História Futatsu no Tamashii - Michi

Caminho

04 de Dezembro, 1888

Sasuke esperou pacientemente até que Sakura acordasse, o que não demorou muito nos primeiros fechos de luz que despontavam entre as árvores. Continuaram a jornada, depois de Sakura questionar por diversas vezes se ele estava se sentindo bem o que era sempre respondido com um “sim,” já no automático.

Continuaram o caminho agora por um vale entre as árvores, provavelmente usado por pessoas da região. Chegaram até certo ponto em que a floresta acabava e logo à frente se formada uma colina íngreme. Olharam mais abaixo e puderam observar uma cidade ali, pequena, mas que gradativamente crescia. Do ponto aonde se encontravam, era possível ver certos pontos do mar.

— Ohh! — exclamou Sakura, fazendo Sasuke seguir seu olhar.

Ela estava admirada pelos pequenos redemoinhos que se formavam em alguns pontos do mar, Sasuke podia ver seus olhos brilharem com aquilo, o que o fez balançar a cabeça chamando a atenção da garota.

— Vamos. — disse, começando a caminhar.

— Ei! Você viu aquilo não é? Que cidade é essa? — perguntou ela.

— É uma cidade localizada na província da cidade aonde eu nasci. Se chama Naruto. — respondeu de bom grado.

Desceram a colina em direção à cidade. Antes de Kakashi desaparecer, ele lhe dissera para procurar pelo “Redemoinho Vermelho”, então não existia lugar melhor para isso, caso sua busca fosse falha ainda continuaria seu caminho até Osaka, afinal a cidade era grande e com um pouco de busca, ele poderia encontrar facilmente o que procurava.

Ao andarem pelas ruas da cidade, alguns moradores os olhavam com certo receio. Estavam acostumados com peregrinos pela região, mas algo no rapaz que andava calmamente os chamava atenção. Sakura os olhava com dúvida, afinal, porque direcionavam a eles aqueles olhares estranho? Principalmente para Sasuke, que os ignorava como se fosse já habituado com isso. Fitou o rosto dele, atentando-se a um ponto especifico, agora entendendo o real motivo dos olhares.

— Sasuke. — ela chamou fazendo-o parar, e puxou o corpo masculino junto ao seu para um canto afastado da rua.

— O que foi isso agora? — retrucou.

— Você está chamando muita atenção... Digo, seus olhos. — ela comentou, fazendo-o compreender.

Sasuke bufou, mas sabia que o que ela dizia era verdade. Remexeu em sua bolsa, logo entregando para ela o que procurava. Ela aceitou, vendo que ele depositou algumas moedas em sua mão.

— Quero que vá em algum lugar onde venda tecidos, você sabe como são, e compre uma bandagem para mim. — pediu, sem o tom mandão de sempre.

Sakura acenou com a cabeça para ele e saiu em disparada por entre as pessoas. Sasuke encostou-se a parede, cruzando os braços enquanto esperava pelo retorno dela. Estava surpreso por ela ter percebido esse fato, ao qual ele nem pensou na possibilidade. Estava começando a ficar orgulhoso dela.

Sentiu um pequeno vento ao seu lado e viu que ela já estava ali, um pouco ofegante, mas lhe entregou o que foi pedido. Quando aceitou as bandagens, ela também o devolveu o troco, o que o fez a olhar, mas sem dizer nada, apenas colocou de volta em sua bolsa. Enrolou as bandagens em volta de sua cabeça, a fim de esconder seu olho esquerdo. O que ele mais queria no momento era evitar movimentação e chamar atenção. Quando terminou acenou para ela para continuarem andando.

***

A noite já começava a despontar por entre as nuvens. Nesse dia não nevou, o que foi um alívio principalmente para ele. Entraram em alguns estabelecimentos para pedir informações, que sempre recebiam respostas sem fins, o que frustrava Sasuke. Eles agora estavam em uma parte perto do litoral, estavam procurando algum lugar para ficar, até que ouviram um homem derrubar algumas mercadorias, soltando um leve arfar de dor.

Ao ouvir o homem, Sakura imediatamente correu em direção a ele, trazendo Sasuke em seu encalço. A garota perguntou se ele estava bem, recebendo como resposta apenas que ele já estava um pouco velho para aquele trabalho, mas que precisava levar a mercadoria até um mercado próximo dali. Sakura olhou para Sasuke, que a encarou de volta e sem entender o que ela queria dizer, ele ergue uma sobrancelha em questionamento. Ela não tardou para entender a pergunta silenciosa e fez menção com a cabeça para ele carregar a carroça de mercadoria.

Sasuke a olhou irritado, negando com a cabeça. Sakura se manteve firme com seu pedido, cruzou os braços e acenou com a cabeça em um mudo “vai ajudar sim”. Sasuke bufou novamente, caminhando para fazer o que ela dissera e ao passar por ela, esbarrou propositalmente em seu ombro, fazendo-a rir vitoriosa.

Ela e o homem de idade conversavam sobre coisas aleatórias, as quais Sasuke ignorava enquanto puxava a carroça. Fizeram a entrega da mercadoria, que eram mantimentos em conserva, assim terminando o serviço do velho homem.

Quando estavam a ponto de se despedir, o homem ofereceu como pagamento pela ajuda deles, especialmente a de Sasuke, um convite para passar a noite em sua casa. Ambos estavam cansados de dormir ao relento, então aceitaram a oferta seguindo o caminho até a casa.

Chegaram a casa e foram recepcionados pela filha do homem, que se apresentou como Tsunami. Junto dela estava um menino, em torno de seus oito anos, chamado Inari que se escondia atrás da mulher. Ao se apresentarem descobriram, no caso de Sasuke que estava alheio a toda a conversa que Sakura teve com o homem, que ele se chamava Tazuna.

Estavam sentados na mesa, enquanto Tsunami preparava o jantar e o postava pouco a pouco sobre a mesa. Sakura fazia pequenas brincadeiras com o menino enquanto Tazuna ria e Sasuke se mantinha em silêncio, tomando o chá que a mulher havia oferecido.

Comeram em meio a conversas e risadas, depois de Sasuke ensinar, pacientemente, a garota como se usar hashis. Sakura era a pessoa mais espontânea na mesa, respondia o que lhe era perguntado, ria das piadas do velho e vez ou outra olhava para Sasuke ao seu lado, apenas sorrindo zombeteiro para ele que sempre estreitava os olhos em resposta. Quando perguntado sobre as bandagens em seu olho, ele respondeu dizendo que foi um acidente durante um dos treinamentos.

Tazuna comentou que a cidade era conhecida pelos redemoinhos que se formavam e também por ter um dos primeiros 88 templos da peregrinação de Shikoku. Esses templos eram Ryozenji e Gokurakoji. Ao ouvir os respectivos nomes, Sasuke deu mais atenção ao assunto, afinal, ele conhecia um pouco sobre a tal peregrinação e sobre Kobo Daishi.

Quando já estava na hora de dormir, ofereceram quartos separados para Sasuke e Sakura que negou prontamente, recebendo um sorriso malicioso da mulher.

— Bom, temos dois futons, vocês podem dividir o quarto. — ela comentou sorrindo.

— Isso era de se esperar, Tsunami. Afinal eles são um casal. — comentou Tazuna.

— O que...? — questionou Sakura, olhando para Sasuke que deu uma leve cotovelada em seu braço, virando o rosto. — Bom, pode ser.

Tsunami pediu para que eles entrassem, assim que terminou de arrumar o quarto, mas não sem antes lançar um olhar sugestivo para Sasuke, que quis que o inferno fosse real e que ele fosse para lá no mesmo instante em que passou ao lado dela e a ouviu dizer “temos uma criança em casa” para que somente ele ouvisse.

Sakura já estava deitada em seu futon, o olhando curiosa e ele logo soube o que aquele olhar significava.

— Não pergunte, por favor. — pediu.

— Mas eu nem comecei... — ela se defendeu, fazendo bico.

— Eu já conheço esse seu olhar. — comentou, sentando-se em seu futon. — Qual o problema dormir em quarto separado?

— É que... — começou, enrolando as mãos no colo. — Não tenho confiança em deixar você dormir longe de mim. Sinto como se não pudesse te proteger, se caso fizesse isso. Achei que entenderia. — conclui.

Sasuke fitou-a levemente surpreendido. Então era isso, afinal. Acenou para ela, dizendo que estava tudo bem. Sakura o viu deitar-se de costas para ela e decidiu que iria manter-se acordada por hora.

Algumas horas se passaram e ela manteve-se acordada, ficando ainda mais em alerta quando Sasuke se virou no futon, ficando agora de frente para si. Seus olhos focaram-se no rosto sereno de Sasuke, que sempre ficava assim enquanto dormia. Sua boca estava levemente aberta e sua respiração era baixa. Convenceu-se de que estava tudo bem e decidiu dormir, pensando na cena a sua frente, que ela achou particularmente.... Fofa.

07 de Dezembro, 1888

Tinham planos de continuar a viagem no dia seguinte, porém, por insistência de Sakura em continuar com Tazuna e sua família para os ajudarem com os afazeres, decidiram ficar mais algum tempo entre eles. Ajudaram Tazuna a carregar os mantimentos e distribuir em mercearias da região, Sakura aprendeu a realizar alguns afazeres domésticos com Tsunami e quando tinha tempo, brincava com Inari. Sasuke ajudava Tazuna a carregar algumas toras de madeiras para o armazém do velho e descobriu que o mesmo era um carpinteiro. Ajudou a construir alguns edifícios da cidade e que quando podia também ajudava seus amigos da vizinhança.

Depois de Sasuke explicar para Sakura que não podiam continuar com eles e que deveriam continuar a viagem, estavam no início da manhã, em frente à casa que frequentaram esses dias, se despedindo da família. Anunciaram que estavam a caminho de Osaka e ouviram o homem comentar sobre como seria bom se construíssem uma ponte para melhorar o tráfego entre pessoas e carroças. Antes de partirem, Sasuke questionou a Tazuna sobre qualquer informação de algum possível redemoinho vermelho na região, recebendo uma resposta negativa do homem que alegou morar a tempos ali e nunca ter presenciado tal cena.

Partiram novamente sem desviar de seus planos até chegarem aos limites de Naruto, onde mudaram sua rota para seguir algumas pessoas. Antes de continuar seu caminho, Sasuke queria passar por um daqueles templos pois sempre lia em alguns pergaminhos sobre esse caminho de peregrinação e autoconhecimento. Ao começarem a subir uma escadaria, leu em uma placa de identificação do templo, era o primeiro templo, Ryozenji.

Chegaram ao fim da escadaria, encontrando um Torii alto, marcando a entrada do templo. Sasuke fez reverência em respeito. Sakura perguntou baixinho o que deveria fazer e Sasuke respondeu dizendo para que imitasse os movimentos dele, e ela assim o fez.

Continuaram seguindo a pequena multidão de pessoas, algumas delas estavam trajadas com roupas de peregrinação, como chapéu de palha com caracteres escritos neles, casaco branco por cima das vestimentas também com caracteres bordados em seu tecido. Alguns usavam também rosários em mãos e outras usavam um bastão de caminhada.

Ambos iam a caminho do Chozuya, uma espécie de tanque usado para purificação, quando Sakura o abordou:

— O que é isso tudo? — perguntou curiosa.

— É conhecido como Peregrinação de Shikoku. Existe um total de 88 templos durante essa peregrinação. Tem como objetivo visitar todos os 88 templos que o budista Kobo Daishi visitou em vida. Dizem que se você andar por esse caminho isso lhe trará saúde, sucesso, sorte no casamento, mas também é usado para autoconhecimento. Como você pode ver... — Sasuke apontou para um casal a sua frente. — Os caracteres em seus chapéus, o primeiro significa “o próprio”, já o segundo significa “Kobo Daishi”. Se juntar os dois vemos o significado de “dois que viajam juntos”, implicando que o espírito de Kobo acompanha os peregrinos. — terminou.

— Assim como nós... — ela comenta para si mesma, mas Sasuke prestava devida atenção. — Podemos nos considerar peregrinos, então?

— Tecnicamente sim. — concordou.

Sakura então sorri timidamente para Sasuke, que respondeu com um meio sorriso.

Chegando aos tanques, ambos pegaram a colher com a mão esquerda, depois lavaram a direita e em seguida fizeram bocejo com a água da mão que foi lavada. Sasuke explicava que era um método usado para purificar o espírito da pessoa.

Mais a frente puderam ouvir o som de um sino sendo tocado. Pelo som proferido, era um sino de tamanho grande e Sasuke meneou a cabeça para Sakura o acompanhar. Quando chegaram ao sino, Sasuke pegou a corda que se encontrava ao meio do sino e tocou apenas uma vez, fechando os olhos. Quando os abriu novamente, incentivou Sakura a fazer o mesmo.

Em questão a parte dos sutras, ambos escreveram a data que saíram de Tokushima. Quando chegou a vez de Sakura escrever seu nome, perguntou a Sasuke se ela não deveria ter um sobrenome também. Ele pensou por um momento e disse para que ela escrevesse seu nome como “Haru no Sakura”. Obviamente ela questionou sobre o significava, ouvindo Sasuke dizer que combinava com ela. Ambos colocaram seus papeis nas caixas identificadas e seguiram caminho.

Chegaram a uma parte aonde se via uma espécie de tronco e lá encontraram várias velas e incensos. Sasuke acendeu uma vela e ofereceu para Sakura acender a sua, para logo em seguida acender os incensos. Ele novamente explicou, a vela era usada para receber sabedoria e o incenso para receber virtude.

Depois de acesos, Sasuke entregou uma moeda para Sakura informando que ela deveria deixar uma pequena doação e ambos colocaram as moedas em uma parte branca abaixo das velas.

No salão dos sutras, Sasuke se ajoelhou em uma almofada, juntou as mãos e pediu para Sakura fazer o mesmo e o ouvir com atenção, já que ela não saberia nenhum sutra, que ele iria recitar pelos dois.

Sakura ficou maravilhada quando viu Sasuke fechar os olhos e começar a recitar, pois nunca vira esse lado dele.  Ele se encontrava com a expressão serena enquanto mexia os lábios para recitar o sutra e Sakura apenas o observou maravilhada. Terminaram e seguiram o caminho para fora do templo, não podiam se demorar demais.

Antes de saírem do templo, Sasuke pediu para Sakura o esperar. Quando o rapaz voltou, ele tinha em mãos uma pequena estola com caracteres relacionados à peregrinação e entregou a Sakura, alegando que seria bom para eles andarem com um daqueles. Sakura perguntou a ele onde deveria colocá-la e Sasuke pegou de sua mão, amarrando-a em seu pulso.

Passaram novamente pelas escadas as quais subiram, o fluxo de pessoas havia aumentado e Sasuke se sentiu aliviado por já estar indo embora.

— Para onde vamos agora? — perguntou a garota, tempos depois.

— Hm... — pensou, devido ao entusiasmo vindo dela, e continuou. — Acho que para chegarmos a Osaka mais rápido, seria bom nós pegarmos outro meio de transporte. — Sakura apenas o olhava, esperando que ele continuasse. — Vamos pegar uma balsa.

— Vamos andar sobre a água? — perguntou animada ao parar em frente à Sasuke.

— Sim... Porque todo esse entusiasmo? — a olhou de sobrancelhas erguidas.

— Quero ver os redemoinhos de perto. — respondeu.

— Eu espero que não... — ele comentou. — Dependendo da força do redemoinho, ele pode puxar a balsa para o centro dele e acredite, o resultado não será positivo.

— Aaah. — exclamou entristecida, segurando o braço do rapaz e fazendo-o soltar uma mínima risada.