Parceira
21 de Dezembro.
— Eu sinto como se meu corpo todo estivesse em colapso. — comentou Naruto, afagando a cabeça de Kurama que estava deitada em seu peito apenas abanando as duas caudas para todos os lados.
“Você sabe o que significa entrar em colapso?”
— Não seja má... — retrucou ofendido. — Tudo bem, não sei, mas deve ser mais ou menos assim.
“É porque você forçou seu corpo, deveria ter ouvido o Konohamaru e ter deixado para outro dia esse treinamento.”
Kurama estava certa, ambos sabiam disso. Ainda era inverno e dias atrás Naruto havia se machucado bastante ao defender Hinata. O correto seria descansar e esperar ao menos o inverno acabar, porém o rapaz sentia que não poderia esperar. Não sabia dizer por que, apenas sabia que deveria absorver de Konohamaru tudo que pudesse antes de encontrar o tal herdeiro.
Jiraiya lhe dissera algo que martelava a cabeça do jovem desde que o viu sumir diante dos próprios olhos.
“... As coisas agora ficarão mais difíceis, os inimigos se aproximam...”
Isso deveria ter um significado. Ele pensava, motivando-se ainda mais a treinar suportando a friagem e, preparando-se para o que viesse.
— É verdade, mas se eu tivesse feito isso eu não estaria me sentindo incrível agora e... — não conseguiu terminar seu discurso, pois Kurama tinha colocado uma das caudas em sua boca para silenciá-lo.
“Tem alguém vindo.”
Ambos esperaram até que Hinata e Konohamaru apareceram. O homem estava sério enquanto Hinata estava atrás dele e ao ver o garoto deitado sobre a neve sorriu minimamente. Ao olhar mais atrás, percebeu que a irmã dela estava logo atrás deles, acompanhando-os.
— Hanabi! — gritou Naruto, agora sentando e colocando Kurama em seu colo.
— Oi, Naruto. — respondeu amigavelmente. — Como está se sentindo?
— Dolorido, mas feliz.
— Me desculpe se Konohamaru pegou pesado com você, mas é o jeito dele de ser companheiro de alguém.
— Hanabi... — alertou Konohamaru, encabulando-se.
— Ora, vamos, não seja tímido. — a mulher provocou o marido que sorriu minimamente para ela. Foi a primeira vez que Naruto viu o homem sorrir e achou aquilo engraçado. — Eu os acompanhei porque queria ver seu progresso.
— Estou pronto para a próxima, pode vir. — disse o garoto, já se levantando.
— Ele é assim, não se assuste. — reiterou Konohamaru. — Você aprendeu a controlar seu elemento natural, corte essa folha novamente. — disse, entregando uma folha para o garoto. Naruto respirou fundo e forçou seu elemento na folha, partindo-a em duas com facilidade. — Ótimo. Agora tente concentrar seu elemento na palma de sua mão.
Naruto olhou para sua mão e pensou como deveria começar. Cortar a folha e repartir a correnteza da cachoeira era uma coisa, pois tinha só que se concentrar e liberar seu elemento, mas concentrar na palma de sua mão?
— Como... Eu faço isso? — perguntou depois de dar uma risada nervosa.
— Assim. — o homem apenas estendeu o braço em sua direção com a palma virada para cima e uma pequena bola ia se formando em sua palma. Todo o ar em volta de sua mão se concentrava em apenas um ponto na palma, assim formando um pequeno redemoinho de vento. — Esse é seu próximo passo.
— Certo, certo. — disse, também estendendo a mão e tentando concentrar o ar a sua volta em sua mão. Conseguia puxar minimamente o ar para sua mão e ao mesmo tempo que conseguia concentrar, o ar já se dissipava. — É mais difícil do que eu pensava.
— Cortar a correnteza ao meio também parecia e mesmo assim você conseguiu. — Naruto o olhou com determinação. Hanabi ao lado do marido sorriu em incentivo e Hinata, que se encontrava atrás dos dois, apenas o espiava por cima do ombro da irmã. — Mas podemos deixar esse treinamento para outra hora, você está esgotado.
— Obrigado. — disse, ao abaixar o braço já dolorido.
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— Meu prato favorito. Poderia comer todo dia. — Naruto dizia, olhando de forma apaixonada para o seu prato enquanto Hinata ria baixinho ao seu lado.
Já estava em sua terceira tigela de lámen e parecia aguentar muito mais. Hinata constatou, quando ele pediu para o senhor que os atendera preparar mais uma.
— É o que parece. — ela respondeu, finalmente terminando sua primeira tigela e pousando seus hashis ali em cima.
Descansou o queixo nas mãos, fitando Naruto que conversava alegremente com outro senhor que parecia compartilhar do mesmo gosto que ele.
Naruto era engraçado e espontâneo, oposto a ela que era reservada e tímida. Embora a convivência com ele a estivesse deixando um pouco mais solta até.
A neve havia dado uma brecha e Hanabi sugeriu que ela mostrasse um pouco da cidade para ele. De início ela protestou, ficava nervosa só de pensar em ficar a sós com um rapaz. Não era acostumada em ter amigos homens e mal falava com as meninas da região, logo ficou se perguntando o que poderia interessá-lo.
Teve a ideia de levá-lo a um restaurante ao vê-lo reclamar com Kurama o quanto sentia falta de lámen. O tempo estava frio e ele falava tão admirado, que decidiu unir o útil ao agradável. E apesar de Kitakata ser conhecida pelo ótimo lámen, Fukushima ainda tinha seus bons lugares.
Talvez o gosto de lá fosse o melhor. Pensou antes de chegar, mas alegrou-se ao chegar ali e ver que Naruto realmente havia gostado.
— E você está gostando daqui? — ouviu o homem que conversava com ele, comentar.
— Sim. — ele reafirmou com a cabeça e olhou para Hinata, sorrindo largo e recebendo um riso contido dela. — Inicialmente eu não iria demorar aqui, mas agora resolvi ficar um pouco mais, né Hinata?
Ela concordou um pouco surpresa, não sabia que ele tinha resolvido estender sua estadia, e corou no mesmo instante em que se pegou pensando no quanto aquilo a deixava feliz.
A presença dele, de fato, alegrava mais aquela casa.
— Não vai comer mais? Você já quer ir? — Naruto questionou, depois de alguns minutos quando notou o olhar perdido dela mirando a parede.
— N-não e não quero ir. — respondeu assustada com a pergunta repentina.
— Quando quiser é só me avisar. — comentou, sorrindo sem graça. — Eu sempre perco a noção do tempo quando começo a comer. Desculpe.
Ele parecia refletir sobre o que acabara de dizer. Hinata tratou de afirmar que não se sentia incomodada e que ele podia ficar a vontade. Gostava da companhia dele.
E assim ficaram até notarem que a trégua da neve não iria durar mais tempo.
Agradeceram pelo atendimento do proprietário e despediram-se do senhor que resolveu dizer que ambos faziam um belo casal, deixando Naruto sem jeito que tratou de desfazer o mal entendido, ao notar a expressão envergonhada de Hinata.
Caminharam em passos largos durante o pequeno trajeto. Hinata pensou em quebrar o silêncio, mas não tinha muito assunto para falar, Naruto por outro lado tinha — e muitos —, mas achava que aquilo não seria interessante para ela. Por fim, mantiveram-se calados e só voltaram a falar quando chegaram ao dojo e foram abordados por uma Hanabi animada.
— E então, o que você achou Naruto? — questionou ansiosa. — Desde que chegou você só tem treinado, mesmo nevando... Achei que seria bom se divertir um pouco.
Ela sorriu, aguardando por uma resposta que não tardou a vir.
— O lámen daqui é delicioso. — respondeu Naruto, inclinando-se para acariciar Kurama que descansava tranquilamente ao lado da mulher.
— Hinata é muito atenciosa. — Konohamaru comentou, juntando-se a eles e aceitando o chá que fora oferecido por sua esposa.
Naruto concordou, virando-se para ela e Hanabi fez o mesmo deixando a garota constrangida.
— Está frio... — começou, evitando encará-los ao fitar a mesa. — E ele disse que queria comer lámen, então.
— Muito bem observado. — Hanabi puxou a atenção para si, tratando de mudar o assunto. — Há outros locais para você conhecer também, Naruto.
Ele acenou rapidamente, vendo Kurama se levantar e caminhar até ele para deitar em seu colo. Ela finalmente dera traços de que gostava dele e não lhe direcionava mais seus olhares tediosos, ao menos não constantemente.
O silêncio se instaurou no local por alguns minutos e os três pareciam não se incomodar. Naruto por outro lado estava inquieto, queria que Konohamaru falasse mais para que ele coletasse mais informações. Queria encontrar a pessoa — seja lá quem fosse — logo. Mas ele se sentia um pouco perdido, recebera sua missão há dias e até então ele não havia tido nenhum avanço.
Konohamaru poderia ajudá-lo. Pensou, levantando rapidamente para buscar sua espada e voltou ao lugar.
Há alguns dias começara a se agarrar à espada. Era como se aquilo fosse o acalmar, como se aquilo fosse o ajudar a encontrar respostas.
— Sabe que seu nome é o de uma cidade com redemoinho, não é? — comentou Konohamaru, tomando um gole do chá e finalmente quebrando o silêncio.
— Meu sensei uma vez contou que meu nome era o de um herói, de algum livro que ele havia lido.
— Anos atrás, quando eu ainda era adolescente, conheci um samurai que vinha dessa cidade. Ele era calmo e um homem de bom coração. Passou um tempo nas florestas dessa cidade e sempre que podia eu fugia de casa para ir encontrá-lo. — Konohamaru tinha uma feição nostálgica enquanto fitava a katana. — Foi ele quem me ensinou a técnica que mostrei hoje, e do mesmo jeito que ele passou adiante, eu estou fazendo o mesmo. Você me lembra muito aquele homem.
— Sabe o nome dele? — questionou Naruto, mostrando-se interessado pela história que ouvia.
— Era Namikaze Minato, um samurai peregrino. Único problema é que não tive mais notícias dele depois que ele saiu daqui. — respirou fundo, lembrando-se da sua época de criança. — Ele tinha a mesma espada que você tem.
— Quer dizer essa? — comentou, pegando sua katana e a tirando da bainha.
— Sim, exatamente essa. Deixe-me segurá-la um momento. — pediu e o garoto o entregou de bom grado. — Sim, é ela mesma. Lembro que o nome era Tatsumi, que significa dragão adormecido.
— Namikaze Minato... — sussurrou, tentando imaginar como o tal Minato poderia ser.
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Naruto estava inquieto no quarto, depois de ouvir a história sobre a sua espada. Talvez seja herança de um parente distante ou algo parecido, mas se fosse o caso, Jiraiya o avisaria informado sobre tal pessoa. Sentiu algo se remexer ao seu lado e viu Kurama deitada preguiçosamente, com o corpo todo estirado no futon e as patas esticadas. Achou a cena uma graça então apertou uma das bochechas da raposa, fazendo-a se remexer e virar de lado, ficando agora de costas para ele.
Tentou se levantar sem acordá-la e ao conseguir, cobriu-a deixando apenas o focinho para fora, para possibilitar que ela respirasse. Pegou sua katana encostada na parede e saiu em passos silenciosos pela casa. Tentou ao máximo evitar qualquer barulho que seus pés descalços pudessem fazer e ao chegar ao quintal da casa, depois de arrastar minimamente possível a porta de correr, respirou aliviado por ter conseguido. Calçou as sandálias e subiu em uma das árvores, para pular um dos muros, para não precisar usar a porta da frente e acabar acordando a todos.
Correu por entre algumas casas da região e foi em direção à floresta. Não queria usar o local que ficavam para treinar, queria fazer isso em outro lugar, que ele ficasse a sós com ele mesmo. Para sua alegria, a neve não estava caindo essa noite, mas ainda se encontrava uma pequena camada de gelo no chão. Em alguns pontos seus pés afundavam quando pisava e sentia o gelo derreter por entre os dedos. Quando chegou a uma parte limpa da floresta, limpou um bom pedaço do campo com os pés e mãos, liberando a área de toda aquela neve.
Depois de terminar sua limpeza e já conseguir ver pouco do gramado congelado abaixo de seus pés, respirou fundo, soltando uma grande bruma de ar quente, que se misturou com o ar gelado da noite. Retirou sua katana da bainha, largando-a no chão, ao seu lado. Juntou as duas mãos no cabo da espada e fechou os olhos.
Como seu elemento era vento, precisava entrar em sincronia com o mesmo, por isso se concentrou novamente em ouvir o vento gélido por todo o seu redor. Lembrou-se da cena da folha, que ele deveria concentrar sua energia para cortá-la. Logo após, se lembrou do esforço que teve em cortar a correnteza daquela cachoeira, tudo parecia ter sido tão simples, mas concentrar toda aquela energia em apenas um ponto, e o fato desse ponto ser sua mão parecia estar o impedindo de ter progresso. Abriu os olhos e fitou a lâmina em sua frente, por incrível que pareça, seu corpo não tremia devido ao frio e a lâmina se mantinha firme.
Começou com o treino pratico sozinho. Cortava o ar com alguns ataques, até que foi de encontro a uma arvore para poder acertá-la.
Passaram-se poucos minutos e o tronco da arvore já estava com algumas cicatrizes, lembrou-se novamente da frustração de não ter conseguido concentrar energia em sua mão e depois de fechar os olhos e abrir, acertando novamente o tronco e levando um susto com o que aconteceu.
Quando abriu os olhos novamente e direcionou toda a sua força no tronco da árvore, uma pequena lufada de ar saiu da lâmina de sua katana, fazendo-a cair sentado para trás, mas com o olhar assustado para frente para ver metade da árvore, que estava acertando, começar a tombar para o lado.
Ouviu um barulho alto quando a mesma acertou o chão, mas Naruto não se importou nenhum pouco, só estava assustado com o que havia acabado de acontecer. Não sabia explicar como ou porque, mas tinha certeza que o ar que liberou da lamina, era seu, e esse mesmo ar cortou aquela árvore.
“Achou que conseguiria sair sem que eu percebesse?” comentou uma voz conhecida.
Deu um grito de susto ao ouvir a voz de Kurama em seus pensamentos, e ver a mesma sentada em um dos galhos de uma árvore perto dali. Viu a raposa saltar do galho e caminhar por entre a camada de gelo até chegar mais próximo.
— Que bonitinho, eu só conseguia ver as pontas de suas orelhas e suas caudas enquanto você sumia na neve. — comentou risonho.
“Nem foi assim.”
— Claro que foi, você não teve a visão que eu tive. — continuou rindo.
“Se você não ficar quieto vou contar aos outros sobre o seu grito de agora a pouco.”
— Você não sabe falar — retrucou ao apontar um dedo para ela. —, ou sabe?
“Provavelmente não, mas sei escrever. Então não zombe de mim.”
— Isso foi pesado. — disse baixo, fingindo uma falsa tristeza.
“Esquece isso, o mais importante... Parabéns, você conseguiu cortar uma árvore ao meio sem nem saber como.” Ela comentou, seguindo o olhar de Naruto para a árvore no chão.
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