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História Friends - Louis Tomlinson - 084. Casa?


Escrita por: sunzjm

Capítulo 84 - 084. Casa?


Fanfic / Fanfiction Friends - Louis Tomlinson - 084. Casa?

TAYLOR

O caminho que Adrian percorreu foi o bastante para que eu tivesse a certeza de que eu não deveria estar ali. Só que eu não sabia o que fazer. Eu não poderia simplesmente abrir a porta e correr. Para onde eu iria, afinal? Me mantive calada o tempo todo, abraçada aos joelhos no banco do passageiro, onde eu só sentia um cheiro intenso de cigarro e maconha.     

— Será que poderia parar de chorar? — perguntou Adrian, depois de algum tempo após termos saído de sua casa. — Eu sei que é difícil, mas eu preciso me concentrar no trânsito. — Ele não parecia nada preocupado comigo, apenas incomodado com as fungadas que eu dava por ter chorado desde que percebi o que eu havia feito.     

— Eu sei, me desculpe. — Eu não sabia onde estávamos, mas Adrian não parou uma vez sequer desde a nossa partida. Ele estava dirigindo há um bom tempo e não falou absolutamente nada, até aquela reclamação. — Para onde vamos? — perguntei, olhando pela janela.     

— Estou procurando um hotel.     

— Mas já passamos por vários hotéis, Adrian — eu disse, sem entender o porquê de irmos tão longe.     

— Agora eu não estou com tanto dinheiro assim, Taylor — reclamou ele, dando de ombros. — Aliás, eu achei que você estivesse fugindo de casa. Qualquer lugar perto de lá não é bom pra você, a sua mãe pode resolver chamar a polícia, já pensou nisto? 

A polícia… Aquilo com certeza não havia se passado pela minha cabeça e eu logo fiquei tensa.     

— Não...     

— Eu imaginei que não — murmurou ele, satisfeito. — E logo vai anoitecer. Se eu não encontrar um lugar, vamos dormir aqui mesmo.     

— Dormir no carro?     

— Tem sempre uma primeira vez pra tudo.

Ele sorriu, mas seu sorriso não chegou aos olhos.  

— Por que está fazendo isso? — perguntei, de repente. Adrian então me deu uma olhada e franziu o cenho.     

— Isso o quê?     

— Isso. — Apontei para o lado de fora, como se lhe desse uma resposta visual. — Fugir comigo do nada…, não seria qualquer um que faria isso. 

E ele demorou pra responder. Olhei para fora e percebi que atravessávamos uma ponte, o que me fez encolher mais ainda.     

— Estou ajudando você — disse Adrian, depois de quase um minuto. — Você é especial pra mim, acredite, e isso aqui é uma aventura. Aventuras são sempre bem-vindas, não são? 

Procurei acreditar em suas palavras. Ele tentou ter algo comigo antes e talvez estivesse tentando de novo. O problema era que ele não parecia ser a gentileza que eu havia conhecido algum dia. E, mesmo que ele achasse que a sua ajuda significava o que ele sempre quis ter de mim, então perderia o seu tempo, porque meu objetivo ali era apenas me livrar da prisão que um dia fora a minha casa.

Eu nem sabia se teria a coragem de voltar pra minha família de novo. Eu ainda tinha medo do que eles poderiam fazer, do que eu receberia quando mostrasse a cara para eles novamente; se me perdoariam, se me entenderiam...

Anoiteceu quando finalmente conseguimos encontrar um lugar para ficar. Procurei qualquer placa informando onde estávamos, mas só o que vi foi o nome do hotel. Aquela viagem toda havia demorado demais para estarmos próximos de Greenwich, então tentei falar com Adrian e lhe perguntar onde estávamos. Contudo, em qualquer minuto que eu tentasse, ele sempre procurava um jeito de falar qualquer outra coisa que me distraísse.

O lugar onde havíamos parado era um hotel barato e rústico. A primeira coisa que vi quando entrei foi uma idosa perto da recepção, reclamando sobre o seu quarto com uma moça de aparência cansada e entediante. Me encolhi próxima do Adrian e esperei que ele resolvesse tudo. 

No fim, era um quarto para nós dois, o que me deixou aflita. O único garoto com quem eu havia compartilhado a mesma cama era Louis, e eu nem queria mudar aquilo, afinal de contas, eu não tinha certeza de quais eram as intenções do Adrian. Portanto, fiquei um bom tempo parada perto da porta observando o lugar, como se o teto fosse cair em cima de mim a qualquer momento.     

— Vamos dormir aqui e amanhã continuamos — avisou ele, enquanto tirava a camisa e deitava na cama, agindo tão normalmente que sequer parecia que estava me ajudando a fugir de casa. — Está tudo bem? Você parece que vai desmaiar a qualquer momento.     

— Por que temos que continuar? — eu perguntei, nervosa. — Onde está pensando em nos levar?  

— Não quero continuar aqui, olha só pra isso... — ele apontou a cabeça para o quarto de hotel —, não vou pagar pra viver nesse lugar. É pior do que a minha casa.   

— E o que você vai fazer? — eu quis saber, preocupada. Era como se tivéssemos acabado de nos casar e descoberto que não tínhamos economizado o suficiente para comprar uma casa.     

— Tenho certeza que consigo um apartamento bom e dentro das minhas finanças — comentou ele, pegando o celular e começando a digitar alguma coisa. — Vai ficar tudo bem, fique calma.     

Eu estava completamente incomodada com aquela disposição dele em me ajudar e também gastar a grana que tinha. Sequer tínhamos um ano de amizade, então por que diabos ele foi capaz de deixar toda a sua vida, a escola, o trabalho e o próprio pai para fugir comigo? Ele achava mesmo que eu iria me apaixonar por ele com todas aquelas suas atitudes?     

— Por que você não toma um banho e dorme? — ele sugeriu, antes mesmo que eu completasse o meu raciocínio. — Passamos tempo demais dentro daquele projeto de carro… Eu vou depois que você for.     

— Quero conversar — pedi, e então me aproximei mais. Adrian suspirou e resolveu me dar atenção. — Eu não quero que você gaste o seu dinheiro comprando um apartamento por minha causa — falei, sentindo que o efeito da dose que eu havia tomado antes já ia embora, aos poucos. — Você não precisa se preocupar desse jeito. E eu nem sei se quero continuar, Adrian. Eu estou confusa... Não quero metê-lo nessa história. Eu sinto muito que Marly tenha feito todo aquele estardalhaço, mas foi culpa minha ter ido até lá para pedir a ajuda dela.     

— Eu já disse que não estou perdendo nada com isso — falou ele, me puxando para que eu me sentasse de frente pra ele. — E também não estou preocupado. Não me importo que Marly tenha ido até lá…, e muito menos que não tenhamos um lugar fixo para ir, mas eu vou dar um jeito nisso.     

— Por que está falando assim? — perguntei, cautelosa, pois o meu incômodo só havia aumentado.    

— Assim como?     

— Como se fosse o que você realmente precisa — tentei explicar, atordoada. — Ou como se fosse ganhar alguma coisa, eu não sei...

Então ele sorriu e depois acariciou o meu rosto.    

— Mas eu já disse que vou ganhar, Taylor.

Ficamos nos observando durante alguns segundos e novamente me senti desconfortável. Ele estava perto demais…, e ainda sem camisa.     

— Você sabe o que eu sinto — avisei, fitando as minhas próprias mãos. — Sabe que eu não posso dar nada em troca.     

— Não estou lhe pressionando a nada — falou ele, descontraído. — Só o que eu quero é que esqueça todas aquelas pessoas. Siga a sua vida sem a interferência de ninguém, você não lhes deve nada, são eles que lhe devem, na verdade, por terem feito aquilo. Você tem o direito de fazer o que quiser e tomar quantas doses quiser, e eu vou estar aqui para o que precisar. 

Assim, o fitei de novo, e tudo o que senti foi mais confusão ainda. Eu estava magoada com toda a minha família e com as pessoas que eu amava, e o que Adrian havia dito só fortaleceu a ideia de que eu precisava mesmo sair daquilo. O problema era que ainda existia sentimento.     

— Eu preciso de uma dose — avisei, ansiosa por pensar que eu iria melhorar caso me picasse.     

— Eu tenho uma — falou ele, me chamando toda a atenção. — Mas eu quero que tome logo um banho e depois coma alguma coisa.     

— Eu posso fazer isso depois…     

— Faça o que eu disse, Taylor. 

Adrian então tirou uma toalha de dentro de sua mochila, a jogou pra mim e depois voltou a digitar novamente, daquela vez com um pequeno sorriso nos lábios. Suspirei e resolvi obedecer.

As gotas pinicaram a minha pele assim que a água percorreu o meu corpo, da cabeça aos pés, me tirando todo o fôlego e me deixando mais alerta do que eu já estava. Senti falta do meu chuveiro, do meu sabonete, da minha esponja... e da minha casa inteira. Era frustrante ter que deixar aquilo por não estar satisfeita, eu tinha feito o que eu queria, consegui fugir, mas por que eu sentia como se a minha alma tivesse saído por aí sem o meu consentimento?

Louis tinha me trancado no meu quarto, não me deixou sair de maneira alguma, manipulou os outros a pensarem da mesma forma que ele…, e a culpa foi dele por me forçar a tomar aquela decisão. Eu só precisava manter aquilo fixo na cabeça ou começaria a achar que eu deveria voltar para a cadeia que era a minha casa. Eu precisava lembrar de todas as dores que eu senti durante aqueles dias, das coisas que eu vi e dos pensamentos horríveis...

Eu precisava lembrar!...

Minha raiva e tristeza voltou no mesmo instante e eu logo fiquei aliviada por estar longe de casa, sem que a minha própria família estivesse me olhando como se eu fosse algo que não deveria ter nascido. 

Ao sair do banheiro, encontrei Adrian olhando pela janela, com as mãos nos bolsos. E ele estava tão pensativo que não percebeu a minha presença ali.     

— O que eu vou vestir? — perguntei, agarrando a toalha envolta do corpo. Adrian, no entanto, não respondeu, e eu deduzi que não havia me ouvido. Chamei por ele e então ele virou a cabeça, um tanto atônito.     

— O que disse? — perguntou, confuso.     

— Eu não tenho roupas — informei, rezando para que ele não pensasse em nada me vendo ali apenas com uma toalha.     

Ele saiu de onde estava e foi até a sua mochila. Logo, me entregou uma camisa e uma calça de moletom.      

— Estão limpas. Eu dou um jeito de me encontrar com Marly amanhã, mas só depois de encontrarmos um apartamento. Vou pedir para que ela arranje algumas roupas pra você.     

— Você tem falado com ela? — perguntei, curiosa. Adrian ficou me olhando por uns segundos, calado e sério.     

— Não — respondeu, por fim. — Ela… ela está ocupada. — Antes que eu falasse alguma coisa, ele saiu dali e foi pro banheiro, pedindo para que eu deixasse a toalha lá dentro após me vestir. 

Fiz aquilo e depois procurei os salgadinhos na sacola que estava em cima da cama, lembrando que ele disse que havia uma dose para mim. Tive que me segurar para não bisbilhotar a sua mochila, pois tudo o que eu não queria era discutir.

O problema era que eu estava abatida, portanto foi difícil barrar os pensamentos. Adrian aconselhou que eu os esquecesse, mas como eu faria aquilo? Como eu fingiria que nunca tive nada com todos eles? 

E Louis? Como eu esqueceria dos seus olhos, do seu rosto, do seu cheiro e de como ele me fazia feliz antes da depressão me atingir? E o seu sorriso? Quem seria capaz de esquecer aquele sorriso? Eu falei todas aquelas coisas a ele, estava muito irritada e continuava irritada, mas eu não poderia negar que ainda o amava. Eu era apaixonada por ele, não era algo que ia simplesmente sumir de mim.

Também havia Jane, a pessoa que eu enganei para sair daquela casa… Tantas coisas que ela já havia feito por mim. Todos os conselhos que me deu e as vezes em que conseguiu me livrar das dores do dia-a-dia. Como eu poderia esquecê-la?

Havia a minha mãe e o meu irmão.., estava fora de questão pensar na possibilidade de fingir que eu não fazia parte da família Hampton. Eles eram o meu sangue. Eu passei a minha vida inteira ao lado deles, então com certeza eu não poderia ignorá-los. Eles faziam parte dos meus pensamentos, mesmo que eu não quisesse.     

— Ei — a voz do Adrian soou ao meu lado. Ele já tinha se vestido e tinha a toalha envolta do pescoço. — Amanhã nós vamos comer algo bem melhor do que salgadinhos.     

— Não tenho nada contra os salgadinhos — eu disse, tentando não ser desagradável. A comida com certeza não era importante àquela altura, não pra mim. — Eu gosto destes.     

— Mas não vamos conseguir viver só de salgadinhos e água. Pelo menos eu não — contestou Adrian, abrindo um saco de batatinhas. — Não está arrependida, ou está? — ele perguntou, depois de um tempo. 

Fiquei observando as minhas mãos enquanto pensava na sua pergunta. Talvez sim. Talvez não. Se eu tivesse permanecido lá em casa, não sabia se aguentaria passar mais alguns dias dentro daquele quarto. Eu não sabia se poderia ser privada de usar a heroína. Porém, mesmo assim, eu não tinha uma resposta para aquela pergunta.     

— Seja o que for — continuou ele, sem esperar por uma resposta —, foi o que Marly disse: não tem mais como se arrepender. — Então Adrian deitou na cama, despreocupado. — Está feito, temos que seguir adiante, você gostando ou não.

Depois do que Adrian disse, só pude dar uma olhada para ele, porque após aquilo ele pegou toda a minha atenção ao agarrar a sua mochila, tirar de lá o saquinho que me privaram durante uma semana, uma seringa e um frasco de sumo de limão.

E então nada me importou, somente o que eu senti. A dor foi embora, a ansiedade.., o vestígio de alguma coisa que estava nascendo dentro de mim, assim como o medo de que algo desse errado. E eu não pensei em mais nada. Como aguentei viver sem aquilo?

No outro dia, porém, as coisas ruins voltaram de novo. A primeira coisa que tive ao acordar foi a confusão, porque o teto acima de mim não era nada parecido com o meu. Dava pra perceber manchas nos cantos e aquilo dava uma impressão muito ruim sobre o lugar.

Depois daquele despertar, percebi que estava sozinha, então o que veio depois da confusão foi o medo. Medo de que Adrian tivesse ido embora e me deixado sozinha naquele lugar. Só que a sua mochila ainda estava ali, encostada na cômoda velha, portanto me aliviei.

Fui pro banheiro, tomei um banho rápido e lavei a boca, para depois pegar as minhas roupas de volta e vesti-las, sentindo a necessidade de algo limpo e confortável. Então, antes mesmo que eu saísse do banheiro, ouvi alguém entrando no quarto.     

— Está pronta? — perguntou Adrian, impassível. — Temos que ir agora, já resolvi tudo na recepção. — Saí do banheiro e me juntei a ele, que já colocava a mochila nas costas e me entregava a sacola com a comida e as garrafas de água. Saímos do hotel e seguimos para o carro. 

De acordo com Adrian, ainda não estávamos tão longe assim de Greenwich. E se, por acaso, alguém resolvesse me procurar, não iria demorar para me encontrar.      

— Acha que a sua mãe pode chamar a polícia? — ele quis saber, enquanto parava para comprar lanches. Em seguida, fez o pedido e depois voltou a me olhar, sem se importar com o fato do atendente ter ouvido a nossa conversa. — Você a conhece melhor, então…     

— Ela pode chamar a polícia, sim — respondi, sincera. Mamãe era direta demais. Provavelmente seria a primeira coisa que pensaria e tentaria, a não ser que alguém resolvesse interferir. — Mas eu não sei se vão deixar que ela faça isso.     

— Como assim? 

Então o nosso pedido chegou: hambúrgueres, batatinhas e copos de milkshake.     

— Porque tem o Sr. Roberts e eu não sei o que ele pensa sobre o que eu fiz. Talvez ele peça para que ela pense mais sobre o que fazer — expliquei, indecisa. — E também tem o… — Parei de mexer na comida ao pensar nele. Rapidamente a fome foi embora.     

— Louis? — Adrian continuou por mim. — O que ele diz tem muito valor, não é? — Falar do Louis não era o que eu queria, principalmente quando estávamos de mal um com o outro. Não era algo que poderia mais ser resolvido, não pra mim. E isto porque eu estava magoada demais. — Depois de tê-la trancado no seu próprio quarto, você ainda o ama como o amava? — continuou ele, despreocupado. 

Fiquei desconfortável, porque ele estava persistindo mais do que o necessário. Logo, resolvi não responder, afinal de contas, aquilo não precisava de uma resposta. Talvez Adrian me achasse uma boba, mas o que valia pra mim agora não era mais o que ele pensava, e muito menos o que o mundo pensava. O que importava era eu mesma, as coisas que eu fazia ou o que eu deixava de fazer.      

— É..., pelo jeito sim — continuou, comendo algumas batatinhas. Fiquei na minha, calada. Todo o papo que se destinava à minha família, a Louis ou à Jane e minha antiga vida, já não era de tanta importância. Adrian e Marly estavam certos, eu não tinha mais tempo para arrependimentos. O que eu fiz já estava feito e não tinha mais como mudar. Eu meti os dois naquela história e não poderia continuar sendo covarde.      

— Eu vou pagar você assim que eu puder.     

— O quê? — perguntou Adrian, confuso.     

— Você está me ajudando demais nisso tudo, eu tenho que dar alguma coisa em troca — expliquei, mais focada no que se passava do lado de fora do carro de Dylan do que na própria conversa.     

— Você sabe o que pode me dar — disse ele, naturalmente.

Paralisei.

Eu bem que poderia ter falado sobre aquilo com ele, mas onde eu estava com a cabeça? Todo aquele suporte tinha a ver com alguma coisa.     

— Desculpa a minha falta de tato, Taylor — Adrian riu, e então mordeu o lábio inferior. — Mas é que durante alguns dias só vai ser nós dois, certo?     

— Sim, mas…     

— Ei — Adrian colocou uma mão sobre o meu braço, muito divertido —, eu só estava brincando. E não precisa me pagar nada, 'tá bem? — continuou, voltando a atenção na estrada. — O que acha que eu sou, um miserável que não pode sustentar a si próprio ou a outra pessoa? Acha que vamos morrer de fome?     

— Não, eu…     

— Dinheiro não é o meu problema, acredite, há coisas piores… — interrompeu ele, dando de ombros. — Sou reservado em determinadas áreas da minha vida, é isso. Não gosto de deixar transparecer o que eu tenho.   

— Entendo.     

— Esperteza — comentou, sorrindo —, é preciso ser esperto para evitar certas coisas. — E a cada palavra que ele falava, era como se não tivéssemos nos conhecido antes. O modo como ele falava, como se calculasse cada palavra, ou como se houvesse mais alguma coisa que eu não sabia.

Mas, se ele fosse fazer algo, já teria feito, certo? Aliás, o que ele poderia fazer? Ele era apenas o Adrian e eu o conhecia. Ele não poderia me forçar a nada e eu estava ciente de que poderia ir embora quando eu quisesse.

[…]

Durante a ida silenciosa para o nosso destino, percebi os vários parques que se estendiam pelo lado de fora. Era tudo muito bonito, pois Londres era simplesmente muito linda. 

Era uma pena, no entanto, que eu não tivesse aproveitado toda aquela vista. Por mais que eu tentasse esquecer o que estava fazendo, esquecer o que eu havia passado, uma voz interna resolvia me criticar por todas as decisões que eu tomei na minha vida, desde o momento entre escolher o sabor de um sorvete até o dia anterior, quando eu voltei a me picar.

Eu entrava em um campo minado e sentia que uma hora ou outra eu perceberia alguma coisa fora do lugar, que eu estive errada aquele tempo inteiro, provavelmente sobre tudo – sobre todos!. E aquilo estava entalado nas profundezas da minha mente. Eu morria de medo de que aquele tal sentimento resolvesse dar as caras de vez, e isto porque eu não queria estar errada. Eu queria que o mundo era que estivesse errado.     

— Ainda vai demorar muito? — eu quis saber, desesperada com o rumo que os meus pensamentos estavam tendo. — Já estamos andando há mais de vinte minutos.     

— Não, já chegamos.

Olhei pra fora da janela, ansiosa. As ruas decoradas com pequenos prédios e casas de época, com o vermelho como cor principal, eram lindas. Era tudo muito calmo também e as pessoas seguiam pelas calçada com uma expressão simpática no rosto – algo que com certeza não intimidava.     

— E onde estamos? — perguntei, curiosa.      

— Fulham — respondeu ele, mastigando um chiclete que tirou do bolso. — A viagem de Greenwich até aqui dura pelo menos uma hora, sem muito tráfego. Estamos longe o bastante.

Estávamos longe mesmo. Eu conhecia aquele lugar, mas nunca estive ali. Adrian então conduziu por mais cinco minutos e depois estacionou na frente de um prédio antigo, que também era bonito, mas com uma visão não convidativa para mim. Ao entrarmos, resolvi sentar em um dos sofás que havia ali para esperar que Adrian resolvesse tudo com o recepcionista.

Eu sequer observei direito o local, tudo o que eu queria era um lugar para ficar e que eu soubesse que me manteria segura. Mas tudo aquilo demorou tempo demais para a ansiedade que eu começava a sentir.

Eu não sabia de onde vinha tanta inquietação, e o pior era que ela não vinha sozinha, sempre tinha algo a mais, e algo ruim cravado lá no fundo.       

Adrian me chamou, apressado, e eu logo o segui pela pequena escada de madeira. O apartamento era a primeira porta à esquerda e, quando Adrian entrou sem falar nada, começou a resmungar várias coisas. 

Aquele espaço era pequeno e só tinha três cômodos. O quarto era bonito e simples. Confortável era a palavra correta, na verdade. Havia uma cama de casal, uma mesa de cabeceira com um abajur e um armário preto e não tão largo, que estava próximo de uma penteadeira. E parecia confortável por causa das cores, que ali já não eram tão claras quanto as do outro cômodo.

No entanto, não senti mais vontade de continuar andando e olhando o lugar onde eu passaria um tempo que eu sequer sabia. Apenas sentei na cama e cruzei os braços, sentindo uma espécie de tristeza me puxar para o chão, como a gravidade. Adrian não estava ali, ele tinha jogado as suas roupas sobre a cama e ido pro banheiro. Ele não parecia nada contente, aliás, estava como se não suportasse uma palavra sequer direcionada a ele.

Parecia de saco cheio.

E aquilo só servia para me deixar pior ainda, porque era culpa minha todo aquele mau humor. Ele poderia estar na casa dele naquele momento, mas ele estava com alguém que só queria sumir, quase presa em um apartamento que ele sequer gostou, provavelmente pensando em mil coisas.  

Eu mal vi quando ele saiu do banheiro.     

— Por que está chorando? — perguntou, ríspido. — O lugar não é tão mau assim, Taylor. Nós temos água quente e uma boa paisagem.     

— Não é isso — eu disse, preocupada com a sua opinião. — Aqui está ótimo, eu só não estou me sentindo muito bem.

Eu ainda não havia olhado pra ele porque provavelmente ele só estava de toalha ali. Mas, quando ele andou até a sua mochila, fui incapaz de manter o olhar longe. Quando menos esperei, ele me jogou um saquinho, e foi de um jeito tão brusco que eu me senti mais péssima do que já estava.     

— Essa é a última, a seringa está por aí em algum lugar — disse ele, depois jogou a mochila sobre a cama, impaciente. Eu realmente precisava daquela dose, pois me sentiria melhor, ficaria em paz e sem aquele tormento na cabeça. Logo, procurei os utensílios e preparei a dose rapidamente. Enquanto isso, eu via de relance Adrian se vestir, sem se preocupar com a minha presença ali. — Vou ao supermercado — avisou, sem me olhar —, e depois tenho que ir até a casa da Marly. Você precisa de roupas.

Eu sequer prestei atenção nele, pus a dose no cilindro da seringa e depois de alguns segundos eu já estava com ela dentro do corpo. Logo as cores do quarto, que antes eram bonitas pra mim, pareceram uma coisa de outro mundo, de tão agradáveis que eram. Aquilo, sim, tirava as minhas preocupações e era o que eu tinha ido procurar. 


Notas Finais


Vocês conhecem Fulham? Existe mesmo esse lugar tá, pessoas? E então, o que vocês acham que vai acontecer com esses dois? Vcs acham que o Adrian tá diferente? Que ele tá tramando algo?

ME DIIIGAM •﹏•


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