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História Frineia - Segundo Capítulo - em que minha vida muda DENOVO!


Escrita por: CaioHSF

Capítulo 2 - Segundo Capítulo - em que minha vida muda DENOVO!


Fanfic / Fanfiction Frineia - Segundo Capítulo - em que minha vida muda DENOVO!

Cara... aquele foi o pior dia da minha vida.

            Como se já não bastasse estar morando nessa cidade idiota – até o nome da cidade era idiota: Dois Quilombos, e quem nascia lá era chamado de quilombola. Era como uma aula muito chata de história do Brasil – e ter que ir pra esta droga de escola – com um nome árabe idiota também: Colégio Madrassa – minha Frinéia faltou naquele dia.

            Às vezes ficava escondida no caminho que ela fazia – completamente oposto ao meu – para ver se ela ia ir naquele dia. Quando ela faltava, eu não tinha motivos para ir à escola. Mesmo que fosse só pra ouvir aquela voz doce como chocolate branco respondendo a chamada, ou para me levantar atrás dela para levar o caderno para a professora dar visto, só para ficar bem perto dela e deus longos e lisos cabelos negros, mesmo que seus olhos nunca fossem me notar.

            Alguns meninos estúpidos diziam que Frinéia não tinha coração, e chamavam ela de Ice Princess. Mas nenhum deles merecia algo melhor dela. Mas e eu? Será que eu mereço? Será que Deus permitiria que uma simples humana como eu pudesse ter alguma coisa com aquela deusa de olhos castanhos? Não! Claro que não. Porque Deus me odeia! E agora acabou tudo, para sempre. Para sempre.

            Pelo menos era o que parecia.

            A sala tinha ao todo uns vinte alunos organizados em uns cinco grupos de quatro. No meu estavam: uma ruiva aleatória que tinha umas amigas na outra sala chamada Valéria; uma nikkei que parecia ter todos os estereótipos de japoneses juntos chamada Ayuko; e Ki-tae, um menino não muito nerd mas que era o mais inteligente da sala – pelo menos era o que ele falava – e SÓ, realmente, SÓ falava sobre a África. Conseguia transformar qualquer assunto em uma palestra de história, cultura, arte... qualquer coisa que envolva África. Um dia Ayuko estava falando que estavam pintando a parede de sua casa, e ele começou a contar a história das paredes da África, que os nigerianos tem uma muralha maior que a da China, que os egípcios pintavam nas paredes... era muuuito chato, uma aula de história e curiosidades desnecessárias sem fim. Ele não desgrudava de seu amigo Albrecht, que não era menos chato, apesar de não ficar dando palestras o dia inteiro. Os dois eram tão próximos que provavelmente todos tinham certeza de que eram gays. Mas para a infelicidade dos dois, acabaram em grupos separados.

            Albrecht ficou no grupo de uma ruiva meio racista chamada Adelide, e Pedro, um menino que NUNCA vinha e obviamente só apareceria no último dia para apresentar qualquer coisa e ganhar a nota; e a minha graciosa Frinéia.

            Eu não sabia na época, que ela conheceu sua paixão naquele dia, uma outra pessoa, que talvez nunca teria aparecido na sua vida se não fosse por esse trabalho. Mas eu não podia culpar o professor. Nem a ela. Nem sua paixão. Só podia deixar pra lá, esquecer e seguir em frente. Haha. Como se isso fosse humanamente possível.

 

Deus me odeia mesmo...

 

O professor Song entrou na sala, terminando de cantar uma música meio de ópera, a mais desafinada que eu já ouvira. Todos da sala sentiram vontade de enfiar as canetas no ouvido até perfurar o cérebro. Ele encerrou a canção com um movimento constrangedor de dança.

– Bom dia povada. – ele disse, com um sorriso. – E vida longa e próspera. – fez o sinal de Star Trek.

Alguns alunos responderam, mas a maioria ficou quieta.

– Onde está a animação, Brasil! Eu sei que uma terça de manhã não é o dia mais legal da semana, mas minha aula é a hora mais legal da semana de vocês.

Eu ri. A aula mais legal, ah tá. Até educação física era melhor, porque pelo menos eu podia dormir na arquibancada, sentada degraus acima de Frinéia, ou ficar desenhando sua cabeça de cima. Eu tinha quase um estoque de sketchbooks com desenhos dela em todas as páginas. Se ficássemos juntas eu provavelmente teria muita vergonha de mostrar pra ela. Pois é, talvez eu seja uma stalker fanática e psicopática. Ok, eu já entendi o que você está pensando, eu sou uma stalker fanática e psicopática, viciada em Frinéia, eu quero Frinéia o tempo todo, ela e a minha personagem favorita, meu bias, minha dose de heroína, minha ninfa da inspiração, minha deusa, minha luz...

Ai... por que dói tanto amar você...

– Bom dia professor. – Ki-tae disse, e foi seguido de algumas vozes dispersas.

– Fala, menino da África. – o professor pegou um livro de uns quatro dedos de páginas e jogou pela sala nas mãos de Ki-tae, que quase se desequilibrou quando o pegou. – Valeu pelo livro. Ei, Merlim? – ele se voltou para Albrecht, que era bom em fazer mágicas. – pega! – jogou uma carta de baralho pelo ar, que voou em círculo e voltou para sua mão. – Te enganei.

– Olha só, ele aprendeu. – Albrecht brincou.

O professor Song fez uma cara de orgulhoso. Usava uma camisa dos Simpsons.

– Voltando aos assuntos legais – ele disse. – os grupos já estão todos muito bem entrosados e com vontade de fazer um super complicado trabalho de história?

Ainda nos sentávamos em nossos lugares comuns, e agora fomos juntar nossas mesas em grupos de quatro e se sentar conforme as ordens cruéis desse ditador insano e louco que me separou de minha Frinéia.

Ki-tae ficou ao lado de Ayuko, e eu fiquei na frente dela. Ela usava lentes nos olhos e o cabelo estava preso, sua camisa tinha coisas escritas em japonês. Albrecht esticou a mão para Ki-tae dizendo de um jeito dramático “não me abandone...”. Valéria não estava presente.

– Prfessor, Pedro disse que vai viajar. Vai faltar provavelmente todo o bimestre. – Albrecht avisou, enquanto jogava distraidamente as cartas de uma mão para a outra, sentado ao lado direito de Adelide, que estava ajeitando o cabelo alaranjado enquanto se olhava no espelho. Seus olhos eram verdes.

– E a Valéria saiu da escola. – o professor avisou. – Eu até estava planejando matar todos vocês, mas agora ela se livrou.

– E Frinéia? – ouvir o nome dela saindo da boca dos outros era sempre doloroso. Mas eu não sou ciumenta.

– Acho que ela só faltou, mesmo. – o professor Song disse.

De repente, por um breve momento, foi como se eu tivesse tido uma ideia. Um leve e frágil pensamento foi plantado em minha mente de imaginação fértil de artista. Poderia crescer para se tornar uma esperança? Melhor não. Provavelmente iria cair arruinada, como todas as outras. Peguei meu celular e fiquei olhando minha pasta de centenas de fotos que tirava escondida de Frinéia. Ela estava vestida de verde, sempre ficava linda quando vinha assim, mas ela estava sempre muito linda. Na foto eu podia vê-la ao natural, sentada na cadeira e segurando a lapiseira rosa como se estivesse pensando em alguma coisa. Será que era em mim? Ela gostava de ficar enrolando os dedos no cabelo negro quando pensava, eu reparei nisso nela. A calça levantava um pouco na barra com suas pernas paralelas em baixo da cadeira. Dava para ver um pouco do branco se sua pele, em seu tornozelo pálido completamente a mostra em cima das meias mais baixas.

Eu não sabia por que, mas eu adorava ver a pele dela. Queria tocá-la, sentir o seu toque, sua textura, beber de sua cor com meus olhos e encher aquela menina de beijos. Como fazer isso? Como conseguir fazer qualquer coisa? Quando seus olhos não me veem, quando eu não existo para você, não existo para mim também. Não há motivos para existir, minha linda. Não sem você comigo. Dói amar você, mas você é a dor que me motiva a continuar.

– Parece que temos dois grupos de três alunos... – o professor começou a coçar o queixo, como se puxasse uma barba invisível. Imaginei por um segundo ele com uma barba bem grande. Não foi engraçado.

– Não seria pedir de mais se você, lindinho professorzinho querido de nossos coraçõezinhos pequenininhos... – Ki-tae começou a implorar fazendo um aegyo, e Albrecht participou. Não tinha como isso dar certo. Não seria possível. De jeito nenhum.

– Hahaha. Seus monstrinhos. – Não. Não daria certo. – Bom, acho que um de seis é melhor que dois de três. – Isso é sério?! – Pode ser. – Ah, cara....

Eu não acreditei no que meus ouvidos acabaram de ouvir. Belisquei meu braço para saber se estava acordada, minha respiração acelerou. Senti meu coração dando chutes no peito. Ah, cara... É SÉRIO???? Não. Eu estou triste, nós ficamos separadas. Não tem como nós ficarmos juntas e eu ter coragem de falar com ela. Não tem. Dei um tapa na minha cara pra acordar desse sonho. Mas não era sonho. Só levei uma mancha vermelha enorme na minha cara e toda uma sala me olhando como se eu estivesse prestes a pegar uma faca e sair esfaqueando todo mundo.

– Ok, isso foi estranho, Anessa. Eu sei que sua vida de mulher adolescente deve ser cheia de problemas, sei lá, mas sabe, a gente pode conversar sobre os seus demônios interiores, os boys da sua vida ou coisas assim. Não precisa pegar uma faca e sair esfaqueando todo mundo. – O professor disse, levando a maior parte da sala aos risos.

– Por favor, faça isso. Esfaqueie todo mundo! – Albrecht pediu, brilhando os olhos azuis.

Eu só fiquei envergonhada, sem saber onde enfiar minha cara. E me afundei na cadeira. Albrecht veio e colocou uma mesa para se sentar ao lado direito de Ki-tae, e Adelide ficou na frente dele, com um espaço vazio entre ela e eu, que estava, como disse, na frente de Ki-tae. Eu sabia agora, que aquele lugar vazio em minha vida finalmente seria preenchido, e o da cadeira ao meu lado também.

 

Sempre passava os intervalos em algum lugar que pudesse ficar assistindo Frinéia a uma distancia que ela não me notasse. Às vezes ela ficava sentada no chão ou deitada, talvez em um banco abaixo das árvores, ou em pé em uma parede. Ouvia música enquanto lia no celular. Era horrível não saber se ela estaria lendo algum livro, ou conversando com alguém. Principalmente quando ela soltava umas doces risadas, e ficava corada. Cara, aquele rostinho branco todo rosa, era a coisa mais fofa do mundo. Um dia quando passei pela sala, acabei acidentalmente vendo o que ela estava ouvindo. Só consegui ler o nome três músicas: Nemo da Nightwish, Psychosocial do Slipknot, e Gravity de Jessica Jung. É sério que ela gostava dessa droga de kpop? Já não bastava ter uma irmã mais nova pra ficar pirando com isso o dia inteiro, ainda vou ter que viver anos casada com uma pessoa que também ouve isso? Mas eu até que gostava dessa música Gravity.

 

Something always brings me back to you.

It never takes too long.

No matter what I say or do

I’ll still feel you here

‘Til the moment I’m gone.

 

Algo sempre me traz de volta para você.

Nunca lava muito tempo.

Não importa o que eu diga ou faça

Eu ainda vou sentir você aqui

Até o momento em que eu tiver ido embora.

 

Sim. Eu gostava dessa música. Mas por minha Frinéia eu nunca iria embora. E parecia que agora, quando eu achava que você tinha ido embora, você voltou pra mim.

Acho que Deus não me odeia tanto assim. Mas a melhor parte desse meu dia ainda estava por vir.

Ayuko, Adelide, Ki-tae e Albrecht me encontraram no corredor. Eu estava comendo chocolate branco enquanto olhava aquelas curvas super sensuais de minha voluptuosa Frinéia sentada na cadeira. Abaixei o celular, assustada, o mais rápido que pude quando ouvi a voz de Albrecht.

– Estamos organizando o trabalho. – ele disse. – Eu e Ki-tae vamos pesquisar e escrever os textos, Adelie vai pegar fotos e Ayuko vai fazer a parte escrita para entregar pro professor e pra sala. Pensamos que como você desenha bem, poderia fazer o cartaz e colocar as coisas nele, e ai Frinéia iria comprar a cartolina.

– Pode ser. – eu disse. Tentando parecer uma pessoa normal, que falava com pessoas normais ao invés de idolatrar um lápis e stalkear meninas lindas por ai.

– Avise a ela. – Ki-tae disse. Eu já tinha o número dos outros devido a um antigo grupo da sala que não deu muito certo, mas esse número eu ainda não tinha.

– Esse é o número dela. – Adelide me entregou um papel com um número.

– O-o..o-obrigada... – eu segurei aquele papel e minha mão paralisou  e ficou tremendo.

– Estamos indo para lá – Ki-tae apontou para o jardim. – Se quiser vir...

– Não, eu to bem aqui, podem ir.

Eles foram, e eu fiquei ali, ainda segurando o papel, e tremendo.

Passei tantos anos tentando descobrir aquele número. Até fiquei discando números aleatórios na esperança de que um deles fosse o dela – não que eu soubesse o que iria dizer caso ela atendesse. E todo esse tempo aquela ruiva tinha o número dela? Que tipo de relação as duas tinham? Será que elas saem juntas por ai para irem ao shopping como as amigas normais fazem? Será que elas ficam se beijando e se abraçando e rindo uma da outra? Será que uma tira a roupa da outra enquanto coloca a mão no... NÃO. Eu não sou ciumenta. Não vou começar a supor estes absurdos. Frinéia nunca iria ficar com uma idiota como Adelide. Talvez elas sejam primas distantes, ou frequentem algum mesmo curso talvez. Mas que se dane! Eu tenho o número dela! Da deusa, minha Frinéia. Ah, minha Frinéia... eu tenho o seu número!!!!

Ok, e o que eu faço agora?

 

            Meu quarto era uma bagunça. Um verdadeiro inferno. Na porta eu grafitei “Deixai toda a esperança vós que entrais!”, da Divina Comédia. Eu tinha alguns pôsters, não muitos, mas eram bem grandes. Todos sobre animes, filmes e alguns heróis que eu também tinha em action figures em uma prateleira.

Havia uma parte do meu armário que era o meu altarzinho para Frinéia. Ali ficavam meus sketchbooks com desenhos dela, todas as fotos que eu consegui pegar dela, e várias decorações artísticas muito lindas, tudo em volta de uma pirâmide com um lápis cor de rosa com uma borracha no topo em forma de borboleta. Ele era listrado de preto com rosa, e saiam algumas fitas da borracha, que também tinha duas antenas de borboleta, finas e longas, com as pontas em espiral. O lápis ainda tinha o cheiro dela. Anotei o número dela no pequeno cavalete de mini post-it que eu fiz ali. Salvei ele na minha agenda com o nome ♥♥Frinéia♥♥. Me joguei na cama e agarrei meu puffle preto enquanto encarava o número no meu celular. Eu não consegui ligar.

            Uma monstrinha falando de oppas e doramas.... eu ajudando minha mãe a fazer a janta, alguns desenhos de mangá ao som de Black Pink... – eu não era fanática por kpop como minha irmã caçula Clara, mas gostava de algumas músicas. Colocar séries em dia, principalmente How I Met Your Mother e terminar a última temporada de Sherlock, estudar um pouco para a aula de matemática – eu odeio matemática... Minha tarde veio e se foi, assim como a noite. E eu não consegui ligar. Era tão simples. Podia só mandar uma mensagem dizendo que ela deveria comprar cartolinas. Mas para mim aquilo era muito difícil, mesmo que eu quisesse mais que tudo falar com ela, ouvir a voz dela...

            Fiquei parada perto do poste, fingindo que estava trocando músicas no celular, mas só esperando para ver ela chegar. Ela estava demorando. Será que ela vai faltar de novo hoje? Mas meu terrível pensamento foi destruído quando eu olhei aquela luz caminhando, virando a rua e indo em direção a escola. Sua calça era preta escura um pouco rasgada nos joelhos brancos como uma parede, e o all-star vermelho um pouco sujo combinava com a camisa xadrez vermelha amarrada na cintura, e sua camiseta era preta. Estava muito linda, principalmente pela sua cara de sono, que sempre fazia nas manhãs. Era muuuito fofa!

            O dia foi normal como sempre, mas tive que aturar Ki-tae e Albrecht vindo falar comigo durante as aulas, me pedindo para empresar branquinho e borracha, e contando coisas, como se houvesse alguma intimidade entre nós. Eu era antissocial, mas não deixava de ser simpática e educada em iguais quantidades. Não consegui tirar nenhuma foto de Frinéia, infelizmente. Não consegui falar com ela ainda. Mas na aula de educação física, eu vi Adelide contando pra Frinéia. Parecia que as duas se conheciam muito bem, mas não falaram muito. Ela ficou deitada na arquibancada, colocou a blusa sobre o rosto e dormiu. Fiquei assistindo a respiração dela enquanto dormia. Sua barriga ia, de vagar, para cima e para baixo, e um pedaço da camiseta levantou. Eu suspirei quando vi aquele pedacinho pálido e brilhante de sua pele branca, era lisa e parecia ser tão macia quanto estava na primeira vez que me tocou quando deixei meu lápis cair, sem nenhum sinal de gordura ou imperfeição, mas aí o sinal tocou.

 

            – Já disse. Não sou racista. – Adelide insistia.

            – Acho que essa não seria uma boa cidade para ser racista – Albrecht disse.

            Os alunos iam entrando aos poucos e tomando seus lugares, continuando nas conversas do intervalo enquanto a professora não chegava.

            – Você é racista sim. – declarou Ki-tae.

            – Não. Eu só digo que os negros e africanos não contribuíram muito com o mundo. Sabe, em avanços na tecnologia, ciência, mitologia, arte... Eles só foram escravizados e agora a África só passa fome.

            Ki-tae começar rir bem alto.

            – You know nothing, Adelide Snow. – ele disse.

            – Por acaso estou errada? – ela perguntou.

          – Você realmente falou mal da África para ele? Entre todas as pessoas do mundo você foi ser racista com ele? – Albrecht perguntou, fazendo alguns malabarismos com as cartas enquanto as jogava de uma mão para a outra.

            – Ah, minha criança... – Ki-tae balançou a cabeça e colocou as mãos nos ombros de Adelide. – Você é tão triste...

            Ele deu um abraço nela, que deu tapinhas nas costas dele.

            – Até o final desse trabalho, eu vou te fazer ver porque eu acho a África tão incrível.

            – E com certeza eu estou muito interessada. – ela disse, obviamente sarcástica.

            – Com certeza todos nós estamos muito interessados. – eu disse, também sarcástica. – Pare de falar de histórias. Você só fala disso o dia inteiro. Eu imagino como deve ser sua casa, um museu de coisas africanas com um leão, toda em forma de pirâmide. PARA de só ficar falando disso.

            Todos me olharam espantados, já que eu não falava muito. Até Ayuko parecia pálida, arregalando os olhos negros para mim. Ela tossiu.

            – O que foi? – eu perguntei.

            – Gente, ela sabe falar! – Albrecht disse.

            – Gente, ela existe! – Ki-tae disse.

            Aff... eu pensei, e a professora Roseane de matemática chegou. Mais uma aula chata, e agora sendo seguida por dois chatos, uma racista e uma estereotipada. Nada de mais. Mas seria pedir de mais pedir que Frinéia viesse se sentar perto de mim também, ainda que só para me zoar? Mesmo que ela seja a Ice Princess da Madrassa, mesmo que ela não tenha mesmo um coração, pelo menos para mim ela não podia ter só um pouquinho?  Só um pouquinho?

 

            No final do dia, todos os alunos iam embora em seus grupinhos, alguns mais sozinhos. Meninos apertando a mão de meninos e dando beijos nos rostos de meninas. Albrecht e Ki-tae iam juntos, e Adelide pro outro lado. Ayuko parecia desaparecer às vezes e depois reaparecer em lugares que ninguém a vira entrar, talvez por ser muito quieta. Entre tantas possibilidades, eu e Frinéia fazíamos caminhos exatamente opostos. Eu queria tanto ir com ela para onde quer que ela fosse. Queria saber como era a casa dela, como ela era com sua família, como se vestia fora da escola. Queria saber qualquer coisa sobre ela. Eu só queria tê-la.

            Descia com a música alta nos fones. Ia me distanciando da escola quando senti um toque em meu ombro. Olhei e percebi aquelas belas e pálidas mãos brancas muito fofas com os dedos descorados, finos e longos, meio tortos porém lindos com suas finas veias azuis e rochas, ela parecia uma pintura de aquarela sobre um papel muito branco.

            – Oi. – Frinéia falou para mim.

            – ... – eu estava paralisada. Borboletas ascendiam um incêndio dentro de mim. – O-o...oi.

            – Me falaram que estamos fazendo um trabalho em grupo juntas. – seus olhos castanhos eram brilhantes, e havia um pouquinho de verde neles.

            – S-sim. Sim... é, nós estamos sim. – que droga Anessa!

            – Deram meu número para você né? – ela disse.

            – E...sim. Eu ia ter que te avisar para comprar as cartolinas, mas eu acabei esquecendo. Desculpa...

            Eu vi ela sorrindo e ficando corada sob as leves sardas preenchendo o fino nariz claro, arredondado na ponta.

            Oh my God.

            – Não tem problema.

            Tentei disfarçar a minha falta de ar.

            – Eu queria te falar... – ela continuou. Estava falando de vagar, sua boca dançando na minha frente com os lábios finos e brancos. – Eu queria te ped... perguntar se sabe de um lugar para eu comprar cartolinas. É que eu não saio muito.

            Oh my God.

            – Tem um lugar não muito longe daqui... – eu disse.

            – Pode me falar onde é?

            Oh my God.

            – Fica naquela rua – apontei pela rua que passava todos os dias quando voltava da escola. De repente eu tive uma ideia. Teria impedido, mas minha língua desenhava sem controle. – Quer que eu te mostre?

            – Eu adoraria! – não sabia se era uma exclamação, mas ela pareceu muito feliz, mostrando um sorriso lindo e brilhante que iluminou meu coração. Haha. Cara... aquele foi o melhor dia da minha vida. Acho que Deus não me odeia, afinal.



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