História Futatsu no Tamashii - Mezame

Despertar

01 de Dezembro.

Mais uma noite de nevasca havia passado, agora marcando o início de outro dia. Nenhum dos dois realmente dormiu, apenas acordavam com o menor barulho que ouvissem.

Ainda estavam andando pelo interior da floresta, Sakura seguindo os passos de Sasuke e confiando na intuição do rapaz de que aquele seria o caminho certo a se seguir. Sentia-se um pouco estranha com o ocorrido da noite passada, mas deixou essa questão de lado, perguntaria em uma outra ocasião.

Sasuke andava silencioso como sempre, vez ou outra olhando de relance para ela, para se assegurar que estava tudo certo. Quando Sasuke pegou o cantil que se encontrava ao lado de seu corpo, percebeu que deveria ter enchido logo que o dia amanheceu.

Bufando, decide parar e Sakura segue seu movimento. Apenas o olhou, sempre esquecia que ele sentia necessidades que talvez ela não tivesse e se sentiu um pouco culpada por esquecer isso. Sasuke volta a caminhar, agora se guiando pelo som de um riacho ali perto.

Pôde ver o riacho a uns bons 5 metros deles, mas notou algumas flores que cresciam em alguns arbustos próximos. Sasuke olhou rapidamente para ela, mas continuou o caminho até o riacho para poder encher seu cantil. Abaixou-se e depositou a abertura do cantil no riacho que continha leves camadas flutuantes de gelo pela sua extensão. Apenas olhou essas camadas seguirem a correnteza, esperando seu cantil encher.

Agora que o cantil se encontrava cheio, ele se levanta e percebe que Sakura não se encontrava em seu campo de visão. Resmungou consigo mesmo do porque ela não poderia simplesmente ficar perto dele, para não precisar ficar procurando ela mais tarde.

Andou alguns passos atrás da garota quando ouviu uma voz, que reconheceu ser masculina e de certo modo maliciosa. Pensando no pior, ele apressa o passo e vê duas figuras ao longe. Uma delas ele reconheceu sendo Sakura, mas não gostou quando viu a outra.

Sakura conversava inocentemente com um homem alto e magro. Seus cabelos eram escuros e compridos, mas sua cor de pele era clara. Sua voz tinha um tom rouco e malicioso enquanto falava com ela. Tinha uma mão apoiada em seu queixo junto com a outra abraçando seu corpo. Sasuke apenas trincou os dentes, fazendo como nota mental, restringir Sakura de algumas coisas, pelo bem dos dois.

Parou bruscamente atrás de Sakura, que se assustou pela proximidade repentina e fez Sasuke trincar novamente os dentes.

Ela se assustou com a chegada dele, mas conversava tranquilamente com uma pessoa que nem conhecia. Seu humor já estava em estado de mudança.

— Ah, Sasuke... Que susto. — disse ela, olhando de canto para ele. — Esse é o Orochimaru, um morador das redondezas.

— Hmm... Olá, Sasuke-kun. — o cumprimenta estendendo o braço para Sasuke, que ignorou o gesto.

Agora via com clareza o rosto do homem. Não saberia dizer quantos anos ele poderia ter, mas seu rosto era diferente. Seus olhos tinham a cor dourado, e sua pupila era apenas um risco em meio ao dourado da íris. Em volta de seus olhos, existiam marcas de cor roxa, que contornavam todo o entorno dos olhos e desciam até uma parte de seu rosto. Seu sorriso era, de certa forma, ameaçador. Por reflexo, Sasuke segurou o pulso de Sakura, puxando-a para perto de si.

— Bom, acho que nossa conversa acaba por aqui. Até mais, Sakura- chan. — despede-se o homem esguio, agora dando as costas para os dois.

— Sasuke... Está doendo. — ouviu o resmungo sobre o aperto que fazia em seu pulso.

Ele bufa novamente, agora afrouxando o aperto, porém, sem soltar e a puxa para retornarem o caminho. Estava tão frustrado pela situação anterior que esqueceu que estava com sede e nem se importava mais com isso. Andava em passos rápidos, puxando Sakura consigo, sentindo que ela começava a retrucar.

— Sasuke, para... Me solta. — ela reclamou mais uma vez. — Sasuke é sério... Me solta!

Agora ouvindo a voz alterada de Sakura, ele finalmente para e se vira. Estava tão bravo que não ouviu quando ela pediu na primeira vez.

— Qual é o seu problema? — pergunta ela, agora irritada.

— Meu problema? — Sasuke retruca com um sorriso azedo no rosto.

— Sim, me puxando assim e tratando aquele homem daquele jeito.

— Não teve medo de falar com uma pessoa que acabou de conhecer, mas fica brava comigo? — ele balança a cabeça.

— Ele foi simpático comigo e eu não estou entendendo essa sua atitude, por isso estou brava.

— Você ainda é muito ingênua Sakura, e esse pode acabar sendo seu pecado.

— É sério, qual é o seu problema? 

— Tsc... — resmunga, enquanto tocava no vinco de suas sobrancelhas.

Sasuke sabia que não era bom com palavras e não estava com paciência de ter que explicar tais assuntos, então decide responder de outro modo. Ele se aproxima de Sakura, fazendo-a dar alguns passos para trás, que acaba sendo impedida por uma árvore. Sasuke continua se aproximando, até que fica de frente para ela, com apenas alguns centímetros os separando.

Em um movimento rápido, ele pega um dos pulsos de Sakura e os levanta em uma altura acima da cabeça da garota, prendendo o pulso direito dela com a sua mão, no tronco da árvore. Ela apenas olha confusa, pensando no que ele estava fazendo, até senti-lo colocar uma das pernas em meio as suas e encostando seu corpo ao dela.

Ele não desviou o olhar do dela, queria capturar qualquer reação que ela poderia ter e começou a ver o pânico tomar conta de seu rosto. Com a outra mão, ele pega o outro pulso esquerdo juntando-o ao pulso que já estava preso, agora segurando os dois pulsos com uma das mãos.

Posicionou sua mão livre na cintura dela, e cortando o contato visual, arrastou seu rosto para o pescoço exposto. Sentia a respiração alterada da garota em sua nuca, mas decidiu continuar, passando a ponta de seu nariz na base do pescoço dela, sentindo o aroma que emanava ali.

Era doce e transmitia calma.

Quando sentiu uma leve gota em seu pescoço, percebeu que ela tinha começado a chorar, julgando também pela sua respiração que se tornou pesada. Ele retorna com a cabeça para trás, procurando pelos olhos da garota, que agora transpareciam medo. Então, ele aproximou-se de sua orelha, para poder se explicar.

— Não precisa ter medo de mim. — ele assegura. — Mas como você acha que seria, se fosse outra pessoa que estivesse fazendo isso e não eu? — Ela engoliu em seco, enquanto o ouvia. — As pessoas são capazes de fazer coisas terríveis, Sakura. Se fosse outra pessoa, ele iria prosseguir com o que eu estou fazendo e acredite, seria mais traumatizante que isso. — terminou, ainda com o olhar fixo ao dela, quando retornou. 

Notou que ela ainda chorava, mas agora mais controlada. Olhou que entorno de seus olhos começou a ficar vermelho e sabia que aquilo a faria pensar. Soltou seus pulsos e lentamente os posicionou ao lado de seu corpo, enquanto nenhuma reação vinha dela.

Perguntou-se internamente se tinha ido longe demais, tentando explicar para ela que coisas terríveis podem acontecer se ela continuar deixando-se levar por sua ingenuidade. Olhou para o lado, lutando consigo mesmo sobre o que devia fazer para se desculpar, e pensou em uma das coisas que ele mais evitava fazer.

Desajeitadamente, ele apoia uma das mãos atrás da cabeça de Sakura, fazendo-a encostar sua testa em seu ombro. Nenhum dos dois fez algum movimento depois disso. A única reação que veio dela, depois de algum tempo, foi um leve soluço e finalmente uma pergunta.

— O que é isso? — pergunta, e ele sabia ao que se referia.

— Não é nada — a responde, em um tom mais baixo.

— Hmm... — sussurra ela, mais para si mesma. — Você é estranho.

— Você que é estranha. — retruca, empurrando-a suavemente para trás. Ele se atenta à ela novamente e vê que seu humor havia melhorado. Seus olhos já não tinham mais o pavor estampado neles, mas sim dúvida.

— Bom... Desculpa. — disse, virando o rosto para o lado.

— Ahm... Tudo bem. — responde ela, passando as costas da mão em seus olhos.

— Vamos.

Voltaram a caminhar, mas mesmo após a explicação e pedido de desculpas, Sakura ainda se sentia estranha.

**

 Já haviam andado um bom caminho, pois o claro do dia já dava lugar ao escuro da noite. Sasuke bebeu um pouco do seu cantil e ofereceu a Sakura, que lhe disse novamente que ela não precisava, apenas recebendo como resposta um “beba logo”.

Tomou a água do cantil e sentiu que seu corpo aceitou o liquido de bom grado, deu mais um gole e devolveu o cantil para Sasuke, que apenas olhava para um ponto escuro da floresta.

Não teve nevasca naquela noite, apenas pequenos pontos brancos perdidos no ambiente, dançando com o vento. Caminhavam tranquilamente quando sentiram uma presença os seguindo.

— Sasuke... — chamou.

— Eu sei. — respondeu de imediato, entendendo.

Um tempo depois, a presença havia sumido o que deixou Sasuke mais preocupado. Pelo conhecimento que Kakashi passou para ele, toda pessoa emana uma aura no ar, que poderia ser reconhecido como alegria, felicidade, medo. E o que ele sentia no ar, era algo parecido com uma caça.

Ao ver um vulto vindo em direção a eles, Sasuke rapidamente empurra Sakura para o lado, sendo acertado em cheio pelo. Graças ao impacto, seu corpo foi jogado ao encontro de uma árvore, onde bateu suas costas. Caiu de joelhos, ainda atordoado, mas ergueu o olhar, a tempo de desviar de outra investida do vulto.

Rolou para o lado, agora conseguindo manter-se em pé, apenas esperando o que lhe atacou se pronunciar. Olhou rapidamente para Sakura, que se encontrava um pouco distante de si, ajoelhada no chão, também atordoada pela situação.

Voltou seu olhar novamente, seguindo o som de risadas que se escondiam no breu da noite. Quando a figura se revelou em sua frente, pôde ver quem era. Aquele homem estranho e esguio que encontrou pela manhã.

— Você tem bons reflexos, devo concordar. — comenta o homem, ainda rindo.

Sasuke trincou os dentes, posicionando sua mão ao lado de seu corpo, procurando uma katana e brigando consigo mesmo por não estar carregando nem que fosse uma simples shinai.

— Eu segui vocês o dia todo, apenas esperando pela oportunidade certa. — continuou o homem. — Fico me perguntando o que você é, Sasuke-kun... Para ter um cheiro tão... Agradável.

Olhando atentamente para cada movimento do homem, percebeu que sua língua era grande. Enquanto falava, ela balançava de um lado para o outro, igual a uma cobra.

— Sasuke... — sussurra Sakura, num tom baixo.

Olhou rapidamente para Sakura, ao ouvir seu nome sendo chamado, mas voltou a encarar o homem que vinha ao seu encontro. Em um movimento rápido, conseguiu se jogar para o lado. Conseguia apenas se esquivar.

Quando seus olhos se ergueram novamente, o que pode ver foi apenas um borrão branco em sua frente. Sentiu uma dor em volta de seu pescoço e ombro, sentindo suas costas sendo pressionadas contra uma árvore.

Ignorou a dor que sentia, esforçando-se para abrir apenas um olho e a imagem que viu, o deixou surpreso. O braço do homem havia se tornado várias cobras brancas, que saiam da altura da abertura de seu kimono, que se encontrava até seu antebraço, e seguiam o caminho até o pescoço de Sasuke.

Aos poucos Orochimaru começou a se aproximar. Agora estava frente à Sasuke, que sem perceber, tinha um leve corte em sua sobrancelha, causada por um dos impactos sofridos. O sangue escorria levemente ao lado de seu rosto e Orochimaru via aquilo com certo prazer. Aproximou-se mais do rapaz e passou a ponta da língua no sangue que escorria.

— Eu sabia que você tinha algo especial... Não sei dizer o que pode ser, mas tenho certeza que você é um mestiço.

— Mestiço? — questionou, sentindo um aperto maior em seu pescoço.

— Sim, sim... Vamos, me mostre do que você é capaz.

Por reflexo, Sasuke procura a imagem de Sakura e a encontrou olhando para ele e Orochimaru, com desespero estampado em seu rosto. O homem segue seu olhar, agora se lembrando da existência da garota e sorri malicioso para Sasuke. 

Entendendo o que o homem pretendia, Sasuke com a mão livre direciona o punho fechado de encontro ao rosto de Orochimaru, que deixou ser acertado de propósito.

— Sasuke-kun... Não seja mal criado. — debochou.

— Maldito. — retrucou Sasuke, dando outro soco.

Tentando dar um terceiro soco, o homem desviou mas não sem antes lhe acertar um chute no estomago e estendendo seu outro braço em direção a Sakura. Várias outras cobras brancas saíram de seu braço e capturaram a garota.

Segurou-a pelos cabelos, que haviam se desprendido de seu coque habitual, fazendo o kanzashi cair no chão. Ergueu o pequeno corpo até certa altura, vendo ela se debater e reclamar. Porém, perdido na imagem de angústia da garota, não percebeu que Sasuke direcionou um chute, agora acertando suas costelas, o que o fez se contorcer levemente pelo impacto.

— Quer parar com isso? — recua o braço e avança outra vez ao tronco da árvore, fazendo Sasuke bater novamente as costas ali e provocando uma pressão maior em volta do seu pescoço. Várias outras cobras o morderam, assim prendendo o rapaz. — Não se preocupe. Essas cobras não são venenosas... Quer dizer, só para humanos normais.

— O que você quer?

— Ora, eu só queria me divertir um pouco, mas não estou tendo sucesso. — disse, balançando a cabeça. — Mas já sei como farei isso. — concluiu, olhando para Sakura.

Sasuke apenas observava a cena, sentindo-se impotente por não poder fazer nada a respeito. Viu algumas cobras, que seguravam Sakura pelos cabelos, descerem lentamente em direção ao pescoço dela. E ao lembrar-se das palavras ditas há poucos minutos por Orochimaru, começou a se preocupar.

— Sakura! — chamou, tendo como resposta o olhar de Sakura.

Algo no olhar da garota o prendeu, pôde ver uma leve determinação se apossar dela. Então, ela retira uma adaga que estava escondida em seu obi, e para a surpresa de Sasuke, começa a cortar seus cabelos. Ele assiste atentamente, enquanto ela cortava mais e mais mechas, até que cortou a última, caindo no chão assim que se desprendeu das cobras que a sustentavam ali.

Ouviu a risada de Orochimaru, que se divertiu com a cena que presenciou. Sasuke direcionou seus olhos raivosos pra o homem e viu que ele havia recolhido as cobras que seguravam Sakura há segundos atrás, fazendo as mesmas soltarem as madeixas rosadas, agora cortadas, no chão. Porém, ele as direcionou novamente em direção à Sakura.

Ele pôde ver que a cobras iam ao encontro dela, com as bocas apertas, provavelmente no intuito de prendê-la, assim como estavam fazendo com ele.

Em um ato impensado, ele ergue a mão, que continha a marca, em direção a Sakura. Sentiu novamente um leve formigamento em sua palma, mas não pensou muito sobre isso, só queria que ela se protegesse.

— Sakki! — gritou.

Ao chamá-la por seu nome de regalia, Sakura o encarou e ele viu novamente aquele mesmo olhar de determinação, junto com um sorriso de canto e em poucos segundos ela se tornou um leve risco claro no ar.

Quando Sasuke deu por si, aquele risco claro fora de encontro a sua mão. Cerrou os olhos devido à claridade que se apossou do ambiente naquele momento, mas a visão que teve a seguir o deixou surpreso.

Em sua mão estava uma katana.

Não perdeu tempo pensando sobre aquilo, focou-se no inimigo à sua frente, apegando-se ao fato de que o importante agora era de que poderia lutar de igual para igual. Direcionou a lâmina da katana para as cobras que o prendiam, cortando várias ao meio e ouviu um urro de dor vindo de Orochimaru, que deu alguns passos para trás.

Conseguiu cair em pé, sentindo uma leve dor em seu pescoço. Retirou as cabeças das cobras que ainda se encontravam em seu pescoço, as jogando ao longe. Posicionou a katana em frente ao rosto, em forma de defesa, apenas esperando o próximo ataque. Várias cabeças se balançavam no chão, com algumas já parando. Orochimaru virou-se para Sasuke e seu olhar havia mudado. Seu rosto agora transbordava raiva.

Sasuke notou que o corpo à frente começara a mudar. Todo o tronco havia se tornado em várias outras cobras brancas, agora se tornara uma cobra em si. Sua cabeça havia crescido, seus cabelos pendiam comprido para os lados. Sua boca estava aberta, assim mostrando suas presas, e seus olhos miravam Sasuke.

Questionava-se internamente sobre o que significava aquilo em sua frente, mas não podia perder o foco, não agora. A aura que transbordava no ar era pesada demais. Sabia que se descuidasse, acabaria morto e queria se certificar que isso não iria acontecer. Ao menos não hoje.

 “Sasuke... Tudo bem?”

Ouviu a voz conhecida e olhou em seu entorno, vendo partes rosa perdidas no terreno da floresta e direcionou seu olhar para a espada em suas mãos. Percebeu que a voz não vinha do ambiente em que estava e sim entre seus pensamentos.

 — Estou bem. — respondeu.

 “O que pretende fazer?”

 — Eu não sei ainda, mas... Obrigado.

Orochimaru veio em direção à Sasuke, que conseguiu desviar, não sem antes acertar um golpe certeiro no olho de seu oponente, fazendo a cobra gigante urrar de dor. Viu sangue sair do corte e sorriu com a cena, lembrando-se do que ele havia feito mais cedo.

Avançou em Orochimaru, que desviou o rosto, mas Sasuke segurou uma mecha do cabelo preto, empurrando novamente a lâmina da katana, aonde provavelmente seria o pescoço da cobra.

Em resposta ao toque ouviu outro urro de dor. Continuando com seu golpe, ainda com a lâmina atravessada na garganta da serpente gigante, Sasuke salta rasgando o pescoço de baixo para cima, até chegar à base da cabeça e assim conduziu o corte para o lado, liberando a lâmina e vendo a cabeça pender para baixo e o corpo começando a tremular. Ele decide pular e em um movimento rápido e preciso, corta o rosto de Orochimaru, fazendo-o cair no chão.

O corpo gigante coberto por cobras se balançava sentindo a dor. Aproximou-se e fincou a katana na têmpora da cobra, deixando-a presa no chão. Abaixou-se na altura do olho dourado que sobrou de Orochimaru, que o encarava de volta.

— O que é você? — perguntou.

— Você é tão ingênuo assim? — riu debochado. — Já deve ter ouvido histórias sobre Youkais... Na maioria das vezes elas são reais.

 — Youkai?

 Viu Orochimaru começar a rir, não entendeu sobre o que passava na cabeça desse homem, ou melhor, youkai, mas já estava cansado disso. Pegou novamente a katana, retirando ela do corpo e sem pensar, corta boa parte da cabeça de Orochimaru, fazendo se repartir em dois pedaços. Encarou o longo corpo parar de se mover, constatando que a luta havia acabado.

 Girou a espada em mãos, parando ela em um aperto firme, liberando a lâmina do sangue vermelho da serpente. Seguiu com o olhar por toda a katana, erguendo-a na altura de seus olhos para analisa-la.

 Era uma katana com uma lâmina prateada e longa. Seu cabo tinha a cor verde, mas um tom escuro. Na ponta do cabo estava uma pequena corrente, que continha uma pequena flor de cerejeira cristalizada.

 Pegou a pequena pétala com a outra mão, sentindo a textura, mas se atentou novamente na lamina. Seu fio era afiado, era possível perceber só de olhar, mas o que o chamou atenção, eram os kanjis gravados suavemente na base da lamina. Passou a ponta de seu polegar nos kanjis, que formavam o nome que ele tinha escolhido. Sakki.

“O que você está fazendo?”

 — Você... É uma bela espada. — respondeu.

 Quando menos esperou, a katana se transformou novamente em uma pequena luz clara. Caiu em sua frente e tomou novamente a forma da garota de cabelos rosa, que estavam na altura de seus ombros. Sasuke sentiu-a aproximar-se dele, no momento em que encostou um dos joelhos no chão.

 Ele sentiu o ardor em seu olho esquerdo e por isso perdeu as forças de suas pernas. Colocou a mão, tampando seu olho, para ver se apaziguava o incomodo e só percebeu que Sakura o apoiava quando ouviu sua voz o chamando.

 A ardência em seu olho esquerdo era tão forte que acabara por atingir o direito também, fazendo-o enxergar tudo embaçado. Sakura o apoiava começando a entrar em desespero, pois não sabia o que fazer e porque ouvira os grunhidos de dor vindo de Sasuke.

 Caíram ambos de joelhos no chão, com Sasuke apoiando a testa em seu ombro e sua respiração tornando-se mais pesada. Na tentativa de conforta-lo, pegou em sua mão e chamou novamente por ele, mas ele apenas entrelaçou sua mão a dela, em um aperto firme que acabaria machucando sua mão se ele continuasse.

 Mas fora obrigada a ignorar o fato, assim que ouviu Sasuke dar um grito de dor e logo em seguida desabar sobre seu colo. Estava com o olhar parado na árvore atrás de Sasuke, pensando no que deveria fazer. Percebeu que ele havia desmaiado, porque os sons de dor tinham cessado, mas sabia que ele não estava morto, porque sentia sua respiração se estabilizando.

 Em movimentos suaves, retirou a cabeça de seu ombro e o confortou em seu colo. Ao olhar para seu rosto, notou o suor e um leve rastro de sangue que saia de seu olho qual, momentos antes, ele tampava com a mão. Afastou uma mecha escura de seu cabelo, colocando-a atrás de sua orelha.

 Acariciava o rosto imóvel em seu colo, ficando ainda mais preocupada ao pensar se ele acordaria. Lembrou-se de Orochimaru morto ao seu lado e olhou em direção onde estava o corpo e viu as pequenas partes se tornarem poeiras no ar.

 Voltou sua atenção para Sasuke, até sentir um leve aperto em sua mão, que ainda continuava entrelaçada a dele. Ergueu o olhar para o céu escuro, sentindo que a neve havia parado de cair e decidiu que o protegeria até que acordasse, custe o que custar.