História Gabriel, e não Antônio. - Sei lá.

quando eu morrer

vou ser esquecido

mas não vou te esquecer

nem do teu cheiro

nem da tua voz

nem do tédio que você deixou

hoje de manha

quando saiu de fininho

pela porta do fundo

porque a da frente

minha mãe sempre tranca.

quando eu morrer

você não saberá

o cachorro que você não tem

também não saberá

nem ninguém saberá

nem seu tio saberá

que pouco então eu sabia

da existência da chuva

quando você me tocou

e no meu corpo fez-se sol.

quando eu morrer

você pensará

que não deveria me fazer pensar

o que eu não poderia imaginar

e nem você pode agora imaginar

porque você me faz sempre pensar

que sou só um pedaço de carne

na noite em que você decidiu

tornar-se vegetariano.