História Fun Boys - 6 Reset

Yoongi

Myn já estava dormindo fazia um tempo, como um anjinho. Já eu, mudava de posição a todo momento, me senti incomodado demais para conseguir dormir, minha cabeça não parava de martelar. Pelo que Myn contou, o primo morava no Ringa, contudo, analisando a situação de sua família, não me parece que ele não tenha onde ficar. E tinha o quarto que apareceu na chamada de vídeo, não parecia ser do Ringa e nem mesmo daqui. Nada no momento faz sentido.

"Há um vazio profundo no meu coração, me salve..."

Meu celular vibrou na cômoda, decidi dar uma olhada para me distrair. Era uma mensagem de um número desconhecido.

–Venha até a recepção, é urgente. Não a deixe saber, venha sozinho. – T.

Deveria saber o que esse T significa? Pois não faço ideia. Poderia ser Terrorist? Poderia ser uma fã louca que nos seguiu a noite toda. Tentei suprimir a curiosidade, mas quem disse que eu consegui? Na pior das hipóteses era uma Sasaeng.

Myn tinha um sono pesado, provavelmente não iria acordar, mesmo assim me preocupei em não fazer muita diferença de peso na cama, o que não foi difícil graças aos meus 57 quilos. 

A recepção estava praticamente vazia, exceto pelos funcionários, alguns homens conversando em um dos sofás e um jovem, muito familiar, lendo um livro no canto, quase que escondido. Parei em sua frente, sem acreditar.

"Olhos solitários presos na escuridão. Existe alguém para segurar minha mão?..."

–Troylan? – balbuciei.

–O mesmo. – ele abaixou o livro e me olhou sorridente. – Não me olhe assim e sente logo, a história é longa e não temos muito tempo.

–Por que você esta aqui? – sentei na cadeira ao lado.

–Não é obvio? Eu estou hospedado aqui. Podemos passar para a parte urgente? – confirmei. – Ótimo! Não queria que Myn soubesse porque vou contar coisas que ela não quer que você saiba.

"Alguém em algum lugar vai saber sobre o meu miserável coração..."

–Está começando a me assustar.

Eu queria Myn próxima de mim, e não existe proximidade com segredos, pois com segredos não existe confiança. Mas não me parece certo ouvir de outra pessoa algo que ela não quer me contar.

–O que aconteceu depois que saímos da casa? 

–Ela gritou e chorou.

–Faz ideia do porquê?

–Não.

–Todas as vezes que nossos familiares ficam no mesmo ambiente por mais que alguns minutos ocorrem... –respirou fundo e ficou momentaneamente calado, provavelmente pensando na palavra correta. – ...problemas. Mas ela não teve essa reação só por isso, tem uma pessoa que Myn realmente não quer ver.

–Quem?

–O ex namorado.

–M-mas, mas... não é uma reunião familiar?

–Como posso explicar... – Troy olhou para baixo pensativo. – digamos que o ex dela é da familia. É que nosso tio casou com uma mulher que já tinha um filho.

–Você não deve gostar muito dele para me falar isso. 

–Na verdade, gosto muito dele, contudo prezo a felicidade da minha prima e nos últimos tempos eles não foram muito felizes, Myn, principalmente.

–O que aconteceu com ela ou melhor com eles?

–Para que tudo fique claro, eu deveria contar a história de Myn desde o começo, está disposto a ouvir?

Ignorei qualquer aviso mental que me dissesse que deveria esperar ela me contar por conta própria. 

–Sim!

–Primeiro quero que você esqueca tudo que já ouviu dela até agora, boa parte deve ser mentira.

–Por que ela mentiria? 

"Eu quero reiniciar, eu quero reiniciar, eu quero reiniciar...."

–Pelo simples fato de querer esquecer um quem era, indo para um lugar em que não a conhecessem, contando meias verdades. Me diz se nunca questionou algo que ela tenha falado, alguma história com um furo, uma parte que não se encaixava com as outras?

Ele me pegou, estava fazendo isso um pouco antes de encontrá-lo.

–Algumas vezes.

–Melhor eu contar logo tudo de uma vez, se houver uma questão mal explicada ou uma pergunta não respondida questione quando eu acabar.

Confirmei com a cabeça.

– Vamos organizar a história em linhas temporais devididas por lugares. 1°Brasil: Myn nasceu no Brasil, mas não porque a mãe queria comer feijoada ou qualquer coisa do tipo, e sim porque ia ser entregue aos avós paternos, que seriam encarregados de criá-la. Não lembro muito como foi, só tinha três anos, mas pelo que ouvi foi triste, sabe, na nossa família ter filhos é quase o mesmo que na realeza: se é um menino, você fica feliz, se é uma menina, você tenta na próxima. Não importa como eu diga, sempre sooa triste. Era para ela ser o plano B, se alguma coisa acontecesse a casariam com alguém rico, enquanto o irmão mais novo seria tratado como primogênito, administrando as ações. E teria sido assim, se meu pai não tivesse ido visitar os pais e gostado tanto dela que resolveu criá-la como filha dele.

"Por que eu estou de pé aqui sozinho?
Por que só o meu mundo para? Vejo-os desaparecendo cada vez mais longe..."

Ficou em silêncio por um tempo, parecia, está organizando os pensamentos.

–2°Coréia: Na época que ela veio à Coréia todos os Houston ainda moravam aqui, inclusive Kwan, que ela achou que fosse tio dela por muito tempo. Fomos criados como irmãos, mas eu sabia a verdade, todos sabiam, menos ela. Nós estávamos sempre juntos, e quando eu digo nós me refiro a Jay, o ex namorado, Dylan, nosso primo, Myn e eu. Não demorou muito para percebermos os sentimentos que eles tinham um pelo outro, isso começou desde muito cedo. Havia muitos problemas em os dois se relacionarem, como a diferença de idade, ambos serem da mesma família... Mas quem disse que eles se importavam?

–3°Miami: Fomos morar lá com o objetivo de exercitar nosso inglês, todos ficamos na casa de Kwan. Mas tudo que nossa família fazia tinham uma intenção oculta. Todos os planos foram por água a baixo. Myn e Jay começaram a se envolver mais e mais, e quando viram que não era só uma fase resolveram contar quem era seu verdadeiro pai, esperando que o foco dela fosse direcionado para as responsabilidades que teria. De todas as merdas que minha família já fez, essa foi a que gerou consequências piores. A pressão e expectativas em cima dela eram grandes, ainda tinha que lidar com dramas familiares, isso é demais pra uma pessoa lidar de uma vez só. Jay era quem cuidava dela, só que ele ficou tão ocupado com o trabalho que passou a vê-la só uma ou duas vezes na semana. Acabou não percebendo que a situação estava pior do que aparentava. Eu tentei conversar com ela depois disso, mas ela simplesmente me afastava, com a melhor amiga foi a mesma coisa, até a mãe que era extremamente próxima dela não conseguiu. Com o porto seguro dela longe, Myn procurou segurança e paz em outras coisas. Não demorou muito para percebermos que ela começou a beber descontroladamente e se drogar com remédios. Jay e Kwan tinham uma ótima relação, ele a convenceu a conversar com o pai. E isso ajudou, por um tempo, pois eles não contavam com uma coisa: o vício.

"Eu estou voando sozinha nessa escuridão, em minha noite solitária, com um coração triste..."

–4°Reabilitação: Ela ficou em uma clínica de reabilitação por três meses. Foi o que fez ela e o pai se entenderem melhor, pois ele já tinha tido problemas semelhantes e ajudou ela como pôde. Mesmo passando pouco tempo lá, quando voltou, não era mais a mesma. Após algum tempo, eles começaram a namorar oficialmente. Jay se culpava por não ter ficado do lado dela e não ter percebido antes o que estava acontecendo, então jurou que não sairia mais de perto dela, ficando mais possessivo; mais ciumento; mais protetor; mais agressivo e mais babaca também.

–5°A festa dos gêmeos: Os gêmeos eram garotos riquinhos com quem andávamos. Em uma das suas festas mensais Myn ficou extremamente bêbada, ela estava limpa desde que saiu da clínica. Não soube de fato o que aconteceu naquela noite, eu já tinha voltado pra Coréia fazia alguns meses. Me contaram que ela voltou pra casa sozinha e o viu na cama com uma amiga dele. Até hoje ela não fala sobre isso, é como se não tivesse acontecido. Nessa mesma noite ela me ligou pedindo para vir morar comigo, três dias depois ela chegou. Desde então, eles não tiveram mais contato. A história é essa, espero que tenha entendido.

"Eu não me importo se é apenas uma pessoa, olhe para trás, por favor segure minha mão..."

Só balancei a cabeça. Não tinha muito o que falar, e todas as perguntas que queria fazer se perderam em meio aos outros pensamentos. 

Tudo fazia mais sentido agora. O ursinho amaldiçoado se chamava Jay. A letra de "over" era dedicada a ele. Na chamada de vídeo, Troy falou algo sobre "o que aconteceu na última vez que você se envolveu com pessoas assim", ele achava, provavelmente, que iria machucá-la como o garoto fez. E um acontecimento que não queria que fizesse sentido, fez: Mylan não tentou se matar, ela estava se drogando.

–Sei que deve estar confuso agora, mas vocês precisam ir amanhã. Não se trata só de conhecer você, é mais para ocultar o motivo real. Ele quer patrocinar Myn. De alguma forma, Kwan soube que a empresa estava passando por problemas financeiros, e que os debuts demorariam mais que o esperado, como é o sonho de Myn ele quer ajudar.

–E quanto a Jay?

–Não se preocupe com isso, ele já não gosta mais dela, a traição teve motivo. Espero que possam ir, a não ser que esteja inseguro quanto aos sentimentos de Myn por você, e não queira ir por medo de eles voltarem.

–Não me preocupo com isso. – mentira. – Por que preciso estar lá, ou melhor, por que ele precisa?

–A proposta envolve você e ele. Kwan quer ajudar, mas há algumas condições. Na hora você precisa convencê-la, Myn é extremamente cabeça dura, principalmente quando se trata de aceitar ajuda. Lembre-se, não é só pelo bem dela, como também da empresa e em parte seu, já que são um casal. Não posso falar muita coisa, até porque nem mesmo eu sei. E-eu só... e-eu só quero ajudar. – parecia uma suplica. Não tinha como dizer não.

–Tudo bem, se é pra ajudá-la.

–Ela me odiaria se soubesse que contei, não diga nada, pelo menos até amanhã. – levantou, se espreguiçando. Ele já estava indo, mas se virou. – Yoongi, obrigado.

Retribui o sorriso dele, eu podia não ser uma pessoa sensível, mas aquele sorriso não era de gratidão, e sim, de alívio. Tinha alguma coisa muito errada. Podia me preocupar com isso amanhã, por agora, preciso procurar a resposta da pergunta mais importante no momento. Quem é Mylan Houston Segatti?

"Seu sorriso localiza-me outra vez na escuridão, o seu sorriso brilha em meu miserável coração..."

Voltei para o quarto ao achar uma resposta para minha pergunta. Quem é Mylan Houston Segatti? Ela é a garota que tem vídeos meus sorrindo no celular, que tem uma voz linda, que dorme chupando dedo, que faz doces maravilhosos cujo nome não consigo pronunciar. Ela é a garota dos pompons coloridos, a garota que anda por aí com um skate em forma de sorvete, a garota que gosta de desenhos animados 

Deitei na cama e abracei-a por trás.

–Como foi o seu dia hoje? O dia inteiro foi muito difícil? Sei que é impossível todos os dias serem agradáveis. Então, não esconda nada de mim. Conte-me suas tristezas. Mesmo você sorrindo como se nada estivesse errado, mesmo tentando fingir que está bem, eu percebo. Diga o que sente. Se estiver doendo, eu vou aliviar, se estiver machucado, eu vou curar, se estiver vazio, eu vou preencher. Mostre seus sentimentos. Você não está sozinha, eu estarei do seu lado. Não tenha medo de segurar minha mão quando ficar difícil, eu não vou te deixar. Esqueça o seu dia ruim. Encoste seu coração em mim, eu estarei te abraçando. E mesmo não sabendo quem você é de verdade, ou se posso confiar em você, contínuo te amando. E pra mim tudo bem se eu for só um passatempo ou uma forma de esquecer outra pessoa, se você se sentir melhor assim, eu vou ficar bem. Eu te amo, seja você como for.

"A verdade está escondida por cicatrizes. Quero voltar para o lugar feliz. Eu quero reiniciar."