dores se encontravam apenas nos braços e nas pernas; a ânsia também não me deixou em paz mas, pela primeira vez, percebi que não era o pior dos dias.

Eu também tinha a consciência de que estava deitada no chão frio do quarto e perto de uma poça de vômito. Quem estava ali era Louis, mas os meus olhos também captaram outras figuras no quarto. Ao se aproximarem para ver o meu estado, vi que era minha mãe, Jane, o Sr. Roberts e o Dr. Jimm. Não tive forças para ficar surpresa com a presença deles, mas desejei bastante que eles não estivessem ali para me internar.     

Olhei para Louis de novo, que já havia se agachado à minha frente e segurava o meu rosto, e senti mais raiva ainda dele quando vi que me olhava com pena. Porém, não consegui me afastar ou falar qualquer coisa, apenas o senti levantar um pouco a minha cabeça para colocar dois comprimidos na minha boca e me forçar a beber água.     

— Taylor, consegue se mexer? — Tirei os olhos do Louis e vi o médico se aproximando, enquanto analisava o meu estado físico. Tentei respondê-lo, mas só o que consegui foi continuar piscando na sua direção. — Ela passou dias demais sem se alimentar — foi o que disse, tocando a minha testa —, e está fraca, com tremores.    

— Mas como poderíamos fazê-la comer se ela não parava de se mexer? — perguntou Louis, a sua voz soando ao longe. Não fui capaz de acompanhar o diálogo que se seguiu, porque a minha vista foi escurecendo aos poucos e os meus sentidos foram me deixando… Eu estava morrendo?

Ao abrir os olhos novamente, senti os meus músculos rígidos e algo macio sob o meu corpo e a minha cabeça. Devagar, fui percebendo que estava deitada na minha cama. O que eu poderia ver do meu quarto parecia bastante normal, como sempre esteve. Aquela bagunça e a sujeira de antes foram embora, já que provavelmente alguém limpou o quarto enquanto eu estive desacordada.

Tentei umedecer os meus lábios, mas percebi que, se eu fizesse aquilo, iria acabar comendo a minha própria língua, sem querer. Eu não sabia por quanto tempo havia dormido, mas com certeza o pesadelo ainda não tinha passado. A minha vontade de consumir a heroína estava tão grande quanto o momento em que eu estive em crise durante aqueles dias. Tudo o que se passava pela minha cabeça era uma forma de conseguir sair dali, de ir embora e de nunca mais voltar, de viver com as minhas doses sozinha.

Quantos dias haviam se passado, afinal?

Quatro?

Seis?

E onde estava todo mundo?

Procurei fazer movimentos, mas depois desisti quando senti que iria vomitar. Eu estava sentindo tanto frio que os meus dentes começaram a se bater um contra o outro. Antes que eu percebesse, no entanto, vi pessoas se sentando dos dois lados da cama. Eram Louis e Jane, duas pessoas que, antes, eu achei que eram incapazes de me fazer sofrer tanto.

Senti a mão da Jane na minha mão e a do Louis na minha testa. Aquilo foi péssimo, porque eu acabei me contorcendo e me afastando, sentindo calafrios pelo corpo e detestando o toque dos dois.     

— Por que não vão embora? — consegui dizer, mas fiquei mais irritada ainda por não parecer tão clara. — Eu não quero ninguém perto de mim, não entendem? Não quero vocês dois perto de mim.    

— Eu vim deixar Valium — informou Louis, com a voz baixa. Não olhei para o rosto dele, pouco me importava o que ele ou Jane estavam sentindo.     

— Você está quase fervendo de febre — comentou Jane, e então arrumou o lençol à minha volta, meio trêmula. — E-eu não imaginava que era tão sério assim.     

— Me deixem em paz — pedi, exausta. Para a minha frustração, comecei a sentir o meu rosto molhar, os meus olhos embaçaram e o meu coração apertou. — Por que fizeram isso comigo?! Vocês não tinham o direito de me prender aqui dentro, de me fazer sofrer desse jeito.     

— Taylor…     

— Eu quero que vão embora — interrompi Louis, entredentes. — Conseguiram o que queriam, agora podem sair daqui e me deixar em paz.

Eles não falaram nada. Ouvi os seus suspiros, senti os seus olhares e então os vi saírem dali. Fiquei sozinha, chorando de raiva, de dor e de medo. Me esforcei a me sentar e logo engoli três dos comprimidos de Valium.

Acabei pegando no sono após alguns segundos. Ao acordar, me senti um pouco melhor. As dores ainda estavam ali, mas eram toleráveis. Eu consegui até levantar e ir à minha janela. Era noite e chuviscava lá fora. A porta do meu quarto continuava trancada, mas havia um prato fundo com sopa na minha mesa de cabeceira.

Eu ainda estava com fraqueza, portanto decidi engolir a comida. Aos poucos fui melhorando, fiquei absorta em pensamentos, mas sem querer pensar em nada. Louis vinha na minha cabeça e era o suficiente para me deixar irritada. Eu estava furiosa com o mundo inteiro, mas principalmente com ele, porque foi ele quem teve aquela ideia estúpida. Louis fez todo mundo concordar com ele e fez a minha própria mãe deixar que ele tomasse conta da situação. Era ele o principal responsável por toda aquela dor. 

Com um pouco da força voltando, contudo, precisei pensar em algo de diferente para que ele mudasse de ideia. E eu tentei no outro dia, após ter vomitado na privada o café da manhã.      

— Eu sei que não me quer aqui — disse ele, o tom baixo porém compreensivo —, mas preciso saber como está se sentindo.      

— Não estou totalmente bem.      

— Sinto muito que tudo tenha ocorrido desse jeito — falou ele, se aproximando, e eu logo fiquei em alerta. — Eu não queria que fosse assim, juro que não.   

— Tudo bem... — murmurei, impassível. Em seguida respirei fundo, para soar decidida. — Olha — comecei, sem olhar pra ele —, vocês querem que eu pare de fazer o que eu estava fazendo e... bom, é o que eu farei. — Era óbvio o seu olhar de desconfiança, mas continuei confiante: — Só que eu só vou conseguir parar com isso se usar mais uma dose, você entende? 

Olhei para ele, buscando a esperança em algum lugar. Louis coçou a cabeça, exausto, e ele parecia mesmo não ter dormido durante dias, os seus olhos também estavam vermelhos e o cabelo meio desalinhado.     

— Eu só preciso de uma dose pra parar de vez, Louis — insisti, sentindo aquela bendita vontade de chorar. — Você me consegue uma e eu faço o que você quiser, qualquer coisa, eu juro...     

— Não me peça isso como se eu fosse salvar a sua vida — pediu ele, com um tom de angústia —, por favor.     

— Mas você vai…     

— Não, eu não vou — negou Louis, rapidamente. — Vou estar jogando tudo pra cima depois de todo o esforço que tivemos esses dias.    

— Eu prometo que vai ser a última, Louis. — Juntei as mãos perto do meu rosto, suplicante. — Estou falando sério, por favor…     

— Você já passou pela pior parte — ele me lembrou, pegando nas minhas mãos e as desgrudando uma da outra. — Se você se drogar, vai pôr tudo a perder! 

E foi aí que me irritei de novo, porque estava claro que eu não iria conseguir o que eu queria, nem se eu me ajoelhasse aos seus pés, prometendo fazer qualquer coisa no mundo por ele.     

— Eu odeio você! — joguei, depois de começar a chorar e tentar machucá-lo com tapas e empurrões. — Odeio mais do que tudo!     

— Sinto muito por isso — revidou ele, procurando se defender —, mas eu não vou me desculpar pelo que fiz. Eu só espero que entenda algum dia.     

— Você me trancou aqui pra me deixar morrer! — exclamei, aos prantos. — Por que não me matou de uma vez, porra? Não era o que você queria?!     

— Eu não queria que você morresse, para com isso! — seu tom soou rígido enquanto ele segurava os meus braços, para me fazer olhar para ele. — Eu nunca quis isso, estava fazendo totalmente o contrário.     

— Não!...     

— Poderia ter usado esse tempo pra pensar melhor no que você andou fazendo esses dias — ele me repreendeu, mas parecia mais triste do que irritado.      

— Eu pensei e não me arrependendo de nada do que fiz! — Eu disse aquilo sem pensar, na verdade. Era a pura raiva e eu estava pouco me importando se parecia egoísta. — Espero que aquele dia com Adrian se repita, porque eu não pensaria duas vezes antes de dar a chance que eu deveria ter dado a ele há muito tempo. Fui uma idiota em tê-lo rejeitado e escolhido você! Eu duvido se ele faria o que você fez comigo, se me trancaria no meu próprio quarto pra me privar de fazer o que me faz bem! — exclamei, porque o que machucava Louis era o que importava de verdade. — Eu nunca mais quero ver você na minha vida, não quero mais nada do que já tive um dia com você, estou quebrando isso agora mesmo, entendeu?! 

Ele já havia aliviado a pressão no meu braço e então eu aproveitei para me soltar, bruscamente. Louis ficou me olhando, sua respiração acelerada, os olhos tristes, porém com o maxilar cerrado. Nada fez com que eu me arrependesse.

A sua voz falhou quando ele tentou revidar, por isso Louis ele resolveu não dizer nada, apenas assentiu e depois saiu do quarto, trancando a porta em seguida.

[…]

Eu não tinha ideia de que a minha vida iria piorar depois da crise de abstinência, e isto porque uma depressão cheia de desesperança e dor se apossou de mim. Todos os dias se tornaram vazios, o mundo pareceu ter sido invadido por zumbis, sobrando apenas eu no meio de todo aquele conjunto de corpos podres e fedidos.

Era uma dor psicológica e, naqueles dias em que passei sentada na cama, pintando vários desenhos que, segundo a minha mãe, me fariam melhorar e diminuir a ansiedade, percebi que aquela dor era pior do que a dor física, pior que os espasmos e as náuseas; era pior do que o calor/frio.

À noite, devido a insônia, eu caminhava pelo quarto com os braços cruzados, pensando em nada, muito desolada e desamparada. Eu sabia o que tiraria todo aquele meu desassossego, mas o problema era que eu continuava trancada naquele quarto, sem poder ir atrás da heroína.

Pela falta da tecnologia e das redes sociais, eu ainda não tinha exatamente a noção das horas e do tempo, apenas deduções. Provavelmente estávamos no meio do mês de junho e logo as escolas dariam férias para os seus alunos. 

Eu não tive certeza se Louis continuou na minha casa, porque ele não me visitou depois de todas aquelas coisas que eu havia falado. A única pessoa que entrava no meu quarto para deixar o meu café da manhã, o meu almoço, balas, juntamente com o meu chá e o meu jantar era Naiara, que fazia de tudo para me ignorar quando eu lhe pedia para que me ajudasse a sair daquele quarto sem que ninguém me visse.

Eu não a culpava, possivelmente ela havia recebido ordens de mamãe para não ligar para o que eu falasse, para me tratar com indiferença. No entanto, eu já não aguentava tudo aquilo. Eu estava irritada com as pessoas e elas me ignoravam. Elas me tratavam como se estivessem me fazendo bem, como se me trancar daquele jeito realmente fosse me fazer parar de pensar em usar a heroína. 

Em um dia daqueles, porém, consegui ficar surpresa ao ver Jane entrando no meu quarto, segurando uma bandeja com um sanduíche e suco de morango.     

— Você não me quer mais aqui, mas não posso simplesmente ir embora — ela falou, deixando a bandeja sobre a minha cama. Fiquei olhando pra ela, procurando alguma ira em seus olhos. Só que ela não parecia irritada, Jane tinha um brilho e um vestígio de sorriso na boca. Com um ar gentil, ela suspirou e arrumou as mechas ao lado do meu rosto. — Que bom que está voltando com a sua cor — comentou, aliviada —, você parece bem melhor.

Jane deixou a porta aberta...

Mas procurei não olhar naquela direção, os meus olhos com certeza deixariam transparecer o quão tentada eu estava para me levantar daquela cama e correr para fugir da prisão que se tornara a minha casa. Jane estava ali, mesmo sabendo da minha fúria com todos eles, ela queria a minha amizade de volta e, eu pensei, de algum jeito aquilo poderia me ajudar.

Eu poderia usar a sua gentileza a meu favor.

Eu poderia tentar fugir.     

— É bom saber que não está irritada comigo.   

— Eu nunca estive, Taylor — disse ela, parecendo honesta —, eu só estava triste pelo que havia acontecido.  

— E o Louis? — perguntei, involuntariamente. Jane então acariciou uma mecha de seu cabelo enquanto eu a fitava e, por um minuto, achei que iria ignorar a minha pergunta.     

— Ele me contou o que vocês conversaram…, você o magoou muito.     

— Ele também me magoou — rebati, ríspida.    

— Taylor — Jane suspirou, entristecida —, eu me pergunto várias vezes… por quanto tempo você vai perceber que o que faz destrói a si mesma e aos outros ao seu redor?

Eu sequer consegui processar aquela pergunta, estava dividida entre sair correndo e continuar sentada. Resolvi me levantar e saí de perto dela para caminhar de um lado pro outro, a fim de ver a dificuldade que eu teria para fugir de casa usando Jane.     

— Por quanto tempo vão me manter trancada aqui? — eu perguntei, parando de andar e a observando. — Acho que já passou tempo demais.    

— Vamos fazer isso até que você veja que usar heroína não faz bem — respondeu ela, rapidamente. — Naiara nos contou os pedidos que você fez a ela, Taylor...

Me frustrei com a minha própria idiotice, afinal, como eu não havia pensado que ela diria as coisas que eu falava para a minha mãe?      

— Ela não está mentindo...     

— Sabemos disso, e é uma pena.     

— Não, você não entendeu — falei, me aproximando dela e apoiando as minhas mãos em seus ombros. — Eu já saí da dependência física, Jan…, mas não vou conseguir terminar a coisa toda se continuar aqui dentro, sem ver quase ninguém.     

— Não tenho permissão pra deixar você sair.   

— Olha — suavizei a expressão, pensando rapidamente no que falar —, acha mesmo que eu vou me drogar sabendo que vocês vão me trancar aqui dentro de novo?     

— Eu não sei... — respondeu ela, confusa.     

— Passar por aquilo foi horrível — eu falei, mostrando o meu desespero. — Você não sabe o que eu senti aqui, Jan, e eu não quero aquilo de novo.     

— Você vai ter…, se usar a heroína novamente.   

— Sei disso e eu não quero isso pra mim. Tudo o que eu quero é poder viver de novo, poder sair lá fora e respirar um pouco, sentir o sol…, ver rostos conhecidos. É somente isso.

Ela ficou calada, me observando.

E aquilo durou quase uma eternidade.     

— É sério tudo isso?     

— Mais do que sério — menti, o tom meio baixo. — Ficar aqui dentro não vai me ajudar em nada. Eu já passei pela crise, não já? Só o que eu preciso agora é voltar para a minha vida de antes. Tentar refazer o que eu perdi.   

Jane quase ficou sem ar e logo me abraçou, quase chorando de tanta alegria. Fiquei desconcertada ao ver que eu não sentia nada ao enganá-la daquele jeito. Tudo o que vinha na minha cabeça era que eu estava a um passo de poder sair dali e me sentir bem de novo.

Só bastariam alguns passos...

Só alguns…     

— Você não sabe o quanto eu estou feliz por você — continuou Jan, me olhando com aqueles olhos brilhando. — Meu Deus, isso é tão bom. Os outros vão ficar tão felizes também e...      

— Quem está aqui?      

— Só eu — respondeu ela, distraída demais enquanto mexia no meu cabelo. — Hoje é sábado, então você deve saber que não é dia de trabalho para a Naiara. Sua mãe está na casa do Louis com o Sr. Roberts, eles foram conversar com Sra. Tomlinson e...  — Eu não escutei o resto. Aquele dia com certeza era perfeito para que eu saísse dali. Ninguém iria me impedir, porque não poderiam ver ou imaginar o que eu faria. — Se você quiser, eu posso ligar para o Louis e avisar.     

— Louis vai vir aqui? — perguntei, alarmada. — É que com certeza ele não vai me levar à sério, Jane, você o conhece.     

— Mas...     

— Por favor...     

Ela pareceu pensar e depois assentiu.     

— Podemos sair um pouco, o que acha?     

— Eu acho uma ótima ideia — falei, tão aliviada que acabei sorrindo. Antes mesmo que ela pedisse, comecei a tirar o meu pijama. Vesti uma calça jeans e um casaco fino tão rapidamente que quase fiquei tonta. Amarrei o meu cabelo e calcei o meu All Star, quase pulando de tanta ansiedade.     

— Você está de volta — comentou Jane, com um sorriso bobo. Ela então me deu as coisas e foi na direção da porta.

Era agora...     

— Espera! — pedi, tremendo. Jane parou no mesmo instante e então me olhou, confusa. O que eu tinha em mente com certeza não era algo que eu faria em sã consciência, mas aquilo era a única forma que existia para que eu saísse dali sem ser barrada por ela.     

— O que foi? — perguntou Jane, nervosa.

Me aproximei e me pus entre a porta aberta e ela. 

— Me desculpe pelo que eu vou fazer — falei, pegando toda a confiança e a vontade que eu tinha de ir embora —, mas eu preciso. — Antes que ela falasse alguma coisa, fui rápida ao sair do quarto e fechar a porta, a trancando lá dentro.     

— Taylor, o que pensa que está fazendo?! — perguntou Jane, já alterada. — Abre isso agora! — E começou a bater na porta, assim como eu fiz durante alguns dias. A chave estava ali, portanto joguei o objeto no corredor, longe o bastante para que ninguém desconfiasse que eu havia feito aquilo. 

E então eu corri.

Não pensei em nada.

Apenas corri.

Desci os degraus, atravessei a sala, ignorando os gritos da Jane, e passei pela porta como um flash. Olhei para os lados, procurando alguém que eu não queria encontrar e, ao ver que eu estava mesmo liberta, voltei a correr.

No desespero, não consegui imaginar um outro lugar que não fosse a casa da Marly. Mesmo estando extremamente desconfiada sobre certas coisas com ela, não pensei naquilo enquanto corria, apenas que ela era a única que poderia me socorrer.

Ao chegar em sua casa, com a boca seca, o ar me faltando nos pulmões, bati na porta, desesperada. Fiquei olhando para os lados enquanto esperava alguém me atender, morrendo de medo de que Louis tivesse algum tipo de sensor e percebesse o que eu havia feito. Logo, não tive paciência para continuar esperando e entrei naquela casa. Estava silenciosa e eu não me demorei ao subir os degraus que levavam ao quarto da Marly.

Logo eu já estava batendo na porta, impaciente.   

— Quem é? — ouvi a sua voz, grosseira.

Me irritei com a sua hesitação e abri aquilo que nos separava. Marly deu um gritinho e se levantou de onde estava, jogando o celular longe e pondo as mãos sobre a boca.     

— O q-que faz aqui? — perguntou, nervosa.      

— Eu tenho muitas coisas sérias pra conversar com você — falei, quase atropelando as palavras —, mas agora estou desesperada demais e precisando de ajuda, e você é a única que pode fazer isso.     

— Como assim? — Ela franziu o cenho e se aproximou, ainda hesitante. — Eu achei que estivesse trancada naquele quarto, eu…     

— Eu estava — lhe interrompi, impaciente —, mas consegui fugir. Toda aquela merda foi um pesadelo, mas eu não quero falar disso agora. Preciso que me arranje uma dose para eu me acalmar e pensar melhor no que fazer depois. É só uma, por favor.     

— Uma hora eles encontrarão você, Taylor Hampton — avisou ela, depois de um longo tempo e com a expressão já suave.     

— Eu também preciso que me ajude em relação a isso — avisei, desamparada. — Eu não posso voltar, entendeu? Caso contrário, corro o risco de ser presa no meu próprio quarto de novo.     

— E está pensando em quê?      

— Quero saber se posso ficar aqui essa noite — falei, confiante. — Então pensamos em um outro lugar para que eu possa ir durante algum tempo. Eu não queria ter que fazer isto, Marly, mas eles... — Não consegui concluir o pensamento quando percebi que ia chorar pela lembrança das dores que eu senti.    

— O quê? — Ela pareceu surpresa. — Não, eles vão descobrir.     

— Não vão se eu me manter escondida aqui — expliquei, e estava realmente implorando. — É só durante essa noite, eu prometo.     

— Sem chance — Marly negou com a cabeça, perplexa —, não vai dar certo isso o que está pensando.    

Comecei a me desesperar mais ainda. Provavelmente Jane já havia avisado a todo mundo que eu havia fugido. Com certeza ela estava com o celular dentro do quarto, e com certeza os outros já estavam assustados. Quando pensei naquilo, um barulho irritante começou a soar pelo cômodo. Sobre a cama estava o celular que Marly jogou, tocando. Me aproximei o bastante para conseguir ver a imagem do Louis nele. Olhei para Marly, completamente em pânico.      

— Por favor… — sussurrei, quase chorando —, não diga a ele que estou aqui. — Ela, no entanto, ignorou a minha súplica com um pequeno sorriso e pegou o celular, clicando na tela.     

— Oi, Louis — disse, me observando. Então o diálogo entre os dois começou, com frases que me deixavam mais e mais ansiosa. — O quê?! Como assim fugiu? — Marly demonstrou uma surpresa falsa e eu me aliviei com aquilo. — A polícia? — Meus olhos se esbugalharam e eu me aproximei dela. — Me escuta..., eu acho melhor não envolver a polícia por enquanto, diga para a mãe dela esperar por algum tempo, ela pode voltar a qualquer minuto — pediu Marly, transparecendo nervosismo. — Se eu souber de alguma notícia, eu aviso.

Ela desligou a chamada e respirou fundo.     

— E então? — perguntei, sentindo falta de ar.   

— Vou ajudá-la — ela falou, por fim. Soltei um ar de alívio, mas, antes que eu agradecesse, Marly continuou: — Só que aqui é muito suspeito e você não poderá ficar, entendeu?     

— Pra onde eu vou, então?

Marly sorriu e depois disse:     

— Tenho algo melhor. 




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