História Fuck Boy - The Plan I

–Não vai me falar para que é tudo isso? 

Estou de cara com uma das maiores loucuras que eu já presenciei na vida. Vejo meu irmão pegando caixas cheias de poeira, canetinhas coloridas e giz de cera, peruca, um cavalete e blocos de papel. Sinto que estou prestes a ouvir meu irmão dizer enlouquecido que descobriu como viajar no tempo.

–Michael! – ele se assusta e finalmente me dá atenção – O que você...

–Você vai ver. – me interrompe e continua arrumando as coisas – Calum está quase chegando.

Michael parece um maluco. Pelo menos está agindo como um. Desisto de perguntar mais qualquer coisa e simplesmente aceito o fato de que se meu irmão é realmente louco, eu deveria apoia-lo. Ao menos até descobrir se é seguro viver com ele; se não, logo internamos o coitado em uma instituição. 

Ele se senta na poltrona do lado do cavalete e em silêncio espera seu melhor amigo chegar.

De repente, a porta se abre e Calum entra acompanhado de sua irmã.

–Desde quando ele tem a chave da nossa casa? – sussurro para Michael, mas não tenho resposta.

Digo oi para os dois e sou ignorada novamente. Eles apenas vão ao lado de Michael e ficam lá, parados, me encarando.

–Vocês estão me assustando.

Calum abre o grande bloco de papel que está no cavalete e vejo escrito em giz de cera vermelho na primeira página “O PLANO”.

–Antes de qualquer coisa – Michael começa – precisamos te contar uma história. Para isso, temos a Mali aqui. Ela é o centro de tudo isso. É por ela que tudo deve ser feito. Entendeu?

Ele não me dá chance de responder.

–Tudo começou dois meses trás.

Calum muda a página novamente. Agora diz “FÉRIAS DE VERÃO”.

–Partindo do conhecimento geral de que o sonho de toda garota é ter um romance de férias de verão... Cher, não faça essa cara. – ele diz antes mesmo de eu retrucar a bobagem que ele acabou de falar – É sabido que você não é como toda garota, por isso mesmo precisamos de você. Só escuta.

Eu sempre me irrito muito quando as pessoas reforçam estereótipos.

–Continuando – ele limpa a garganta – Mali, irmã doce e ingênua do meu querido amigo, achou que teria seu sonho realizado. E, por um tempo, teve tudo que queria. Conheceu um menino no clube de campo, ele era tudo que você possa imaginar: gentil, carinhoso, tinha os olhos azuis mais bonitos. Mas, infelizmente, o garoto não passava de um destruidor de corações. Um babaca. O clássico fuck boy.

–Quatro dias atrás peguei ele me traindo com uma garota. Fui falar com ela, a coitada nem sabia da minha existência. – Mali conta – Aí, fomos tirar satisfação com ele. Acredita que ele estava com outra?

–Uau. – solto em indignação.

Me sinto mal por ela. Desde sempre ela acreditou que encontraria um príncipe encantado e viveria feliz para sempre. Ela era tão crente disso que chegava a ser irritante. Todas as bonecas dela tinham histórias assim. Por conta disso, passei a infância brincando com o Michael e Cal. Mas chegou uma hora que eles também começaram a me irritar. Só queriam saber de ir atrás das outras menininhas da rua para dar beijinho e coisas bobas assim. De uma hora para outra tudo se resumia a isso. Aí, acabei me isolando da vizinhança de crianças precoces. Minha mãe até me deu um cachorro por achar que eu era muito sozinha.

–Eu chorei muito. – ela continua – Chorei ao ponto de não ter mais lágrimas. Agora quero que ele pague por isso. E é aí que você entra, Cher.